terça-feira, 11 de setembro de 2012

Rodrigo Gondin X Raysom Delgado - O conteúdo é mais importante que a aparência?


§1 - Cada debatedor tem direto a no máximo 3 postagens (de 4096 caracteres cada uma) por participação - QUE DEVERÃO SER UTILIZADAS DA MELHOR FORMA POSSÍVEL POR CADA UM DOS DEBATEDORES.    


§2 - Os debatedores DEVERÃO fazer 4 participações intercaladas por duelo:considerações iniciais, réplica, tréplica e considerações finais.    


§3 - O prazo regulamentar entre as participações dos debatedores é de 3 dias. Todo adversário tem o direito de estender o prazo de seu oponente. Após o prazo, será declarada vitória por W.O. para o duelista remanescente.        


§4 -  Após o duelo, o vencedor será escolhido através de votações em enquete. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Ismael de Lima X João Cirilo - Noção de realidade objetiva


Ismael de Lima deixou um novo comentário sobre a sua postagem "TESE - Ismael Cardoso - Noção de realidade objetiv...":

Primeiramente, obrigado pela oportunidade que este grupo nos dá. Procurei muito pelo facebook e não encontrei de fato bons grupos de debates como este. Vi que é bem movimentado, e não é para menos, já que a ideia é bem original.

Então, sigamos em frente.

Sou católico praticante desde criança, e como católico, obviamente sou um objetivista moral. Acredito que exista mesmo distinção entre o certo e o errado e creio que esta distinção tenha ligação direta com a realidade objetiva. Para isso, pretendo expor a noção de realidade objetiva e contrapô-la à argumentação comum de uma realidade subjetiva.

1 - Realismo: Vou poupá-los do conceito óbvio encontrado no dicionário, então, partindo para o conceito filosófico, que são os seguintes encontrados neste site: http://www.defnarede.com/r.html

Prefiro dar a fonte e não desperdiçar o meu espaço copiando tudo o que pode ser lido diretamente lá.

2 - Objetivo e subjetivo: Para estes conceitos, pretendo dar maior enfoque, pois são eles o meu maior objeto de estudo.

Objetivo é aquilo que é, aquilo que se vê. Objetivo é aquilo que é independente de nossa vontade ou do nosso conhecimento. O livro está sobre a mesa, independente de vermos ele ali ou não, independente de sabermos que ele está ali, independente de acreditarmos nisso ou não. Lá está o livro, que é matéria.

Subjetivo, pelo contrário, é aquilo que depende do indivíduo, que existe segundo a nossa visão ou sentimento. O livro pode estar sobre a mesa, mas se não soubermos disso, então, para nós ele não estará lá ou simplesmente iremos ignorar tal concepção, visto que, sem saber da existência do livro, não importa onde ele esteja.

3 - Realidades objetiva e subjetiva.

"A pedra caiu, tocou a superfície do lago e afundou em seu interior."

É com esta citação que inicio o ponto importante desta tese.

A citação diz que a pedra caiu e adentrou o lago. Supomos, portanto, que esta pedra não esteja mais visível para nós. E a pergunta é: A pedra não existe mais?

Sim, a pedra existe. Nós é que não estamos vendo a tal pedra. O fato de não enxergarmos mais esta pedra não muda a citação, pois o que importa é que ela caiu, tocou a água e afundou. Está lá, em algum lugar no fundo do lago, ainda que não saibamos disso.

Com este raciocínio, afirmo que a realidade objetiva existe. Ela é o fato. Algo aconteceu, é objetivo, existiu, independente de sabermos ou não. Entretanto, a realidade objetiva também existe, só que ela, por ser subjetiva, irá diferir entre os indivíduos.

Ao presenciarmos um assalto, sabemos que o assalto aconteceu, mas cada testemunha terá visto o mesmo fato através de diferentes pontos de vista. Então, aí reside a subjetividade, por que cada testemunha terá uma opinião sobre o mesmo fato. O que não muda, o que é objetivo, é que o assalto aconteceu. Este é o fato imutável e objetivo da situação. Agora, como, por quais razões ou de que forma ele aconteceu é que será diferente dependendo daquilo que nossa mente foi capaz de captar no momento em que presenciamos o assalto.


4 - Moral objetiva: Sabendo o que é realismo, o que é objetividade e o que é subjetividade, unimos tudo isso e podemos chegar uma conclusão interessante acerca da moral.

Na moral humana, algumas coisas mudam, mas outras são imutáveis. O ser humano desenvolveu a moral há muito tempo, ela sofreu alterações, mas manteve sua essência durante os milênios.

Se uma pessoa que gostamos morre assassinada, isto será sempre ruim, independente do que ela tenha feito, independente dos motivos que levaram a outra pessoa a matá-la. Para nós, isto é objetivamente ruim, enquanto para muitos pode ser indiferente e talvez tenha sido bom para quem matou. Mas, percebam: para quem perde o ente querido de forma violenta, a violência SEMPRE é ruim. A partir disso, presumimos que a violência é algo a ser combatido, afinal, ninguém quer sofrer com ela, certo?

O homicídio é objetivamente ruim, porque se analisarmos todos os envolvidos em um homicídio, que são o agente, a vítima e os familiares, o ato em si é penoso para todas as partes. O agente corre risco de se arrepender ou de ser preso, a vítima morre e os familiares de ambos os lados sofrem. Se todas as partes podem sofrer com o ato, então concluímos que este ato é ruim e deve ser assim considerado.

E por não querer sofrer com aquilo que lhe é ruim ou prejudicial, o homem inventou a moral e a ética, de modo a combater aquilo que lhe causa danos. Através da moral, que é passada de geração em geração, aprendemos a diferenciar como certo e errado aquilo que nos faz bem ou mal, respectivamente.

5 - Conclusão: Assim, concluo que a moral é objetiva, mas não é absoluta. Ela pode mudar com o tempo, como já mudou, mas mantém sempre sua essência central, que é a de proteger nós de nós mesmos.

Novamente agradeço à oportunidade. 



João Cirilo
2 set (6 dias atrás)
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João Cirilo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "TESE - Ismael Cardoso - Noção de realidade objetiv...":

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Muito boa tarde, Ismael. Considero que dificilmente terei grandes divergências consigo, que já se declarou católico, e eu notei pelas suas manifestações no grupo que realmente é. Portanto, não há como divergirmos no fundo, embora possamos ter alguns enfrentamentos laterais sobre a forma de apresentação das coisas e no que elas podem ajudar na boa doutrina ou atrapalhá-la.

Quero observar, Ismael, antes de adiantar, que pelo que notei - e se estiver errado no raciocínio, peço que me corrija o mais breve possível para não sairmos do foco - que você é mais dinâmico no entendimento bíblico, isto é, no "cânon" da Bíblia. Pelo que notei aqui e alhures, na sua opinião não se deveria desprezar também Evangelhos apócrifos (como o de Judas ou de Maria Madalena) para a perfeita exegese e construção dogmática.

Hauro esta conclusão pela questão da pedra que cai na água (fato objetivo), e sua existência debaixo d'água, em algum lugar que nossos olhos não veem, mas inequivocamente está (o que nos permite expender algumas considerações subjetivas, já que não a vemos, embora esteja por lá em algum lugar)

E ainda mais me convenço disso quando vc diz que "ao presenciarmos um assalto, sabemos que o assalto aconteceu, mas cada testemunha terá visto o mesmo fato através de diferentes pontos de vista", o que me leva a intuir que - tomando os Evangelhos e as Cartas como paradigma - a verdadeira fé não se encerra no que foi compilado no "cânon", mas sim espalhada em muitas outras fontes e como tal deveriam ser igualmente aceitam, até porque outros contadores poderiam contar a História de forma melhor.

Se for este seu entendimento, ouso contrariá-lo. O que pretendo fazer nas próximas intervenções.

Um abraço. É um prazer terçar lanças com o amigo, com o qual jamais terei divergências fundamentais nem neste nem em qualquer outro debate, já porque professamos a mesma fé, já porque é pessoa imbuída de extrema educação e lhaneza, como já deu para notar nas intervenções esparsas no grupo.

Aguardo sua réplica.






Postado por João Cirilo no blog
 Duelos Retóricos em 2 de setembro de 2012 08:26
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Ismael de Lima
2 set (6 dias atrás)
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Ismael de Lima deixou um novo comentário sobre a sua postagem "TESE - Ismael Cardoso - Noção de realidade objetiv...":

Seja bem vindo a este diálogo dialético, amigo João.

Também notei que és uma pessoa educada e comedida. Entretanto, percebi que se irrita facilmente com algumas colocações que a garotada faz nos debates. O que lhe sugiro é que tenha paciência. Muitas vezes os diálogos na internet viram brigas só por causa de má comunicação. Enquanto em um diálogo real, frente a frente, temos tempo para justificar um ideia antes que ela seja mal compreendida, na internet não há tempo hábil depois que a postagem foi publicada. E quanto aqueles que eventualmente nos ofendam, esteja acostumado com o calor juvenil. O preconceito contra a religião tem aumentado na mesma medida que os tempos avançaram. Como este não é o tema do debate não ousarei entrar por ele, mas é o que penso.

No que diz respeito ao cânon, você tem razão, sim. Sou favorável à incorporação dos evangelhos ditos apócrifos na bíblia, embora, é claro, com a devida orientação da Igreja. Sou católico, mas a Igreja é falível no meu entender por ser comandada por homens, e homens são falhos, podem errar. Então considero equivocado julgar qual dos livros pode ou não ser visto pelos fiéis, pois só Deus é quem sabe a verdade e é somente ele quem deveria ter este poder. Independente dos detalhes, em todos os evangelhos há menção ao fato comum e objetivo: A vida, existência, perseguição e morte de Jesus, assim como o seu legado e seus ensinamentos também estão contidos em todos eles.

No meu entender, é importante saber a versão de Judas, de Madalena, de Felipe. É justo saber o que eles viram, o que pensaram, o que entenderam. E pesquisadores já comprovaram que os tais evangelhos apócrifos realmente são daquela época e são de fato autênticos. Por isso, sou favorável à inclusão dos apócrifos na Bíblia, de modo que a Igreja passe a todos os fiéis a mensagem de sua sabedoria e instrução.

Mas, na realidade meu grande objetivo com esta tese não era somente este, João. Eu desejo também passar a ideia de que essa história de que não existe realidade é conversa pseudo-intelectual. O raciocínio é auto refutável. E passa a impressão de que, se não existe realidade objetiva alguma, eu posso fazer o que quiser pois tudo é falso.

Não é assim que eu penso. Acredito que haja sim realidade objetiva e que esta realidade objetiva é o que pauta a nossa moral objetiva.

E é por acreditar numa realidade objetiva que também acredito em uma moral objetiva. Nossos valores morais são e devem ser pautados em uma noção de realidade comum. A morte não é boa para ninguém e por isso o ser humano acha aceitável proibir o homicídio e repreender quem o pratica. O roubo não é bom para ninguém enquanto vítima, portanto o ser humano acha correto repreender o roubo. E assim por diante com todas as outras atividades humanas.

É o que penso, e penso que deve concordar comigo.

A palavra é tua!
E que Deus o ilumine. 


João Cirilo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ismael Cardoso X João Cirilo - Noção de realidade ...":

RÉPLICA


Prezado Ismael, a Paz de Jesus no Amor de Maria. Recebi com júbilo e satisfação suas observações e mais ainda seus conselhos sobre a ira e a calma; obrigado pelos conselhos que tentarei pô-los em prática, não obstante meu gênio e temperamentos difíceis, e ir melhorando diuturnamente. Feitas estas considerações, passo à minha réplica.


