quarta-feira, 2 de maio de 2012

Octávio Henrique X Chico Sofista - Ecletismo Musical


  1. Bom, Chicão, serei o mais breve possível nestas considerações iniciais. Como você sabe, sou defensor ferrenho do Ecletismo quando o assunto é música. Mas, o que é Ecletismo na minha visão?

    Ao contrário do que muitos dizem, um eclético não tem necessariamente que gostar de tudo. Porém, quando lidamos com manifestações socioculturais válidas (como é a música), deve haver o respeito entre ouvintes de todos os ritmos, dos mais tradicionais aos mais novos.

    Um argumento muito comum usado por aqueles que não respeitam é o de que certos ritmos só tem um tema. Por exemplo, o funk só trata de prostituição, o sertanejo só mostra homens cornos e mulheres assanhadas, o samba vive de passado, o rock é demoníaco e assim vai.

    Esse, sem dúvida, é um dos argumentos de maior imbecilidade e desonestidade intelectual que já produzimos pois, além de culpar todo um ritmo pela obra de alguns, desconsidera também que, na maioria dos casos, esses alguns tiveram contato com apenas um tipo de realidade e, para escapar dela, decidem fazer músicas usando o que sabem. Ou seja, não se pode condenar o autor da música quando não se sabe as suas origens, ou os porquês de cantar X e não Y.

    E outra, como eu disse, os ritmos são livres. O "achar agradável" é apenas mais um no amontoado de conceitos que adquirimos culturalmente. Sendo assim, é óbvio que o nosso critério para "agradável" se limitará ao que temos como cultura (até mesmo os nossos sentidos são influenciados pela nossa cultura). O problema é que muitos se esquecem de que não são suas opiniões sociais que demeritam um ritmo.

    Você, Chico, porém, não me mandou estes argumentos em nossa discussão preliminar. Você disse: " Música é para ser sentida, e não respeitada". Por favor, explique sua afirmação, e comecemos o debate. Despeço-me e agradeço-lhe pela oportunidade do debate.
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  2. Diógenes Laércio foi o primeiro a empregar o termo “ecletismo”, referindo-se a Potamão de Alexandria, que selecionava o melhor de cada filosofia com as quais tivera contato, iniciando uma “escola eclética”.

    Tomando este termo em sentido amplo, temos que, para ser “eclético” é necessário:

    1- Opor-se às noções de caráter dogmático, na busca de possibilidades consensuais e conciliatórias.

    2- Buscar encontrar um critério de verdade que permita justificar as próprias posições, bem como eleger, entre as várias correntes de pensamento, as noções que se apresentem em conformidade com este critério.

    É diferente de “sincretismo”, que é a fusão de elementos discordantes. O “ecletismo” pretende possuir um princípio que pode harmonizar teorias aparentemente diversas.

    Nas artes, ecletismo pode ser simplesmente a liberdade de escolha sobre aquilo que se julga melhor, sem a apegação a uma determinada marca, estilo ou preconceito.

    Mas isso significa que não existem critérios objetivos para se avaliar o conteúdo artístico? É possível dizer que uma música é “boa” ou “ruim”? Qual a importância de se estabelecer estes critérios?

    Uma coisa é dizer que é possível reconhecer qualidade no conteúdo artístico de diferentes estilos musicais.

    Outra é dizer que por isso, qualquer tipo de música é de qualidade, por que vai agradar algum tipo de ouvinte,e como arte é abstrata, toda opinião tem o mesmo valor.

    Dizer isso é o mesmo que dizer que não é possível de se reconhecer “verdades” na arte ou na música. Ou que qualquer coisa que seja feita é válida e que o “belo” não existe, é apenas uma ilusão coletiva.

    Quando o assunto é música, esta é uma longa discussão. Quando alguém me responde que seu gosto musical é “eclético”, normalmente o que se segue no diálogo são referências a uma enorme gama de porcarias, sem nenhuma qualidade artística.

    Gostar de muita coisa é bem diferente de gostar de QUALQUER coisa.

    O estilo musical que uma pessoa prefere diz muito a respeito da personalidade da mesma e somente alguém que não consegue ir fundo em sua própria percepção artística consegue se sentir atraído por algo que possa ser praticamente o oposto daquilo.

    É difícil não ficar incomodado com música ruim quando se está acostumado a ouvir música boa e isto não tem nada a ver com o ritmo, ou estilo musical.

    E a maioria das músicas que fazem mais sucesso não são músicas de boa qualidade musical, qualquer um que estuda música pode confirmar isso.

    O meu argumento é o de que é possível reconhecer elementos universais e concretos que estão relacionados com a promoção de qualidade artística. Sendo assim, é possível reconhecer a “verdade” através da arte.

    É possível reconhecer verdade na arte? Na música? O seu maior ídolo, Friedrich Nietzsche, acha que sim e concorda comigo. Como você deve saber, Nietzsche escreveu bastante coisa sobre arte e também sobre música, principalmente a obra de Richard Wagner, que também tinha sido influenciado pela ideia de arte proposta por Shopenhauer.

    Então nos diga, Bezerro!

    Você acha que qualquer música serve e que não é possível avaliar qualidade de conteúdo artístico?

    Até a próxima.

    Chico Multi-instrumentista.
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  3. Bom, grande Chicão (não vou chamá-lo de Sofista, pois cansei de ver gente te desmerecendo por causa desse "apelido"),já agradeço-lhe pela atenção e, para tentar satisfazer suas expectativas, surpreendê-lo-ei nesta réplica.

    Começo, curiosamente, respondendo a sua última pergunta com a seguinte frase: Dane-se a arte! A própria questão sobre se a música deve ou não ser artística é muito controversa. Quando eu me digo eclético, não é porque acho impossível avaliar qualidade de conteúdo de arte ou "whatever". É porque eu creio que há questões muito mais importantes a serem tratadas e a serem disputadas do que "qual ritmo é melhor?". A música não se trata de dogmatismos baseados em arte, mas sim em um gosto, algo a ser apreciado, conforme a cultura do cidadão.

    As variedades rítmicas da música, meu caro, assemelham-se, em um ponto crucial, com as diferentes línguas existentes e com as variantes dentro de uma mesma língua. Com aquelas por demonstrarem formas diferentes de se categorizar a realidade segundo a cultura de alguém, e com estas por mostrarem as diversas realidades culturais existentes em um mesmo lugar.

    Um funkeiro e um rockeiro, por instância, não veem o mundo de uma mesma forma. Só que será mesmo que uma visão de mundo de um rockeiro não poderia MESMO ser representada no ritmo do funk? Entende, é disso que eu falo. As pessoas discriminam o ritmo porque alguns o fizeram inferior por usarem-no "errado", mas elas se esquecem de que algumas letras de música dificilmente representam a ideologia de um ritmo todo. Você mesmo, Chicão, que é fã de rock, não fica louco da vida quando ouve alguém dizer que rock é coisa demoníaca (o que, convenhamos, é uma mentira deslavada), quando você sabe que uma coisa nada tem a ver com outra? Imagine alguém que goste de Sertanejo sendo rotulado por causa do seu gosto. Será mesmo que vale a pena subdividir AINDA MAIS as pessoas no estúpido dualismo "bom X ruim" por meio de algo que deriva de gosto pessoal ou grupal?

    Concluo esta réplica dizendo que os critérios estabelecidos para avaliar o que é arte não são necessariamente motivados pela noção de arte em si, pois esta mesmo, segundo as pessoas da área, é dificílima de definir. Os próprios críticos de arte têm problemas quando algum artista cria um novo conceito para a arte. Eles são frutos de convenções sociais que partem não do gosto da maioria, e sim de alguns grupos que acabam impondo seu gosto ao resto, e os convencendo de que tudo que saia disso é ruim e "deve ser eliminado".

    Digo, também, que, como já afirmei, não sou obrigado a concordar com Friedrich EM TUDO. E eu discordo principalmente na importância monumental que ele dá para a arte. O considerado artístico pode servir para fins fora da arte, assim como a música, quando "artística" ou não, é útil para os matemáticos. Só que temos que ter em mente que vamos achar VERDADES RELATIVAS A CADA CULTURA nela. Afinal, a música em si não necessariamente apresenta compromisso com o real. Além disso, há mais de um jeito de se representar verdades, concorda?

    Para finalizar, eu pergunto a você, Chicão: Já que está falando tanto em critérios, diga-me: o que você toma por base para dizer que as referências do eclético são, normalmente, uma "bosta"? Se for o seu vão gosto, digo-te que isso não é argumento objetivo, o que contraria toda a sua tese. Se for com base na palavra de críticos, digo-te que há controvérsias em todas as áreas científicas e afins, o que nulifica sua tese. Se for no gosto da maioria, isso não passa de argumentum ad popullum (com apelo a maioria), o que torna sua tese falaciosa. E se não for nada disso, despeço-me com um breve aceno, pois já me paguei da tarefa de replicar-lhe, e espero que me replique. Até mais.
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  4. De fato, você me surpeendeu:

    ‘Dane-se a arte!’ – Octávio Henrique.

    Com uma frase como esta, vai para o lixo, absolutamente todo o que você escreveu daí em diante.

    E o pior é que você não tem a mínima ideia sobre como o conceito de “arte” que Nietzsche tinha foi importante para que ele estabelecesse todos os outros conceitos que ele teve a respeito de todas as outras questões para as quais investigou. Não compreender a visão que Nietzsche tinha a respeito da arte é não compreender a mais íntima intenção do autor em toda a sua obra.

    Arte é a utilização de habilidades e imaginação para a criação de objetos estéticos, ambientes ou experiências que possam ser partilhadas por outras pessoas.

    É a mais sofisticada expressão das habilidades cognitivas já desenvolvidas pelo Homo sapiens.

    Mesmo assim, a espécie dissidente, Homo octávius, foi desenvolvida para defender que “Dane-se a arte”. Ou seja, para o inferno com tudo aquilo que demanda sacrifício de tempo e aprofundamento cognitivo e abraços a tudo aquilo que possa ser disseminado culturalmente, ainda que raso e vazio de significado, cuja maior função é criar slogans repetitivos que incentivam uma vida sem reflexão ou significado.

