domingo, 14 de abril de 2013

Alonso Prado X Chico Sofista - Moralismo na sociedade Brasileira.


  1. Saudações ao headbanger Chico Sofista;

    vou direito ao tema sem mais rapapés:

    O Moralismo arbitrário é uma das formas mais nocivas de propagar preconceitos, intolerância e puritanismo, dentre eles na maior parte dos casos, o moralismo religioso é o mais incapacitante e escravizante ideológico dentro da atual sociedade brasileira, bem como o seu antagonista do moralismo libertário ao extremo.


    Caso exemplar disso para dar um pano de fundo é a atitude de Olavo de Carvalho em censurar seu desafeto Paulo Ghiraldelli quando este expôs sua esposa nua na internet. De um lado temos um ultra-direitista católico e defensor da moral cristã mais ortodoxa possível e até mesmo do moralismo militar que hoje em dia se encontra falido diante do pensamento corrente mais aberto e liberal.


    Primeiro temos nessa conduta a expressão da intolerância aliada a conceitos antiquados de interferência na liberdade da vida alheia. Segundo: Quem de nós em sã consciência tem o direito de criticar o que uma pessoa ou casal fazem de suas vidas e figuras não deveria ser os mesmos e quiçá sua família e não terceiros por motivos de pura fiscalização da moral alheia? Terceiro: Sabemos que a figura do censor nesse caso era – como afirma por si mesmo – um grande puteiro no seu passado e hoje diz que sossegou o facho. Quarto: Não seria mais legítimo compreender a ação do casal ao invés de escarnecer o mesmo como alvo da crítica moralista?


    Isso são perguntas meramente reflexivas para cada um de nós se auto-policiar em nossas condutas sobre situações similares. Se o Chico quiser poderá responder dando sua visão sobre o episódio.

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    Respostas
    1. Quero ir um pouco mais além desse arcabouço da moralidade filosófica e ética na prática e expor algumas idéias de Alexis de Tocqueville sobre o conteúdo político do moralismo e puritanismo que foi implantado no EUA por imigrantes ingleses - e que por mais paradoxal que isso pareça ser - tornou o EUA uma das nações que mais prezam a liberdade individual e respeito à liberdade de terceiros em sua cultura social e humana.


      Social no sentido de que politicamente temos no EUA - ao contrário do Brasil - uma densa capacidade de pensar em questões políticas desligadas de conceitos demagogos de religiosidade, embora a religiosidade seja um elemento presente na sociedade americana de forma indelével.


      Humanamente seria apontar para o sentido de que os valores de conservação do bem estar humano, e de fazer o bem para outros seres humanos ser uma marca patente da moralidade religiosa e também uma espécie de filosofia de vida de fazer o bem ao próximo em sentido “laico” através das instituições públicas e privadas.


      No Brasil como sabemos impera o que chamamos de “jeitinho brasileiro” onde tudo aquilo que é vantagem ou algo que ajude a se safar duma situação é bem aceito como moralidade cultural do povo. Entretanto, é esse mesmo elemento que muitas vezes agrega valores iníquos de subversão de valores morais como boa fé e honestidade que levam a prática da corrupção no seio social mais comum e que toma maiores contornos expostos dentro do sistema político do aparato estatal a olhos vistos.


      Outro aspecto é que em contrapartida disso vivemos no Brasil mergulhado nos últimos trinta anos em especial no aumento duma religiosidade marcada pela doutrina que tem certa ligação com o puritanismo como fator de projeto político e social para um grupo de pessoas intolerantes e preconceituosas que são moldadas pela ganância por dinheiro via Teologia da Prosperidade e pela ambição política quando o dinheiro não traz mais poder suficiente aos doutrinadores desses grupos.


      Como sabemos Max Webber é claro em tornar essa mística do protestantismo de viés puritano melhor entendida na sua obra “A ética protestante e o "espírito" do capitalismo” que versa sobre o paradoxo da vida de devoção da religião dominante anterior (catolicismo) fundada numa moral rígida onde até mesmo o lucro era tido como usura uma espécie de “pecado social” ao praticante da fé católica.
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    2. Ao contrário temos o escopo Protestante Calvinista onde a moral aceita e abarca como graça tudo aquilo que tem finalidade econômica na vida da pessoa ao ponto de avareza ou consumismo não serem tidos “in práxis” como um pecado ou desvio de conduta humana e social. Nem o excesso de riqueza que ruborizaria São Francisco de Assis nem mesmo a sua pobreza são valores supremos divinos como eram antes, pois passaram a ser amortizados como capital espiritual e graça dentro duma conduta moral racionalmente construída.