I – SOBREO CÂNONE:

Respeito sua opinião, mas temos que levar em conta que à época do cristianismo nascente, jorrou em grande cópia uma quantidade infinda de heresias. Conforme nos conta Paul Johnson, “a crise atingiu um clímax na segunda metade do século II,mas vinha se desenvolvendo há muito tempo. A natureza do cristianismo, transmitida rapidamente por evangelistas errantes, atraia charlatães. Alguns dos primeiros documentos cristãos (assim com as mais antigas falsificações pias) foram tentativas de assentar a boa–fé dos missionários e alertar contra as fraudes” (História do Cristianismo, Imago Editora, 2001, pág. 64).


Cada Igreja espalhada tinha a pretensão nada edificante de ter o próprio Cristo. “Cada Igreja tinha sua própria ‘história de Jesus’, e todas haviam sido fundadas por um membro do bando original que passara a tocha adiante para um sucessor designado, e assim por diante. O elemento mais importante a todas essas Igrejas primordiais era a árvore genealógica da verdade”. (idem, pág, 60).


Essas genealogias, essa centelha de divindade em cada um, esse código da verdade encerrada num corpo naturalmente mau são crenças absolutamente gnósticas, que foram o grande entrave dos primeiros séculos (e em grande medida são até hoje com os discípulos de Kardec). Segundo o mesmo autor citado, “os gnósticos tinham duas preocupações centrais; as crenças em um mundo duplo de bem e mal e a existência de um código de verdade secreto, transmitido verbalmente ou por meios de escritos arcanos. O gnosticismo é uma religião do ‘conhecimento’ – é esse o significado da palavra – que afirma deter uma explicação interna para a vida. Daí ele te sido, e, na verdade, ser ainda, um parasita espiritual, valendo-se de outras religiões como ‘portadoras’. O cristianismo prestava-se muito bem a esse papel. Tinha um fundador misterioso, Jesus, que, convenientemente, desaparecera, deixando par trás um conjunto de ditos e seguidores para transmiti-los; e, claro que além dos ritos públicos havia os ‘secretos’, transmitidos geração a geração por membros da seita. Assim, certos grupos gnósticos aproveitavam-se de pedaços do cristianismo, mas tendiam a isolá-lo de suas origens históricas” (pág. 60)


Ao lado do gnosticismo, que dizer de Simão o Mago, o primeiro heresiarca da história da Igreja, que já no tempo dos apóstolos pregava ter sido o mundo criado pelos anjos e não por Deus? Pelo ano 170 aparece na Frígia outra heresia, capitaneada por Montano, um sacerdote da deusa Cibele convertido ao cristianismo que levou consigo fantasias pagãs, chegando ao cúmulo de se autoproclamar o Paráclito e dizendo que em nome do Espírito Santo anunciava o fim do mundo.






Postado por João Cirilo no blog
 Duelos Retóricos em 4 de setembro de 2012 08:34
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João Cirilo
4 set (4 dias atrás)
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Ario foi padre em Alexandria. “Com homilias, cartas e cânticos sacros, propaga uma doutrina revolucionária, rebaixando Jesus cristo ao nível de um herói ou de um mero semi-deus. ‘Jesus não é Deus, mas uma simples criatura do Pai eterno...’ O padre heresiarca é expulso pelo seu bispo com os poucos seguidores. Ario pregou suas heresias à gente humilde de Alexandria, causando desordens sem conta. A unidade da fé não havia ainda ocorrido perigo como agora. Por isso, o imperador Constantino – que estava empenhado em prol da paz religiosa – decide mandar que se dirima as discussões por meio de um concílio ecumênico de todo o império, em Nicéia” (“História da Igreja”, A. B. Simonetto, Paulinas, 1980, pág. 47/48).

II

Os cismáticos eram instruídos e suas pregações solapavam com relativa facilidade os simples, que ainda conviviam com escritos. O amigo cita dois deles – Judas e Maria Madalena – e, por entender como correto um cânone mais extenso, obviamente dá a entender que deveriam constar do rol evangélico.

Até onde minha memória me ajuda, pelo evangelho de Judas ele fora o melhor amigo de Jesus e foi quem o ajudou à vera na missão, porque o Mestre estava a ponto de abandoná-la, e ao traí-lo o trazia as coisas ao seu reto caminho. O de Maria Madalena insinua – ou é até direto – numa vida marital dela com Jesus.

Qual a relação entre esses evangelhos e a realidade? Lendo os Evangelhos, na passagem da Última Ceia, vemos com tristeza que Jesus anuncia ao próprio Judas que ele o trairia. Pode-se dizer, então, que os evangelistas canônicos uniram-se numa mentira para inculpá-lo, o que seria um grande absurdo, além de terem uma imaginação fortíssima e muito bem concatenada, porque Jesus disse em mais de uma ocasião que seria traído, seria morto e ressuscitaria (Mt 20, 18-19, Mc, 14, 28, Lc, 18, 31-33).


Não há lugar para as vicissitudes do apócrifo evangelho de Judas. E nem o de Maria Madalena, porque de Jesus, de quem nunca se ouviu falar de relacionamentos com quaisquer mulheres em nenhum dos Evangelhos, ainda é claro neste sentido em pelo menos 3 passagens: A)“Nem todos são capazes de compreender o sentido dessa palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmo se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda” (Mt 19, 10-12); B) “Errais, não compreendendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como anjos de Deus no céu (Mt 22, 28-30); C) “Em verdade vos declaro: ninguém que tenha abandonado, por amor do reino de Deus, sua casa, sua mãe, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna” (Lc, 18, 29-30).

Se estou correto nenhum deles poderia compor o cânone, que pressupõe um corpo íntegro com a doutrina de Cristo atrelada aos Livros necessários e completos do Velho Testamento (a Igreja não repeliu os chamados deuterocanônicos do VT expurgados pelos judeus no Concílio de Jâmnia).


Tais considerações não impedem que leiamos esses livros pois não há censura eclesiástica como sabemos. Se a Igreja não recomenda tais leituras, elas podem ser adquiridas numa livraria ou capturadas na internet, pelo que os interessados podem fazer uso delas normalmente.


Note a diferença: não poderiam compor o tratado doutrinário, que requer coesão da matéria dada. Como conviveriam a história de Judas com o relato da Paixão, especialmente o ocorrido na Última Ceia? Como enfiar de permeio considerações lúbricas sobre um relacionamento carnal entre Jesus e Maria se ele era casto por natureza, e tanto assim que recomendou a castidade como caminho melhor para a santificação e o Reino dos Céus?





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 Duelos Retóricos em 4 de setembro de 2012 09:00
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João Cirilo
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João Cirilo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ismael Cardoso X João Cirilo - Noção de realidade ...": 
Não se afinam tais doutrinas com as recomendações de São Paulo na 1Cor onde sugere a virgindade às moças e a castidade aos rapazes, sendo melhor que não se casem, embora seja melhor casarem-se do que “abrasarem-se”. Ora, quer me parecer que São Paulo não recomendaria isto ao comum dos homens se Jesus mesmo não fora assim!

Usando sua própria imagem, Ismael, se é certo que a pedra submergiu, alguns podem dizer que era muito pequena, ou muito grande; ou que era uma pepita de ouro ou um diamante bruto, uns dirão que caiu a jusante, outros a montante, talvez sejam poucos que digam o local exato: note que todos estarão falando sobre uma pedra que caiu na água, mas nem todos estarão dizendo a pura Verdade. Tal se dá com os Livros.
III

Como fugir das ciladas? Um guia seguro é as Cartas Paulinas, que deram o norte à nascente. São Paulo escreveu sua primeira Carta no inverno de 51 (1Tes) e a última já na prisão em Roma, por volta de 67 (2Tim). Toda a doutrina cristã gira em torno dessas Cartas, que precederam até mesmo os Evangelhos. Só para se ter uma pálida noção das coisas, na 1Tim, São Paulo já alertava para a questão gnóstica, escrevendo o seguinte: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: Devias permanecer em Éfeso parta impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias. Essas coisas, em vez de promoveram a obra de Deus, que se baseia na Fe, só servem para ocasionar disputas” (1Tim, 1, 3-4). Esta passagem recebe a seguinte “nota de rodapé” na Bíblia “Ave Maria” “Genealogias: temos aqui os primeiros traços da heresia gnóstica”.

Neste alicerce (especialmente a Carta aos Romanos, as duas aos Coríntios, a Carta aos Gálatas e aos Filipenses) é construída toda a dogmática cristã vertida no Novo Testamento. O que sair daí pode descambar para as heresias. Vimos em rápidas pinceladas o que turbou a Igreja nascente. Quando partiram para escrever a tradição oral – e segundo Paul Johnson, com inegável acerto -, todos os textos que não se ligavam seguramente aos apóstolos não eram aceitos (IIPd, 3, 15-16), pode-se imaginar a dificuldade para joeirar o certo do errado.

Wikipedia: “a lista completa dos livros do NT conforme existe hoje aparece pela primeira vez na Epístola 39 de Santo Atanásio de Alexandria para a Páscoa de 367 (onde tirou as dúvidas com relação aos deuterocanônicos do Novo Testamento: a epístola aos Hebreus, a Segunda Epístola de São Pedro, Apocalipse, a Epístola de São Tiago, a terceira epístola de São Tiago e a Epístola de Judas). Esta mesma lista foi confirmada por documentos posteriores como o Decreto Gelasiano e os cânones dos concílios de Hipona, Cartago III e IV. A definição oficial dos livros do NT, foi realizado pela Igreja Católica, no Século IV quando São Jerônimo realizou a compilação completa da bíblia, acabou com os questionamentos sobre a canonicidade dos livros Deuterocanônicos do NT”.
Diz-se ‘deuterocanônicos” do NT porque desde pelo menos 160 de nossa era um documento chamado “fragmento muratoriano”, que levou esse nome porque impresso pela primeira vez em 1740 por L.A. Muratori) dava como certos os livros protocanônicos, sem discórdias: os quatro Evangelhos, as epístolas paulinas, e as duas primeiras epístolas de São João.

SOBRE A MORAL:

Se há alguma divergência no tocante aos livros bíblicos, inexiste sobre a moral, que eu também entendo correto seu raciocínio:há uma moral objetiva em todas as civilizações e em todas as épocas. Pode ser mais larga ou mais estreita, dependendo justamente desses fatores. E chegará a tal ponto o estreitar que deixará de ser puramente um assunto reservado à moralidade para adentrar no Direito, que é mais restrito enquanto aquela é mais diáfana.
Penso que é minha obrigação deixá-lo aprofundar essas considerações, pois não sei se estamos exatamente concordes. Mas, são as linhas básicas que deixo às considerações do amigo e aproveito para despedir-me. Até a próxima. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Alonso Prado X João Cirilo - Heresias


  1. Saudações ao apologeta católico João Cirilo e demais leitores deste debate.

    Heresia na definição mais comum e corrente remete a idéia de contrariedade de opinião e aderência a uma opção diversa daquela que é tida como correta no campo religioso institucional. O termo grego que funda essa palavra é traduzido como opção e escolha.
    Conforme é de amplo conhecimento a Igreja Católica Apostólica Romana ao longo dos séculos enfrentou diversos grupos com opiniões dissidentes de sua doutrina oficial e aplicaram não apenas esse termo Heresia de forma concreta, bem como, travaram severo combate no campo teológico e filosófico e aplicaram punições duras contra os denominados hereges em especial durante o período da Santa Inquisição levada a cabo pelo Tribunal da Santa Inquisição conhecido atualmente como Congregação para Doutrina da Fé sediada no Vaticano.

