segunda-feira, 20 de maio de 2013

Roger X Chico - HEAVY METAL E O CHOQUE CULTURAL.

Roger X Chico - HEAVY METAL E O CHOQUE CULTURAL.


§1 - Cada debatedor tem direto a no máximo 3 postagens (de 4096 caracteres cada uma) por participação - QUE DEVERÃO SER UTILIZADAS DA MELHOR FORMA POSSÍVEL POR CADA UM DOS DEBATEDORES.    


  §2 - Os debatedores DEVERÃO fazer 4 participações intercaladas por duelo:considerações iniciais, réplica, tréplica e considerações finais.    


   §3 - O prazo regulamentar entre as participações dos debatedores é de 7 dias. Todo adversário tem o direito de estender o prazo de seu oponente. Após o prazo, será declarada vitória por W.O. para o duelista remanescente.        


  §4 -  Após o duelo, o vencedor será escolhido através de votações em enquete. 

14 comentários:

  1. Ok. Vamos lá...

    Primeiramente eu gostaria de dizer que amo o Heavy Metal e que as músicas deste gênero transformaram minha vida. Ouço e vivo isso diariamente.

    Pois bem...

    1 – O surgimento.

    Tudo começou oficialmente em 1970, na ocasião do lançamento do primeiro álbum da banda Black Sabbath, o homônimo "Black Sabbath". Antes disso havia o rock, o pop rock, de bandas como Beattles e Rolling Stones, o rock louco de Chuck Berry, Elvis, etc. O Sabbath trouxe para o mundo uma nova concepção de música, um som mais profundo, pesado, e que tinha uma áurea completamente mística. Os críticos da época, como Lester Bangs, acreditavam que os anos 70 eram a morte do rock 'n roll. E eles estavam certos. Era o fim para um recomeço triunfal e repaginado.

    É inegável que o Black Sabbath tenha emprestado muitas influências de seus antecessores do rock e do blues, mas ainda assim eles transformaram a música de tal modo que soava como algo completamente novo. Apesar de o próprio Black Sabbath existir antes de 1970, ainda que com outro nome, podemos considerar esta data como o início oficial em face do lançamento oficial do álbum. Foi, aliás, o nome da música que deu nome à banda, e não o contrário.

    Quase que ao mesmo tempo, mas com estilo e visual bastante diferenciados, surgem bandas como Deep Purple e Led Zeppelin. O som era diferente, claro. Led Zeppelin ainda tinha mais vícios de desempenho como os rockeiros dos anos 60, Jimmy Page era um guitarrista de blues. O Deep Purple tinha letras rockeiras que falavam sobre carros e aventuras em auto-estradas. E sendo assim, apesar de tudo, não considero que Led Zeppelin e Deep Purple tivessem de fato o novo espírito Heavy Metal.

    Mas o ponto crucial em toda esta questão é o choque cultural. O novo gênero musical causava euforia em um bando de malucos ingleses, mas por outro lado trazia preocupações moralistas por parte da sociedade reacionária. Já havia sido difícil aceitarem o rock e toda a sexualidade expressa por Elvis e M. Jagger, mas agora as músicas falavam em magia, mística, demônios, loucura e insanidade, tais como Paranoid, Into the void, Hand of Doom, e inclusive a faixa Black Sabbath, que tinha uma sonoridade semelhante à de um ritual iniciático em algum tipo de seita.

    Era isso mesmo. O Heavy Metal surgiu como uma seita. No início era só o que havia. Os músicas lançavam os álbuns sem praticamente nenhum apoio da imprensa ou do poder público, e não havia internet nem as revistas especializadas como as que temos hoje. Então, cabia aos fãs procurarem onde podiam para encontrar as músicas e as datas dos shows. Na Europa, começaram a surgir algumas revistas de garagem, que produziam em tiragens pequenas, e daí então se iniciou uma fase que tornaria o heavy metal uma potência de fato.

    As revistas faziam publicações de cartas, e os ouvintes e leitores começaram a trocar discos e fitas cassete com pessoas de outros estados ou mesmo de outros países. A revista Kerrang! Foi uma das pioneiras neste meio, publicava imagens em preto e branco de Rich Blackmoore, Tony Iommy, Jimmy Page, entre outros ícones da música. E isso tudo era visto com muito preconceito pela população, embora fosse um preconceito não muito explícito, é claro. Ainda não era comparável ao que aconteceria na década de 80 nos USA.
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  2. 2 – A transformação.

    Podemos concluir a partir do que foi dito que o Black Sabbath teve uma influência em toda a estrutura musical e até mesmo social daquela época. O mundo começou a se libertar de muitos tabus a partir disso, e se não fosse por isso provavelmente viveríamos em um planeta bem diferente hoje em dia. Muitos podem pensar que é um exagero atribuir tamanha importância à música, e alguns dirão que a política transforma muito mais. É verdade que as decisões políticas, as guerras, as doenças e os avanços tecnológicos influenciam a sociedade de modo muito mais direto. Mas, a música, desde sempre, teve sua parcela de responsabilidade em diversas situações. Dizem que a música clássica de compositores como Beethoven, Bach, Mozart, entre outros, também era muitas vezes uma revolta contra o sistema, uma forma de crítica, uma provocação ou mesmo uma confrontação ao sistema. Se isso é verdade ou não, não posso dizer, pois música clássica não é bem a minha especialidade. Cabe a quem entende mais me desmentir sobre isso, se for o caso.

    Quanto ao Black Sabbath, em minha opinião, além de ter transformado a sociedade, diria que a banda, sobretudo por seu guitarrista Tony Iommy, foi responsável por lapidar a estrutura da própria música. Tony era um exímio compositor, capaz de fazer riffs e solos usando as mesmas notas em sequências e ritmos diferentes, fazendo com que a música soasse de diversas formas. E vale lembrar que ele foi pioneiro em seu estilo e posteriormente foi imitado por tantos e tantos músicos que até hoje o admiram. Ele mudou a forma de compor. Introduziu um conceito diferente de peso e versatilidade. É bem verdade que ele teve boas influências dos anos 60, mas, se analisarmos estruturalmente, não há nada em Tony Iommy que possa ser comparado ao que se fazia antes dele.

    E bem, como meu caro Chico Sofista deve ter notado, só mencionei o Black Sabbath em quase toda minha introdução. Mas, não se assuste. Sei que heavy metal é muito mais que isso, quero apenas com esta introdução conduzir o debate para uma zona apropriada, deixando os leitores cientes de minha clara opinião. Caso seja de seu interesse me confrontar e provar que estou errado quanto a isso, sabe que será um prazer! 