      Por outro lado, temos dentro dessa mesma síntese puritana de valores um moralismo que condena a pessoa humana por seus atos de cunho extra-religioso como vida sexual desvirtuada, pertença a outro grupo religioso ou político como falhas graves na moral da pessoa.
      Ao contrário do sistema católico que prega e vale-se ainda hoje da misericórdia e perdão à pessoa do pecador e ódio e condenação para o ato da falha moral dentro do conceito de pecado, pois este afeta gravosamente a vida espiritual do mesmo. Em suma temos aqui uma clara distinção entre ato e pessoa agente desse ato, enquanto que no moralismo de fundo puritano e calvinista temos em um só plano os mesmos elementos (ato e pessoa) como se fossem a mesma coisa.


      No Brasil de 40 anos ou mais anos atrás, a sociedade era profundamente religiosa e moralizada como ainda é hoje, mas a diferença era que a moralidade católica era mais abrangente inclusive dentro das questões sociais e políticas e imperiosamente nas questões morais como sexualidade e família.


      Em outro aspecto o moralismo parece estar se infiltrando cada dia mais no Estado através do grupo de moralistas mais ligados ao modelo calvinista e puritano, com traços de intolerância e preconceitos, que buscam vetar a todo custo a liberdade de expressão popular, e em muitos casos e privilegiar a sua classe no campo das idéias e valores que não são democráticos, mas sim remendo de idéias sociais e políticas totalitaristas mixadas com idéias de religião que não expressam fé, mas sim autoritarismo e cerceamento de direitos e liberdades individuais como se tudo fosse pecaminoso quando não obedece a ética protestante.


      Para finalizar, compreendo que esse papel de responsabilidade moral, que antes era dado ao indivíduo e que era tarefa do ambiente familiar no máximo fazer isso, hoje está sendo usurpado pelos grupos de formatação ideológica tanto extremante libertário quanto os de viés religioso altamente fanático, ambos com intenções políticas de dominação das outras classes, ou até mesmo de destruição uma da outra.


      Isso sem dúvida é um paradigma de moralismo que estamos hodiernamente testemunhando sem dar uma resposta racional no campo filosófico, sem dar resposta política no campo social e sem dar resposta crítica efetiva no campo da moral religiosa, para que com isso se viabilize a manutenção de liberdades e direitos ancorada num padrão social e político realmente democrático e humanamente consciente de que diferenças de comportamento e opinião não são um malefício e sim um benefício para o progresso de todos.


      Termino por aqui o meu prefácio nesse debate.
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  2. Saudações ao grupo Duelos Retóricos e ao meu oponente e colega, Aloprado Alonso!

    Como você bem apontou em sua introdução, Alonso, existem diferentes maneiras de se referir ao termo “moralismo”. Normalmente, esta palavra aparece associada a pessoas que seguem e pregam rigidamente preceitos de algum código moral e, freqüentemente, desejam impor aos outros os seus valores. Tendem a valorizar mais as pessoas que seguem os mesmos princípios que os seus e freqüentemente associam-se em grupos com fortes influências ideológicas. Em alguns casos, podem ser responsáveis por ações descriminatórias ou possivelmente preconceituosas. Entretanto, você também pode ver alguém usando este termo simplesmente para se referir a alguém que segue os “bons” costumes e neste caso, você também é um moralista, pois já chegou a uma conclusão a respeito de quais costumes são “bons” para que TODOS sigam.

    É um termo que aparece com frequência em discussões de fóruns da internet, principalmente nos debates envolvendo os temas mais polêmicos como legalização das drogas, das diferentes formas de aborto, direitos para homossexuais, etc... Com o aumento do poder político conquistado pelos grupos evangélicos, este tipo de discussão nunca foi tão fumegante quanto está sendo hoje em dia e nós estamos vendo esse tipo de questão sendo discutida, ainda que de forma indireta, em todos os duelos atuais do nosso grupo.

    Mahatma Ghandi dizia que nós devemos ser a mudança que nós queremos ver no mundo. Esta frase nos faz refletir sobre algumas coisas. Primeiro, que tudo aquilo que fazemos, de uma forma ou outra, irá servir de exemplo para outras pessoas e poderá influenciar, ainda que indiretamente, alguém a ter a mesma atitude que você está tendo. E o mesmo aconteceu contigo, antes de exibir este comportamento. Estamos sendo influenciados e influenciando o tempo todo e somos reféns dessa lógica, quer queiramos, quer não. Além disso, se alguém toma alguma decisão, o faz por que acha que é a melhor escolha a ser feita, dadas suas circunstâncias. E se é a melhor escolha que você pode fazer, por analogia, deve ser a mesma coisa que o outro pode fazer também, em circunstâncias parecidas. Se você está agindo certo, melhor seria se o mundo todo seguisse seu exemplo, não é?

    Mas Ghandi não disse que nós devemos fazer o mundo se tornar igual a nós mesmos, apesar de que o objetivo prático dessa conduta seria exatamente este. Ele disse o que os cínicos já haviam dito, que se você acha que uma atitude é correta, a única forma de demonstrar isso é agindo de acordo com o princípio que você acredita. Pode ser que o mundo não mude por causa da sua atitude isolada, mas se nem você pratica o que prega, como é que pode exigir que os outros pratiquem?