    O caráter conservador da Igreja é sem sombra duvida algo necessário para a instituição que diz zelar pela instrução e salvação das pessoas e por ser portadora do ministério e tradição segundo os quais o próprio Cristo investiu a Igreja de tal missão, e não poder, temporal para atingir toda a humanidade.

    Com base nesses dados já desponto aqui o que pode ser uma possível heresia e questiono o meu interlocutor: A Igreja Católica poderia ser considerada uma grande heresia caso confrontássemos os ensinos de Cristo com a forma de proceder e atuação temporal da própria Igreja?

    Na esteira da história sabemos que os concílios eclesiais católicos em sua maioria visam combater aquilo que eles (católicos) consideram como heresia e afastam com inúmeras séries de argumentos teológicos que a Igreja não é uma usurpadora dos ensinamentos de Cristo, mas sim a única expressão real e fidedigna de Cristo com poder para difundir a sua figura de acordo com as sagradas escrituras.
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  2. A primeira grande heresia combatida pela Igreja através de inúmeros concílios foi a do chamado Arianismo que apregoava que: “O arianismo foi uma visão sobre Cristo sustentada pelos seguidores de Arius presbítero de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara em Jesus de Nazaré. Jesus assim seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Segundo esta tese só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio. Ao mesmo tempo afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo”. Sabidamente hoje em dia existem doutrinas pseudo-cristãs influenciadas por esta tese. Uma delas são os “russelitas” conhecidos como amplamente como Sociedade Torre de Vigia ou Testemunhas de Jeová.

    No século XII no sul da França onde supostamente Maria Madalena teria se exilado grávida de Jesus existiu um movimento chamado de Albiginense ou Cátaros. Os cátaros formaram uma sociedade secreta vastamente conhecida na Idade Média que até hoje existe nessa região sendo visitada por inúmeros autores como Dan Brown para colher dados para seus escritos como Código da Vinci. Segundo o modo de pensar dos cátaros hereges são os Papas e o Vaticano e não aqueles que exercitam sua fé em Cristo por via diversa.

    No século XII diversos monastérios debatiam secretamente acerca de idéias pouco ortodoxas conforme os moldes do Vaticano ou cátedra de Pedro. Para esse grupo secreto a crença era de que toda a criação era obra maléfica e não divina.
    Ao abandonarem formalmente o credo católico aderindo estas novas concepções o movimento acabou sendo chamado também de albigense decorrente do local que se encontravam a maioria de seus adeptos. Segundo os dicionários o termo “cátaro” advém do grego “katharoi” que significaria “os puros”. Todavia, a tradução latina do termo é oriunda da palavra “catus” ou seja: “gato” em latim. 
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  3. Um dado nada comum segundo os artigos histórico que tratam dos cátaros é de que os adeptos do grupo em suas reuniões faziam coisas ignóbeis como beijar o traseiro de gatos e praticar sexo explícito como forma de ascese mística e de adoração. Para estes os sacramentos, dogmas como a Trindade, e moralidade católica como castidade eram todos artigos de fé inúteis e não deveriam ser seguidos a risca.

    Depois de algum tempo a Igreja de Roma patrocinou a chamada “primeira e última cruzada contra cristãos”. O exército papal enviado ao sul da França exterminou os adeptos torturando e queimando todos aqueles que não confessassem seus pecados contra Igreja ou que não aderissem novamente a fé instituída e defendida pelo Vaticano.

    Para a Igreja a Reforma Luterana também é uma forma de heresia, assim como toda a fomentação de obras de cunho protestante passou a ser um efeito dessa heresia após o ganho de terreno dessas concepções nos campos da filosofia e teologia e cultura social. Ao decorrer dos séculos a influência das idéias marxistas também passou a se infiltrar no meio dos fiéis católicos dando origem a chamada Teologia da Libertação que segundo os padres mais conservadores se trata duma heresia profunda que assola a tradição cristã e exegese da bíblia.

    Diante desses dados incontestáveis quero expor as seguintes questões ao meu oponente:

    - A Igreja Católica Apostólica Romana poderia ser uma instituição herege ao contrário do que senso comum pensa?
    - A influência de cultura e ideologias políticas podem ser tratadas como heresia se mixadas com conteúdos religiosos?
    - A denominada “Teologia da Prosperidade” é uma espécie de heresia evangélica?
    - As sociedades secretas podem ser consideradas realmente como propagadores de heresias?

    Passo a palavra para o meu adversário retórico para suas considerações iniciais.
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  4. CONSIDERAÇÕES INCIAIS:

    Saudações, Alonso, bem como aos demais leitores e participantes deste grupo.

    Heresia tem raiz na palavra grega “escolha” ou “opção”. Embora possa ser usada no sentido de deturpação, de cisma, um desgalhar de um conceito original qualquer, é muitíssimo utilizada na Igreja até por força do Tribunal do Santo Ofício que tinha (e tem) por escopo, através da Inquisição, “perquirir”, “especular”, “perguntar” a determinadas pessoas autoproclamadas católicas, se o eram (ou são) realmente.

    É importante frisar esta passagem porque a Inquisição não perquiriu a vida de ninguém que não fosse católico. Julgou, condenou ou absolveu judeus, por exemplo? Não enquanto tais, isto é, enquanto judeus não conversos. A partir de quando abraçaram a fé, à Igreja coube o papel (como até hoje) de apontar se havia ou não, em determinadas condutas, a semente da heresia, a heresia mesma ou até a apostasia (que é a abdicação total) embora a pessoa continuasse a se rotular como cristã.

    Meu interlocutor pergunta se a Igreja tem tal atribuição ou se ela mesma é herege, ao confrontar o que fez em nome da fé com “os ensinos de Cristo”.

    Notem que ele mesmo respondeu a pergunta no parágrafo anterior de suas considerações iniciais quando escreveu: “o caráter conservador da Igreja é sem sombra duvida algo necessário para a instituição que diz zelar pela instrução e salvação das pessoas e por ser portadora do ministério e tradição segundo os quais o próprio Cristo investiu a Igreja de tal missão, e não poder, temporal para atingir toda a humanidade”.

    Eis aí a resposta dada, meu caro Alonso e caros leitores. Sim, a Igreja fora investida desta missão. Primeiro, quando lemos o capítulo 16 de São Mateus, bastante conhecido e comentado, pelo que observarei aqui apenas a passagem onde Cristo deu à Igreja instituída o poder de “ligar e desligar”. Que deu à Igreja por meio de São Pedro, as “chaves do Reino”.

    Em outra passagem Jesus aconselha as pessoas em litígio que antes se reconciliem; se for impossível que se leve a questão à Igreja depois de levá-la a duas ou três testemunhas infrutiferamente. Eis a passagem:

    “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano”. (Mt, 18, 15-17)

    No Capitulo 6 da 1Cor, São Paulo também critica os cristãos que levam suas causas aos tribunais pagãos – e falava de questões ordinárias - e não à Igreja, demonstrando com isso que a Igreja estava acima dos tribunais dos homens. Aliás, ensinamento consentâneo com o que escrevera na mesma Carta:

    “O homem natural não aceita as coias do Espírito de Deus: pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar. O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas, e não é julgado por ninguém. Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, e se abalançará a instruí-lo?” (2, 14-16).

    Como se não bastasse isso tudo há uma passagem marcante na 1Tim, que não por acaso é uma das Cartas Pastorais, isto é, dirigidas à Igreja nascente para organizá-la doutrinária e administrativamente: “A Igreja é a coluna e sustentáculo da verdade” (3, 15).

    Não há dúvida alguma que a Igreja cumpria seu papel sem cometer nenhuma heresia, ao contrário do que supõe nosso nobre amigo.
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  5. -.-

    Necessário ressaltar que a vigilância sempre ocorreu na Igreja. Desde os primórdios houve zelo para as importantes questões de fé com o fito de expungir as heresias. Chamando a atenção para a gnose, que conforme Paul Johnson é uma doutrina “parasita” porque se hospeda em qualquer outra para difundir suas crenças, note-se a advertência paulina na já citada Primeira Carta:

    “Devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias. Essas coisas em vez de promoverem a obra de Deus, que se baseia na fé, só servem par ocasionar disputas” (1, 3-4).

    -.-.-.-

    Tem razão, Alonso, ao citar a heresia ariana e também ao falar que os jeovas são os modernos discípulos de Ario. Tais hereges têm uma passagem que lhes é chave de ouro: “Portanto, ninguém ponha sua glória nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo; a vida,a morte, o presente, e o futuro. Tudo é vosso! Mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (4, 21-23).

    É muito mais fácil olhar as coisas literalmente, sem interpretação alguma , esquecidos de que a palavra de Deus não é de compreensão fácil e deve ser muito bem explicada e interpretada, como nos adverte São Pedro na Segunda Carta.

    Simples ler o que está escrito sem ir além. Cômodo, porém insensato. Insensato porque os jeovas não explicam o primeiro verso do Evangelho de São João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Não fazem nenhuma ponte entre o “Eu sou Aquele que é”, em Exodo, 3,15 e “antes que Abraão fosse, eu sou” (Jo, 8, 58). Nem conseguirão explicar também o porquê Jesus mandava batizar “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

    Dificilmente encontrarão explicação razoável para a promessa do Paráclito na Última Ceia e o cumprimento da promessa em Pentecostes (Atos, 2). E menos ainda entenderão Jo 15 e a passagem da “videira e os ramos” e a “permanência”: permanecei em mim que eu permanecerei em vós.

    Mais fácil ler o fácil e entender o fácil do que entender que o próprio Deus ofereceu-se a Si mesmo como um sacrifico vicário e eterno para o perdão dos pecados: se o pecado é uma ofensa a Deus, qual o homem que estaria à altura pagá-lo senão o próprio Deus?

    Mas, não condeno os jeovas, são estruturas difíceis, passagens difíceis que devem ser meditadas à luz da Igreja, não por acaso “coluna e sustentáculo da verdade”.

    -.-.-.-
    Os cátaros e albigenses eram hereges agnósticos; e também contrários à lei dos homens. A Igreja – cuja Inquisição foi instituída formalmente em 1231 para combatê-los – até que demorou muito a agir, embora o Estado pedisse sua intercessão havia algum tempo. Muito significativo o seguinte episódio:

    “O Papa Alexandre III, em 1.162, escreveu ao Arcebispo de Reims e ao Conde de Flândria, em cujo território os cátaros provocavam desordens: "Mais vale absolver culpados do que, por excessiva severidade, atacar a vida de inocentes... A mansidão mais convém aos homens da Igreja do que a dureza... Não queiras ser justo demais (noli nimium esse iustus)". Informado desta admoestação pontifícia, o Rei Luís VII de França, irmão do referido arcebispo, enviou ao Papa um documento em que o descontentamento e o respeito se traduziam simultaneamente: "Que vossa prudência dê atenção toda particular a essa peste (a heresia) e a suprima antes que possa crescer. Suplico-vos para bem da fé cristã, concedei todos os poderes neste Campo ao Arcebispo (do Reims) ele destruirá os que assim se insurgem contra Deus, sua justa severidade será louvada por todos aqueles que nesta terra são animados de verdadeira piedade. Se procederdes de outro modo, as queixas não se acalmarão facilmente e desencadeareis contra a Igreja Romana as violentas recriminações da opinião pública". (Martene, Amplissima Collectio II 638 s), “apud” blog do padre Henrique.
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  6. Sem me alongar em discursos, observo que antes de a Inquisição ser criada, em 1220 o Imperador Frederico II, do Sacro Império, decretou que quem fosse tachado de herege pela Igreja deveria ser lançado ao fogo. E, se por alguma razão qualquer, tivesse a vida poupada, teria a língua arrancada.