    Oras, se é verdade o que o Octávio diz e que “é impossível avaliar qualidade de conteúdo de arte”, então todos os professores de arte e literatura deveriam ser mandados para o olho da rua.

    Onde é que já se viu falar de Machado de Assis, quando todo mundo só quer saber de Paulo Coelho? Quem vê graça em Van Gogh, depois que inventaram o vídeo game?

    Dane-se a arte! Dane-se tudo de bom que já foi produzido pela humanidade! Nada possui valor.

    Por que pagar alguém para falar das qualidades literárias de escritores que já morreram há muito tempo, se não há valor legítimo para se tirar de nada do que foi produzido por eles?

    E o mesmo vale para todos os professores de música, acadêmicos que se instruíram na evolução de cada ritmo e sabe o tanto que cada uma exige das capacidades cognitivas do artista para que sejam realizadas.

    Isso é reconhecer arte. Compreender o grau de complexidade e profundidade de uma criação humana e estabelecer diferenciais deste conteúdo artístico com os demais já produzidos por outros artistas.

    É óbvio que é possível estabelecer critérios objetivos para este tipo de comparação.

    Dizer o contrário é o mesmo que dizer que todos os artistas que já existiram, desde Da Vinci, até Mozart, estão em pé de igualdade naquilo que podem representar para a evolução cultural do ser humano a repetidores de frases de efeito com conotações fúteis, como nossos astros do funk carioca ou do axé nordestino.

    É óbvio que aquilo que é apreciado sempre estará nos mostrando as características de personalidade das pessoas que aderem, de corpo e alma, à determinado ritmo musical, que dividem similaridades em mensagens líricas, em temas que se referem à coisas que cada pessoa gosta de vivenciar em sua vida pessoal.
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  5. Quanto a novos conceitos de arte, de fato, muitos passam despercebidos. Grandes artistas só foram reconhecidos após suas mortes, não tendo produzido nada que fosse visto como bom, enquanto estavam vivos.

    Mas isso não quer dizer que o que eles criaram era impossível de ser avaliado, em qualquer que fosse a época do desenvolvimento da percepção artística humana.

    Você está dizendo, caro Octávio, que não existe verdade na arte, o que é um absurdo por essência, por tautologia filosófica. Recomendo que leia muito mais de Friedrich Nietzsche e compreenda que a relativização deste conceito tão importante, no fim das contas leva à ruína do valor de todo conhecimento humano, afinal de contas, se nada é concreto, nada possui valor algum.

    E quando se pensam em mudanças de valores para a sociedade, sejam eles quais forem, é necessário pensar naquilo que seria melhor para o crescimento da mesma e não para a criação de ovelhas repetidoras de slogans, incapazes de perceber a profundidade das possibilidades das criações artísticas humanas.

    Exatamente por isso, quem possui conhecimento deve ser valorizado e a opinião de especialistas deve ser muito mais importante do que a quantidade de pessoas que resolveu repetir a mesma ladainha vazia, criada com objetivo unicamente mercadológico.

    “Afinal, a música em si não necessariamente apresenta compromisso com o real” – Octávio Henrique.

    Como assim, Octávio? Por um acaso a música não é produto do real e interage diretamente com real em todos os momentos de sua existência? De onde é que você tirou que música é algo que não existe, então qualquer música tem o mesmo valor?

    Pense, bezerrinho, pense.

    E leia mais Nietzsche.

    Depois volte aqui responder.

    Até a próxima.
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  6. Comecemos a tréplica, grande Chicão.

    Primeiro, elucide-me sobre como Nietzsche propôs um sistema educacional revolucionário, mandou a política de sua época aos infernos e propôs outro sistema político para o mundo por meio da arte. Até onde sei, esses também são pontos principais de seu pensamento que precisaram não da arte, mas sim de outras filosofias para serem concretizados.

    Coloco, também, outras 3 definições de arte advindas de fontes confiáveis que mostram a flutuação do conceito nos tempos contemporâneos. Sendo assim, fica provado o meu ponto de que, CIENTIFICAMENTE, o conceito é dificílimo de ser delimitado. Aí vão:

    "Arte geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra."

    "O conceito de arte é extremamente subjetivo e varia de acordo com a cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão.Não se trata de um conceito simples e vários artistas e pensadores já se debruçaram sobre ele."

    "A Arte é desenvolvida com o intuito de mostrar o pensamento do artista e expressar os sentimentos, por meio de correntes de estilo e estéticas diferentes."

    Vê? Só neste debate já pegamos quatro definições diferentes de arte. Eu nunca disse, a propósito, que é impossível avaliar a qualidade de conteúdo de arte, também porque, queira eu ou não, essa avaliação já existe. Porém, o que eu realmente disse é que não se pode querer alçar um ritmo musical a um nível superior simplesmente por ser considerado artístico, pois o conceito de artístico é fruto de convenções sociais e varia com o tempo. E muito menos deve-se rotular grupos como ignorantes ou tolos por apresentar um conceito diferente do normativismo artístico na música.

    Nunca falei de banir grandes literatos, músicos e outros artistas. O que eu disse é que não se deve excluir socialmente aqueles que não apreciam suas obras simplesmente por não apreciarem essas obras. Afinal, se eu falar que eles devem ser excluídos, eu estou dizendo que só a minha forma de pensar o mundo está certa, e é isso que leva a conceitos absolutistas como "Uma língua, um povo, uma nação", "A voz do povo é a voz de Deus" ou "Quem não crê em Deus não pode ser bom"..

    Bom, serei sintético ao máximo neste fim de tréplica. Será mesmo que as pessoas que não seguem o conceito magno de arte não sabem o que é profundidade de criação?

    Ora bolas, se na Literatura algo pode ser reconhecido como Literatura desde que alguém ou algum grupo o analise de forma mais profunda do que o amontoado de palavras parece ser, o mesmo pode acontecer na música. E isso requer uma abstração muito grande, assim como o conceito de Ecletismo em si. É necessário sair da zona de conforto dos absolutismos conceituais por algum tempo antes de perceber essas alternativas.
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  7. Já a questão dos repetidores de slogans: Há realmente muita diferença entre criar uma geração que vomita versos de funks ou raps, mas que pelo menos está disposta a saber seu significado e provavelmente saberá, e criar uma geração de pseudointelectuais que ficam vomitando, sem nem saber quem são ou o que queriam dizer, frases de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, fato que faz com que, injustamente, esses dois caiam em descrédito por quem, como você, acha que sabe de Literatura?

    Outro detalhe: Chicão, o conhecimento humano já existe, e está apto a refutações. Está exatamente aí o seu valor. Quando as pessoas compreenderem isso, não precisaremos ficar justificando que o conhecimento tem sim valor.

    "Exatamente por isso, quem possui conhecimento deve ser valorizado e a opinião de especialistas deve ser muito mais importante do que a quantidade de pessoas que resolveu repetir a mesma ladainha vazia, criada com objetivo unicamente mercadológico. "

    A partir desse ponto, você se contradiz. Afinal, se um especialista chegar e falar que o que você e a "maioria" acham bom é uma merda, ou que o que vocês não reconhecem como arte é artístico, não adiantará de nada a vossa opinião.

    Agora, seja sincero: Será mesmo que todas as pessoas dão ouvidos aos especialistas? Curiosamente, muitos especialistas de renome na linguística pregam o respeito às variantes linguísticas dentro de um idioma. Isso acontece? Não. Os especialistas em Literatura dizem para NÃO ficar valorando uma escola literária em relação a outra com base em subjetivismos. Eles são acatados? Também não.

    Por outro lado, os especialistas dizem que certo ritmo é superior a outro, mesmo que os dois sejam apenas visões diferentes de uma mesma cultura, porque tem maior "elaboração musical" ou porque o outro trata de temas inapropriadas. Sabe o que acontece com essa visão tirânica e CONTROVERSA? É seguida à risca.

    Resumindo, Chicão, as pessoas ouvem os especialistas só quando lhes convém.

    Para finalizar, se a música e a arte tem que ser, necessariamente, produtos do real e não de abstrações baseadas em ideias da mente humana, que não são provadas como reais, você então desconsidera como musicais as músicas criadas à semelhança de figuras mitológicas ficcionais e obras de arte baseadas no não-comprovadamente real, certo? Pois é, então você despreza "só" duas artes pilares para todo esse conceito de arte ocidental atual, a greco-romana e a cristã. Explique-me como um grande defensor da arte faz uma besteira dessas?

    Concluo aqui a minha tréplica e espero a sua virtuosíssima resposta, camarada.
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  8. "A arte existe para que a realidade não nos destrua" - Friedrich Nietzsche.

    A arte pode oferecer aos homens força e capacidade para enfrentar as dores da vida. A própria vida justifica-se enquanto fenômeno estético e a existência nada mais é que um acontecimento estético.

    É exatamente aí que surge a maior fonte de inspiração para toda a filosofia de Nietzsche: os gregos pré-socráticos, em particular os sofistas, representantes da “tragédia” antiga, exaltadores da “Aretê” eram conhecedores do fato de que o homem é a medida de todas as coisas, e por isso, o que é bom para um pode não ser bom para o outro.

    Mesmo assim, sabiam reconhecer o valor do conhecimento e tentavam compreender como é possível extrair mérito a partir daquilo que se sabe.

    Toda produção humana que incentiva o desenvolvimento das habilidades cognitivas das pessoas e acrescenta qualidade para a evolução cultural de um povo deve ser incentivada, enquanto que aquilo que induz as pessoas a tornarem-se zumbis alienados deve ser visto com maus olhos. Tolerar o intolerável prejudica tanto quanto o ato em si. Por isso, para tudo na vida existe aquilo que toleramos e aquilo que achamos que não deve ser incentivado.