    Todo estudo da moralidade é baseado na premissa de que é possível fazer análises lógicas e objetivas das intenções e decisões humanas, diferenciando as boas das más escolhas. Mas cada código moral é derivado de sistemas culturais influenciados pela religião e pela filosofia de povos psicologicamente distintos. A percepção deste fato resulta na gênese do relativismo cultural e a partir de então, toda análise objetiva da moralidade precisou levar em consideração a universalidade de cada código, antes de se pensar na aplicação prática de uma norma, que passa a ser considerada “ética” para determinada situação.

    Nenhum código moral é mais universal que a regra de ouro “não faça para os outros o que não gostaria que fizessem para você”. A aplicação desta regra acontece em quase todos os tipos de códigos morais aceitos amplamente por grupos humanos, por que é uma regra fundamental para se garantir o bem estar de um número grande de indivíduos que interage entre si. Mas ela pode gerar várias interpretações, então sempre houve a necessidade de ser mais específico. Por isso Moisés teve que subir e descer a montanha duas vezes para trazer 10 regras fundamentais, que não passam, na maioria das vezes, de repetições da regra de ouro.
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  3. Os religiosos estufam o peito para dizer que são a maior influência para a disseminação de preceitos morais na sociedade, desde sua formação e que nós só vivemos em um mundo que respeita as atuais normas por que a religião deles nos tornou o que somos. Em parte, eles têm razão. Não há dúvidas que vários preceitos foram fortemente enraigados em nossa civilização por causa da manifestação contínua de uma “ética” que guiou nossos atos e nos tornou o que somos hoje. Alexis de Tocqueville e Max Webber falaram mais sobre isso, como você bem lembrou. Mas também é verdade que todo grupo humano, em qualquer época e em qualquer local, procurou por seus próprios códigos morais e viveram sob seus próprios preceitos, muitas vezes considerando os preceitos dos outros tão errados e provindos de povos “bárbaros” quanto nós temos a tendência de considerar.

    Isso nos faz imaginar a possibilidade de que, se não fosse a ética protestante, outro conjunto de ideias iria se aliar aos interesses dos colonos dos Estados Unidos e quem sabe hoje, eles estariam dizendo que só chegaram onde chegaram (sabe-se lá o que seria) por que acreditaram em seu código e não no do outro. Você já reparou como a mídia gosta de tratar o termo “fundamentalismo religioso”? Quando algum muçulmano doido se explode matando um monte de gente junto com ele, o motivo é sempre religioso, agora quando algum membro do IRA faz a mesma coisa, aí o motivo é político, por que ocidentais não podem ser fundamentalistas. Fundamentalismo católico então? Nem pensar. Isso é coisa de povos bárbaros islâmicos. Nossa ética não nos permite agir como esses animais.

    Pura hipocrisia. Não é preciso pesquisar muito a fundo para perceber que nós conseguimos ser tão bárbaros e tão cruéis (se não mais) que qualquer outro povo do mundo. Nossos códigos éticos, assim como qualquer outro conjunto de normas, possui uma característica inviolável: Ele é freqüêntemente quebrado. As normas são especialmente importantes como aparência, mas facilmente contornadas quando ninguém está vendo ou sabendo. Por isso que este “jeitinho” a que você se referiu não é só brasileiro, apesar de aqui ele conseguir ser visto como algo bom. Em outras culturas, com outros códigos morais, a desonra e a mentira são vistos como coisas muito mais graves do que enxergamos aqui e isto tem uma influência direta na forma como esses povos se organizam em sistemas políticos e como conduzem suas burocracias.

    Você que trabalha com direito, poderia nos falar mais sobre o moralismo legal, que é a teoria da jurisprudência e da filosofia do direito que diz que as leis devem ser utilizadas para proibir ou requerir comportamento baseado ou não nos julgamentos morais coletivos da sociedade sobre o que é considerado “moral” ou “imoral”. Isto implica que é premitido ao estado usar poder coecertivo para reforçar a moralidade coletiva da sociedade. Por isto que se alguém andar pelado por aí vai para o xilindró por atentado violento ao pudor, mas em Amsterdã aprovaram uma lei dizendo que você pode fazer sexo em praças públicas, sem problema algum. Em uma sociedade em que cresce cada vez mais o número de evangélicos, que tipo de leis poderíamos esperar, ou que tipo de transformações que estão acontecendo em outros países, poderiam ser evitadas?