    Portanto, é bom ter em mente que a Inquisição seguiu a reboque das disposições seculares. Depois de um regular processo sem abjuração e sem impenitência, quando a Igreja declarava alguém culpado e o entregava ao braço secular, as penas já haviam sido estabelecidas antes da criação do Tribunal do Santo Ofício.

    Isto é importante considerar, pois as pessoas mal informadas (quando não de má-fé pura) pensam que o maior prazer dos prelados era botar fogo em pessoas mansas e humildes de coração: a verdade é que a Igreja tardou a criar o Tribunal, e ao fazê-lo impôs regras mais humanas aos suspeitos de heresia, o que não ocorria com os tribunais seculares.

    Instando mais uma vez, os cátaros e albigenses de bons tinham muito pouco. E estavam com sua doutrina avessa ao progresso, ao trabalho, com seus motins e perseguição às mulheres grávidas, com suas práticas tendentes ao suicídio, pondo em risco a civilização do sul da Europa, clamando dos poderes públicos providências urgentes.

    Como os hereges tinham a Bíblia como desculpa para suas heresias, o único jeito de solucionar o problema foi colocando a Igreja que – embora tardiamente – começou a analisar os casos postos à sua alçada.

    -.-.-.-

    A Reforma luterana é uma heresia, mas, verdade seja dita, não começou com Lutero, ele, por assim dizer, estava no local certo e na hora certa. O tema começou a ser vergastado bem antes, no Século XIV, por John Wycliff na Inglaterra. Importante gizar que a Reforma em todas as suas fases e em todos os países pelos quais passou teve por escopo único e exclusivo a questão de dinheiro: os ditos reformadores, (com o Estado açulando por detrás) tinham interesse em transferir os bens da Igreja para os Príncipes.

    As doutrinas de Cristo passaram bem longe dessas Reformas, meu caro amigo Alonso. Sobre as perguntas que o amigo me faz, respondo-as desta maneira:

    a) Não, a ICAR não pode ser uma instituição herege, até porque é a única autorizada a espiolhar as heresias. O que pode acontecer, mas aí tomaríamos a espécie pelo gênero, é que um ou outro papa, padre, monge, enfim, algum religioso seja herege. Mas não a instituição em si mesma. São conceitos absolutamente diferentes;

    b) Sim, indubitavelmente sim. Penso que as ideologias podem conspurcar a verdadeira fé, e um exemplo delas é justmente a Teologia da Libertação, que resvala (para não dizer que adentra, com foice e martelo) para as lutas agrárias, para as posses e as propriedades aqui mesmo, e não foi esta a mensagem deixada por Jesus;

    c) Penso que a “Teologia da Prosperidade” em si mesma não será uma heresia. Penso que todos os homens têm o direito de progredir na vida, de crescerem, de prosperar. O que penso totalmente antibíblico é colocar o dinheiro e a prosperidade acima das coisas Divinas. Como ninguém serve a dois senhores, pois amará um enquanto odiará o outro, penso que quem põe a prosperidade acima das coisas de Deus acaba idolatrando a avareza e o dinheiro que ela produz: neste caso haveria, a meu ver, um descaminho da Palavra;

    d) Sobre as sociedades secretas, eu não sei. Mas, por que as coisas seriam secretas? Qual o escopo, a finalidade, o intuito de se falar e fazer coisas secretamente se a Bíblia está aberta à leitura e à meditação? Se, em havendo dificuldades há a Igreja para interpretá-las, há os dogmas para esclarecê-las? Portanto, difícil dizer que uma sociedade secreta seja, só por isso, uma heresia. Mas, que pode caminhar facilmente para ela, parece-me bastante natural; e indesejável.

    São essas as minhas considerações iniciais, pelo que lhe passo a palavra para continuarmos nosso tema.
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  7. Réplica

    Em seu exórdio o apologeta João Cirilo portou-se como um exímio pregador bíblico enumerando enfadonhamente passagens das sagradas escrituras deixando de lado o empenho retórico quase totalmente de lado. Exceto por uma tentativa de induzir o público ao erro e engano tentando fazer estes crerem que respondi a uma pergunta eu mesmo fizera.

    Convém que haja uma refutação dessa degenerada astúcia de fugir da pergunta dizendo que já se tem resposta ao invés de responder. Acredito que este foi o ponto espinhoso o qual ele foge da “quaestio facti” e não quer responder nesse debate: Porque a Igreja não age de acordo com os ensinamentos do suposto fundador e mutila suas bases bíblicas a troco de conveniências temporais? Isso a tornaria uma instituição herética?

    A Igreja Católica fundada pelo próprio Cristo conforme a tradição desta alega fartamente diz-se santa e pecadora, quando faz algo de bom se diz santa, quando faz algo de lastimável joga a culpa nos homens falíveis que a conduzem como se todos os degenerados e pecadores da mesma se assemelhassem a Rodrigo Bórgia ou ao próprio Judas Iscariotes.

    O aspecto benevolente e perdoador condigno da figura de Cristo que sabidamente era pobre, humilde e misericordioso passou ao largo das ações da Inquisição que ao invés de buscar converter pessoas preferiu condená-las a morte tanto pelo fogo como pela espada. Aqueles a quem não matou, aprisionou ou fez de refém de seu poder como aponta o clamoroso caso de Galileu Galilei preso e indexado com a censura e proibição de seus tratados que só seriam publicados pelos protestantes os quais a Igreja naquela época tinha rixa ferrenha quanto a dogmática a ponto de excomungar os traidores da Santa Sé. O pano de fundo disso tudo remonta a acusações de heresia sobre tratados ciência e teses teológicas contrárias a dogmática católica, porém com consistente arcabouço na Bíblia. 
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  8. Agora notem a incoerência da mesma instituição 500 anos depois: Caso Marcel Lefebvre, bispo conservador contrário as reformas do Concílio Vaticano II e adepto do chamado tradicionalismo. Foi excomungado pelo Papa João Paulo II, pois nada mais nada menos, não aceitou as regras progressistas impostas pelo concílio e continuou a exercer suas atividades episcopais conforme sua consciência e fé na tradição mandavam. Agora vejam o desatino da mesma: Caso Leonardo Boff: Expoente pensador da Teologia da Libertação foi condenado apenas ao silêncio obsequioso pelo Cardeal Ratzsinger chefe da Congregação da Doutrina da Fé já citada na época dos fatos, e pasmem, Boff não foi excomungado até hoje assim como nenhum dos seus adeptos dominicanos e jesuítas no Brasil que ao invés de pregar a salvação, pregam “O Evangelho segundo Karl Marx”.

    A discrepância é nítida, excomungam um por fazer as coisas como elas eram de acordo com a tradição, e não excomungam o outro porque ele não segue a cartilha nem a de antes nem a atual. Qual desses dois o João considera herético? Sem sombra de dúvida o segundo, pois ele categoricamente respondeu quando perguntando se a Teologia da Libertação poderia ser taxada como heresia a seguinte afirmativa: “Sim, indubitavelmente sim. Penso que as ideologias podem conspurcar a verdadeira fé, e um exemplo delas é justamente a Teologia da Libertação, que resvala (para não dizer que adentra, com foice e martelo) para as lutas agrárias, para as posses e as propriedades aqui mesmo, e não foi esta a mensagem deixada por Jesus”.

    Pergunto-lhe caro apologeta: A Igreja tem coerência em suas decisões administrativas diante desses casos contraditórios e escabrosos ao menos inicialmente?

    Outro ponto a ser visto nessa questão das heresias são os textos apócrifos ou gnósticos atribuídos aos discípulos e apóstolos de Jesus não contemplados pela Igreja como legítimos e fidedignos da veracidade sobre a vida do mestre. Certamente o respaldo maior para viabilizar isso é o argumento que tais textos não são de “motu proprio” dos discípulos tendo em vista que confirmações de datação histórica afirmam que tais textos foram produzidos um século depois que os quatro evangelhos legitimados pela Igreja já eram conhecidos amplamente. 
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  9. Não obstante disso é que se ingressa nessa questão da heresia a presença das sociedades secretas. O motivo e razão é simples e peculiar: Essas ordens secretas seguem esses evangelhos apócrifos e gnósticos não creditados pela Igreja e o fazem dentro dum mecanismo de ocultação de suas atividades. Reconhecidamente é notório que o atual Papa Bento XVI é taxativo em afirmar segundo suas convicções de fé que, por exemplo, a Maçonaria é uma instituição da qual os fiéis de sua crença devem se afastar e não ter sequer contato com os conhecimentos por esta propagados de forma secreta.

    Agora notem a opinião temerosa do João acerca disso: “(...) dfícil dizer que uma sociedade secreta seja, só por isso, uma heresia. Mas, que pode caminhar facilmente para ela, parece-me bastante natural; e indesejável.”

    Esses dois assuntos pelo visto são os mais destacáveis nesse debate e merecem maior discussão ao meu ver: Se as sociedades secretas podem ser sociedades heréticas como remonta ao caso dos cátaros e porque a Igreja poderia ser uma instituição herética por não seguir a risca os mandamentos do seu suposto fundador, sobre o qual há controvérsia se é Jesus ou Constantino segundo os ateus e pesquisadores mais vorazes.

    Nitidamente fica claro que caso seja Constantino ele ordenou que os ritos litúrgicos do catolicismo fossem de certa forma parecidos com o chamado “Cultus Deorum” isto é a religião paganista romana que venera deuses, assim como a católica passou a venerar santos dizendo que não se trata de idolatria, mas sim dulia. Motivo: A similaridade do culto facilitaria a conversão a nova religião pouco importando o Deus que cultuavam. Por outro lado, temos em contraposição a chamada caça as bruxas que a Inquisição condenava certas mulheres misteriosas por serem seguidoras de doutrinas pagãs ou meras adulteras e fornicadoras a mesma pena capital. Notem que o contra senso parece mais uma vez escancarado assim como no caso Lefebvre x Boff e Instituição x Mestre.

    Diante deste painel eu encerro a minha réplica e aguardo mais uma vez a participação do meu adversário nessa discussão tão emblemática.
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  10. RÉPLICA:

    As passagens bíblicas enfadonhas têm por escopo fundamentar a tese procurando alicerçar os argumentos pois não os enumeraria por conta, inventando-os sem apoio bíblico. Preferiria dizer simplesmente que não saberia a resposta do que dizer algo sem base. Sou avesso a isso, não gosto de sofismar pelo prazer de enredar adversários em raciocínios especiosos, num cipoal de palavras.

    Falar novamente se a Igreja é ou não é uma instituição herética me parece desassisado: já o disse por duas vezes, inclusive na resposta a uma das perguntas no fecho das considerações: não vejo porque tornar ao ponto, já “enfadonhamente” listadas as razões..

    Digo o mesmo sobre “conveniências temporais”, porque este assunto foi tratado até como decorrência lógica da missão da Igreja, conforme podemos extraímos das citadas passagens enfadonhas (sem embargo de outras, provavelmente ainda mais enfadonhas para o gosto do meu oponente).
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    É este o conceito de “santa e secadora”, meu caro Alonso, porque no seu seio, composto de homens, pecadores por natureza (quem diz que não tem pecados é mentiroso, como nos alerta São João em sua Primeira Carta) há toda uma gama de cristãos, de um Rodrigo Bórgia a um Judas Iscariotes, passando por gente pior do que eles, de um lado; e santíssimas de outro, como o panteão hagiográfico nos mostra. O trigo e o joio crescem juntos e na colheita o dono da messe fará a escolha, recolhendo um para o celeiro, outro para o fogo que não se apaga.