    Acreditar que as mídias modernas estão certas ao incentivar a absurda desigualdade que existe na atenção desmedida que é dada para os maiores “fenômenos” de marketing moderno, como Michel Teló, ou Latino, em comparação a reconhecidos gênios da música como Hermeto Pascoal ou Vila Lobos, que são grandes desconhecidos do público, é uma atitude de desrespeito com o desenvolvimento da própria cultura em que estamos inseridos.

    O fato é que nós podemos escolher o incentivo que deve ser dado para cada tipo de conteúdo e cabe a cada um de nós colaborarmos ou não para a disseminação de coisas que podem não ser úteis para o desenvolvimento da cultura.

    Segundo a visão de “arte” defendida por Nietzsche, influenciada pelos sofistas gregos e também por Shopenhauer, vivemos nossa vida como personagens de um livro, heróis de uma tragédia. Nela o nosso destino é sofrer; desse modo, o espectador aceita o sofrimento como parte da vida, e resiste à ele.

    Terminando este debate, Octávio, eu sugiro que você leia imediatamente “O Nascimento da Tragédia”, de Nietzsche, que é talvez a mais bela obra já escrita pelo seu autor favorito, e também fundamental para que se possa compreender a essência de seu pensamento, afinal de contas, é com essa visão de mundo que ele defende todos os outros pontos abordados por sua filosofia.

    É nesta obra que Nietzsche faz a comparação dos impulsos artísticos existentes aos que existem na própria natureza, inspirados pela presença dos deuses gregos Apolo e Dionísio.

    Apolo representa a “luminosidade”, ou a “racionalidade”, “sabedoria”, defendendo às artes plásticas, à estética do sonho, à busca pela perfeição da forma. Apolo é o deus do princípio de individuação, princípio pelo qual, nas palavras do filósofo, "nos sentimos indivíduos colocados em um ponto preciso do espaço e do tempo".

    A arte apolínea é um impulso de ordenação do "caos da vida" - uma justificação estético-racional originada na perplexidade diante da natureza, do devir e do absurdo da existência. Por esta razão, os gregos criaram os deuses olímpicos, uma forma de estética apolínea, cujo intuito é mascarar os terrores da existência (por exemplo, a própria finitude da existência.

    A beleza é, então, criada artificialmente.

    A beleza é uma aparência, um fenômeno, uma representação que tem por objetivo mascarar, encobrir, velar a verdade essencial do mundo.

    Para escapar do saber popular pessimista, o grego cria um mundo de beleza que, ao invés de expressar a verdade do mundo, é uma estratégia para que ela não ecloda. Produzir beleza significa se enganar na aparência e ocultar a verdadeira realidade. A consciência apolínea substitui o mundo da verdade por formas belas.
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  9. Apesar de toda essa ordenação, que caracteriza nosso campo da consciência, de toda essa regularidade, que parece fazer do mundo da representação o lugar mesmo da verdade, tudo seria mesmo um sonho vazio ou uma insana quimera, se não houvesse uma coisa mais fundamental, mais metafisicamente real: o mundo da vontade. O mundo é, sobretudo, vontade.

    Mas como perceber essa realidade que se encontra atrás das aparências, que existe fora do espaço e do tempo?

    “É através do corpo que se tem acesso a essa realidade mais íntima, através do corpo que o homem tem a consciência interna de que ele é vontade, um em-si.” – Schopenhauer.

    Agora, não do corpo visto de fora, no espaço e no tempo, não como objetivação da vontade, como representação, mas enquanto imediatamente experimentado em nossa vida afetiva.

    É na alternância entre dores e prazeres, faltas e satisfações, desejos e decepções que surge a vontade como essência e princípio do mundo, como querer sem dono, trans-individual, cego e sem razão, em sua tenebrosa e abismal perpetuação.

    Essa vontade é força que age na natureza e desejo que move o homem. Mas antes de se objetivar em diversos fenômenos, de se exprimir na multiplicidade dos indivíduos, a vontade se objetiva em formas e ternas imutáveis , que não estão nem no espaço nem no tempo.

    Esses modelos, ou arquétipos das coisas particulares, essas objetivações do querer na natureza são realidades intermediárias entre a vontade e a multiplicidade das individualidades.

    Schopenhauer encontra na contemplação estética a possibilidade para transcender o modo comum de se perceber o mundo, para se libertar do desejo, da vontade e apaziguar temporariamente a dor. Por meio da arte “nos subtraímos, por um momento, à odiosa pressão da vontade, descansamos da servidão do querer.”

    A percepção estética é visão imediata e direta, representação intuitiva pura na qual não intervêm nem o entendimento nem a razão, sempre conceituais. O sujeito se perde no objeto da percepção. Torna-se um claro espelho do objeto.

    Deixa de se preocupar consigo mesmo como um objeto espaço-temporal, deixa de ver os objetos em relação com a vontade individual e se torna repentinamente “sujeito puro de conhecimento”, isto é, destituído de vontade.

    A subjetividade da consciência comum desaparece, a percepção se torna objetiva.

    A consciência, que está inteiramente no objeto da percepção, não se preocupa mais nem com a disjunção entre a vontade e o mundo, nem com o fato de a vontade estar sem objetos.

    O sujeito puro de conhecimento, o gênio, arranca o objeto de sua contemplação da “corrente fugidia dos fenômenos”, contempla-o independentemente do princípio de razão e mergulha no intemporal.

    O mundo agora é visto por ele do ângulo da eternidade.

    Sua percepção estética não olha o presente – tempo da paixão, da dor e do tédio , coisa relativa ao passado quanto ao arrependimento ou ao futuro quanto ao desejo; evoca sim o tempo da arte, da contemplação pura, do interlúdio de sabedoria e paz.
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  10. Mas a razão de ser da tragédia está na alegria. O mundo como vontade e representação, a tragédia é mensagem de renúncia, de negação do querer viver. O verdadeiro sentido da tragédia, numa visão mais profunda, mostra que o que é expiado pelo herói não são os seus pecados particulares, mas sim o pecado original – a culpa pelo simples fato de existir.

    O conhecimento perfeito da essência do mundo, enquanto miséria, triunfo da maldade, suscita a resignação, a renúncia não só do querer, mas da própria vida.

    Para Nietzsche, a tragédia é uma mensagem de afirmação de vida. O herói trágico é negado para nos convencer do eterno prazer do existir, pois, com a sua aniquilação, fica restaurada a unidade originária – a vida eterna da vontade.

    Nesse momento de êxtase, de “vitória alcançada na derrota”, “a luta, a dor, a destruição dos fenômenos parecem necessários para nós”, porque deixam entrever algo de mais profundo que transcende qualquer herói individual, o eterno vivente criador, eternamente lançado à existência.

    A arte em favor da vida é a chave do pensamento de Nietzsche.

    A arte transfigura todo existente, mas só a tragédia exprime a crença na eternidade da vida.

    Não é por que existem várias definições para a palavra “ciência” que não é possível se extrair nada de concreto com as aplicações do termo.

    Da mesma forma, não é por que existem várias definições para a palavra “arte” que não seja possível se analisar suas implicações em tudo o que é humano.

    Isso pode muito bem ser mostrado pelo uso da razão, sem a necessidade do método científico, como muito bem explorado por Nietzsche e Shopenhauer.

    Mesmo assim, se você reduzir a questão a termos biológicos, verá que é possível de se mensurar as modificações neuronais que ocorrem em pessoas que estão acostumadas a ouvir diferentes tipos de músicas e como passam a responder a novos estímulos.

    Existem evidências concretas que demonstram quais estruturas do cérebro são estimuladas de acordo com vários tipos de estímulos rítmicos.

    Esses padrões são importantíssimos para o desenvolvimento da comunicação em pássaros, por exemplo, mas em humanos chega a níveis de complexidade que parecem fazer a história toda parecer “abstrata demais” para ser analisada, mas não é verdade.

    O fato é que existem vários estudos demonstrando que pessoas com melhores notas em testes de Q.I. tendem a ter predileção por estilos musicais mais sofisticados.

    E é fato também que não vivemos em uma cultura onde as pessoas valorizam o conhecimento ou a inteligência e onde a maioria dos nossos “ídolos de sucesso” musical são artistas que existem apenas para perpetuar a ignorância e a pobreza no desenvolvimento da arte.

    Por fim, Bezerrinho, preste atenção no que você escreve para não falar asneiras. Toda produção humana, ainda que baseada em figuras mitológicas ficcionais, ao ser experimentada por outro ser humano, é produto e consequência do real, ainda que o imaginário tenha sido seu veículo.

    E relativizar uma questão desses é tirar todo o valor que a própria cultura humana pode possuir.
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  11. Chicão, Chicão, você falou, falou e pouco disse. Primeiro, você não me explicou exatamente qual a relação entre o gosto nietzschiano por arte e seu desprezo por política. Isso, meu caro, não tem relação necessária com arte.

    Segundo, se o sistema Nietzschiano de educação tinha tanto a ver com Arte, por qual razão não a colocou como disciplina obrigatória? Aliás, ele priorizou, nessa parte de seu pensamento, a Filosofia clássica não-artística. Afinal, até onde eu saiba, Heródoto não era lá um grande crítico de arte, e sim um historiador.

    Terceiro, a questão do incentivo é muito difícil de ser analisada. Afinal, alienação nem sempre é imposta, e pode ser sim escolhida, pois há, democraticamente, a liberdade para ser declaradamente alienado. Que consequências isso trará é outra questão.

    E outra, como eu já disse, será mesmo que alguém que para para analisar a letra de uma música dita "inferior" e para ela atribui sentido diferente do do senso comum é mesmo um alienado?
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  12. Enfim, não me delongarei muito mais nessas Considerações Finais, pois você francamente não entendeu o que eu disse. Eu nunca disse para INCENTIVARMOS a divulgação das músicas "inferiores". O que eu quis dizer é que não se deve excluir alguém socialmente só porque ele gosta dessas músicas, especialmente porque muitas delas trazem a tona uma realidade que poucos querem enxergar. A da pobreza, da fome, do tráfico.