    Todos vivem acreditando em algum código de moralidade, ainda que seja pegando pedaços isolados de códigos de outros grupos. Você lembrou o caso da discussão entre o Olavo de Carvalho e o Paulo Ghiraldelli, onde o Olavo tentou desvalorizar o Paulo pelo fato dele não se importar (e aparentemente gostar) de ver sua mulher com pouca roupa na internet. Segundo o código moral ultra conservador do Olavo de Carvalho, alguém que faz este tipo de coisa, é um imoral, um depravado e merece ser repreendido. Já para o Paulo, que não tem vergonha alguma de dizer que gosta de fio terra, isto é café pequeno.
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  4. Tempos atrás, em nosso grupo, a Anja Arcanja estava realizando um debate com a Paula Sorato sobre sexualidade e falaram sobre assuntos muito polêmicos como bissexualidade e poliamor. Em determinada parte, Anja cita que foi vista fazendo sexo por um de seus filhos, mas que conversou com ele e explicou o que é que se tratava. É claro que esta história arranhou a armadura do nosso paladino da moralidade católica, o cacique Raoni, em sua armadura de cavaleiro das cruzadas, lutando pelos bons costumes do catolicismo, tentando impedir que a sociedade seja destruída pelo relativismo dos não crentes. Desceu de seu cavalo pampa e perguntou pra Anja, de forma irônica, se ela não acharia correto ensinar sexo, de forma prática, para seus filhos. Já que não existia uma linha bem clara para o comportamento dela dizendo para ela até onde ela deveria ir, na cabeça do Raoni, fazia todo sentido misturar no mesmo caldeirão bissexualismo e poliamor com incesto e pedofilia. É claro que a Anja se sentiu profundamente ofendida, o que deu origem a uma histórica discussão com o Raoni.

    Raoni sentiu como se sua tese tivesse sido provada: Todos somos moralistas e todos nos sentimos ofendidos quando algo ultrapassa as linhas que traçamos, ainda que não sejam tão nítidas quanto os que seguem princípios absolutos de moralidade. Isto é verdade. Mas isto também não quer dizer que por que as linhas são mais “nítidas”, elas são melhores ou que todos deveriam seguir. Muito menos que por causa disso, as linhas dos outros estariam certamente fadadas ao insucesso e se a sociedade seguir preceitos diferentes dos seus estará fadada ao colapso.

    É comum vermos os crentes do nosso grupo reclamando que a maioria de lá é de ateus, mas isso não é verdade. Basta analisarmos a recente onda de ativismo cristão, liderada principalmente pelo Big John, o Ted Haggard brasileiro, em sua defesa enfurecida pelos discursos do Malafaia, do Bolsonaro ou do Feliciano. Houve debate, mas não houve rejeição ferrenha a nada do que foi postado. Eu duvido que teríamos a mesma resposta se o ativismo fosse de grupos LGBT, mas é claro que não é algo que eu possa provar, apenas supor.

    O que eu sei, com certeza, é que Ted Haggard dizia viver e respeitar limites extremamente rígidos de moralidade e que as linhas deveriam ser absolutas e imutáveis. Como a tríade louvada pelo Big John, Ted Haggard ficou famoso nos EUA por condenar os avanços do ativismo LGBT e a aprovação de leis que garantia a união civil de homossexuais e adoção de crianças por estes casais. Era um dos que acreditava piamente na chamada “cura gay”, repetindo essas coisas que o Malafaia diz, como “ninguém nasce homossexual”, por isso, este tipo de desejo e comportamento deveria ser fortemente reprimido.

    Depois de ser considerado um dos 25 líderes mais influentes dos EUA, Haggard fez parte de um escândalo que chocou cerca de 30 milhões de fiéis: Estava envolvido em um relacionamento homossexual com seu personal trainer, que também era prostituto e gravou suas conversas espalhou para todo mundo. Pra mim, isto faz todo o sentido do mundo. Quando eu vejo estas pessoas falando na “ameaça” que a homossexualidade traz para a sociedade, não posso deixar de pensar que aparentemente estas pessoas tem medo de que, se isso começar a se tornar algo “normal” demais, elas correm o risco de se tornarem gays. Algum motivo para isso, com certeza, deve existir.

    Essa discussão ainda vai longe, mas vou deixar os temas mais específicos para as próximas participações. Acredito que teremos muita coisa para discutir enquanto nos aprofundamos neste assunto. Se pudesse, eu gostaria de saber o seu posicionamento sobre algumas destas questões pontuais e polêmicas que eu apontei, como legalização de drogas, aborto e casamento gay, pois a partir deles, podemos fazer uma análise sobre como estas questões podem se desenvolver no atual cenário moralista nacional.

    Até a próxima!
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  5. RÉPLICA – MORALISMO

    – As colocações feitas pela outra parte sobre o militante indiano Mahatama Gandhi merecem destaque e aprofundamento.
    A filosofia de Gandhi recebe influencia tanto da cultura oriental, bem como, da ocidental, pois Gandhi é adepto da Satyagraha que é uma forma de manifestação de posições sócio-políticas sem agressão ao outro pólo envolvido na questão de conflito, e por ter formação acadêmica na Inglaterra recebendo influencia de pensadores anarquistas dentre outros. Mas num mundo “glocal” (global e local) como seguir o pensamento citado de Gandhi de sermos nós mesmos a mudança que desejamos ver? Não pretendo responder isso, mas sim dar subsídios para polemizar e refletir sobre isso.

