tag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post3002066528283969599..comments2023-08-10T05:51:55.315-03:00Comments on Duelos Retóricos: Octávio Henrique X Marco Lisboa - Dinheiro e VidaFelipe Munhozhttp://www.blogger.com/profile/04775645990280371155noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post-72880551949299205492013-02-09T21:03:16.671-02:002013-02-09T21:03:16.671-02:00Bom, leitores, devo confessar que o Marco me surpr...Bom, leitores, devo confessar que o Marco me surpreendeu. Achei que de sua boca viria um discurso utópico e concordante com o do vídeo. Confesso, portanto, que estava preparado para debater com alguém que viesse com esse discurso e que, em virtude disso, e também para evitar desrespeitar o meu adversário com um debate mal feito por minha parte, eu encerro por aqui minhas participações.Octaviushttps://www.blogger.com/profile/09227135799701287753noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post-91233364857882487802013-02-09T19:01:08.802-02:002013-02-09T19:01:08.802-02:00Dostoiévsky é um grande escritor, ele não responde...Dostoiévsky é um grande escritor, ele não responde diretamente às objeções de seu personagem. Mas na própria formulação da teoria está implícita que ela e o cristianismo, expresso pelo princípio, “ama o teu próximo”, são incompatíveis, no plano moral. <br />A preocupação maior de Marx foi a de demonstrar que com o sistema capitalista, a sociedade “não se assentará melhor em suas bases e será melhor organizada.”<br />Desaparecida a propriedade privada dos meios de produção, estaremos caminhando para a extinção da mercadoria “produto de trabalhos privados, independentes uns dos outros”. Teremos uma produção coletiva de bens úteis que serão distribuídos segundo a fórmula: a cada um segundo a sua necessidade. O dinheiro, como equivalente geral das mercadorias, como unidade de medida de seu preço, tenderia a desaparecer junto com a produção de mercadorias. <br />Isso não significaria que não haveria em seu lugar uma forma contábil, uma maneira de mensurar a massa de bens úteis produzidos e de direcionar a sua distribuição. Alguns utopistas, como Owen, propuseram uma moeda-trabalho, que registraria “a participação individual do produtor no trabalho comum e seu direito com referência à parte do produto comum, destinada a consumo.”<br />Marx, em O Capital, afirma que “a moeda-trabalho de Owen não é mais dinheiro do que um bilhete de teatro”. A questão de criar um sistema mais justo do que o sistema capitalista, não se resolve com artifícios monetários, não é o dinheiro que é preciso abolir ou substituir, é a propriedade privada dos bens de produção, que transforma os bens produzidos em mercadoria. Abolida esta, o dinheiro, como o conhecemos, será extinto. Para a minha próxima intervenção, tratarei de mostrar que a abolição da propriedade privada dos bens de produção não só é possível, como é necessária.<br />E como resposta à indagação do vídeo, nenhum sistema de produção, em si, traz a resposta mágica. Como Freud assinalou, a civilização tem um preço. Nós já nascemos numa família, num país, numa determinada época e somos parte de um sistema muito maior. Não há garantias de que poderemos realizar nossos sonhos. O máximo que o homem pode fazer é escolher um sistema mais justo, mais solidário, menos consumista e que o valorize mais. Nesse ponto, se a mensagem é: seja menos consumista e mais crítico, acho que todos concordaremos.<br /><br /><br /><br /> <br /> <br /><br />Marco Lisboahttps://www.blogger.com/profile/16238695730187021732noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post-60878608263386073512013-02-09T18:59:29.973-02:002013-02-09T18:59:29.973-02:00Como qualquer medida, o dinheiro precisa de uma un...Como qualquer medida, o dinheiro precisa de uma unidade, com múltiplos e submúltiplos. Toda merreca que se preze possui décimos e centésimos de merreca e dezenas, centenas, milhares até trilhões de merrecas. Só como curiosidade, uma das sugestões para contornar o abismo fiscal americano foi a de imprimir uma nota de um trilhão de dólares! Essa função de medir com exatidão o valor de cada mercadoria é o que Marx chama de estalão dos preços. Não há uma boa tradução para estalão.<br />Já que o dinheiro surge com a produção de mercadorias, a pergunta é: poderá haver uma sociedade sem dinheiro? Uma sociedade sem trabalho é impossível, é claro. Mas e sem mercadorias? <br />Marx começa a sua análise do capitalismo pela análise da mercadoria. Para uma coisa ser trocada ela precisa ser útil. Mas nem tudo o que é útil é mercadoria. <br />“Objetos úteis se tornam mercadorias, por serem simplesmente produtos de trabalhos privados, independentes uns dos outros.” Marx, Livro I de O Capital.