    Se o povo gosta disso, não é só porque tem ritmo "mais fácil". É também por se identificar, de alguma forma, com a realidade cultural ali apresentada. Quer acabar com o funk, o sertanejo, o rock pesado, o rap, o samba? Acabe primeiro com as motivações para essas músicas. Transforme a realidade. Faça das favelas onde já residiram milhares de funkeiros ambientes respeitáveis, incentive a fidelidade entre casais para não ouvir mais músicas com traições dos sertanejos, erradique a pobreza dos velhos locais onde se fazia samba, entre outras coisas.

    Lembre-se, no entanto, de duas coisas:

    A- Sempre haverá alguém apreciando esses estilos, não por alienação, mas sim por gosto. As pessoas, mesmo que não admitam, sempre procuram novas ideias, novas fronteiras, novos ritmos, Chico.

    B- Isso não tira o mérito cultural-histórico que eles hoje têm e sempre terão. Algumas letras de funk e rap são verdadeiras reportagens da realidade daqueles locais, e os pessimistas-realistas de plantão não se sentem tão sozinhos quando veem que mais alguém sabe do que eles estão falando.

    Por fim, eu agradeço à arte pelo papel que DIZEM que ela teve no desenvolvimento do Homo sapiens, mas ainda continuo dizendo: Dane-se a arte!, e só deixarei de dizer isso quando vir intervenção direta dos ditos críticos e artistas no meio social em que vivem, não por meio de obras complicadas e palavrório bonito, e sim por ações. Senão, viverão eternamente em "um plano superior".

    Não estou dizendo que o povo não deve acessá-lo. Pelo contrário, pois isso seria um discurso capitalista demais para mim. O que estou dizendo é que não adianta disponibilizar o plano superior (artes) quando o plano inferior (sociedade) está mal construído, exploratório e impossibilita a ascensão ao plano superior.

    E adianta muito menos disseminar preconceito contra quem tem uma visão culturalmente diferente sobre que ritmo musical é superior pois, além de gerar conflitos sem resultados bons, criam-se ainda grupos mais fechados em suas próprias culturas, o que impede a miscigenação e a criação do novo, tão essencial para o ser humano em seu processo evolutivo.

    Bom, é isso. Não sei se consegui convencê-lo, e nem vim aqui para isso. Porém, espero que eu tenha conseguido defender, sem ofendê-lo, a minha ideia de que o preconceito com grupos porque estes preferem uma outra forma de entretenimento considerada menos culta, porém igualmente saudável. Afinal, a música nada impõe de ruim. A forma como é interpretada é culpa não de si, mas sim do ouvinte, pois a música, assim como a Literatura, não tem compromisso NECESSÁRIO com dogmatismo ou ensinamentos.

    A propósito, se veio da imaginação, não tem compromisso com o real, pois a imaginação é real, mas o que ela imagina não necessariamente o é.

    Espero a conclusão deste grande cara que é o Chicão.
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  13. Eu gastei quase 10.000 caracteres em minha tréplica e ainda assim você achou que eu “pouco disse”, pois não consegui te convencer o quão é importante a ideia que Nietzsche tinha da arte para toda a sua filosofia.

    Mas não acredite em mim. Consulte especialistas em Nietzsche na internet e verifique se essa relação não extremamente importante para a real compreensão de toda a obra do autor. Ou melhor, consulte a fonte. Leia “O nascimento da tragédia” e vai entender muito bem o que é que eu estou falando.

    Oras, se para Nietzsche a vida se justifica enquanto fenômeno estético, todas as suas ações pedagógicas ou políticas passam a ser avaliadas por este novo prisma, a de personagens em um livro, representando o espetáculo da contemplação da eternidade da vontade.

    Além disso, Octávio, a questão de incentivo não é tão difícil de ser analisada assim, aliás é fundamental que seja feita. A todo momento, as respectivas secretarias da cultura estão se decidindo quais os conteúdos que devem receber apoio estatal, ou seja, do nosso bolso, para divulgação da cultura no território nacional. Baseados em quais conceitos será dada prioridade para determinado tipo de música em relação a outro?

    Ninguém escolhe se vai ou não nascer em uma sociedade alienada, mas todos tem a possibilidade de descobrir quando é que estão sendo manipulados.

    Quando isso acontece, pode escolher se vai se deixar alienar como os outros.

    Se existe um mecanismo que vai tolerar ou não determinado tipo de construção artística, baseado em critérios de um número de indivíduos, obviamente determinadas músicas serão consideradas “excluídas” quando o critério a ser discutido é se elas possuem qualidade ou não.

    É obvio que todos devem ser livres para produzir a música que quiserem, assim como ouvir. Aliás, não sei nem como seria possível proibir este tipo de coisa, em termos práticos.

    Mas o que estamos discutindo não é se as pessoas devem ou não ser livres para ouvir vários estilos musicais.

    Estamos discutindo se existe valor na música e como reconhecê-lo, sem se deixar enganar por barreiras de categorização como “ritmo” ou “estilo”.

    Potomão de Alexandria não era alguém que achava que qualquer filosofia servia, pois não existiam critérios para se analisar validade de pensamento humano. Ao contrário. Quando Diógenes Laércio disse que ele era “eclético”, referia-se ao fato de que Potomão sabia reconhecer o que havia de melhor na obra de vários filósofos distintos.

    E não adianta discutir com o homem que cunhou o termo.

    Da forma como ele se referia, “eclético” seria alguém que sabe reconhecer o que há de melhor nos vários estilos artísticos, mas isso não quer dizer que ele não saberia reconhecer qualidade. Um “eclético” de verdade jamais diria “dane-se a arte”, afinal de contas, é na arte que ele reconhece o melhor de cada tendência.

    Você parece ter colocado na cabeça, Octavinho, que a ideia geral é que um ritmo faz a qualidade da música, mas nada mais absurdo do que isso.

    O Funk é um estilo musical extremamente rico, mas o que é feito no Rio de Janeiro ultimamente e levado este rótulo em nada se assemelha com o que já foi feito por bons artistas de funk do passado, como Tim Maia.
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  14. Ninguém que é eclético de “verdade”, ou como queria Diógenes, vai sair dizendo uma besteira como essa:

    “Quer acabar com o funk, o sertanejo, o rock pesado, o rap, o samba? Acabe primeiro com as motivações para essas músicas. Transforme a realidade. Faça das favelas onde já residiram milhares de funkeiros ambientes respeitáveis, incentive a fidelidade entre casais para não ouvir mais músicas com traições dos sertanejos, erradique a pobreza dos velhos locais onde se fazia samba, entre outras coisas.”

    Principalmente por que saberia que “acabar” com um estilo musical seria justamente o inverso do se esperaria do ecleticismo. E depois por que saberia que a verdadeira motivação para a arte é a contemplação do infinito, em um mergulho para dentro da alma e não aquilo que é adquirido por influência social.

    Além disso, uma coisa é falar sobre o mérito de ser conteúdo para análise antropológica no futuro e outra é dizer que só por isso, já justifica tudo o que se pode esperar do conteúdo artístico.

    Quando você fala que só deixar de dizer “dane-se a arte” quando ver a intervenção direta dos críticos de arte no meio social, mas entenda que quem faz arte é o artista e não o crítico e é óbvio que a arte tem uma influência direta sobre o meio social. Aliás, é capaz de mudar a vida das pessoas. Ou então me diga como gênios da arte como Machado de Assis saíram da miséria para ter reconhecimento global se não foi pela arte?

    Os exemplos pipocam aos montes.

    Se a sociedade realmente soubesse valorizar conteúdo artístico, veríamos a arte como instrumento de transformação social de forma muito mais dinâmica do que a que vemos hoje.

    Por um acaso você sabe o nível de habilidade que podem chegar alguns artistas de rua que fazem espetáculos em troca de moedas?

    Por fim, tudo o que é imaginado, foi criado por um fenômeno físico, a partir da interação de neurônios, Octávio. Além disso, quando a criação tem o objetivo de evocar emoções (fenômeno concreto) na plateia, obviamente, terá que interagir com o real.

    Por isso é que existe verdade na arte.

    E a arte está inserida em todas as produções humanas.

    Chico Sofista.

16 comentários:

  1. Bom, Chicão, serei o mais breve possível nestas considerações iniciais. Como você sabe, sou defensor ferrenho do Ecletismo quando o assunto é música. Mas, o que é Ecletismo na minha visão?

    Ao contrário do que muitos dizem, um eclético não tem necessariamente que gostar de tudo. Porém, quando lidamos com manifestações socioculturais válidas (como é a música), deve haver o respeito entre ouvintes de todos os ritmos, dos mais tradicionais aos mais novos.

    Um argumento muito comum usado por aqueles que não respeitam é o de que certos ritmos só tem um tema. Por exemplo, o funk só trata de prostituição, o sertanejo só mostra homens cornos e mulheres assanhadas, o samba vive de passado, o rock é demoníaco e assim vai.

    Esse, sem dúvida, é um dos argumentos de maior imbecilidade e desonestidade intelectual que já produzimos pois, além de culpar todo um ritmo pela obra de alguns, desconsidera também que, na maioria dos casos, esses alguns tiveram contato com apenas um tipo de realidade e, para escapar dela, decidem fazer músicas usando o que sabem. Ou seja, não se pode condenar o autor da música quando não se sabe as suas origens, ou os porquês de cantar X e não Y.

    E outra, como eu disse, os ritmos são livres. O "achar agradável" é apenas mais um no amontoado de conceitos que adquirimos culturalmente. Sendo assim, é óbvio que o nosso critério para "agradável" se limitará ao que temos como cultura (até mesmo os nossos sentidos são influenciados pela nossa cultura). O problema é que muitos se esquecem de que não são suas opiniões sociais que demeritam um ritmo.

    Você, Chico, porém, não me mandou estes argumentos em nossa discussão preliminar. Você disse: " Música é para ser sentida, e não respeitada". Por favor, explique sua afirmação, e comecemos o debate. Despeço-me e agradeço-lhe pela oportunidade do debate.