    Com base nisso Chico Sofista aponta que nenhum código moral e de ética é universal ao salientar a seguinte premissa: “Todo estudo da moralidade é baseado na premissa de que é possível fazer análises lógicas e objetivas das intenções e decisões humanas, diferenciando as boas das más escolhas. Mas cada código moral é derivado de sistemas culturais influenciados pela religião e pela filosofia de povos psicologicamente distintos. A percepção deste fato resulta na gênese do relativismo cultural e a partir de então, toda análise objetiva da moralidade precisou levar em consideração a universalidade de cada código, antes de se pensar na aplicação prática de uma norma, que passa a ser considerada “ética” para determinada situação”.


    Aqui cabe uma distinção pontual, pois a ética e moral são sistemas que envolvem escolhas e aderência pessoal, mas em muitos casos não são opções de conduta pessoal e individualista e sim cultural e territorial etc. Não podemos confundir o mecanismo moral dum seguidor do Islã com a ética de um nativo indígena Sioux ou até mesmo judeu ou cristão, pois sempre haverá conceitos chaves de conduta moral e ética os quais divergem e conflitam.
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  6. Nesse caso o moralismo - e não a moral - parece ser um desmembramento da moral dentro da sociedade com inúmeras influencias sociais, filosóficas e culturais que merece ser diferenciado da ética por ser de fato um conjunto de regras de grupos fechados como por exemplo da Cosa Nostra ou até mesmo entidades como Skull and Bones, Maçonaria, Torcidas Organizadas, Grupos e ONGs como Greenpeace, religiões e seitas e partidos políticos etc.


    Para quem leu muito Nietzsche encontra na obra Genealogia da Moral a questão da inversão de valores suscitando o rompimento com a tradição judaico-cristã do que é bom e do que é mal (pontos que ele aborda em outras obras também). Nos dias atuais, grande parte do mundo ainda pensa e age de acordo com a moral medieval e aparentemente antiquada ao tempo moderno focada na moral judaico-cristã. Enquanto isso, outro grande grupo pensa de forma racional com moral relativizada sem muitos parâmetros rígidos e até mesmo dissonantes duma verdadeira moral concebendo assim a idéia da ética pessoal ou de setores sociais e culturais com maior ou menor influência na sociedade.


    Diante disso, trazendo a questão para um foco mais próximo é que testemunhamos grupos de pessoas que exacerbam-se na defesa duma suposta moral que existe como regra para os outros e onde eles são exceção a esta mesma regra, pois inexistente no campo concreto dos atos dos mesmos atitudes sérias de acordo com o pensamento e discurso ora manifesto e prolatado aos quatro ventos como donos da verdade e virtudes. Vemos muitos seguidores de Haggard saltarem a olhos vistos em nossos meios de comunicação social e até mesmo círculos pessoais que são meras cópias do mesmo em inteiro teor. Isso é o que pode ser chamado de moralismo tomando como conceito a distorção da moral para formatar um novo conjunto de enunciados morais e éticos que só servem para um discurso ficto, pois na realidade concreta não passam dum “hoax” para esconder pessoas sem uso da razão em nível socialmente aceitável e suas mazelas psico-afetivas conturbadas que precisam duma máscara para o baile de fantasias da chamada teoria do papel.

    Aqui cabe elencar a Teoria do Papel de forma mais exata para deixar as claras o caminho que desejo apontar: “A teoria do papel, criação intelectual praticamente toda americana, afirma que cada situação apresenta expectativas específicas a um indivíduo, onde o papel, ou seja, “uma resposta tipificada a uma expectativa tipificada” (pg. 108, 1º §), oferece os padrões que devem ser seguidos pelas pessoas nas diversas situações, implicando em ações, emoções e atitudes a eles relacionadas. Cabe ressaltar que na maioria das vezes essas implicações vêm naturalmente, inconscientemente, e não propositada ou refletidamente. Os papéis têm sua disciplina interior, dando forma e construindo tanto a ação quanto o ator, e acarretam em certa identidade. Essas identidades, por sua vez, e os papéis que as definem, podem ser de fácil mobilidade, como também quase impossível mudança. Concluindo, o autor afirma que “o significado da teoria do papel poderia ser sintetizado dizendo-se que, numa perspectiva sociológica, a identidade é atribuída socialmente, sustentada socialmente e transformada socialmente” (Berger, Peter Perspectivas Sociológicas, Cap V)

    Qualquer aluno de ciências sociais já leu a obra supracitada de cabo a rabo e talvez tenha lido José Saramago que menciona: “Deus não fez nossos olhos para ver a realidade como ela é e não há porque perder tempo com isso”.

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  7. A questão que fica é: O que queremos dizer com isso?