    -.-.-.-

    O caso do Galileu Galilei é um apelativo que faz sucesso entre os modernos, que por regra detestam o estudo, têm ojeriza por uma reflexão mais acentuada, que se feita, fariam uma meditação e análise mais apurada das coisas. Sempre seguem verdades vendidas e empacotadas por outrem, e se é uma atitude obviamente cômoda, não é muito inteligente.

    Como o nome do cientista foi comentado “em passant”, também a voo de pássaro comento que esta é uma história mal contada que ao longo dos tempos tomou vulto muito considerável e mentiroso, até por conta do pronunciamento infeliz do beato João Paulo II ao pedir desculpas sobre o ocorrido, talvez porque ele próprio não tenha lido muito bem a História Geral; e não deu atenção a seu antecessor, Urbano VIII, papa à época, e admirador confesso de Galileu.

    O falecido beato talvez se esqueceu que o problema de Galileu não fora com a Ciência, menos ainda com o sistema heliocêntrico, mas porque afrontou as escrituras pretendendo que a Igreja a interpretasse segundo os fundamentos dele. Mas, em que pese o assunto ser apelativo e muleta a todos os que atacam a Igreja com os enérgicos aplausos de outros tantos sem conhecimento de causa, eu até gosto de tornar ao ponto, porque tenho rematadas oportunidades de demonstrar o vazio impressionante dessas teses; e mais ainda, evidenciar o divórcio lamentável entre o falar em grande cópia e o estudo crítico e meticuloso, ainda que em doses homeopáticas.

    Todavia, se o falecido Papa João Paulo II tinha esse problema histórico, não significa que tenhamos que lhe seguir a traça, ainda mais ao lermos a biografia do frade polonês Nicolau Copérnico. Esta simples leitura já nos basta, pois se temos a vantagem de olhar para o passado na comodidade de nossas poltronas, temos a obrigação de sermos mais honestos, senão com a Igreja, pelo menos com nosso cabedal de massa cinzenta.

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    Monsenhor Marcel Lefebvre não foi excomungado. Foi suspenso de algumas atividades sacerdotais em 24/07/76 com alguns membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. O édito lhe proibia de celebrar Missa, pregar ou ministrar sacramentos. Ele ignorou tais sanções e fez bem: nos anos seguintes houve um afluxo maior de candidatos ao sacerdócio no Seminário de Écône, que ele dirigia, sendo todos ordenados pelo bispo, que já falecido (1991) sempre permaneceu firme em sua postura; e com o Papa Bento XVI vimos percebendo que Sua Santidade acaba, ainda que tardiamente, lhe dando razão.

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  11. Para simplificar o assunto, registro que ele foi um bispo opositor do CVII. Eu também sou; e até onde eu saiba não fui excomungado e nem suspenso.

    A bem da verdade, até o papa é contra o resultado do CVII. Pois é por conta do alicerce do Concílio que se ergueram doutrinas as mais erradas e estapafúrdias, como as do citado frei Leonardo Boff, que se auto excomungou ao amasiar-se com uma militante dos direitos humanos (qualquer semelhança com Lutero talvez não seja mera coincidência).

    Seja como for a doutrina de Boff, com base na comunista “Teologia da Libertação”, não tem assento bíblico e só prega a revolução nos campos e nas cidades, isto sim, contrário à ordem de Cristo e sujeito às penalidades do Santo Ofício.

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    A coerência interna da Igreja é indisputável, em primeiro lugar porque está incólume exceto as naturais vergastadas ao longo dos séculos, o que só ocorre com uma instituição firme, com bases inalteradas; em segundo lugar pelo tratamento dado ao Monsenhor Lefebvre, que é sintomático.

    O falecido pastor francês se opôs frontalmente ao mal ajambrado ecumenismo do CVII, e nunca arredou pé da “Missa de Sempre” do Concílio de Trento. Nada fez de errado, apenas não seguiu muitas recomendações do CVII, até porque foi um concílio pastoral e não dogmático.

    Se a Igreja não gostou da atitude dele, afinal o assunto foi debatido “interna corporis” antes de vir à luz em novembro de 1962, tolerou sua postura, pois nunca desautorizou, suspendeu ou excomungou qualquer sacerdote ordenado no Seminário de Écône, por ele dirigido.

    E até com Genésio Boff, que talvez inconscientemente tenha feito um favor à Igreja ao se casar, poupando-a de tomar atitudes mais drásticas que o “silêncio obsequioso” de um ano, que lhe foi imposto em 1985, recuperando algumas funções pastorais no ano seguinte, posto que sob severa vigilância.

    Caro debatedor, embora haja coerência nas decisões da Igreja, digo que suas atitudes nem sempre são prontas e diretas. No meu entendimento – que nada conta – penso que muitas vezes vacila, e se é bom por um lado (FSSPX) é ruim por outro (CNBB e Genésio Boff), que deveriam ser silenciados há muito: pois uma coisa é não aceitar o ecumenismo e manter-se firme nas tradições e nas orientações vetustas; outra é sair por aí em movimentos ditos sociais, extremamente politiqueiros, violentos servindo muito mais a César do que a Deus.
    -.-.-

    O problema dos “textos apócrifos ou gnósicos atribuídos aos discípulos e apóstolos de Jesus não contemplados pela Igreja”, não é um verdadeiro problema, já que parte da solução é dada pelo próprio debatedor ao escrever que “tendo em vista que as confirmações de datação histórica afirmam que tais textos foram produzidos um século depois que os quatro evangelhos legitimados pela Igreja já eram conhecidos amplamente”. .

    Isto obviamente responde e resolve uma porção de problemas relativos aos apócrifos. Entre outros, como o total descompasso entre o que Jesus pregou e o que foi escrito, tais os evangelhos apócrifos nomeados a Judas Iscariotes e Maria Madalena.

    Porque é claro que se cada escritor tem o seu estilo, mais claro ainda é que deveria escrever de forma coesa com os ensinamentos de Jesus a partir dos escritos paulinos, que antecedendo aos evangelhos, deram a base para a elaboração deles.

    E os evangelhos supostamente atribuídos a Judas ou a Maria Madalena (para ficarmos só nos dois exemplos mais notórios), são totalmente dicotômicos em relação às verdades propostas, pelo que não poderiam, mesmo, fazer parte do cânone, ainda que contemporâneos aos apóstolos.

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    Contrariamente ao afirmado categoricamente pelo meu oponente, minha opinião sobre as sociedades secretas não é medrosa. Com todo respeito, é de extrema obviedade: se são secretas, a princípio não posso dizer se os assuntos tratados são heréticos; não conhecendo os estatutos, não há como dizer “a priori” se contêm ou não heresias e em que medida.
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  12. Em contrapartida, observei que provavelmente têm tendências à heresia, do contrário não seriam secretas, já que a doutrina está exposta na Bíblia e, em caso de dúvidas ou vacilações, podem ser sanadas pelos ensinamentos de sua intérprete autorizada, que é a Igreja Católica.

    Nas palavras do meu oponente Sua santidade fala da maçonaria. Esta é bastante conhecida desde pelo menos Felipe, o Belo, da França. Todos a tem por herética, até por causa justamente deste hermetismo.

    Ora, mas então o movimento neocatecumenal católico também será na medida em que os partícipes da corrente a conhecem aos poucos através de apostilas, que são entregues às pessoas que atingiram determinado nível. Ou seja, quem é iniciante não conhece os passos seguintes, que só vão se dando a conhecer na medida em que o jejuno vai trilhando o caminho.

    Podemos dizer que o movimento é sectário mesmo compondo o cotidiano da Igreja, em que pesem as tais apostilas? Parece-me que uma afirmação peremptória seria por demais fatalista, considerado só o sistema de graduação de seus membros.

    Até porque são movimentos nas Igrejas e seguidos de perto pelos padres. Então penso que com relativa folga poderemos tirar essa pecha pela participação efetiva do corpo sacerdotal.

    Por isso disse na minha primeira participação que pode haver uma tendência natural à heresia nesses movimentos fechados, mas que não se pode afirmar positivamente de chofre, em razão do desconhecimento das regras (do contrário não seriam secretas) havendo mister que a busca seja afeta a cada caso concreto, não existindo resposta antecipada, basilar e uníssona, sobre o assunto.

    -.-.-.-

    Penso que Constantino nada ordenou acerca dos ritos litúrgicos do catolicismo como pensa meu combativo oponente. E digo isso por duas razões:

    a) A intenção de Constantino (274-337) era de apaziguar e pacificar o Império Romano; percebeu que o cristianismo crescia a olhos vistos e organizadamente, podendo substituir com sua unidade de crença e rito, sem traumas ou rompimentos, a religião politeísta e os deuses do panteão romano; o imperador viu a unidade política e não religiosa, que suponho entendesse muito pouco, para não dizer quase nada;

    b) as linhas da Celebração Eucarística que permanecem até nossos dias fora esboçada em carta endereçada ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) por São Justino, o Mártir, em carta escrita pelo ano 155, onde o santo contava o rito já com sua espinha dorsal: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística.

    Exposta a minha réplica, à tréplica de meu oponente, sempre combativo digno dos mais sinceros respeitos.
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  13. Tréplica
    Sem sombra de dúvidas estamos diante de um apologeta. Sim João Cirilo é apologeta e condena com pinçadas de inquisidor espanhol qualquer mísera fanfarronice que se oponha a Igreja Católica. Caso cite-se Nelson Rodrigues: “De vez em quando, um desses fumantes me diz: - “Marx é maior do que Cristo”. E outro viciado jurou-me: - “O verdadeiro Cristo é Marx”. Ambos usavam a mesma ênfase alucinatória. Bem os entendo”.

    Pois bem, Nelson Rodrigues não é o Pe. Antônio Vieira que fugiu de Portugal temendo a inquisição e muito menos é Erasmo que versa sobre a alucinante teologia dos teólogos católicos: “Há algo mais divertido que as práticas minuciosas que regulam suas ações com uma espécie de exatidão matemática, e cuja violação é um crime a ser expiado?”. Isto é: O que mais dá sentido a atividade teológica católica o poder de impor dogmas ou o poder de condenar quem discorde deles?

    Isto posto, fica claro que todo aquele que discorda ou se torna, por esta ou aquela opinião mais livre contrário a doutrina católica imposta é aclamado como herético. Ora que a própria Igreja exprime que incredulidade nos seus dogmas e formas de pensar e conduta é de fato herético e condenável: “A incredulidade é a negligência da verdade revelada ou a recusa voluntária de lhe dar o próprio assentimento” e arremata de forma calamitosa o parágrafo 2089 do CIC: “Chama-se heresia a negação pertinaz de qualquer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou duvida pertinaz a respeito dessa verdade”.

    Com base nessa forma de pensar a Igreja certamente considera meio mundo herege, pois se somarmos aqueles que são ateus, agnósticos ou de outras denominações cristãs o mundo quase inteiro é dado à heresia duma forma ou de outra. Em outros termos: A Igreja Católica é a única dona da verdade e quem discorda dela está equivocado? Não, equivocado seria uma benesse da mesma. A Igreja afirma sem menor pestanejo que o sujeito que a descrê está é totalmente errado.
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  14. Decorrente disso é que a chamada gnose se torna uma das piores pragas que a Igreja combate desde que foi inventada. Gnose segundo o conceito mais simples é uma forma de conhecimento que liberta duma realidade opressora e alienante.