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  2. Diógenes Laércio foi o primeiro a empregar o termo “ecletismo”, referindo-se a Potamão de Alexandria, que selecionava o melhor de cada filosofia com as quais tivera contato, iniciando uma “escola eclética”.

    Tomando este termo em sentido amplo, temos que, para ser “eclético” é necessário:

    1- Opor-se às noções de caráter dogmático, na busca de possibilidades consensuais e conciliatórias.

    2- Buscar encontrar um critério de verdade que permita justificar as próprias posições, bem como eleger, entre as várias correntes de pensamento, as noções que se apresentem em conformidade com este critério.

    É diferente de “sincretismo”, que é a fusão de elementos discordantes. O “ecletismo” pretende possuir um princípio que pode harmonizar teorias aparentemente diversas.

    Nas artes, ecletismo pode ser simplesmente a liberdade de escolha sobre aquilo que se julga melhor, sem a apegação a uma determinada marca, estilo ou preconceito.

    Mas isso significa que não existem critérios objetivos para se avaliar o conteúdo artístico? É possível dizer que uma música é “boa” ou “ruim”? Qual a importância de se estabelecer estes critérios?

    Uma coisa é dizer que é possível reconhecer qualidade no conteúdo artístico de diferentes estilos musicais.

    Outra é dizer que por isso, qualquer tipo de música é de qualidade, por que vai agradar algum tipo de ouvinte,e como arte é abstrata, toda opinião tem o mesmo valor.

    Dizer isso é o mesmo que dizer que não é possível de se reconhecer “verdades” na arte ou na música. Ou que qualquer coisa que seja feita é válida e que o “belo” não existe, é apenas uma ilusão coletiva.

    Quando o assunto é música, esta é uma longa discussão. Quando alguém me responde que seu gosto musical é “eclético”, normalmente o que se segue no diálogo são referências a uma enorme gama de porcarias, sem nenhuma qualidade artística.

    Gostar de muita coisa é bem diferente de gostar de QUALQUER coisa.

    O estilo musical que uma pessoa prefere diz muito a respeito da personalidade da mesma e somente alguém que não consegue ir fundo em sua própria percepção artística consegue se sentir atraído por algo que possa ser praticamente o oposto daquilo.

    É difícil não ficar incomodado com música ruim quando se está acostumado a ouvir música boa e isto não tem nada a ver com o ritmo, ou estilo musical.

    E a maioria das músicas que fazem mais sucesso não são músicas de boa qualidade musical, qualquer um que estuda música pode confirmar isso.

    O meu argumento é o de que é possível reconhecer elementos universais e concretos que estão relacionados com a promoção de qualidade artística. Sendo assim, é possível reconhecer a “verdade” através da arte.

    É possível reconhecer verdade na arte? Na música? O seu maior ídolo, Friedrich Nietzsche, acha que sim e concorda comigo. Como você deve saber, Nietzsche escreveu bastante coisa sobre arte e também sobre música, principalmente a obra de Richard Wagner, que também tinha sido influenciado pela ideia de arte proposta por Shopenhauer.

    Então nos diga, Bezerro!

    Você acha que qualquer música serve e que não é possível avaliar qualidade de conteúdo artístico?

    Até a próxima.

    Chico Multi-instrumentista.

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  3. Bom, grande Chicão (não vou chamá-lo de Sofista, pois cansei de ver gente te desmerecendo por causa desse "apelido"),já agradeço-lhe pela atenção e, para tentar satisfazer suas expectativas, surpreendê-lo-ei nesta réplica.

    Começo, curiosamente, respondendo a sua última pergunta com a seguinte frase: Dane-se a arte! A própria questão sobre se a música deve ou não ser artística é muito controversa. Quando eu me digo eclético, não é porque acho impossível avaliar qualidade de conteúdo de arte ou "whatever". É porque eu creio que há questões muito mais importantes a serem tratadas e a serem disputadas do que "qual ritmo é melhor?". A música não se trata de dogmatismos baseados em arte, mas sim em um gosto, algo a ser apreciado, conforme a cultura do cidadão.

    As variedades rítmicas da música, meu caro, assemelham-se, em um ponto crucial, com as diferentes línguas existentes e com as variantes dentro de uma mesma língua. Com aquelas por demonstrarem formas diferentes de se categorizar a realidade segundo a cultura de alguém, e com estas por mostrarem as diversas realidades culturais existentes em um mesmo lugar.

    Um funkeiro e um rockeiro, por instância, não veem o mundo de uma mesma forma. Só que será mesmo que uma visão de mundo de um rockeiro não poderia MESMO ser representada no ritmo do funk? Entende, é disso que eu falo. As pessoas discriminam o ritmo porque alguns o fizeram inferior por usarem-no "errado", mas elas se esquecem de que algumas letras de música dificilmente representam a ideologia de um ritmo todo. Você mesmo, Chicão, que é fã de rock, não fica louco da vida quando ouve alguém dizer que rock é coisa demoníaca (o que, convenhamos, é uma mentira deslavada), quando você sabe que uma coisa nada tem a ver com outra? Imagine alguém que goste de Sertanejo sendo rotulado por causa do seu gosto. Será mesmo que vale a pena subdividir AINDA MAIS as pessoas no estúpido dualismo "bom X ruim" por meio de algo que deriva de gosto pessoal ou grupal?

    Concluo esta réplica dizendo que os critérios estabelecidos para avaliar o que é arte não são necessariamente motivados pela noção de arte em si, pois esta mesmo, segundo as pessoas da área, é dificílima de definir. Os próprios críticos de arte têm problemas quando algum artista cria um novo conceito para a arte. Eles são frutos de convenções sociais que partem não do gosto da maioria, e sim de alguns grupos que acabam impondo seu gosto ao resto, e os convencendo de que tudo que saia disso é ruim e "deve ser eliminado".

    Digo, também, que, como já afirmei, não sou obrigado a concordar com Friedrich EM TUDO. E eu discordo principalmente na importância monumental que ele dá para a arte. O considerado artístico pode servir para fins fora da arte, assim como a música, quando "artística" ou não, é útil para os matemáticos. Só que temos que ter em mente que vamos achar VERDADES RELATIVAS A CADA CULTURA nela. Afinal, a música em si não necessariamente apresenta compromisso com o real. Além disso, há mais de um jeito de se representar verdades, concorda?

    Para finalizar, eu pergunto a você, Chicão: Já que está falando tanto em critérios, diga-me: o que você toma por base para dizer que as referências do eclético são, normalmente, uma "bosta"? Se for o seu vão gosto, digo-te que isso não é argumento objetivo, o que contraria toda a sua tese. Se for com base na palavra de críticos, digo-te que há controvérsias em todas as áreas científicas e afins, o que nulifica sua tese. Se for no gosto da maioria, isso não passa de argumentum ad popullum (com apelo a maioria), o que torna sua tese falaciosa. E se não for nada disso, despeço-me com um breve aceno, pois já me paguei da tarefa de replicar-lhe, e espero que me replique. Até mais.

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  4. De fato, você me surpeendeu:

    ‘Dane-se a arte!’ – Octávio Henrique.

    Com uma frase como esta, vai para o lixo, absolutamente todo o que você escreveu daí em diante.

    E o pior é que você não tem a mínima ideia sobre como o conceito de “arte” que Nietzsche tinha foi importante para que ele estabelecesse todos os outros conceitos que ele teve a respeito de todas as outras questões para as quais investigou. Não compreender a visão que Nietzsche tinha a respeito da arte é não compreender a mais íntima intenção do autor em toda a sua obra.

    Arte é a utilização de habilidades e imaginação para a criação de objetos estéticos, ambientes ou experiências que possam ser partilhadas por outras pessoas.

    É a mais sofisticada expressão das habilidades cognitivas já desenvolvidas pelo Homo sapiens.

    Mesmo assim, a espécie dissidente, Homo octávius, foi desenvolvida para defender que “Dane-se a arte”. Ou seja, para o inferno com tudo aquilo que demanda sacrifício de tempo e aprofundamento cognitivo e abraços a tudo aquilo que possa ser disseminado culturalmente, ainda que raso e vazio de significado, cuja maior função é criar slogans repetitivos que incentivam uma vida sem reflexão ou significado.

    Oras, se é verdade o que o Octávio diz e que “é impossível avaliar qualidade de conteúdo de arte”, então todos os professores de arte e literatura deveriam ser mandados para o olho da rua.

    Onde é que já se viu falar de Machado de Assis, quando todo mundo só quer saber de Paulo Coelho? Quem vê graça em Van Gogh, depois que inventaram o vídeo game?

    Dane-se a arte! Dane-se tudo de bom que já foi produzido pela humanidade! Nada possui valor.

    Por que pagar alguém para falar das qualidades literárias de escritores que já morreram há muito tempo, se não há valor legítimo para se tirar de nada do que foi produzido por eles?

    E o mesmo vale para todos os professores de música, acadêmicos que se instruíram na evolução de cada ritmo e sabe o tanto que cada uma exige das capacidades cognitivas do artista para que sejam realizadas.

    Isso é reconhecer arte. Compreender o grau de complexidade e profundidade de uma criação humana e estabelecer diferenciais deste conteúdo artístico com os demais já produzidos por outros artistas.

    É óbvio que é possível estabelecer critérios objetivos para este tipo de comparação.

    Dizer o contrário é o mesmo que dizer que todos os artistas que já existiram, desde Da Vinci, até Mozart, estão em pé de igualdade naquilo que podem representar para a evolução cultural do ser humano a repetidores de frases de efeito com conotações fúteis, como nossos astros do funk carioca ou do axé nordestino.

    É óbvio que aquilo que é apreciado sempre estará nos mostrando as características de personalidade das pessoas que aderem, de corpo e alma, à determinado ritmo musical, que dividem similaridades em mensagens líricas, em temas que se referem à coisas que cada pessoa gosta de vivenciar em sua vida pessoal.

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  5. Quanto a novos conceitos de arte, de fato, muitos passam despercebidos. Grandes artistas só foram reconhecidos após suas mortes, não tendo produzido nada que fosse visto como bom, enquanto estavam vivos.