    E para deleite de nossos leitores, deixo algumas músicas e vídeos. Espero que gostem!

    http://www.youtube.com/watch?v=59SdjZuhekk

    http://www.youtube.com/watch?v=LRt3PIDER94

    http://www.youtube.com/watch?v=gbxfe7DMxVo

    http://www.youtube.com/watch?v=ugxFcmZXDyc
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  3. O termo “Heavy Metal” impregnou em nossa cultura de tal maneira que fica muito difícil definir de forma genérica seus significados sem desmerecer a imensa riqueza cultural presente por trás das criações artísticas envolvendo o gênero. O mesmo se pode dizer quando alguém se propõe a discutir sua marcante influência na cultura e nas transformações sociais da nossa civilização nos últimos 40 anos. A utilização mais antiga do termo em uma música que consigo me lembrar está na famosíssima “Born to be Wild” [1], a única música que realmente fez sucesso da banda Steppenwolf. A música tem uma energia bastante dinâmica e remete nossa imaginação à emoção que seguir pela estrada com uma Harley Davidson, ouvindo um som empolgante e pesado como um trovão “Heavy Metal Thunder”. Tanto é que a música foi tema do filme do grande clássico do cinema de contra cultura “Easy Rider”, traduzido no Brasil como “Sem Destino”.

    As bandas mais importantes para a formação do Heavy Metal como conhecemos hoje são aquelas que é considerada como a santíssima trindade do Heavy Metal dos anos 70, Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. Mas nenhuma das três começou sua carreira considerando a si própria como banda de “Heavy Metal”. Usavam os rótulos mais distintos e estranhos, numa época em que os jornalistas ainda estavam tentando entender todas as inovações que foram surgindo e agrupar bandas de acordo com sonoridade e influências musicais pregressas. Inicialmente, o termo aparecia principalmente de forma principalmente pejorativa, para descrever o barulho feito por pedaços de metal pesado se chocando, de forma a desmerecer o trabalho dos músicos, que estavam conquistando um público em proporções jamais imaginadas por nenhum outro fenômeno artístico/cultural já realizado pelos seres humanos. Uma música que é considerada um marco criativo no que se refere a músicas pesadas é a polêmica Helter Skelter [2] dos Beatles, que teria sido a música de fundo na cabeça de Charles Manson enquanto ele fazia suas atrocidades.

    No Brasil toda música que era considerada um pouco mais agressiva era rotulada pela grande mídia como “Rock Pauleira” e o público mais tarde rotulado como “Metaleiro”, apesar de grande parte preferir ser chamado de “Headbanger” (para aquele que balança o pescoço) ou simplesmente de “banger” ao se referir ao principal movimento executado por fãs de Heavy Metal em geral, o ato de agitar a cabeça para cima e para baixo ou de um lado e para o outro, de acordo com o ritmo da música. Como a música produzida por este gênero normalmente não é feita para se “dançar”, pelo menos não da forma convencional de se “dançar”, “bangear” acabou se tornando a principal atividade física executada pelo fã de Heavy Metal, apesar do movimento também ser executado por fãs de outros estilos musicais. Em alguns shows de bandas de Metal também pode se ver as famosas “rodas”, que são mais frequentes em shows de Hardcore, onde as pessoas fazem movimentos de chutes e socos no ar ou em algum ocasional colega que esteja no caminho. Em proporções extremas fazem a chamada “muralha da morte”, que é um evento extremamente interessante de se observar e ocasionalmente, participar. Além desses fatores, uma análise bem superficial do fenômeno nos mostra que a maioria daqueles que são considerados fãs de Metal gostam de usar roupas escuras, com os símbolos mais diversos (desde lindas paisagens medievais até as mais insanas cenas de violência), tatuagens, piercings e é claro, fazendo sempre o sinal dos chifres “horns up” com os dedos. Este sinal é utilizado das mais diversas maneiras em rituais místicos, desde para jogar maldições como para se defender delas. Também já foi associado ao satanismo, mas no Heavy Metal surgiu de uma forma mais genérica.
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  4. O primeiro registro que se tem notícia de alguém fazendo este gesto foi feito pelo Gene Simmons, baixista do Kiss, em um show nos anos 70. Entretanto, ele seria realmente popularizado por aquele que eu considero o maior vocalista de todos os tempos, Ronnie James Dio, logo quando entrou no lugar do Ozzy no Black Sabbath, na turnê do Heaven or Hell [3]. Mas o Heavy Metal é muito mais do que um estilo de moda comportamental e para roupas, e há muito mais para se apreciar na cultura relacionada ao Heavy Metal do que fazer chifres com os dedos, fazer rodas ou stage divings. Você tem razão ao dizer que banda que mais influenciou as bandas de Heavy Metal como conhecemos hoje foi o Black Sabbath. Os temas sombrios explorados em suas músicas, aliados a riffs que impregnam na cabeça foram importantíssimas influências ao mais diversos estilos de metal, principalmente o Doom, Stoner, Thrash, Death e Black.

    O Led Zeppelin influenciou mais as bandas de Hard Rock, que bombaram nos anos 80 e tinham vários elementos de Heavy Metal em suas músicas. Nos Estados Unidos a principal preocupação das primeiras bandas de Hard/Heavy foi com a performance teatral, tendo como principais exemplos o Kiss e o Alice Cooper. Por outro lado, o Deep Purple era a banda que tinha os músicos mais refinados das três e influenciou fortemente os estilos mais técnicos que surgiram na Europa nos anos 80, como o Metal Melódico, com extremos de virtuosimo como Yingwie Malmsteen e Symphony X. A existência destes petardos musicais só seria possível por que o Deep Purple teria inventado o Speed Metal quando compuseram a “Highway Star” [4], mais um divisor de águas para a história da música.

    A Inglaterra apresentou para o mundo o Heavy Metal nos anos 70, criando uma geração de jovens influenciados pelas mensagens líricas das letras dessas bandas. Essas mensagens sempre foram bastante marcadas pelo inconformismo que também é marca registrada de outros estilos como o Punk. Mas além do inconformismo e a crítica social, as letras faziam constante apologia ao uso de drogas e críticas duras (ou escárnio) à religião. Se vinte anos depois o Planet Hemp ainda estava sendo censurado no Brasil, imagine a reação do mundo ao ouvir os riffs escravizadores da “Sweet Leaf”[5] do Black Sabbath e sua letra que fazia clara apologia ao uso da maconha. Ou da capa do Heaven or Hell, que mostra um grupo de anjos fumando e jogando carteado.