    Todos em maior ou menor grau acreditam que se uma pessoa diz algo e faz algo de acordo com o que ela mesma diz essa pessoa é honesta e coerente, mas não é bem assim que máscara social parece reproduzir essa mesma espécie de comportamento nos dias atuais.

    Podemos ter um vizinho amável e certinho que na realidade é psicopata e depravado e mata pessoas aos finais de semana, mas durante a semana está dando aula para nossos filhos de gravata borboleta e camisa e cabelo engomados. Podemos ter contato com um pervertido sexual que foi abusado sexualmente no passado, mas na internet usa a máscara do senhor de meia idade em busca de novas aventuras amorosas de cunho heterossexual e bem estabelecido como pessoa de moral religiosa e oriundo duma instituição masculinizada com regras rígidas de conduta as quais enaltece sempre, mas que no fundo o mesmo se veste de mulher todas as noites e faz programa para jogadores de futebol.

    Até o próprio jogador de futebol, rico e craque duma torcida que chama a torcida rival de bambis seria um modelo de que: “as coisas não são como elas aparentam ser”.

    Não sejamos ingênuos de crer que uma pessoa é o que ela diz ser ou aparenta ser. Tenhamos em conta que nessa sociedade muitas pessoas atuam como protagonistas em diversos palcos fazendo e dizendo coisas que na verdade nem sabem o real significado, pois não vivem de acordo com o discurso, mas sim de acordo com a necessidade de aceitação coletiva.

    Aqui poderia esmiuçar Emile Durkheim e contrapor inúmeros fatos, mas creio que seja melhor ater-se ao fato concreto de que as pessoas criam mentiras bem estruturadas para serem aceitas e formarem círculos de aceitação repletos de elementos que seria intrincado demais de dizer um a um algo de substancial sobre cada um desses elementos. Fiquemos então com o básico de que esse complexo sistema de mentiras bem estruturadas seja de fato o moralismo que todos os dias vemos e testemunhamos em qualquer lugar onde exista uma relação humana e social ou política e até mesmo cultural ou de fé.

    Quatro elementos básicos da vida de qualquer pessoa que apontam muito sobre suas tendências, passado, convicções, personalidade e caráter. Se nos deparamos com uma mulher bissexual e altamente inteligente e com personalidade forte e marcante como por exemplo a encenada por Penélope Cruz no filme Vicky Cristina Barcelona, logo temos por tendência o habito de taxar de moderninha, louca, destrambelhada, sem antes notar que isso não é apenas “pré-conceito” mas sim repulsa de encontrar no outro muito que há de nós mesmos escancarado no outro de forma livre mas que e resta reprimido em nós mesmos por “escondermos o verdadeiro eu de nós mesmos”.

    Trocando em miúdos: Pessoas reprimidas vivem e criam moralismo ou aderem a uma ideologia moralista para se auto-enganarem. Essa é a minha sincera opinião.

    Imaginem aquele pacato funcionário de banco que acredita piamente que certa corrente política que faliu a Rússia durante setenta anos nada mudou e que hoje ainda é a mesma em sua essência dando ricos portentos aos chineses e que diante disso acredita que tudo foi relativizado na sociedade e que o mercado é uma estrutura onde os otários não sobrevivem, mas ao mesmo tempo que pensa isso e acredita nisso, ingressa em networks de pirâmide achando que não está sendo enganado. Eis o contra-senso que o moralismo permeia no ser e o impede de ver o que Saramago bem tratou no livro Ensaio sobre a Cegueira. Mais uma vez trocando em miúdos: Esse é o longo processo de tortura que muitos passam a vida sem enxergar a realidade. Esse processo é manifesto - ao meu ver - no moralismo e deve ser visto com reservas por aqueles que ainda se julgam: Donos de si mesmos.

    Assim encerro minha réplica e retorno o câmbio ao Chico Sofista.
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  8. Saudações Alonso e leitores da Duelos Retóricos.


    Este debate está me fazendo refletir bastante sobre várias coisas e está sendo bastante proveitoso. Como você citou em sua réplica, “nenhum código moral e de ética é totalmente universal”. Se você selecionar arbitrariamente qualquer código, fatalmente vai encontrar pessoas que não concordam com uma regra ou outra do mesmo, ou por que não lhe faz sentido lógico ou por que viola algum princípio muito importante de sua cultura. Mas quase todos os códigos morais amplamente utilizados pelas civilizações possuem atributos que são universais e que ou coincidem com o que também é defendido por outros códigos. A declaração universal dos direitos humanos é talvez, o melhor exemplo da tentativa de uma universalização de valores e influencia fortemente as políticas de vários países do mundo. Segundo esta declaração, todo ser humano teria o inviolável direito de ter a liberdade de escolher a religião que quiser. E a única forma de respeitar este direito inviolável é aceitar que as pessoas são guiadas por diferentes códigos morais. Diferente do que acontecia na idade média, quando hereges eram perseguidos e assassinados por não partilharem da mesma opinião sobre os códigos morais aceitos como padrão para a civilização da época. Hoje em dia, é função dos estados garantir que todas as pessoas tenham liberdade religiosa, assim como devem criar leis que possam ser cumpridas por pessoas de qualquer (ou nenhuma) religião.