    Mas isso não quer dizer que o que eles criaram era impossível de ser avaliado, em qualquer que fosse a época do desenvolvimento da percepção artística humana.

    Você está dizendo, caro Octávio, que não existe verdade na arte, o que é um absurdo por essência, por tautologia filosófica. Recomendo que leia muito mais de Friedrich Nietzsche e compreenda que a relativização deste conceito tão importante, no fim das contas leva à ruína do valor de todo conhecimento humano, afinal de contas, se nada é concreto, nada possui valor algum.

    E quando se pensam em mudanças de valores para a sociedade, sejam eles quais forem, é necessário pensar naquilo que seria melhor para o crescimento da mesma e não para a criação de ovelhas repetidoras de slogans, incapazes de perceber a profundidade das possibilidades das criações artísticas humanas.

    Exatamente por isso, quem possui conhecimento deve ser valorizado e a opinião de especialistas deve ser muito mais importante do que a quantidade de pessoas que resolveu repetir a mesma ladainha vazia, criada com objetivo unicamente mercadológico.

    “Afinal, a música em si não necessariamente apresenta compromisso com o real” – Octávio Henrique.

    Como assim, Octávio? Por um acaso a música não é produto do real e interage diretamente com real em todos os momentos de sua existência? De onde é que você tirou que música é algo que não existe, então qualquer música tem o mesmo valor?

    Pense, bezerrinho, pense.

    E leia mais Nietzsche.

    Depois volte aqui responder.

    Até a próxima.

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  6. Comecemos a tréplica, grande Chicão.

    Primeiro, elucide-me sobre como Nietzsche propôs um sistema educacional revolucionário, mandou a política de sua época aos infernos e propôs outro sistema político para o mundo por meio da arte. Até onde sei, esses também são pontos principais de seu pensamento que precisaram não da arte, mas sim de outras filosofias para serem concretizados.

    Coloco, também, outras 3 definições de arte advindas de fontes confiáveis que mostram a flutuação do conceito nos tempos contemporâneos. Sendo assim, fica provado o meu ponto de que, CIENTIFICAMENTE, o conceito é dificílimo de ser delimitado. Aí vão:

    "Arte geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra."

    "O conceito de arte é extremamente subjetivo e varia de acordo com a cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão.Não se trata de um conceito simples e vários artistas e pensadores já se debruçaram sobre ele."

    "A Arte é desenvolvida com o intuito de mostrar o pensamento do artista e expressar os sentimentos, por meio de correntes de estilo e estéticas diferentes."

    Vê? Só neste debate já pegamos quatro definições diferentes de arte. Eu nunca disse, a propósito, que é impossível avaliar a qualidade de conteúdo de arte, também porque, queira eu ou não, essa avaliação já existe. Porém, o que eu realmente disse é que não se pode querer alçar um ritmo musical a um nível superior simplesmente por ser considerado artístico, pois o conceito de artístico é fruto de convenções sociais e varia com o tempo. E muito menos deve-se rotular grupos como ignorantes ou tolos por apresentar um conceito diferente do normativismo artístico na música.

    Nunca falei de banir grandes literatos, músicos e outros artistas. O que eu disse é que não se deve excluir socialmente aqueles que não apreciam suas obras simplesmente por não apreciarem essas obras. Afinal, se eu falar que eles devem ser excluídos, eu estou dizendo que só a minha forma de pensar o mundo está certa, e é isso que leva a conceitos absolutistas como "Uma língua, um povo, uma nação", "A voz do povo é a voz de Deus" ou "Quem não crê em Deus não pode ser bom"..

    Bom, serei sintético ao máximo neste fim de tréplica. Será mesmo que as pessoas que não seguem o conceito magno de arte não sabem o que é profundidade de criação?

    Ora bolas, se na Literatura algo pode ser reconhecido como Literatura desde que alguém ou algum grupo o analise de forma mais profunda do que o amontoado de palavras parece ser, o mesmo pode acontecer na música. E isso requer uma abstração muito grande, assim como o conceito de Ecletismo em si. É necessário sair da zona de conforto dos absolutismos conceituais por algum tempo antes de perceber essas alternativas.

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  7. Já a questão dos repetidores de slogans: Há realmente muita diferença entre criar uma geração que vomita versos de funks ou raps, mas que pelo menos está disposta a saber seu significado e provavelmente saberá, e criar uma geração de pseudointelectuais que ficam vomitando, sem nem saber quem são ou o que queriam dizer, frases de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, fato que faz com que, injustamente, esses dois caiam em descrédito por quem, como você, acha que sabe de Literatura?

    Outro detalhe: Chicão, o conhecimento humano já existe, e está apto a refutações. Está exatamente aí o seu valor. Quando as pessoas compreenderem isso, não precisaremos ficar justificando que o conhecimento tem sim valor.

    "Exatamente por isso, quem possui conhecimento deve ser valorizado e a opinião de especialistas deve ser muito mais importante do que a quantidade de pessoas que resolveu repetir a mesma ladainha vazia, criada com objetivo unicamente mercadológico. "

    A partir desse ponto, você se contradiz. Afinal, se um especialista chegar e falar que o que você e a "maioria" acham bom é uma merda, ou que o que vocês não reconhecem como arte é artístico, não adiantará de nada a vossa opinião.

    Agora, seja sincero: Será mesmo que todas as pessoas dão ouvidos aos especialistas? Curiosamente, muitos especialistas de renome na linguística pregam o respeito às variantes linguísticas dentro de um idioma. Isso acontece? Não. Os especialistas em Literatura dizem para NÃO ficar valorando uma escola literária em relação a outra com base em subjetivismos. Eles são acatados? Também não.

    Por outro lado, os especialistas dizem que certo ritmo é superior a outro, mesmo que os dois sejam apenas visões diferentes de uma mesma cultura, porque tem maior "elaboração musical" ou porque o outro trata de temas inapropriadas. Sabe o que acontece com essa visão tirânica e CONTROVERSA? É seguida à risca.

    Resumindo, Chicão, as pessoas ouvem os especialistas só quando lhes convém.

    Para finalizar, se a música e a arte tem que ser, necessariamente, produtos do real e não de abstrações baseadas em ideias da mente humana, que não são provadas como reais, você então desconsidera como musicais as músicas criadas à semelhança de figuras mitológicas ficcionais e obras de arte baseadas no não-comprovadamente real, certo? Pois é, então você despreza "só" duas artes pilares para todo esse conceito de arte ocidental atual, a greco-romana e a cristã. Explique-me como um grande defensor da arte faz uma besteira dessas?

    Concluo aqui a minha tréplica e espero a sua virtuosíssima resposta, camarada.

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  8. "A arte existe para que a realidade não nos destrua" - Friedrich Nietzsche.

    A arte pode oferecer aos homens força e capacidade para enfrentar as dores da vida. A própria vida justifica-se enquanto fenômeno estético e a existência nada mais é que um acontecimento estético.

    É exatamente aí que surge a maior fonte de inspiração para toda a filosofia de Nietzsche: os gregos pré-socráticos, em particular os sofistas, representantes da “tragédia” antiga, exaltadores da “Aretê” eram conhecedores do fato de que o homem é a medida de todas as coisas, e por isso, o que é bom para um pode não ser bom para o outro.

    Mesmo assim, sabiam reconhecer o valor do conhecimento e tentavam compreender como é possível extrair mérito a partir daquilo que se sabe.

    Toda produção humana que incentiva o desenvolvimento das habilidades cognitivas das pessoas e acrescenta qualidade para a evolução cultural de um povo deve ser incentivada, enquanto que aquilo que induz as pessoas a tornarem-se zumbis alienados deve ser visto com maus olhos. Tolerar o intolerável prejudica tanto quanto o ato em si. Por isso, para tudo na vida existe aquilo que toleramos e aquilo que achamos que não deve ser incentivado.

    Acreditar que as mídias modernas estão certas ao incentivar a absurda desigualdade que existe na atenção desmedida que é dada para os maiores “fenômenos” de marketing moderno, como Michel Teló, ou Latino, em comparação a reconhecidos gênios da música como Hermeto Pascoal ou Vila Lobos, que são grandes desconhecidos do público, é uma atitude de desrespeito com o desenvolvimento da própria cultura em que estamos inseridos.

    O fato é que nós podemos escolher o incentivo que deve ser dado para cada tipo de conteúdo e cabe a cada um de nós colaborarmos ou não para a disseminação de coisas que podem não ser úteis para o desenvolvimento da cultura.

    Segundo a visão de “arte” defendida por Nietzsche, influenciada pelos sofistas gregos e também por Shopenhauer, vivemos nossa vida como personagens de um livro, heróis de uma tragédia. Nela o nosso destino é sofrer; desse modo, o espectador aceita o sofrimento como parte da vida, e resiste à ele.

    Terminando este debate, Octávio, eu sugiro que você leia imediatamente “O Nascimento da Tragédia”, de Nietzsche, que é talvez a mais bela obra já escrita pelo seu autor favorito, e também fundamental para que se possa compreender a essência de seu pensamento, afinal de contas, é com essa visão de mundo que ele defende todos os outros pontos abordados por sua filosofia.

    É nesta obra que Nietzsche faz a comparação dos impulsos artísticos existentes aos que existem na própria natureza, inspirados pela presença dos deuses gregos Apolo e Dionísio.

    Apolo representa a “luminosidade”, ou a “racionalidade”, “sabedoria”, defendendo às artes plásticas, à estética do sonho, à busca pela perfeição da forma. Apolo é o deus do princípio de individuação, princípio pelo qual, nas palavras do filósofo, "nos sentimos indivíduos colocados em um ponto preciso do espaço e do tempo".

    A arte apolínea é um impulso de ordenação do "caos da vida" - uma justificação estético-racional originada na perplexidade diante da natureza, do devir e do absurdo da existência. Por esta razão, os gregos criaram os deuses olímpicos, uma forma de estética apolínea, cujo intuito é mascarar os terrores da existência (por exemplo, a própria finitude da existência.