    Mas alguns fatores foram extremamente importantes para que fosse possível o aparecimento do Heavy Metal. Uma das alusões mais fantasiosas refere-se ao aparecimento do intervalo de Trítono na música. Este intervalo é uma das mais complexas dissonâncias possíveis da música ocidental e causa uma sensação de movimento e por isso é muito explorado quando se quer gerar momentos de “tensão” na música. Estes intervalos já foram proibidos pela igreja, pela desculpa de que esta “tensão” na música a afastaria de sua sacralidade, sendo referida como “Diabolus in Music”, que depois foi o título de um dos álbuns mais fracos da banda Slayer. Para quem gosta de acreditar em mitologias, faz todo sentido achar que o Diabo influenciou pessoalmente os músicos a utilizarem este movimento, como aparece na 5ª Sinfonia de Beethoven [6] ou nos conflitos das composições Backianas. Mas a história mais famosa é a do violinista Paganini, que teria vendido sua alma ao diabo em troca do virtuosismo para tocar o Violino. O mesmo acordo que teria sido feito por Robert Johnson, um dos maiores nomes da história do Blues. Estas mitologias até já foram exploradas no cinema nos filmes “Tenacious D – The Pick of Destiny” e o clássico dos clássicos “A encruzilhada”, com a clássica cena do duelo de guitarras com Steve Vai [7]. Mas por trás destes símbolos, reconhecemos alguns fatores que tiveram uma imensa repercussão em nossa cultura.
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  5. De fato o Blues, assim como Jazz e o Rock ‘n Roll foram importantes influências fusionadas naquilo que seria conhecido depois por Heavy Metal, mas talvez nada disso teria ocorrido se não fossem uma série de importantíssimos eventos que ocorreram no fim dos anos 50 e 60. Primeiro foi o surgimento da guitarra e do baixo elétricos, o que mudou profundamente a sonoridade das bandas. Depois, eu não poderia deixar de citar os experimentos com timbre feitos por sua majestade, Jimmy Hendrix, que criou uma nova forma de se ouvir a guitarra, o que iria influenciar Eric Clapton a criar riffs como o da “Sunshine of your Love” [8], do Cream, principal música a influenciar Tony Iommi na composição das faixas de seu primeiro CD. Um ouvinte atento percebe muito bem isso em NIB [9].

    Depois, na Inglaterra mesmo, começariam a acontecer alguns experimentos de Heavy Metal com Punk, deixando o andamento das músicas mais acelerados e os vocais mais vicerais, dando origem ao famoso “New Wave of British Heavy Metal”, representado inicialmente principalmente pelo Iron Maiden. Algumas bandas já usavam vocal mais agressivo, mas nada como o incopiável timbre do Lemmy Kilmster do Motörhead. Nos EUA este estilo iria influenciar grandemente o pessoal do Metallica e depois também Megadeth, formada por um ex-guitarrista do Metallica, o antológico Dave Mustaine. Outras bandas iriam inovar bastante no estilo como o Venom e o Slayer. No Brasil, estas bandas iriam influenciar uma das bandas de Metal mais influentes dos anos 90, o Sepultura, que foi um dos criadores do New Metal, que impregnou na cultura do começo dos anos 2000, fazendo músicas com afinações mais graves, o que mais tarde foi feito misturado a elementos e Rap e Hippy Hop.

    Eu fui um dos que não apreciou esta mistura, não gostei nem um pouco dos primeiros álbuns do Soulfly e nem das bandas influenciadas por este estilo, com excessão talvez de algumas músicas do Slipknot. Mas eu não podia imaginar o que viria depois: O movimento Emocore, a mais recente onda que se difundiu imensamente em nossa cultura, dando origens a aberrações, como estas bandas destes moleques no Brasil que fazem músicas com letras tão bregas como as que são chamadas de “Sertanejo universitário”, mas pior, blasfemando contra Ramones, ou quando não, com alguns elementos de Heavy Metal. Mesmo assim, nunca vivemos em um mundo onde é possível conhecer tantas vertentes e tendências diferentes dos mais variados estilos musicais. E já faz algum tempo que a indústria fonográfica, como a conhecemos, está com os dias contados.

    Com estas reflexões iniciais, passo à palavra ao Roger, para que possamos nos aprofundar mais neste tema.

    [1] “Born to be Wild” – Versão do Slayer
    http://www.youtube.com/watch?v=P5zxUT-bVeg
    [2] “Helter Skelter” – Beatles
    http://www.youtube.com/watch?v=ueBUFUWSXHs
    [3] “Heaven and Hell” – Dio and Black Sabbath
    http://www.youtube.com/watch?v=4EL67mjv1nM
    [4]“Highway Star” – Deep Purple
    http://www.youtube.com/watch?v=jh0iihjANPc
    [5] “Sweet Leaf” – Black Sabbath
    http://www.youtube.com/watch?v=hoMNG8FYpwQ
    [6] “Quinta sinfonia de Beethoven”
    http://www.youtube.com/watch?v=_4IRMYuE1hI
    [7] “A encruzilhada” – Duelo.
    http://www.youtube.com/watch?v=-_icctfc9Kw
    [8] “Sunshine of your Love” do Cream,
    http://www.youtube.com/watch?v=Cqh54rSzheg
    [9] NIB
    http://www.youtube.com/watch?v=y--23ECYxxE
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  6. 1 – Análise Geral

    Primeiramente, quero te parabenizar, cara. Sua introdução foi ligeiramente superior à minha, foi cirúrgica e realmente deu direção ao nosso debate. Concordo em muitas coisas com você, discordo de outras, e a partir da réplica pretendo esclarecer mais meus pontos de vista.

    Acredito que o grande choque cultural começou nos anos 70, como já disse antes. De fato as músicas que falavam em libertinagem, drogas, magia e mística eram uma afronta a diversos valores morais estabelecidos. Mas nessa época a coisa ainda não ia tão longe devido ao fato de o Heavy Metal ser um movimento underground, algo que ficava de certo modo longe dos olhos da maioria. Então aconteceu que as bandas dos anos 70, tais como Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest, etc., começaram a dividir espaço na Europa com o movimento punk. Bandas grotescas como o Sex Pistols, cujo “baixista” não sabia sequer tocar direito o instrumento, começaram a surgir com músicas de baixíssimo nível técnico e poucas qualidades artísticas. O movimento punk tinha como regra o “Faça você mesmo”, pensamento que deu origem a gravadoras de fundo de quintal, que começaram a produzir álbuns de bandas locais e torna-los públicos. Mais tarde o próprio Metallica, nos USA, viria a fazer o mesmo.