    Por isso tomemos como exemplo um sujeito qualquer que passa a ler os textos apócrifos, considerados como gnósticos como o chamado “Evangelho da Verdade” o qual é condenado como herético pelo teólogo medieval Irineu de Lyon fazendo com isso dar a voz da razão à citação de Erasmo que elenquei acima. Isto é, os teólogos não gostam de serem contrariados em suas verdades absolutas, e quando isso ocorre é como se fosse um delito passível de punição.

    Esse sujeito me faz recordar Eliphas Levi que tinha tudo para ser um sacerdote, mas resolveu confessar que além de amar certa mulher, que tinha certas leituras nada convencionais para um seminarista e que flertava com a gnose contida nesses textos apócrifos a ponto de redigir, salvo engano, uma nomenclaturada “Bíblia da liberdade”. Notem bem que liberdade é um termo recorrente e séculos depois Leonardo Boff ajuda a fundar a Teologia da Libertação, mas de fato se trata da libertação do que? Das convenções filosóficas, teológicas e morais impostas pela Igreja ou duma forma de pensar rude e elementar que aprisiona as pessoas em convicções as quais são proibidos e vedados de questionar tudo isto a luz da crítica e da razão? Espero que o João responda isso de acordo com suas convicções que até agora se apresentaram presas a uma formatação rude e elementar de explicar suas próprias convicções.

    Nesse escopo muitas sociedades secretas parecem desejar dar a resposta e aqui cabe uma reflexão sobre o simbolismo maçônico do compasso que remete a idéia de que o conhecimento vindo de cima, mas que se firma num ponto fixo imanente que transcende e retorna ao campo imanente para formar um circulo que simboliza a igualdade e unidade sobre esse conhecimento. Em outras palavras: Não existe uma autoridade sobre o conhecimento sobrenatural e humano, este conhecimento é dado para todos que o busquem sem monopólios e regras opressivas de cunho religioso, pois faz parte da natureza do próprio universo e da humanidade em si mesma.
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  15. Agora tomemos mais uma vez a figura e vida de Jesus narrada nos evangelhos, tanto dos clássicos canônicos como dos apócrifos. A figura de Jesus representa conforme ele mesmo diz o cumprimento duma profecia contida em Isaías que menciona que a sua presença servirá: “Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas”. Isto é mais uma vez uma alusão que remete a idéia de liberdade e não de entraves legalistas de conduta que se faziam presentes no judaísmo com se fazem agora nos dogmas católicos.

    Se notarem bem Jesus surge nesse contexto como uma opção diversa daquela que era a corrente, e permitia que seus seguidores escolhessem entre a sua mensagem ou que ficassem com aquilo que melhor lhes parecesse apto a dar-lhes sentido em suas vidas. Isso pode nos fazer crer que Jesus é um dos percussores da heresia em sentido literal, pois ele deu outra opção, outra possibilidade de escolha para que se fosse compreendido os mistérios entre Deus e os homens. Qual foi o resultado desse tipo de conduta de Jesus em sua época? Esse tipo de conduta o levou a morte, a condenação pelos doutores da lei, pois tudo aquilo que advinha de seus ensinamentos revolucionava de certa forma a interpretação geral da mística humana conhecida até então por aquela cultura naquela época.

    Diante disso fica a questão: Uma instituição que tenha como fundador o próprio Jesus não deveria ser aberta ao diálogo ao invés de considerar como cabal e inalterado seus pontos de vista chegando ao ponto de condenar irrestritamente o pensamento dissidente?

    Vejamos se o meu oponente responde algo além de que “Cristo é o elemento definitivo e depois dele tudo está consumado como verdade absoluta” e nos traz algum dado novo acerca disso. 
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  16. TRÉPLICA:

    Meu oponente teima com a posição da Igreja e procura infirmá-la de qualquer maneira, mesmo que para isso procure, à força de muitas palavras, desvirtuar os fatos. De qualquer forma, e como eu já disse e até as pedras já sabem, o Santo Ofício foi formalmente criado pela Igreja Católica em 1231 para coibir as heresias dos cátaros e albigenses.

    Este é o fato. E a Inquisição se formou com estatutos, nomeando-se padres dominicanos, os mais eruditos de então para capitaneá-la. Sabemos que havia um código de conduta, que os réus recebiam tratamento muito melhor do que recebiam quaisquer investigados pela justiça comum, que a bem da verdade, não tinham direito individual algum.

    Insistirei, pois parece que o ponto não está claro, dizendo que a ICAR, como Religião Oficial do Império foi convidada por este mesmo Império para dizer se determinadas condutas eram ou não contrárias à fé, se determinada pessoa era ou não herege: se assim fosse considerado e se o réu não abjurasse corria o risco de ser entregue ao braço secular sofrendo as penas traçadas adrede pelo Império.

    Então há uma história, fatos, há uma cronologia. Macula injustamente a Igreja o ônus do julgamento como cabia fazê-lo, conforme disse na minha réplica mostrando os fundamentos tachados de enfadonhos, mas que mesmo assim não hauriu nada e eu imagino onde estaríamos se não tivesse falado nada!

    Então, julgando, atraiu para si os ônus de julgar, de imputar, de condenar. Isso a deixou na berlinda enquanto os protestantes, espalhados pela Europa afora espalharam também suas truculências e suas crueldades, e muita gente tola ou maldosa ou ambas, debitam à Inquisição condenações e mortes perpetradas ou pelos príncipes reformista, ou pelos próprios reformadores.

    -.-.-

    No meu CIC o § 2089 trata da fé, mas não tem problema algum, porque a explicação dada pelo Alonso me parece bastante razoável: negação pertinaz de qualquer verdade de fé.

    A pertinácia alcança foros importantes aí e vem ao encontro das atividades inquisitivas, porque alguém só é condenado mantendo-se herege sem abjurar de forma alguma, mantendo-se firme nas convicções com total certeza do que crê, ciente que está em desconformidade com a doutrina que diz seguir.
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    Reconheço que não sei o conteúdo do mencionado “Evangelho da Verdade” trazido à baila pelo meu oponente, dizendo que foi condenado como herético pelo teólogo Irineu de Lyon.

    Se foi classificado como herético é porque as doutrinas contidas não estavam conforme a “praxis”, em algum ou alguns pontos, desviava-se dos alicerces doutrinários pregados num primeiro ponto por São Paulo. Não sei porquê meu oponente insiste nisso se o assunto foi tratado na minha intervenção anterior.

    Se diverge de algo neste sentido penso que deveria mostrar onde encontra heresias nos Evangelhos como um todo, e não criticar quem critica este ou aquele padre antigo que excluiu este ou aquele livro do cânone neo testamentário.
    -.-.-

    Falando em heresia (que é o ponto do debate) e já que não tenho nada para dizer acerca do “Evangelho da Verdade” anunciado pelo Alonso, valho-me da oportunidade para tecer algumas considerações sobre algumas heresias observadas na Igreja nascente.

    Conforme Paul Johnson, “a crise atingiu um clímax na segunda metade do século II, mas vinha se desenvolvendo há muito tempo. A natureza do cristianismo, transmitida rapidamente por evangelistas errantes, atraia charlatães. Alguns dos primeiros documentos cristãos (assim com as mais antigas falsificações pias) foram tentativas de assentar a boa–fé dos missionários e alertar contra as fraudes” (História do Cristianismo, Imago Editora, 2001, pág. 64).

    Cada Igreja espalhada pretendia ter o próprio Cristo: “Cada Igreja tinha sua própria ‘história de Jesus’, e todas haviam sido fundadas por um membro do bando original que passara a tocha adiante para um sucessor designado, e assim por diante. O elemento mais importante a todas essas Igrejas primordiais era a árvore genealógica da verdade”. (idem, pág, 60).
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  17. Ainda segundo ele, “os gnósticos tinham duas preocupações centrais; as crenças em um mundo duplo de bem e mal e a existência de um código de verdade secreto, transmitido verbalmente ou por meios de escritos arcanos. O gnosticismo é uma religião do ‘conhecimento’ – é esse o significado da palavra – que afirma deter uma explicação interna para a vida. Daí ele te sido, e, na verdade, ser ainda, um parasita espiritual, valendo-se de outras religiões como ‘portadoras’. O cristianismo prestava-se muito bem a esse papel. Tinha um fundador misterioso, Jesus, que, convenientemente, desaparecera, deixando par trás um conjunto de ditos e seguidores para transmiti-los; e, claro que além dos ritos públicos havia os ‘secretos’, transmitidos geração a geração por membros da seita. Assim, certos grupos gnósticos aproveitavam-se de pedaços do cristianismo, mas tendiam a isolá-lo de suas origens históricas” (pág. 60)

    Ao lado do gnosticismo, que dizer de Simão o Mago, o primeiro heresiarca da história da Igreja, que já no tempo dos apóstolos pregava ter sido o mundo criado pelos anjos e não por Deus? Pelo ano 170 aparece na Frígia outra heresia, capitaneada por Montano, um sacerdote da deusa Cibele convertido ao cristianismo levando fantasias pagãs, chegando ao cúmulo de se autoproclamar o Paráclito, dizendo que em nome do Espírito Santo anunciava o fim do mundo.

    Um pouco mais tarde surgem os maniqueus, assim denominados por serem discípulos do persa Mani, que se apresentava como o “apóstolo do Verdadeiro Deus” pregando a existência de dois Reinos bem distintos, o Reino da Luz e o Reino das Trevas, do qual saíra o demônio. Como se nota, o maniqueísmo é seita que remonta a Zoroastro, também persa, que dizia ter sido o mundo criado por duas divindades distintas, Arimã (o deus do Mal) e Aura-Masda (Ormuz) o deus do Bem.

    Ario fora um padre em Alexandria. “Com homilias, cartas e cânticos sacros, propaga uma doutrina revolucionária, rebaixando Jesus cristo ao nível de um herói ou de um mero semi-deus. ‘Jesus não é Deus, mas uma simples criatura do Pai eterno...’ O padre heresiarca é expulso pelo seu bispo com os poucos seguidores. Ario pregou suas heresias à gente humilde de Alexandria, causando desordens sem conta. A unidade da fé não havia ainda ocorrido perigo como agora. Por isso, o imperador Constantino – que estava empenhado em prol da paz religiosa – decide mandar que se dirima as discussões por meio de um concílio ecumênico de todo o império, em Nicéia” (“História da Igreja”, Monge A. B. Simonetto Edições Paulinas, 1980, pág. 47/48).

    Evidentemente que todos esses cismáticos era gente instruída cuja pregação solapava com relativa facilidade os simples, que ainda conviviam com escritos que a Igreja não acolheu por apócrifos. Citei na minha réplica dois deles – Judas e Maria Madalena.

    Até onde minha memória me ajuda, pelo evangelho de Judas Iscariotes, ele fora o melhor amigo de Jesus e foi quem o ajudou à vera na missão, porque o Mestre estava a ponto de abandoná-la, e ao traí-lo trouxe as coisas ao seu reto caminho. O de Maria Madalena insinua – ou é até direto – numa vida marital dela com Jesus.