    A beleza é, então, criada artificialmente.

    A beleza é uma aparência, um fenômeno, uma representação que tem por objetivo mascarar, encobrir, velar a verdade essencial do mundo.

    Para escapar do saber popular pessimista, o grego cria um mundo de beleza que, ao invés de expressar a verdade do mundo, é uma estratégia para que ela não ecloda. Produzir beleza significa se enganar na aparência e ocultar a verdadeira realidade. A consciência apolínea substitui o mundo da verdade por formas belas.

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  9. Apesar de toda essa ordenação, que caracteriza nosso campo da consciência, de toda essa regularidade, que parece fazer do mundo da representação o lugar mesmo da verdade, tudo seria mesmo um sonho vazio ou uma insana quimera, se não houvesse uma coisa mais fundamental, mais metafisicamente real: o mundo da vontade. O mundo é, sobretudo, vontade.

    Mas como perceber essa realidade que se encontra atrás das aparências, que existe fora do espaço e do tempo?

    “É através do corpo que se tem acesso a essa realidade mais íntima, através do corpo que o homem tem a consciência interna de que ele é vontade, um em-si.” – Schopenhauer.

    Agora, não do corpo visto de fora, no espaço e no tempo, não como objetivação da vontade, como representação, mas enquanto imediatamente experimentado em nossa vida afetiva.

    É na alternância entre dores e prazeres, faltas e satisfações, desejos e decepções que surge a vontade como essência e princípio do mundo, como querer sem dono, trans-individual, cego e sem razão, em sua tenebrosa e abismal perpetuação.

    Essa vontade é força que age na natureza e desejo que move o homem. Mas antes de se objetivar em diversos fenômenos, de se exprimir na multiplicidade dos indivíduos, a vontade se objetiva em formas e ternas imutáveis , que não estão nem no espaço nem no tempo.

    Esses modelos, ou arquétipos das coisas particulares, essas objetivações do querer na natureza são realidades intermediárias entre a vontade e a multiplicidade das individualidades.

    Schopenhauer encontra na contemplação estética a possibilidade para transcender o modo comum de se perceber o mundo, para se libertar do desejo, da vontade e apaziguar temporariamente a dor. Por meio da arte “nos subtraímos, por um momento, à odiosa pressão da vontade, descansamos da servidão do querer.”

    A percepção estética é visão imediata e direta, representação intuitiva pura na qual não intervêm nem o entendimento nem a razão, sempre conceituais. O sujeito se perde no objeto da percepção. Torna-se um claro espelho do objeto.

    Deixa de se preocupar consigo mesmo como um objeto espaço-temporal, deixa de ver os objetos em relação com a vontade individual e se torna repentinamente “sujeito puro de conhecimento”, isto é, destituído de vontade.

    A subjetividade da consciência comum desaparece, a percepção se torna objetiva.

    A consciência, que está inteiramente no objeto da percepção, não se preocupa mais nem com a disjunção entre a vontade e o mundo, nem com o fato de a vontade estar sem objetos.

    O sujeito puro de conhecimento, o gênio, arranca o objeto de sua contemplação da “corrente fugidia dos fenômenos”, contempla-o independentemente do princípio de razão e mergulha no intemporal.

    O mundo agora é visto por ele do ângulo da eternidade.

    Sua percepção estética não olha o presente – tempo da paixão, da dor e do tédio , coisa relativa ao passado quanto ao arrependimento ou ao futuro quanto ao desejo; evoca sim o tempo da arte, da contemplação pura, do interlúdio de sabedoria e paz.

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  10. Mas a razão de ser da tragédia está na alegria. O mundo como vontade e representação, a tragédia é mensagem de renúncia, de negação do querer viver. O verdadeiro sentido da tragédia, numa visão mais profunda, mostra que o que é expiado pelo herói não são os seus pecados particulares, mas sim o pecado original – a culpa pelo simples fato de existir.

    O conhecimento perfeito da essência do mundo, enquanto miséria, triunfo da maldade, suscita a resignação, a renúncia não só do querer, mas da própria vida.

    Para Nietzsche, a tragédia é uma mensagem de afirmação de vida. O herói trágico é negado para nos convencer do eterno prazer do existir, pois, com a sua aniquilação, fica restaurada a unidade originária – a vida eterna da vontade.

    Nesse momento de êxtase, de “vitória alcançada na derrota”, “a luta, a dor, a destruição dos fenômenos parecem necessários para nós”, porque deixam entrever algo de mais profundo que transcende qualquer herói individual, o eterno vivente criador, eternamente lançado à existência.

    A arte em favor da vida é a chave do pensamento de Nietzsche.

    A arte transfigura todo existente, mas só a tragédia exprime a crença na eternidade da vida.

    Não é por que existem várias definições para a palavra “ciência” que não é possível se extrair nada de concreto com as aplicações do termo.

    Da mesma forma, não é por que existem várias definições para a palavra “arte” que não seja possível se analisar suas implicações em tudo o que é humano.

    Isso pode muito bem ser mostrado pelo uso da razão, sem a necessidade do método científico, como muito bem explorado por Nietzsche e Shopenhauer.

    Mesmo assim, se você reduzir a questão a termos biológicos, verá que é possível de se mensurar as modificações neuronais que ocorrem em pessoas que estão acostumadas a ouvir diferentes tipos de músicas e como passam a responder a novos estímulos.

    Existem evidências concretas que demonstram quais estruturas do cérebro são estimuladas de acordo com vários tipos de estímulos rítmicos.

    Esses padrões são importantíssimos para o desenvolvimento da comunicação em pássaros, por exemplo, mas em humanos chega a níveis de complexidade que parecem fazer a história toda parecer “abstrata demais” para ser analisada, mas não é verdade.

    O fato é que existem vários estudos demonstrando que pessoas com melhores notas em testes de Q.I. tendem a ter predileção por estilos musicais mais sofisticados.

    E é fato também que não vivemos em uma cultura onde as pessoas valorizam o conhecimento ou a inteligência e onde a maioria dos nossos “ídolos de sucesso” musical são artistas que existem apenas para perpetuar a ignorância e a pobreza no desenvolvimento da arte.

    Por fim, Bezerrinho, preste atenção no que você escreve para não falar asneiras. Toda produção humana, ainda que baseada em figuras mitológicas ficcionais, ao ser experimentada por outro ser humano, é produto e consequência do real, ainda que o imaginário tenha sido seu veículo.

    E relativizar uma questão desses é tirar todo o valor que a própria cultura humana pode possuir.

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  11. Chicão, Chicão, você falou, falou e pouco disse. Primeiro, você não me explicou exatamente qual a relação entre o gosto nietzschiano por arte e seu desprezo por política. Isso, meu caro, não tem relação necessária com arte.

    Segundo, se o sistema Nietzschiano de educação tinha tanto a ver com Arte, por qual razão não a colocou como disciplina obrigatória? Aliás, ele priorizou, nessa parte de seu pensamento, a Filosofia clássica não-artística. Afinal, até onde eu saiba, Heródoto não era lá um grande crítico de arte, e sim um historiador.

    Terceiro, a questão do incentivo é muito difícil de ser analisada. Afinal, alienação nem sempre é imposta, e pode ser sim escolhida, pois há, democraticamente, a liberdade para ser declaradamente alienado. Que consequências isso trará é outra questão.

    E outra, como eu já disse, será mesmo que alguém que para para analisar a letra de uma música dita "inferior" e para ela atribui sentido diferente do do senso comum é mesmo um alienado?

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  12. Enfim, não me delongarei muito mais nessas Considerações Finais, pois você francamente não entendeu o que eu disse. Eu nunca disse para INCENTIVARMOS a divulgação das músicas "inferiores". O que eu quis dizer é que não se deve excluir alguém socialmente só porque ele gosta dessas músicas, especialmente porque muitas delas trazem a tona uma realidade que poucos querem enxergar. A da pobreza, da fome, do tráfico.

    Se o povo gosta disso, não é só porque tem ritmo "mais fácil". É também por se identificar, de alguma forma, com a realidade cultural ali apresentada. Quer acabar com o funk, o sertanejo, o rock pesado, o rap, o samba? Acabe primeiro com as motivações para essas músicas. Transforme a realidade. Faça das favelas onde já residiram milhares de funkeiros ambientes respeitáveis, incentive a fidelidade entre casais para não ouvir mais músicas com traições dos sertanejos, erradique a pobreza dos velhos locais onde se fazia samba, entre outras coisas.

    Lembre-se, no entanto, de duas coisas:

    A- Sempre haverá alguém apreciando esses estilos, não por alienação, mas sim por gosto. As pessoas, mesmo que não admitam, sempre procuram novas ideias, novas fronteiras, novos ritmos, Chico.

    B- Isso não tira o mérito cultural-histórico que eles hoje têm e sempre terão. Algumas letras de funk e rap são verdadeiras reportagens da realidade daqueles locais, e os pessimistas-realistas de plantão não se sentem tão sozinhos quando veem que mais alguém sabe do que eles estão falando.

    Por fim, eu agradeço à arte pelo papel que DIZEM que ela teve no desenvolvimento do Homo sapiens, mas ainda continuo dizendo: Dane-se a arte!, e só deixarei de dizer isso quando vir intervenção direta dos ditos críticos e artistas no meio social em que vivem, não por meio de obras complicadas e palavrório bonito, e sim por ações. Senão, viverão eternamente em "um plano superior".

    Não estou dizendo que o povo não deve acessá-lo. Pelo contrário, pois isso seria um discurso capitalista demais para mim. O que estou dizendo é que não adianta disponibilizar o plano superior (artes) quando o plano inferior (sociedade) está mal construído, exploratório e impossibilita a ascensão ao plano superior.

    E adianta muito menos disseminar preconceito contra quem tem uma visão culturalmente diferente sobre que ritmo musical é superior pois, além de gerar conflitos sem resultados bons, criam-se ainda grupos mais fechados em suas próprias culturas, o que impede a miscigenação e a criação do novo, tão essencial para o ser humano em seu processo evolutivo.