    Desta forma, é de se considerar que o movimento punk, cuja vida foi curta, serviu de impulso para a cena do Heavy Metal que ainda era muito tímida. Foi o movimento punk que ajudou o Heavy Metal a florescer, ainda que acidentalmente, é claro. E então veio a Nova Onda do Heavy Metal Britânico, o NWOBHM, citado por você na introdução. O NWOBHM veio justamente com bandas como Iron Maiden e Judas Priest, também com Motorhead, entre outras, que trouxeram mais uma vez uma nova roupagem à uma música já pesada, que agora, por influência do punk, tocava mais rápido e com mais agressividade. A Nova Onda pegou os elementos de peso deixados pela imensa influência de Black Sabbath, emprestaram um pouco da agressividade punk rock, começaram a tocar mais rápido e com vocais mais potentes, dando ênfase em músicas que deixaram um pouco de lado o misticismo e as drogas para tratar de assuntos mais políticos. Neste caso a exceção foi o Motorhead, cujo vocalista e baixista Lemmy simplesmente fazia músicas que retratavam sua vida libertina. Não que antes disso não houvessem letras politizadas dentro do Heavy Metal, pois a própria War Pigs, Iron Man, etc., eram justamente uma crítica às guerras e às forças armadas, mas este não era naquela época o foco principal.

    Depois que Ozzy Osbourne saiu do Black Sabbath, a banda deu uma desacelerada. Mas voltou à toda com o novo vocalista, Dio, que você também mencionou. No fundo, penso que esta transição foi extremamente positiva. Dio deu nova cara e nova voz ao Black Sabbath, trazendo um vocal rasgado, mais agressivo do que o de Ozzy. Mas o próprio Ozzy, que então morava nos USA, passou a seguir carreira solo, onde conseguiu compor outros grandes sucessos que tinham bastante diferenciação com as músicas de sua antiga banda. Em seu projeto solo, Ozzy trouxe à tona músicos excepcionais que fizeram mais sucesso do que já haviam feito em suas vidas. Isso aconteceu com Randy Rhoads, o grande guitarrista que veio a falecer pouco tempo depois; o mesmo ocorreu com meu ídolo, Zakk Wylde, o cuspidor, rei dos harmônicos. Ele também trouxe à tona o baixista Rudy Sarzo, do Quiet Riot, entre tantos outros músicos exemplares. Daí eu digo que, dos anos 80 em diante Ozzy passa a se tornar o ícone mais importante dentro do heavy metal.
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  7. Iron Maiden era também uma banda inovadora, que passou por muitas provas. Pulando a performance a meu ver detestável de Paul D’iano nos vocais, a partir da era Bruce Dickinson a Dama de Ferro se tornou talvez a banda de maior importância no cenário da época, e que resiste até os dias de hoje, ainda compondo e fazendo shows com a mesma qualidade daquela época. Para mim, Iron Maiden é a maior prova de resistência, estabilidade e poder musical que uma banda pode ter. Resistem ao tempo, à idade, às críticas, e a tudo o mais. Bruce Dickinson ainda canta como naquela época, Steve Harris ainda toca como antes, ainda compõe como antes, e a banda em si é um exemplo de interação com o público, além da ótima performance nos shows. Tanto é que o grupo comprou um avião, que é dirigido pelo vocalista, para poder fazer shows com a mesma qualidade técnica em qualquer lugar do mundo. Isso se chama respeito ao público, e para mim, qualquer headbanger que fale mal de Iron Maiden nem é digno de meu respeito.


    2 – O verdadeiro choque cultural.

    Apesar de tudo isso, o grande choque cultural ainda estava por vir. E ele não ocorreu na terra da Rainha, e sim nos USA. Na década de 80, devido à influência da NWOBHM e de bandas mais pesadas que surgiram nos USA, como o Metallica, o Anthrax, etc., começou a nascer um novo movimento, nas proximidades de Hollywood, que foi chamado de Glam Metal, o que hoje conhecemos por “Hard Rock oitentista”.

    O Glam consistia em bandas com pouco talento musical que se produziam fisicamente para causar impacto visual. Homens com cabelos bagunçados, geralmente louros, maquiagem, roupas coladas, às vezes até sujas e um comportamento ligeiramente afeminado. Foi neste momento que alguns valores sociais até então muito bem estabelecidos começaram a se inverter. As músicas eram menos pesadas, os vocais eram levemente roucos, mais gritados e agudos. Motley Crue, Skid Row, Twisted Sisters, Bon Jovi, Guns n’ Roses, entre outras bandas não tão famosas nem tão talentosas.

    Não é que o movimento glam fosse algo desprezível como o punk rock inglês, mas era um produto completamente comercial. Foi nesta época que surgiu a MTV. E a MTV passou a entrar porta adentro na casa das famílias norte-americanas, com músicas clichês, românticas, clipes produzidos como se fossem pequenos filmes. Até mesmo Ozzy Osbourne aderiu aos cabelos esmigalhados e louros, por uma questão comercial, embora combinassem perfeitamente com sua mente insana comendo um morcego no palco durante um show.

    O glam metal (hard rock) tratava de músicas que falavam, novamente, em sexo, drogas, diversão e carros. Porém, havia uma áurea de apelo sexual muito maior do que em qualquer outra época. Realmente, um teatro digno de Los Angeles. Nesta época, os valores se inverteram entre homens e mulheres. Homens usavam roupas afeminadas, maquiagem, ficavam nos bares bebendo e esperando mulheres que viessem pagar suas bebidas e lhes convidar para um quarto de motel. As garotas jogavam roupas íntimas no palco durante as apresentações do Motley Crue e do Guns. Dee Snider, do Twisted Sisters, fazia clipes vestido como uma dona de casa mal arrumada, como na inesquecível “We’re not gonna take it”. E foi este choque tão grande que obrigou as autoridades estadunidenses a tomarem atitudes de repressão e censura. Então, surgiu no Congresso Nacional um movimento chamado PMRC, ‘parents music resource center’, sob a alegação de que o movimento Heavy Metal iria desestabilizar a mente dos adolescentes. O PMRC era liderado por Tiper Gore, esposa do Senador (na época) Al Gore.
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  8. O PMRC fez todo o possível para censurar discos e músicas de diversas bandas. O Twisted Sisters era um dos alvos principais. Dee Snider chegou a participar de uma sessão na Câmara, onde confrontou Tiper Gore de forma aberta e direta. Mas os outros integrantes do movimento Glam Metal estavam mais preocupados em beber e transar, portanto, Snider acabou ficando sozinho nesta luta. E apesar de todos os esforços do PMRC, eles não conseguiram muita coisa. Até chegaram a censurar alguns clipes e músicas, além de colocarem avisos em discos considerados “não-saudáveis” aos adolescentes, como modo de alertar os pais na hora da compra. Uma espécie de censura indireta, que fez com que grandes redes de supermercado evitassem pegar discos “marcados”. O efeito, porém, foi inverso ao desejado. A propaganda “negativa” feita pelo governo acabou trazendo ainda mais adeptos à loucura heavy metal e glam.