    Qual é a relação entre esses evangelhos e a realidade? Ao lermos nos quatro Evangelhos a passagem da Última Ceia, vemos com tristeza que Jesus anuncia ao próprio Judas Iscariotes que ele, Judas, iria traí-lo. Di-lo com todas as letras. Poder-se-á dizer, então, que os evangelistas canônicos uniram-se numa mentira para inculpá-lo, o que seria um grande absurdo, além de terem uma imaginação fortíssima e muito bem concatenada, porque Jesus disse em mais de uma ocasião que seria traído, seria morto e ressuscitaria (Mt 20, 18-19, Mc, 14, 28, Lc, 18, 31-33) pelo que há lugar para as vicissitudes do apócrifo evangelho de Judas. E nem o de Maria Madalena, porque de Jesus nunca se viu falar de relacionamentos com quaisquer mulheres em nenhum dos Evangelhos (Mt, 19, 10-10; Mt, 22, 28-30, Lc, 18-29-30).
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  18. Se corretas essas assertivas, quero crer que nenhum deles poderia compor o cânone, que pressupõe um corpo íntegro com a doutrina de Cristo atrelada aos Livros necessários e completos do Velho Testamento (a Igreja não repeliu os chamados deuterocanônicos veterotestamentários, expurgados pelos judeus no Concílio de Jâmnia).

    Como conviver lado a lado a história de Judas com o relato da Paixão, especialmente o que ocorreu na Última Ceia? Como enfiar de permeio considerações lúbricas sobre um relacionamento carnal entre Jesus e Maria Madalena, se o Mestre recomendou a castidade como o melhor caminho para a santificação e o Reino dos Céus?

    Onde afinar a doutrina carnal com as recomendações expressas de São Paulo na 1Cor onde sugere a virgindade e a castidade? Ora, quer me parecer que São Paulo não recomendaria isto ao comum dos homens se Jesus mesmo não fora assim!

    Como fugir das ciladas? Um guia seguro é as Cartas Paulinas, que deram o norte à Igreja nascente. São Paulo escreveu sua primeira Carta no inverno de 51 (1Tes) e a última já na prisão em Roma, por volta de 67 (2Tim). Toda a doutrina cristã gira em torno dessas Cartas, que precederam até mesmo os Evangelhos.

    Neste alicerce (especialmente as monumentais Carta aos Romanos e as duas aos Coríntios, além da Carta aos Gálatas e aos Filipenses) é construída toda a dogmática cristã vertida no Novo Testamento. O que sair daí pode descambar para as heresias.

    Acima vimos em rapidíssimas pinceladas o que turbou a Igreja nascente de então. Quando partiram para escrever a tradição oral, os textos que não se ligavam seguramente aos apóstolos não eram aceitos (IIPd, 3, 15-16), pode-se imaginar a dificuldade para joeirar o certo do errado.

    Segundo a Wikipedia, “a lista completa dos livros do NT conforme existe hoje aparece pela primeira vez na Epístola 39 de Santo Atanásio de Alexandria para a Páscoa de 367 (onde tirou as dúvidas com relação aos deuterocanônicos do Novo Testamento: a epístola aos Hebreus, a Segunda Epístola de São Pedro, Apocalipse, a Epístola de São Tiago, a terceira epístola de São Tiago e a Epístola de Judas). Esta mesma lista foi confirmada por documentos posteriores como o Decreto Gelasiano e os cânones dos concílios de Hipona, Cartago III e IV. A definição oficial dos livros do NT foi realizado pela Igreja Católica, no Século IV quando São Jerônimo realizou a compilação completa da bíblia, acabou com os questionamentos sobre a canonicidade dos livros Deuterocanônicos do NT”.

    Diz-se ‘deuterocanônicos” do Novo Testamento porque desde pelo menos 160 de nossa era um documento chamado “fragmento muratoriano”, que levou esse nome porque impresso pela primeira vez em 1740 por L.A. Muratori) já dava como certos os livros protocanônicos, sem margem a discórdias: os quatro Evangelhos, as epístolas paulinas, e as duas primeiras epístolas de São João.

    -.-.-.-.

    Finalmente, não sei onde é que Jesus pregou a liberdade que meu oponente alvitra na tréplica. Não sei onde é que permitiu “que seus seguidores escolhessem entre sua mensagem ou que ficassem co aquilo que melhor lhes parecesse apto a dar-lhes sentido em suas vidas”. Não considerarei, levando pelo lado do ardor do debate, sua afirmativa de que “Jesus é um dos precursores da heresia em sentido literal, pois ele deu outra opção, outra possibilidade de escolha para que fosse compreendido os mistérios entre Deus e os homens”.

    Porque Ele não deu e nem permitiu, Alonso. Não sei o que o levou a escrever um absurdo desses. Não sei se pensa que alguém que ler o debate vai cair no seu laço ou se acredita fielmente nisso. De um jeito ou de outro é triste e preocupante ler tais assertivas, principalmente se tiverem por escopo atrair algum leitor incauto e amante das facilidades da vida, caso e que não só será um herege, mas colaborará para que outros tenham a mesma sorte.

    Despeço-me aqui aguardando suas considerações, finais, caro Alonso.
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  19. Então sou herege! E satisfeito.
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  20. Considerações Finais

    I - Nesse debate eu fiz questão de evidenciar dois conceitos sobre Heresia. O primeiro se liga ao conceito “latu sensu” e o segundo ao conceito da ICAR que estabelece como heresia a incredulidade e não aceitação dos seus preceitos dogmáticos e pastorais por qualquer pessoa que insista em não se perfilar de acordo com se determina como fé divina e católica.

    Apenas sugeri a ICAR como instituição herética por se desviar dos ensinamentos de seu suposto fundador Jesus de Nazaré e para terminar esse apontamento indico as seguintes situações já trazidas a baila no decorrer do debate:

    - Inquisição e perseguição de fiéis que pensavam de forma diversa da doutrina imposta pela ICAR. Jesus jamais perseguiu ninguém, muito pelo contrário, ele acolhia as pessoas ao seu redor e incentivava de forma amigável sua conversão aos seus propósitos e pregação. Segundo ele foi perseguido justamente por combater a doutrina anterior do judaísmo dogmático e legalista fundado na chamada lei mosaica seguida com base nos livros do Antigo Testamento de forma rígida e imposta de forma opressora muitas vezes pelos detentores da autoridade religiosa de seu tempo.

    - Formação duma instituição rica e poderosa no âmbito político e econômico: A história da ICAR revela que ela detinha em suas mãos terras, bancos, e exércitos que invariavelmente eram usados para combater seus desafetos e manter o seu poder sobre as instituições temporais inalterável. Jesus era carpinteiro e trabalhador ganhava seu sustento pelo suor de rosto ou pela doação de terceiros sem nunca usar esses meios para criação de nenhum fundo patrimonial que beneficiasse seu grupo de seguidores. Jesus não detinha ambições políticas e era contrário ao uso da espada contra seus perseguidores.

    Logo nota-se que a ICAR deixou de se balizar pela figura de seu suposto fundador inúmeras vezes.
    De acordo com essa conduta a ICAR se tornou muito mais uma instituição de alienação através do uso da religião, pois o processo de poder estava sempre ligado à ação sobre a consciência e situação humana de seus seguidores, pela qual se ocultava o poder e falsificava o uso legitimo dos ensinos de seu suposto fundador. Os seguidores mesmo notando os produtos desse processo de alienação restam muitas vezes indiferentes e creditando a mesma a superioridade de mantenedora dos ensinos de Jesus apesar de suas falhas gritantes. 
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  21. Uma igreja que aliena é uma instituição que desvia-se do propósito essencial cristão da “verdade os libertará” e por isso deveria ser taxada de herética segundo ao conceito “latu sensu” de heresia devido a não balizar suas ações incondicionalmente aos preceitos de seu fundador tornado-se assim uma opção e escolha pela alienação dos reais ensinos de Jesus.

    O oponente é um desses seguidores mais radicais que pensa em estrito acordo com a sua instituição e acha que quem não acolha seus preceitos ou os questione como eu fiz nesse debate é um potencial herege de acordo com a definição católica de heresia. Segue a afirmação do mesmo que confirma esse modo de pensar: “De um jeito ou de outro é triste e preocupante ler tais assertivas, principalmente se tiverem por escopo atrair algum leitor incauto e amante das facilidades da vida, caso e que não só será um herege, mas colaborará para que outros tenham a mesma sorte”. Isto é, o João Cirilo me considera um herege e todo aquele que vier a concordar com alguma das minhas posições um herege também.

    Ele mesmo segue a doutrina da instituição e a aplica aos dissidentes dela, ao invés de seguir os ensinos que Cristo que pregam a fraternidade e amor ao próximo e perdão ele prefere desde logo taxar toda e qualquer pessoa que use a reta razão crítica em desfavor da Igreja de herético. Fica a questão: Isso é seguir mais a Igreja ou seguir a Cristo em sua essência?



    II - O segundo ponto dominante do debate tratou das questões dos textos apócrifos desconsiderados pela Igreja como fontes legítimas, e portanto, heréticas de aprendizado sobre Cristo. Como já apontado muitos desses manuscritos foram manufaturados cerca de um século após da definição da Igreja dos Evangelhos tidos como canônicos, mas isso por si só não afasta a existência anterior de outros e nem a legitimidade destes posteriores, pois segundo a própria Bíblia: “Toda escritura é inspirada por Deus, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar a justiça” (2 Timóteo 3,16)
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  22. Aqui cabe uma misteriosa questão a ser feita: Será que Deus teria inspirado os autores dos apócrifos um século depois redigir novos evangelhos para ensinar, repreender e corrigir a fim de tornar mais justa (no sentido de equilibrado conforme é usado na bíblia) e mais quantitativa as interpretações sobre a vida de Cristo? Não sabemos. Quem sabe o João tenha algo a dizer sobre este mistério que para ele não é mistério, mas sim mais uma heresia.

    Evidencia-se com isso que estamos diante duma realidade onde a gnose é condenada e que por se tratar de conhecimento oculto ou esotérico poderia perfeitamente ter ao longo dos séculos sido transmitida de forma secreta através de instituições secretas perseguidas pela ICAR e mesmo assim sobrevivido a isso com a intenção de resguardar e ensinar aquilo que a ICAR não tem interesse ou conveniência em ensinar aos seus seguidores.

    III - Ao contrário do que o oponente garante Dom Marcel Lefebvre foi realmente excomungado, pois ordenou bispos depois de ser suspenso de suas atividades pastorais, e isso segundo o Código de Direito Canônico é causa para excomunhão, por ser por assim dizer “exercício ilegal da profissão” segundo o entendimento católico, embora Lefebvre tenha se mantido fiel a doutrinação anterior ele foi apenado por não seguir as inovações da Igreja e continuar a fazer seu trabalho pastoral conforme sua consciência e fé em Jesus mandavam. Ao ponto que Leonardo Boff não foi suspenso de suas atividades pastorais, mais sim recebeu ordem de ficar calado sobre suas teses nada convencionais sobre a Igreja e interpretação da Bíblia. Assim, ele continua a celebrar missas em desacordo com as normas litúrgicas vigentes e a pregar em desacordo com doutrina oficial e até hoje não foi excomungado, mesmo seguindo uma vertente dada como herética pela maioria dos fiéis.

    Diante disso encerro a minha participação nesse debate agradecendo ao cordial apologeta João Cirilo e aos estimados leitores que apreciaram a argumentação de ambos os duelistas retóricos. 
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  23. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

    Meu oponente insiste em dizer que há uma dicotomia entre o que Jesus pregou e o que a ICAR fez ao longo dos tempos, com a “perseguição de fiéis que pensavam de forma diversa da doutrina imposta pela ICAR. Jesus jamais perseguiu ninguém, muito pelo contrário, ele acolhia as pessoas ao seu redor e incentivava de forma amigável sua conversão aos seus propósitos e pregação”.

    Mas, precisamos ser coerentes conosco mesmo e com a História. Primeiramente, do mesmo jeito que Jesus não obrigou ninguém segui-Lo, também a Igreja não obriga que ninguém seja católico, não persegue ninguém.