    Você também fez a distinção entre “ética” e “moral”, assim como “moralidade” e “moralismo”, o que acho que é extremamente importante para este diálogo. Também citou Nietzsche, que criticou severamente o idealismo metafísico. Concordo com ele quando ele diz que as pessoas tendem a seguir preceitos morais mais por tradição do que por realmente compreenderem por que deveriam segui-los. Mas diferente da forma como eu enxergo as questões morais, Nietzsche não defendia que as pessoas devessem fazer análises racionais e utilitárias de questões morais, de forma individual. Ao invés disso, ele defendia a existência de um ser humano que fosse capaz de enxergar além dos símbolos que norteiam sua vida, para ver além de seus valores e também além de si mesmo. Quando isso acontecesse, ele reconheceria valores que estão muito além da moral servil que foi propagada por tradição ao longo dos séculos e que só serve para proteger os fracos e castrar a moral dos guerreiros e vencedores. É bom lembrar que este tipo de moralidade é exatamente o tipo de moralidade defendido pelos comunistas ao julgarem que existem classes “injustiçadas” em relação a outras e que deveriam existir inversões nos valores das pessoas para que a igualdade pudesse realmente existir.

    Por isso, não me espanta muito quando eu vejo teólogos que defendem valores que podem ser muito parecidos com valores marxistas. Afinal de contas, ambos os grupos acreditam que são capazes de conhecer a “verdade”, seja através de revelações sobrenaturais ou através de um “socialismo científico”. Ambos se julgam capazes de levar a humanidade para um “estado ideal”. Além disso, quem acredita existir um plano transcendente para tudo o que é descrito na Bíblia, deve se perguntar por que é que Deus teria mandado seu filho para viver a vida de um plebeu miserável ao invés de mandá-lo como um rei, senhor de exércitos capazes de propagar de forma muito mais eficiente sua palavra. Talvez Deus pense como os cínicos, que acham que o mais importante na vida são os exemplos que damos com nossas ações e não o que foi interpretado por terceiros e escrito em forma de conselhos para a população.
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  9. Pensando assim, as passagens mais importantes da Bíblia seriam justamente aquelas relatando as AÇÕES de Jesus Cristo e não os dizeres de passagens de discípulos sobre como as novas igrejas deveriam se importar, muito menos textos milenares falando sobre normas de comportamento que deveriam ser seguidas por antigos ancestrais de Jesus. Tanto é que Jesus se importa muito pouco em “mudar” as regras dos Judeus ou de César. Parece entender que as leis dos diferentes povos estão sempre mudando, mas mais importante que elas são as suas atitudes frente a elas. Corrija-me se eu estiver errado, mas a minha leitura do texto Bíblico é a de que ele CONDENA o moralismo. Isso é perfeitamente observado na passagem em que Jesus impede o apedrejamento de uma prostituta (Maria Madalena) alegando que nenhum de seus facínoras teria moral para fazer isso, uma vez que também são pecadores. Se até o criminoso que estava ao seu lado na cruz Jesus perdoou, quem somos nós para nos julgarmos juízes das ações alheias e sabedores de quem é ou não merecedor do reino dos céus?

    Isto é ilustrado na parábola da oração do Fariseu e do Publicano. Os Fariseus exerciam grande influência sobre o povo e atribuíam a si mesmos uma condição espiritual mais elevada que a dos outros. Em sua oração, o Fariseu dá graças a Deus por não ser como os outros homens “roubadores, injustos e adúlteros”. Por outro lado, o Publicano pede misericórdia de SI MESMO, reconhecendo que é um pecador. Jesus termina dizendo que o Publicano justificou a si mesmo, mas o Fariseu não. Ambos estavam fazendo autoexames, mas o primeiro não possuía humildade nem arrependimento, enquanto que o segundo parecia ter muito maior discernimento sobre a sua real condição. Outro exemplo interessante é uma leitura muito interessante da história de Santo Antão, que era uma pessoa que viveu sua vida inteira atormentado por demônios, mas que venceu todas as tentações que foram colocadas em sua frente. No fim da vida, já com mais de 100 anos, o demônio finalmente desiste de continuar atormentando Antão, reconhecendo que ele era imbatível. Alegre com a situação, Antão sorri, pois finalmente iria se tornar um santo. Logo em seguida, o demônio ri e volta novamente. Antão havia cometido o pecado capital do orgulho. A mesma vaidade que derrubou Lúcifer junto com um terço dos anjos do céu.