    Correndo por fora, poucas foram as bandas que se mantiveram firmes em seus princípios, sem se render a Hollywood, e elas foram Metallica, Megadeth e Anthax, principalmente. Dave Mustaine, do Megadeth, foi um dos poucos com coragem para fazer críticas abertas ao movimento. E em comparação a Tony Iommy, ele foi o rei dos riffs na década de 80, compondo músicas com velocidade e técnica incomparáveis, tais como Holy Wars, Take no Prisoners, entre outras. Além disso, ele também cantava, assim como James Hetfield, do Metallica, o que exigia uma enorme coordenação motora.

    Enfim, para a história e verdadeira consolidação do Heavy Metal no mundo, o glam metal foi o movimento mais importante e radical. E o declínio viria em seguida, na década de 90, quando muitas bandas se venderam a interesses comerciais, outras simplesmente acabaram, e tantas outras apenas pioraram consideravelmente. Mas, deixarei para que você aborde na sua réplica o que causou a ascensão do Heavy Metal e como explicar seu declínio tão abrupto. Acredito que saberá fazê-lo.

    Deixo a você a palavra, meu caro. E abaixo seguem algumas das músicas supracitadas.

    Iron Man (OzzyOsbourne - 1982)
    http://www.youtube.com/watch?v=e0PrzNpUmuo

    The Number of the Beast (IronMaiden - Clipe)
    http://www.youtube.com/watch?v=jsmcDLDw9iw

    Stranger in a Strange Land (IronMaiden - Melhor música)
    http://www.youtube.com/watch?v=ry42FHfz67A

    Girls, girls, girls (MotleyCrue - Clipe)
    http://www.youtube.com/watch?v=sMLy6B9teEw

    Welcome to the Jangle (GunsNRoses - 1991)
    http://www.youtube.com/watch?v=DsmevZCy8CM

    Quase Famosos (Filme sobre heavy metal sobre a década de 1970)
    http://www.youtube.com/watch?v=02uzNxjFAb4

    Rockstar (Filme sobre o glam metal, referente à década de 1980)
    http://www.youtube.com/watch?v=vEG4dMGjOOQ
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  9. Você começou sua introdução dizendo que amava Heavy Metal e que as músicas deste gênero transformaram sua vida. Para muitos, isso pode parecer exagero. Como é que gostar de um estilo musical pode transformar a vida de uma pessoa? Como estamos discutindo o efeito do Heavy Metal na cultura, acho que a melhor forma de exemplificar isso é falar a respeito de como o Heavy Metal pode mudar a percepção de universo de um indivíduo. A partir de então, fica muito mais fácil compreender seu apelo e por que este estilo pode ter uma implicação cultural tão significativa sendo ao mesmo tempo tão amado e também tão odiado. Para isso, nesta réplica, ao contrário da minha introdução, onde foquei na história do Heavy Metal e em seus diferentes sub-estilos, falarei mais a respeito de como tudo isto me foi apresentado e como isto mudou radicalmente minha vida, tornando-me a pessoa que sou hoje. Ao fazer isso, estarei falando também sobre a história do Heavy Metal, não de uma forma cronológica de como ocorreram os eventos, mas de como tive acesso a eles. Como muita coisa que vou dizer é opinião pessoal minha, pode ser que a gente discorde de uma coisa ou outra. Mas vai ser a comparação destas semelhanças e diferenças que vai fortalecer a análise global de tudo o que discutirmos.

    Eu sempre gostei muito de música. Lembro-me de, já na época da pré-escola ser viciado em ficar batucando nas coisas e de tirar coisas de ouvido em um teclado de brinquedo. Mas o gosto musical de meus pais sempre foi bastante diferente do meu. Minha mãe passava o dia ouvindo músicas de igreja, música caipira ou música sertaneja brega romântica com letra de corno, na linha dessas duplas detestáveis que começaram a bombar na mídia dos anos 80. E eu odiava tudo aquilo. Já meu pai escutava umas coisas muito melhores, mas nada muito sofisticado. Foi fuçando em seus discos que descobri umas coisas que achei muito legais em minha infância, começando com músicas do Beatles e Elvis Presley. Minhas mais antigas lembranças musicais são de Twist and Shout dos Beatles [10] e Blue Suede Shoes do Elvis [11]. Ele também tinha um violão, mas só conhecia os acordes básicos. Me ensinou a tocar umas músicas simples e me colocou pra fazer aulas de violão clássico, que eu comecei me dando muito bem. Tocava umas peças de música clássica, mas fui tão idiota que deixei de praticar por que ficava irritado com as amolações da molecada que enchia o saco por causa de minhas unhas compridas, ideais para tocar violão clássico. Abandonei o violão e passei a dedicar meu tempo com outras coisas que se tornaram vícios em minha infância, como vídeo games e revistas em quadrinhos. Desta época, eu me lembro de ter ficado fascinado pelas músicas do jogo Rock ‘n Roll Racing, do Super Nintendo, que tocava o instrumental das músicas Ace of Spades do Motörhead [12], Paranoid do Black Sabbath [13] Born to be wild e Highway Star do Deep Purple (já mencionadas).