<br />No capitalismo, a própria força de trabalho se tornou uma mercadoria, ela tem um preço, o salário. Sendo a propriedade dos bens de produção privada, a forma básica de circulação de mercadorias é D – M – D. Ou seja, o capitalista usa o seu capital (D) para comprar máquinas, matéria prima e força de trabalho; produz mercadoria, que é vendida por um preço D e assim por diante. Para o sistema funcionar, é preciso que o D final seja maior do que o inicial.<br />O capitalismo tem um caráter progressista, foi por isso que ele suplantou o feudalismo. A divisão do trabalho, a grande indústria, a organização da distribuição, a expansão dos mercados, são êxitos inegáveis. Só para ilustrar, a simples fabricação de um prego, por um artesão medieval, era um processo em que um mesmo indivíduo realizava várias etapas diferentes, manualmente ou com máquinas rudimentares, e os pregos eram vendidos por ele mesmo, em sua oficina. Hoje com a linha de produção, as máquinas modernas e a rede de distribuidores, o processo é milhares de vezes mais eficiente. E há uma regulagem dos preços, a “mão invisível”, ou simplesmente a concorrência, que faria que o sistema operasse num nível ótimo. Nesse sistema, o papel do dinheiro é essencial. Esse é o lado brilhante do capitalismo.<br />Entre as várias objeções ao sistema capitalista, podemos citar as que se inserem no aspecto moral: a tese para justificar que o sistema seja o melhor possível é que se cada um perseguir o seu objetivo egoísta, o resultado será o maior bem geral. Marx, por sua vez, salientou o fenômeno da alienação. Não abordaremos aqui a análise marxista da alienação, vamos nos deter num aspecto óbvio: a imensa maioria dos trabalhadores, sejam eles braçais ou intelectuais, funcionários públicos ou balconistas, gerentes ou peões, sente-se insatisfeita com o seu trabalho. Gasta nele a maior parte de seu tempo útil e não se sente realizada. É este aspecto que o vídeo exarcerba.<br />Em relação ao egoísmo como base necessária do sistema capitalista, podemos recorrer a Dostoievsky, em Crime e Castigo, para caracterizar a objeção moral ao mesmo. Um personagem, Lújin, expõe as “idéias modernas” (a economia clássica inglesa):<br />“Por exemplo, ensinaram-nos até aqui – “ama o teu próximo”. Se eu pratico tal preceito, que é que acontece? ... Acontece que eu rasgo o meu capote em dois, dou a metade ao próximo e ficamos, os dois, nem vestidos, nem nus. ... Ora a ciência me ensina a amar a mim mesmo acima de tudo, porque tudo neste mundo se estriba no interesse pessoal. Se o senhor amar a si mesmo realizará os seus negócios direitinho e guardará o seu capote inteiro. A economia política acrescenta que, quanto mais fortunas privadas se formarem numa sociedade, ou , em outras palavras, quanto mais capotes inteiros forem fabricados, melhor se assentará nas suas bases e será melhor <br />organizada. Portanto, trabalhando para mim sozinho, eu trabalho, por conseguinte, para todo mundo e contribuo para que o próximo receba um pouco mais da metade do capote furado e isso não por causa das liberdades privadas ou individuais, mas em conseqüência do progresso geral.”...<br />Marco Lisboahttps://www.blogger.com/profile/16238695730187021732noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post-19154678034471630902013-02-09T18:56:50.414-02:002013-02-09T18:56:50.414-02:00Oi leitores e Octávio. Obrigado pelas palavras amá...Oi leitores e Octávio. Obrigado pelas palavras amáveis. Vou fazer tudo para justificá-las. Não gosto de abusar de citações num debate por duas razões: a primeira – não acredito em argumento de autoridade e o fato de Marx ter afirmado algo não torna essa afirmação mais ou menos verdadeira; a segunda – pode parecer que estou sendo pedante ou o que é pior, que não tenho idéias próprias. Entretanto, estou aqui para defender a visão marxista sobre o dinheiro e sobre a possibilidade de ultrapassar o capitalismo, o que vai exigir que eu exponha as idéias de Marx sobre o tema, usando o mínimo de citações diretas possível.