    Cada um que siga a sua fé da maneira que ache necessário, recomendável e saudável à luz de sua crença e de sua consciência. Clemente VII expediu uma bula em 17 de outubro de 1532 onde traçou princípios humanitários para tratar os judeus convertidos e os que não se converteram. Note, meu caro oponente, se é possível notar aí algum laivo de perseguição, de maldade ou de intolerância:

    “Como eles foram arrastados à força ao batismo, não podem ser considerados membros da Igreja; puni-los por heresia e reincidência seria violar os princípios da justiça e da equidade. Já com os filhos e as filhas dos primeiros marranos o caso é diferente: pertencem à Igreja como membros voluntários. Mas como foram criados por seus parentes no meio do judaísmo e tiveram esse exemplo constantemente diante dos olhos, seria cruel, segundo as leis canônicas, puni-los por se entregarem às crenças e hábitos judaicos. Eles deem ser conservados no seio da Igreja através de benévolo tratamento” (H. Graetz, “História dos Judeus, IV, pág 515, “apud” Will Durant, “História da Civilização”, VI, pág. 620).

    Está aí, caro apologista, uma explicação simples e contrária àquilo que você prega acerca de perseguições. Onde a perseguição aí? Pode notar alguma letra, algum matiz, alguma inferência? E, para realçar ainda mais meu ponto de vista, releva notar que a citação foi feita por H. Graetz, que é um historiador judeu.

    Portanto, que cada um siga o que entender correto. Mas, se abraça a fé cristã, se é católico, tem que seguir os dogmas, do contrário não teremos uma religião una, mas um verdadeiro balaio de gatos, onde cada um faz o que quer, diz o que quer e prega o que quer (talvez a prova maior disso sejam as seitas evangélicas, que num cálculo diminuto se especula na casa das 60.000 pelo mundo afora!)

    Os adeptos da crença Testemunhas de Jeová, por exemplo, não acreditam na Santíssima Trindade, para esta crença Jesus é um enviado de Deus, mas não é Deus, é no máximo um semideus. A Santíssima Trindade é assunto de loucos, é assunto antibíblico, é invenção. Neste passo seguem a traça de Ario, que pensava a mesma coisa.

    Ao contrário, para os espíritas seguidores de cardeque, Cristo é um espírito iluminado que já atingiu tal plenitude que supera qualquer um de nós: notem que há um giro de 180º aqui entre a doutrina de cardeque e a doutrina de Jeová, onde cada uma delas empresta a Jesus um valor totalmente diferente.

    Os jeovas acreditam no céu para 144.000 pessoas exclusivamente, tal como consta em números redondos no Livro do Apocalipse. A Terra será possuída pelos jeovas no final dos tempos, então para eles não existe o chamado “juízo particular”, que o cristão acredita.

    Se os jeovas não acreditam no juízo particular, isto é, a alma prestar contas a Deus logo após exalar o último suspiro (parábola do Rico e do Lázaro), como explicar a promessa de Jesus ao bom ladrão sobre o Paraíso?

    Em qualquer Bíblia cristã esta passagem vem assim descrita: “Eu te asseguro: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc, 23, 43).

    Como contornar a dificuldade? Dando inveja a muito sofista: “Eu te asseguro hoje mesmo: estarás comigo no Paraíso”.

    Notem como a transposição da vírgula de lugar resolveu toda uma questão metafísica, de altíssima indagação. Que ao contrário da tragédia Shakespeariana onde o Reino se perdeu por conta de um prego, que não percamos nós o Vida eterna por conta de pontuação mal feita...
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  24. Os espíritas vão pela mesma senda. Quando Jesus diz que “na casa do meu pai há muitas moradas” (Jo, 14, 1) obviamente querendo dizer que há espaço e lugar para uma infinidade de pessoas que acreditarem na Palavra, os cardeques deturpam o termo para dizer que a casa do Pai é o universo, e as muitas moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, mundo este que oferece aos espíritos encarnados as respectivas moradias em consequência das evoluções.

    E o que a Igreja pode fazer em relação a isto? Esperar que estes ensinamentos errados se alastrem feito praga, feito doença?

    É dever dela, dado pela autoridade conferida por Cristo de “ligar e desligar” as coisas do Céu e da Terra. É a Igreja a “coluna e sustentáculo da verdade”, e que deve dizer o que é errado e o que é certo, o que é são e o que é doente em matéria de doutrina da fé.

    Só em dois exemplos atuais, que como vemos remontam heresias antigas como a gnose e os arianos, dois problemas dificílimos: e pode a ICAR permitir que quem se diz católico acredite em reencarnação ou despreza a Santíssima Trindade como coisa de “débeis mentais?” (boto a expressão entre aspas porque foi exatamente o que me usou uma dessas “catequistas de portão” quando veio ter ao meu, num destes domingos da vida...)

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    Meu oponente erra também quando diz que Jesus foi perseguido porque combateu “doutrina anterior do judaísmo dogmático e legalista fundado na chamada lei mosaica”, a qual era aplicada de “forma rígida e imposta de forma opressora muitas vezes pelos detentores da autoridade religiosa de seu tempo”. Erra também quando mistura a história rica da ICAR, seu poderio econômico em contraste com a figura de Jesus, que era um humilde carpinteiro.

    Primeiramente, o que Jesus e São Paulo (máxime na Carta aos Romanos) combateram à exaustão foram os meros ritos externos da lei mosaica, sem sentimento,sem amor, sem nada. Para os judeus bastava a aparência externa do rito e mais nada: isso não é religião, isso é protocolo, isso é formalismo inútil.

    Em nota de rodapé ao Capítulo 20 de Êxodo, a Bíblia Loyola informa que “os judeus contam 613 mandamentos (365 negativos e 248 positivos) na Lei, porque o Decálogo é muito mais do que os dez mandamentos”. Segundo Will Durant na obra citda (pág. 612) Immanuel bem Solomon Haromi,judeu nascido em 1265 era dotado de um espírito humorístico e vivaz, e acrescenta:

    “Lamentava ter nascido homem; tivesse nascido mulher, dizia, não teria que escarafunchar a Bíblia e o Talmude ou ter de aprender os 613 preceitos da Lei. Seu ‘Tratado do Purim’ zombava do Talmude”

    Isso não é religião, isso é protocolo isso é formalismo inútil, reitero. E foi com isso que Jesus acabou; mas não com a Lei, e muito menos com os preceitos dela, mas sim levá-la e seus preceitos, à perfeição, como deixou absolutamente claro no Sermão da Montanha (Mt 5,17).

    Em várias passagens Jesus se preocupa com o que vai dentro do homem e não em atos externos como lavar-se às refeições, por exemplo (Mc, 7, 1-8).

    Foi com formalismos, atos externos e inúteis que Jesus se propôs a exterminar; não com os preceitos da Lei, missão que o apóstolo Paulo leva à perfeição na Carta aos Romanos.

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    Depois, é bom notar que Jesus era realmente simples, sempre foi simples e aconselhou que se pusessem as coisas de Deus em primeiro lugar “e tudo o mais será dado em acréscimo” (Mt, 6, 33).

    Nunca disse para desprezar o dinheiro, mas sim para pô-lo em segundo plano: o dinheiro nada mais é do que um recurso e não um fim em si mesmo. É uma consequência, não o primeiro ato, o primeiro móvel.
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  25. A riqueza da Igreja solapada a partir do “Cativeiro de Avinhão” (1309-1377) não é difícil de explicar e entender. Enquanto ela empregava seus haveres com o bem da vida, cultivando e melhorando a agricultura por meio de vários engenhos, inclusive a tração animal para tal fim, enquanto ia construindo mosteiros, enriquecendo a cultura, fundando e mantendo universidades, formando monges matemáticos, cientistas, agrônomos, economistas, enfim, fazendo a vida melhor, o Estado tal só dilapidava seu patrimônio em guerras, em genocídios e em prazeres mundanos, gastando o que tinha e o que não tinha.

    O progresso de uma se deu na aplicação de seus haveres em coisas úteis, sem esquecer as de Deus, que postas em primeiro plano, o mais veio em acréscimo. Já o poder secular fez o contrário e só conseguiu se reerguer a partir do Século XIV quando meteu a mão nas burras eclesiais usando o movimento reformista como pivô e pião do jogo.

    -.-.-.-

    No que a Igreja alienaria as pessoas? Talvez, Alonso, você pense que só porque sou católico, eu seja alienado. Porque eu não sou relativista, onde tudo está certo, onde tudo pode, onde sempre há lugar para “mais um”, eu seja uma pessoa alienada.

    Não o critico: é assunto corrente hoje em dia. Nos tempos do “politicamente correto”, qualquer pessoa que acredite firmemente em algo diferente do que a massa acredita seja em que segmento for, não é bem visto. Não digo que você, Alonso, seja mais um dentro da gaiola, foi apenas à guisa de exemplo e provavelmente até concorde com a imagem.

    Mas, muito importante é sabermos que a Igreja tem seus dogmas, seus ritos e seu código de conduta: filia-se a ela quem quer e como quer; mas uma vez filiado, não pode comungar e sair para uma sessão espírita; não pode rezar um terço e sair para um terreiro de candomblé.
    Não pode haver sincretismo. Não pode haver nem mesmo ecumenismo.

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    Ecumenismo é palavra que soa com tristeza aos ouvidos de um católico ortodoxo pelas razões que já expus adrede. E feriram também os ouvidos e os sentimentos do Bispo Lefebvre, que morreu lutando contra este triste mal que permitiu a “entrada de Satanás pela fumaça do concílio”, nas palavras do papa Paulo VI, e a cada dia que passa mais eu acredito nisso.

    Não sei exatamente se o bispo francês acabou ou não sendo excomungado, meu caro Alonso; mas para mim, para este debate e para o ponto que desenvolvo aqui, é de somenos importância o efeito, mas de importantíssima relevância a causa.

    Quero dizer que excomungado ou não, foi uma voz dentro da Igreja que se levantou contra o desatino da própria Igreja ao permitir este mal falado e nocivo ecumenismo, que a grosso modo tudo permite e tudo tolera, porque se Jesus subsiste na Igreja Católica, vale dizer que também “subsiste” nas demais crenças, fazendo a própria Igreja tabula rasa do dogma tão caro a Jesus e aos apóstolos, segundo o qual “extra ecclesia nulla salus”, porque se ela mesma permitiu tais invasões desabridas contra seus dogmas, fica difícil expurgá-los todos, salvo se por uma revisão completa, “ex radice” do malfadado CVII.

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    Encerro minha participação aqui para dizer que herege é todo cristão que não comunga da fé católica desviando-se dos dogmas da Igreja, por sua vez oriundos da Bíblia, especialmente do Novo Testamento.

    Encerro dizendo que a Igreja tem o dever institucional de perseguir as heresias com o fogo do espírito, a centelha da palavra, o calor da boa doutrina, incandescendo e levando aos crentes o verdadeiro fogo, a verdadeira luz da Graça.

    Encerro dizendo aqui que todo este trabalho fica em certo ponto atrapalhado pela Igreja militante, na medida em que ela mesma, ao introduzir o nefasto ecumenismo para seus portais, trouxe também a semente da cizânia, a tal ponto que hoje em dia todo mundo é cristão, mas cristão “racional”. Sem razão alguma, mas acreditando tê-la profundamente, e, no mais das vezes nem errando tanto, mas sim errando pelo erro da Igreja.

    Foi um prazer terçar lanças consigo novamente, Alonso, um debatedor contundente, mas fiel.