    Quando eu já era pré-adolescente, a MTV começou a passar clipes de umas bandas que começaram a chamar a atenção dos meus amigos e vizinhos mais próximos que tinham mais ou menos a mesma idade que eu. No começo não dei muita bola, até que um dos meus melhores amigos de infância se tornou completamente viciado em Hard Rock. Começou a me emprestar uns discos do Bon Jovi, do Guns e do Skid Row, que foram as primeiras bandas que comecei a gostar. Algumas músicas destas bandas me fascinaram muito como Dry Contry do Bon Jovi [14], Civil War do Guns ‘n Roses [15] e Youth Gone Wild do Skid Row [16]. As letras desses sons também eram sensacionais e me ajudavam a desenvolver meu inglês, que ainda estava engatinhando. Mas este meu amigo conhecia muito mais coisas, tinha o quarto recheado de posters de bandas como Poison, Montley Crue, Cinderella, Twisted Sister, Quiet Riot, Aerosmith, etc... Apesar de hoje eu gostar muito mais de músicas mais pesadas, estas bandas foram importantíssimas para a transição do que eu viria a gostar depois...
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  10. Mas eu ainda achava ridículo o visual dessas bandas e tinha que ficar pescando as músicas que gostava, pois odiava baladinhas românticas e baladinhas água com açúcar, que eram frequentemente executadas por essas bandas. O que mais me impressionava, entretanto, era o aparente paradoxo causado pelo fato dos caras dessas bandas adquirirem um visual que parecia tão afeminado e ao mesmo tempo serem talvez os maiores comedores que já existiram na face da Terra. Mas definitivamente não foi o visual que me chamou a atenção. Nunca me vesti como nenhum destes caras, apesar de, depois de velho, me divertir pra caramba em festivais de Hard Rock, principalmente o Hard ‘n Heavy de Sampa, que fazia concursos de Misses de mulheres maravilhosas, cada uma representando uma banda de Hard Rock.

    Nesta época, tive contato com a satíssima trindade do metal dos anos 70 e de cara, tornaram-se minhas bandas favoritas. Eu emprestava os discos de meus amigos e gravava por cima das fitas K7 de meus pais, pois não tinha um puto pra comprar discos, que ainda eram de vinil. Meus primeiros álbuns foram o Machine Head do Deep Purple, Paranoid do Black Sabbath e Led Zepelin IV, que me apresentou Stairway to Heaven e me trouxe de volta para o mundo da música, sendo a primeira música que eu tirei quando voltei a tocar, lá pelos meus 13 anos de idade.

    Mas o que definitivamente mudou a minha vida e me fez abandonar o vídeo game e as revistas em quadrinhos foi escutar pela primeira vez a música Die Young, do Black Sabbath, com o Dio no vocal [17]. Eu me lembro de ter ficado o dia inteirinho escutando a mesma música repetidas vezes, sem parar, eu sabia que tinha algo mágico ali que não tinha como explicar, como se houvesse uma conexão que eu jamais poderia me livrar dela. Imediatamente, deixei de lado quase tudo o que eu ouvia de Hard Rock e comecei a ouvir incessantemente Heavy Metal tradicional. Foi quando eu conheci aquela que é até hoje a minha banda favorita: A donzela de Ferro, Iron Maiden. Eles possuíam a mesma energia do Sabbath da fase do Dio, com o mesmo primor técnico, mas com uma discografia imbatível que me fez guardar todo o dinheiro que eu recebia para comprar os discos dos caras. A única coisa que me irrita no Iron Maiden é o fato deles negligenciarem muitas músicas fabulosas que eles compõe em estúdio para continuar tocando sempre os mesmos clássicos ao vivo. Já me encheu o saco escutar escutar “The number of the beast” em absolutamente todas as turnês dos caras. Apesar de ser um puta som, sempre me irritou o fato deles nunca tocarem ao vivo músicas que eu sou fascinado como “Still Life” [18] ou “Judas be my guide” [19], mas eu acho que este é um defeito que todo fã fanático sempre irá colocar.

    A partir de então, passei a pesquisar as mais diferentes bandas de heavy metal que podia. Escutei também outros estilos e até gostava de alguma coisa de outros estilos mais sujos e simples como o Hardcore, em especial o Pennywise e Misfits, com o qual fiz meus primeiros experimentos musicais em bandas com amigos (a simplicidade de execução das músicas ajudava bastante, rs). Quando eu melhorei tecnicamente e estava preparado para tocar em bandas de Metal, entrei em uma banda que tocava cover de várias bandas de metal, principalmente Judas Priest e Savatage. Foi nesta época que eu fui apresentado a um som mais pesado com vocal mais irado. Lembro-me muito bem a primeira vez que ouvi Arise [20] do Sepultura e me impressionei muito em saber que o Brasil também podia dar origens a grandes bandas de metal. Depois disso, comecei a tocar músicas até mais pesadas, principalmente Death Metal Sueco que se tornou um dos meus estilos favoritos durante muito tempo. Toquei com um monte de gente e até já perdi as contas de quantas bandas eu participei. Hoje em dia, o estilo que eu mais gosto de tocar ao vivo é da linha da Pleasure of Molestation do Hypocrisy [21], que é uma das minhas bandas favoritas até hoje.
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  11. O fato é que o contato com essa riqueza artística e também com as letras dessas bandas teve um impacto tremendo em minha forma de ver o mundo. Minha família era intensamente religiosa e eu havia lido e relido a Bíblia algumas vezes e frequentemente conversava a respeito do assunto com os pastores das igrejas deles. Até que um dia um desses pastores vem até minha casa para conversar comigo e minha família. Quando meus pais disseram pra ele que eu não fazia outra coisa da vida a não ser ouvir discos de bandas de metal, ele disse que eu deveria parar imediatamente com isso. Que estas bandas causavam profunda alteração química no cérebro das pessoas, fazendo-as cometer as mais insanas loucuras, como comer morcego (baseado na história do Ozzy que fez isso em um show, por engano). E que definitivamente isso afastava de Deus. Na cabeça dele, eu deveria me tornar pastor, por que achava que eu tinha o “dom” para isto. Lembro-me que fiquei muito revoltado, achei tudo aquilo um absurdo, afinal de contas eu tinha discernimento para não me influenciar por ninguém. Mas eu não podia estar mais enganado. De fato, estas influências começam quase que imperceptíveis, mas com o tempo despertam alguns questionamentos que eu nem sabia que tinha dúvidas e isso, indubitavelmente, interferiram em minha forma de ver o mundo.