<br />O dinheiro não é um produto da sociedade capitalista, ele é uma mercadoria que surge em toda a sociedade em que há um excesso de produção que pode ser trocado. Marx, em O Capital, além de decifrar o modo de produção capitalista, expôs a gênese do dinheiro. Em sociedades mais primitivas, havia um sistema de trocas dos excedentes produzidos, sem que houvesse ainda o dinheiro, é o chamado escambo. Sweezy, um autor americano (retomando uma idéia de Ricardo), propõe um exemplo muito interessante para mostrar que essa troca é baseada no valor contido em cada mercadoria e que a substância desse valor é o trabalho que ele requer. Trabalho abstrato, bem entendido, ou seja, aquele gasto de tempo e de energia que todo trabalho requer. Para não complicar as coisas, vamos pensar no trabalho braçal simples. <br />O exemplo supõe uma sociedade de caçadores onde uma parte se dedica a caçar castores e outra a caçar cervos. Caso houvesse um excedente, como seria essa troca? Ele mostra que a base de troca seria a quantidade de horas gastas para se caçar um castor e um cervo. Sem entrar em maiores detalhes, se um castor leva em média uma hora para ser caçado e um cervo duas, a troca seria um cervo por dois castores.<br />Qualquer alteração na dificuldade de se caçar um ou outro, produzida por fatores naturais, deslocaria essa relação de troca. <br />Como, em tese, toda mercadoria pode ser trocada por outra, haveria vários valores para cada uma. Digamos que houvesse n mercadorias diferentes. Haveria n-1 valores para cada uma delas. Estamos aqui falando do que Marx chama de valor-de-troca.<br />Para facilitar a vida, uma mercadoria em particular, foi eleita como o equivalente geral e passou a ser usada quase que exclusivamente nessa função. Por suas características, como durabilidade, facilidade de ser pesado e dividido em frações, o metal foi o preferido para este papel.<br />O dinheiro tem várias funções. Segundo Marx, uma delas é servir como meio de entesouramento. Ele pode deixar de ser moeda corrente para ser guardado e usado no momento oportuno. Tio Patinhas é o exemplo clássico.<br />Outra é servir como meio de pagamento. O feudalismo começa a declinar quando o camponês tem a possibilidade de vender o excedente de sua produção numa feira e pode pagar a parte devida ao senhor feudal em dinheiro. Progressivamente, todos os contratos passam a ser expressos em valores monetários. Isso soa tão banal que não nos damos conta de que já houve um tempo em que não era assim.<br />Finalmente, o dinheiro é universal. Vivemos num mundo em que as trocas não são mais restritas a uma feira local, a Terra é a grande feira. Originalmente, o ouro e a prata foram o equivalente universal. Hoje temos um complicado sistema cambial, onde cada país possui reservas, em dólares ou em euros, e a movimentação é contábil, feita por meio eletrônico, mas o princípio geral é o mesmo. <br />Dando uma resumida:<br />“O dinheiro, como medida do valor, é a forma necessária de manifestar-se a medida imanente do valor das mercadorias, o tempo de trabalho.” O Capital de Marx, Livro 1.<br />Marco Lisboahttps://www.blogger.com/profile/16238695730187021732noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-881968115012545665.post-59470539827325609462013-02-07T21:44:34.297-02:002013-02-07T21:44:34.297-02:00Olá, amigos leitores e grande Marco Lisboa, com qu...Olá, amigos leitores e grande Marco Lisboa, com quem vou bater um bom papo sem dúvidas, pois converso com um homem extremamente cordial e bem informado.<br /><br />Enfim, sei que isso pode parecer abusivo, mas, antes de começarmos, quero que vocês vejam este vídeo na íntegra: http://www.facebook.com/photo.php?v=400760976673627<br /><br />Enfim, como vocês podem ver, trata-se de um simples vídeo em que um professor universitário (suponho) americano (ou estadunidense, como preferirem) relata as conversas que teve com seus alunos sobre o seguinte tema: Afinal, o que gostariam de fazer se não houvesse dinheiro?<br /><br />O vídeo em si não é de todo mal, como perceberam. Porém, não sei se o nobre leitor sabe, mas, como sempre, pseudo-comunistas e rebeldes sem causa quiseram militar contra a sociedade capitalista e a vida comandada pelo dinheiro com as ideias desse vídeo.<br /><br />Enfim, o fato é que discordo completamente deles. Acho impossível uma sociedade sem o dinheiro, e o uso em dois sentidos: o primeiro é como uma simples moeda universal de troca, ou melhor, de compra e venda, e o segundo é como a própria organização e estratificação social que essa moeda gera, ou seja, como o Capitalismo em si.<br /><br />Partindo disso, e sabendo que estou conversando com um marxista declarado, gostaria de saber do meu amigo Marco Lisboa: Marco, por que você acha que é viável pensar em uma sociedade sem dinheiro? Ou, melhor dizendo, por que acha que é viável pensar em uma sociedade cujas relações não sejam regidas por um sistema baseado no dinheiro?<br /><br />Bom, encerro minha introdução aqui e passo a palavra ao Marco.Octaviushttps://www.blogger.com/profile/09227135799701287753noreply@blogger.com