    Bom, é isso. Não sei se consegui convencê-lo, e nem vim aqui para isso. Porém, espero que eu tenha conseguido defender, sem ofendê-lo, a minha ideia de que o preconceito com grupos porque estes preferem uma outra forma de entretenimento considerada menos culta, porém igualmente saudável. Afinal, a música nada impõe de ruim. A forma como é interpretada é culpa não de si, mas sim do ouvinte, pois a música, assim como a Literatura, não tem compromisso NECESSÁRIO com dogmatismo ou ensinamentos.

    A propósito, se veio da imaginação, não tem compromisso com o real, pois a imaginação é real, mas o que ela imagina não necessariamente o é.

    Espero a conclusão deste grande cara que é o Chicão.

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  13. Eu gastei quase 10.000 caracteres em minha tréplica e ainda assim você achou que eu “pouco disse”, pois não consegui te convencer o quão é importante a ideia que Nietzsche tinha da arte para toda a sua filosofia.

    Mas não acredite em mim. Consulte especialistas em Nietzsche na internet e verifique se essa relação não extremamente importante para a real compreensão de toda a obra do autor. Ou melhor, consulte a fonte. Leia “O nascimento da tragédia” e vai entender muito bem o que é que eu estou falando.

    Oras, se para Nietzsche a vida se justifica enquanto fenômeno estético, todas as suas ações pedagógicas ou políticas passam a ser avaliadas por este novo prisma, a de personagens em um livro, representando o espetáculo da contemplação da eternidade da vontade.

    Além disso, Octávio, a questão de incentivo não é tão difícil de ser analisada assim, aliás é fundamental que seja feita. A todo momento, as respectivas secretarias da cultura estão se decidindo quais os conteúdos que devem receber apoio estatal, ou seja, do nosso bolso, para divulgação da cultura no território nacional. Baseados em quais conceitos será dada prioridade para determinado tipo de música em relação a outro?

    Ninguém escolhe se vai ou não nascer em uma sociedade alienada, mas todos tem a possibilidade de descobrir quando é que estão sendo manipulados.

    Quando isso acontece, pode escolher se vai se deixar alienar como os outros.

    Se existe um mecanismo que vai tolerar ou não determinado tipo de construção artística, baseado em critérios de um número de indivíduos, obviamente determinadas músicas serão consideradas “excluídas” quando o critério a ser discutido é se elas possuem qualidade ou não.

    É obvio que todos devem ser livres para produzir a música que quiserem, assim como ouvir. Aliás, não sei nem como seria possível proibir este tipo de coisa, em termos práticos.

    Mas o que estamos discutindo não é se as pessoas devem ou não ser livres para ouvir vários estilos musicais.

    Estamos discutindo se existe valor na música e como reconhecê-lo, sem se deixar enganar por barreiras de categorização como “ritmo” ou “estilo”.

    Potomão de Alexandria não era alguém que achava que qualquer filosofia servia, pois não existiam critérios para se analisar validade de pensamento humano. Ao contrário. Quando Diógenes Laércio disse que ele era “eclético”, referia-se ao fato de que Potomão sabia reconhecer o que havia de melhor na obra de vários filósofos distintos.

    E não adianta discutir com o homem que cunhou o termo.

    Da forma como ele se referia, “eclético” seria alguém que sabe reconhecer o que há de melhor nos vários estilos artísticos, mas isso não quer dizer que ele não saberia reconhecer qualidade. Um “eclético” de verdade jamais diria “dane-se a arte”, afinal de contas, é na arte que ele reconhece o melhor de cada tendência.

    Você parece ter colocado na cabeça, Octavinho, que a ideia geral é que um ritmo faz a qualidade da música, mas nada mais absurdo do que isso.

    O Funk é um estilo musical extremamente rico, mas o que é feito no Rio de Janeiro ultimamente e levado este rótulo em nada se assemelha com o que já foi feito por bons artistas de funk do passado, como Tim Maia.

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  14. Ninguém que é eclético de “verdade”, ou como queria Diógenes, vai sair dizendo uma besteira como essa:

    “Quer acabar com o funk, o sertanejo, o rock pesado, o rap, o samba? Acabe primeiro com as motivações para essas músicas. Transforme a realidade. Faça das favelas onde já residiram milhares de funkeiros ambientes respeitáveis, incentive a fidelidade entre casais para não ouvir mais músicas com traições dos sertanejos, erradique a pobreza dos velhos locais onde se fazia samba, entre outras coisas.”

    Principalmente por que saberia que “acabar” com um estilo musical seria justamente o inverso do se esperaria do ecleticismo. E depois por que saberia que a verdadeira motivação para a arte é a contemplação do infinito, em um mergulho para dentro da alma e não aquilo que é adquirido por influência social.

    Além disso, uma coisa é falar sobre o mérito de ser conteúdo para análise antropológica no futuro e outra é dizer que só por isso, já justifica tudo o que se pode esperar do conteúdo artístico.

    Quando você fala que só deixar de dizer “dane-se a arte” quando ver a intervenção direta dos críticos de arte no meio social, mas entenda que quem faz arte é o artista e não o crítico e é óbvio que a arte tem uma influência direta sobre o meio social. Aliás, é capaz de mudar a vida das pessoas. Ou então me diga como gênios da arte como Machado de Assis saíram da miséria para ter reconhecimento global se não foi pela arte?

    Os exemplos pipocam aos montes.

    Se a sociedade realmente soubesse valorizar conteúdo artístico, veríamos a arte como instrumento de transformação social de forma muito mais dinâmica do que a que vemos hoje.

    Por um acaso você sabe o nível de habilidade que podem chegar alguns artistas de rua que fazem espetáculos em troca de moedas?

    Por fim, tudo o que é imaginado, foi criado por um fenômeno físico, a partir da interação de neurônios, Octávio. Além disso, quando a criação tem o objetivo de evocar emoções (fenômeno concreto) na plateia, obviamente, terá que interagir com o real.

    Por isso é que existe verdade na arte.

    E a arte está inserida em todas as produções humanas.

    Chico Sofista.

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  15. Não entendi bem o que o Chico quis mostrar aprofundando no significado dos termos e na definição de onde a arte pode nos levar intelectualmente e os caminhos abstratos que elevam nossa consciência por esse caminho.

    O fato é que não acho necessário aprofundamento quando o assunto se faz bem compreender pelo nosso cotidiano.

    Quando o Chico fala sobre alguém ser eclético ele está certo em deduzir que esse individuo provavelmente deve gostar das musicas mais simples e populares. Também estatisticamente pode ser que essas pessoas tenham uma inteligência musical menos apurada e também um QI mais baixo. Porém essa explicação pode não estar na capacidade intelectual geral do indivíduo, salvo a inteligência musical, já que necessita treino. O que percebo na verdade é uma questão contextual de status de grupos.

    Assim como pessoas ricas tem tendência a apreciarem e entenderem de vinho, pessoas cultas tem tendência a apreciar musicas mais complexas ou nem isso, pode ser simples mas que remetam ao grupo social que pertencem.

    Assim como não pega bem um rico não entender de vinhos, culinária ou costumes desse grupo social, uma pessoa culta também pega mal não entender de musica clássica ou grupos originais que fazem parte da evolução da musica. Ele nem precisa gostar, o grande lance é entender para assim manter a imagem no grupo. Claro que há exceções e também não tira o fato de que ao se estudar determinados estilos valorizemos sua complexidade.

    O fato aqui é que o gosto musical está muito mais ligado ao grupo que o individuo pertence do que a qualidade ou sofisticação da musica.
    O que acho complicado é sentenciar musica boa e ruim, por que isso depende do referencial. Se buscamos a complexidade das notas podemos dizer que a musica clássica é melhor, se for em criatividade pode ser que incluamos o jazz, mas se objetivamos o impulso dançante entra os ritmos de tempos mais constantes. Se for buscando informação, poesia a melhor são as que a letra é o foco.

    Dentre essas a mais subjetiva são as que promovem emoções, que é na prática o objetivo da arte. E se musicas elementares são capazes de proporcionar isso, elas não podem ser consideradas ruins.

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  16. Quando um especialista em musica vê um individuo escutando sertanejo, o que vem em sua mente é um preconceito absurdo e irracional. Como a musica atinge o inconsciente e provoca emoções, o “especialista” estimulado pelo som remete sua mente num instante a vários conceitos como, pobreza, ignorância, bebedeira, violência(que de fato pode estar relacionado), e nesse momento seu cérebro interpreta aquilo com repulsa. Nem há tempo dele interpretar o ritmo da musica em si.

    Porém caso esse especialista tivesse tido uma paixão por uma vizinha que adorava sertanejo, provavelmente sua reação seria completamente diferente, independente da apuração musical que ele tem.

    Entre os dois quem percebeu melhor essa situação foi o Octavio, pelo que entendi, ele defendeu que o ecletismo não necessariamente deve estar ligada a inteligência menor musical, mas sim de divisão de classes e culturas. Já o Chico, pelo que entendi, focou nas variantes e significado da arte que não explicava o efeito cultural e contextual que movimenta a musica.

    Hoje faz menos sentido musicas de protesto do que na época do regime militar, hoje se pode ganhar mais dinheiro com musica, sendo assim as musicas mais simples e dançantes dão mais retorno.

    Se esse efeito pode enterrar musicas de qualidade eu acho improvável mas paro aqui pra não estender.

    No fundo reprimimos aqueles estilos que estão ligados a grupos que temos preconceitos. Quem não tinha pavor das musicas de radio de empregada, vigia etc. Costumamos seguir o que as pessoas que admiramos gostam e repudiar a de grupos que não gostamos. Antes Roberto Carlos era horrível, brega e coisa de dona de casa e empregada domestica, de alguns anos pra cá muita gente vem resgatando um saudosismo e valorizando as musicas dessa época assim como as musicas anos 80 que estão em alta agora mas os mais apurados da musicas tinham nojo durante a década de 90.

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