    Um ouvinte atento não deixa passar despercebida a mensagem de músicas como “Master of Puppets” do Metallica [22]. Eu acabei desandando de vez e comecei a curtir as maiores blasfêmias musicais possíveis, representados principalmentes pelo Black Metal. Eu ouvi esta palavra pela primeira vez em uma música homônima do Venom [23]. Mas ela teria um efeito bem mais poderoso nas mãos do Wagner Lamounier, atualmente um economista professor da UFMG, mas que já foi o primeiro vocalista do Sepultura e líder do Sarcófago [24]. Estes brasileiros iriam influenciar uma galerinha muito louca lá na Noruega que passaria a queimar igrejas. Além disso, tinham umas rixas pessoais entre eles mesmos para disputar quem era a banda mais underground e mais Satânica de todas, levando ao assassinato do guitarrista Øystein Aarseth ("Euronymous") pelo Varg Vikernes da banda rival Burzum. Os caras eram tão doidos que não tinham pudor algum em colocar foto do cara morto na capa do próximo CD da banda, gerando uma intensa polêmica em cima do estilo.

    Mas muita gente escuta essas músicas e não acontece absolutamente nada com elas. Exatamente por isso, eu acho que este é um evento que não depende apenas da música em si, mas também da pessoa que está ouvindo. Eu acredito que você nasce para gostar de metal ou não. Apenas descobre isso ao longo de sua vida. Concorda? Espero pela resposta em sua tréplica. Até mais!

    [10] Twist and Shout dos Beatles – Versão Death Metal
    http://www.youtube.com/watch?v=t5kqe3ku2c8
    [11] Blue Suede Shoes do Elvis – Versão do Motörhead
    http://www.youtube.com/watch?v=F8rWAaaMmC8
    [12] Compressorhead Ace of Spades - Lemmy Edition
    http://www.youtube.com/watch?v=lPekcID4MF4
    [13] Paranoid do Black Sabbath, na versão do Megadeth
    http://www.youtube.com/watch?v=7_7E9YETMHs
    [14] Bon Jovi – Dry Country:
    http://www.youtube.com/watch?v=udF_Je44S0Y
    [15] Guns ‘n Roses – Civil War
    http://www.youtube.com/watch?v=0vIW937S2kA
    [16] Skid Row – Youth gone wild
    http://www.youtube.com/watch?v=os5DKk6BRNQ
    [17] Black Sabbath – Die Young
    http://www.youtube.com/watch?v=DKsyknS95aM
    [18] Iron Maiden - Still Life (em uma de suas raras apresentações ao vivo).
    http://www.youtube.com/watch?v=OgeC1LIIpYs
    [19] Iron Maiden - Judas be my guide
    http://www.youtube.com/watch?v=J7lJPsYp1To
    [20] Arise – Sepultura
    http://www.youtube.com/watch?v=6BOHpjIZyx0
    [21] Hypocrisy - Pleasure of Molestation
    http://www.youtube.com/watch?v=2u9IwqFg7NE
    [22] Metallica – Master of Puppets
    http://www.youtube.com/watch?v=4xIWEvQLhJI
    [23] Venom – Black Metal
    http://www.youtube.com/watch?v=oYtVb48fvY0
    [24] Sarcófago – Screeches from the Silence
    http://www.youtube.com/watch?v=g74UP8mwFMs
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  12. Apesar de fazer uma abordagem mais técnica e cronológica, de fato eu tinha a intenção de apresentar questões mais pessoais sobre meu envolvimento com o Heavy Metal. Como você fez isso na réplica, minha tréplica ficará mais fácil de direcionar.

    1 - Análise Geral

    Como já abordei antes, houve uma evolução no Heavy Metal, na qual o surgimento na década de 70 foi sobrecarregado na década seguinte, quando surgiram novos movimentos e novas direções dentro do estilo heavy metal de viver.

    Para mim, a banda que representa perfeitamente este progresso e que veio a resultar na decadência do gênero na década de 90 foi o Metallica. Durante toda a década de 80 foram poucas as boas bandas que resistiram ao poder do glam, foram poucos que não cederam seus princípios em lugar de ganhar um bom dinheiro em Los Angeles, fazendo aquilo que era apenas apelo comercial.

    O Glam Metal teve algumas bandas que se sobressaíram, como o Guns 'n Roses, o Bon Jovi, Motley Crue, etc. Mas, em geral, eram bandas instáveis onde o ego falava mais alto. O Guns 'n Roses não conseguiu se manter, pois tudo o que faziam era muito superficial, além de terem uma péssima interação com o público. No fim da década de 80 o glam metal começou a perder espaço para os avanços feitos pelo thrash metal estadunidense. Bandas como Anthrax, Megadeth, Slayer, Testament, e é claro, o Metallica.

    O Metallica foi a mais forte na época. Recebeu platina por causa do lançamento de "...And Justice for All". Lançaram um clipe com a música "One", que é considerado pelos fãs e críticos um dos maiores clássicos do rock/metal. Mas até o Metallica precisava se adaptar. Enquanto Iron Maiden, Black Sabbath, Ozzy, Judas Priest e as demais bandas que começaram no início de 80 ou final de 70 estavam se tornando dinossauros no meio heavy metal, o Metallica ainda tinha jovialidade e um notável amadurecimento. "And Justice for All" superou e muito seus albuns anteriores. As letras estavam mais inteligentes, as melodias mais elaboradas. Mas, ainda faltava algo para ser lapdado.

    Foi então, em 1991, que surgiu o "Black Album". Neste album houve uma modificação mais nítida. A banda deixou de lado os exageros melódicos e a agressividade extrapolada. Passaram a fazer músias lentas, como Nothing Else Matters, onde havia só violões e um vocal mais suave. "The Unforgiven", uma balada lenta e marcante com boa letra. Também tiveram a inteligência de substituir velocidade por peso. Lars passou a tocar com mais força, porém, mais devagar. Isso causava a impressão de que a banda havia se tornado mais pesada, embora as músicas fossem tecnicamente mais fáceis de se tocar. E foi com este album que o Metallica conseguiu galgar o maior espaço, tornando-se membro do grande circuito da mídia. Agora não eram mais underground, eram pop rockstar, eram queridos pelo público em geral. Suas músicas tocavam na MTV, as famílias norte-americanas - incluindo pessoas que não gostava do gênero - passaram a ouvir a banda.

    A popularidade cresceu. Black Album virou TOP 1 na parada Billboard, algo até então inimaginável para qualquer headbanger. Com isso, o Metallica superou seus antecessores e seus contemporâneos. A banda forçou a grande mídia a virar os holofotes para um mundo até então ignorado pela maioria; agora era impossível fingir que nada estava acontecendo.
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  13. É bem verdade que a grande mídia sempre quis esconder e eliminar o heavy metal. Isto por que as músicas do gênero incentivam os jovens a se questionar, a se revoltar, ou a simplesmente se divertirem por conta própria sem seguir tendências comuns que sustentam a máquina da imprensa. Pelo menos naquela época o heavy metal era uma grande ameaça ao sistema de entretenimento. Mas, ainda assim, tiveram que se curvar ao Metallica e consequentemente a outras bandas do gênero.

    Dave Mustaine, ex-metallica, agora no Megadeth, também passou a ter certa influência política. Ele até participou e conseguiu a aprovação da lei do voto. Com o album "Countdown to extinction", o Megadeth ficou logo atrás do Metallica, na segunda posição da Billboard. O album fazia críticas políticas, falava de ambientalismo, política e outras coisas. Mustaine sempre foi inteligente e talentoso; muito mais do que James Hetfield e Lars, só que não teve tanta sorte...

    2 - O resultado:

    No início da década de 90 houve um estouro. Foi o auge que o Heavy Metal alcançou. Os shows do Metallica eram sempre lotados, inclusive no Madison Square Garden, em Nova York. Ainda existiam grandes bandas, mas a maioria eram mais antigas. O Iron Maiden continuava fazendo shows e lançando albuns, até conseguiram se adaptar ao novo mundo com o album "Fear of the dark", quando mudaram sutilmente os estilo das músicas e também o visual. O Motorhead, uma das poucas bandas de atitude sincera, não precisou fazer nada. Apenas continuaram sendo eles mesmos. E os estadunidenses prosseguiam a todo vapor. Slayer lançou Reign in Blood e South of Heavens, dois albuns de sucesso. Na mesma época o Pantera, que já existia desde 1981, teve a entrada de Phil Anselmo nos vocais. A banda passou por uma transição, largando de vez o visual agora fora de moda do Glam Metal e assumindo uma postura mais firme e simples; as músicas faziam misturas do rap com o thrashmetal e o hardcore. Em 1990 lançaram o "Cowboys From Hell", uma obra prima.

    Porém, em face do Metallica, todas estas bandas eram secundárias. Ainda que algumas fossem muito melhores. O que acontece é que o Metallica era popular e, portanto, tinha que segurar a bandeira, o estandarte daquele gênero para aquela geração, do mesmo modo que o Black Sabbath fez na década de 70, do mesmo modo que Iron Maiden fez na década de 80. Só que isso não aconteceu. Após o lançamento do Black Album, houve uma queda significativa na qualidade e na identidade das músicas.

    Os albuns Load e Reload, lançados pouco tempo depois do Black Album, traziam músicas totalmente diferentes e fora do contexto com o qual os fãs eram acostumados. De certo modo, podemos dizer que o Metallica cagou em cima do público uma porção de músicas sem feeling e sem expressividade, o que até então era a marca da banda. Isso fez com que o público heavy metal, até então representado pelo Metallica, sofresse um abandono. A partir de então se inicia a morte do Heavy Metal.
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  14. 3 - A morte:

    Pessoalmente, posso afirmar que gosto do Metallica tanto quanto o odeio. É inegável a importância que a banda teve na história do gênero. É inegável que eles foram mais longe do que os outros. Mas, devido a isto, e devido ao fato de não terem dado prosseguimento, eles serviram para destruir o mundo undergroud e sujar o nome do Metal diante do grande circuito.

    A partir de meados da década de 90, o público heavy metal fica sem representante. É claro que haviam dezenas de bandas boas que ainda tocavam e lançavam albuns. É claro que ainda havia boa música, mas eram bandas mais velhas. E não há nada mais triste para mim, por exemplo, do que ser obrigado a ouvir as mesmas músicas que meu pai ouvia só por que não surgiu nada melhor do que aquilo depois.

    É deprimente ter que escutar as mesmas coisas antigas sempre por que simplesmente não há nada de novo que nos surpreenda. É difícil dizer que me surpreendo com o novo album do Ozzy, por que apesar de ser um bom album, ele já tem mais de 60 anos, não é um representante para as novas gerações. É triste dizer que minha banda preferida tem membros que poderiam ser meus avós - o Iron Maiden. O que acontece com quem nasceu na década de 80 e depois é exatamente isso. Por este motivo o heavy metal está morto, o que ainda existe é apenas a vanguarda, músicos talentosos como o Iron Maiden, o Megadeth, o Motorhead, que ainda fazem shows, lançam albuns, mas que não têm nada a ver com este novo mundo que aqui está.

    Às vezes me pergunto onde estão escondidos os talentosos e revoltosos que deveriam estar por aí fazendo shows e lançando CDs e DVDs com shows para a garotada de 15 a 20 anos! É difícil pensar que Ozzy Osbourne pode morrer de velhice a qualquer momento, ou que amanhã pode aparecer uma notícia no jornal dizendo que Lemmy morreu de tuberculose devido a sua elevada idade e hábitos não-saudáveis. Quando os ídolos morrem jovens, eles vivem para sempre. Mas quando morrem velhos, é como se já morressem mortos. Steve Harris pode acordar qualquer dia e dizer que vai se aposentar; Mustaine já não toca nem canta como antes, a bebida detonou sua voz e o acidente de esqui levou seus talento com as mãos.

    Então, Chico, você percebe o quanto é triste termos que lidar com isso? Não há nenhuma banda realmente expressiva de heavy metal que tenha surgido depois de 1995! O Sepultura não é mais o mesmo sem Igor e Max Cavallera. Jeff Hanneman morreu alguns dias atrás, deixando o Slayer sem aquele que era o espíito da banda, dos solos de guitarra. Tom Araya é um pai de família, mais velho do que meu pai.

    Não sei se você concorda comigo, mas acredito, infelizmente, que o Heavy Metal já esteja morto, ainda com alguns suspiros de pós-morte. Mas, em breve, talvez em um máximo de dez anos, não tenhamos mais nada...

    Encerro esta tréplica com profundo pesar.
    E em homenagem às mais recentes perdas do Heavy Metal, ficam os sons abaixo.

    Slayer (Seasons in the abyss)
    http://www.youtube.com/watch?v=rvuO2EvCTAE

    Jeff Hanneman Tribute:
    http://www.youtube.com/watch?v=kFlW58Kty7g

    Homenagem feita a Hanneman, por membros de outras bandas.
    http://www.youtube.com/watch?v=VZtl7ErFk3s

    Homenagem a Dio (1942 - 2010)
    http://www.youtube.com/watch?v=owpNZ03C1mQ