    Você citou uns trabalhos sociológicos como a teoria dos papéis citada pelo Peter Berger e também a ideia de coesão social do Durkheim. É interessante que os sociólogos tendem a acreditar que os principais agentes que moldam as ações das pessoas são sempre externos a elas. Eu concordo que na maioria dos casos isso é verdade, mas como gosto muito da literatura existencialista, não consigo achar que parte desta responsabilidade é do próprio indivíduo. Pode ser que o moralismo tenha se impregnado na sociedade por difusão cultural, mas o próprio Jesus já havia nos alertado dos seus perigos. Sem influência religiosa alguma, Sócrates chegou à mesma conclusão, quando disse “Não caias no erro em que cai a maioria dos humanos: quase todos têm os olhos constantemente fitos no que fazem os outros, sem jamais volvê-los para o que fazem eles próprios.” Afinal de contas, que autoridade tem alguém para dizer o que o outro deve ou não fazer com sua vida, quando ele não sabe nem o melhor a fazer a respeito de sua própria vida? Ainda que soubesse, segundo a parábola que Jesus contou, teria que guardar isso para si mesmo, pois apenas Deus é juiz dos atos dos homens, pois só ele conhece a intimidade dos pensamentos de cada pessoa.
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  10. Pensando por este ângulo, todos os moralistas que vemos por aí na mídia são incoerentes com a lógica interna de seus próprios princípios. Quem realmente valoriza as lições da Bíblia, ao invés de saírem por aí apontando-nos outros o que eles fazem de “errado”, deveriam investigar a si mesmos. Em sua introdução você aponta que isto ocorre na maioria das vezes pelos protestantes, já que, aparentemente, a igreja católica parece ser mais rígida na interpretação destas passagens. Mas você tocou em um ponto ainda mais fundamental ao citar a frase do José Saramago, “Deus não fez nossos olhos para ver a realidade como ela é e não há porque perder tempo com isso”. A verdade é que não é a honestidade com a lógica interna de seu código de moralidade que torna uma pessoa coerente, mesmo por que, a maioria das pessoas agem de acordo com suas máscaras sociais, padronizando e pasteurizando o comportamento humano.

    Neste sentido, a hipocrisia tomou conta do senso comum. Entre em uma sala cheia de gente e peça para levantar a mão todas as pessoas que já se julgaram vítimas de invejas. Todos levantam as mãos, por mais que seja difícil de encontrar na pessoa algum qualidade que possa ser digna de inveja. Agora pergunte quantas pessoas são invejosas e verá que ninguém consegue admitir isso. Então, se todos são invejados e ninguém é invejoso, de onde vem toda essa inveja no mundo? O mesmo vale para o ódio. Quem sente ódio são os outros, nós somos sempre perfeitos estoicos fleumáticos que sempre respondem de forma calma e paciente em todas as situações.
    Você tem razão quando diz que as pessoas criam mentiras bem estruturadas para serem aceitas em seus círculos sociais, uma vez que seria intrincado demais analisar cuidadosamente cada um dos elementos de seus códigos morais. Além disso, você foi cirúrgico ao apontar a repulsa que existe quando encontramos escancarado no outro pedaços de nós mesmos que reprimimos. Se nós temos que nos esforçar para reprimir estes comportamentos, por que diabos o outro pode ser livre para exibi-los?

    O significado etimológico da palavra inveja relaciona-se com “aquele que não quer ver” ou “aquele que não quer reconhecer a verdade”. No Inferno de Dante, os invejosos tem seus olhos costurados com arame, por que passaram a vida inteira sem enxergar, achando que é possível encontrar alguma verdade que esteja além de si mesmo. Preocupam-se com a vida dos outros por que não conseguem livrar-se das correntes das comparações. Caim não matou Abel por que Deus não aceitou suas oferendas, mas por que gostou mais das oferendas de Abel que das dele. Inveja é isso: Infelicidade pela Felicidade alheia. Quando se une a outros pecados capitais como o orgulho e a vaidade, faz com que as pessoas racionalizem seus desejos e sintam-se superiores às outras por que seguem algum princípio que o outro não segue. Além disso, por reprimir algum desejo que o outro manifesta sem medo, o orgulhoso e invejoso passa a combater as ações alheias, mesmo quando elas não lhe dizem o menor respeito.

    Argumentam que se as pessoas não passarem a agir exatamente igual a elas, a sociedade estará fadada ao colapso, pois só seu código moral pode ser eficiente para manter coesão social. Todos os outros levariam a estados de anomia, que só podem resultar em sérios problemas sociais. É claro que isso é plenamente justificável quando se refere a atitudes criminosas que podem prejudicar a vida de terceiros. Do contrário, não há nada muito diferente do discurso de Hitler, que dizia que os Judeus levariam a civilização ao colapso pelo simples fato de serem judeus. As causas combatidas pelos moralistas não prejudicam a sociedade e não é por que eles querem que a civilização irá ser prejudicada. Por outro lado, o moralismo pode sim ser extremamente prejudicial à sociedade, como foi outras vezes.

    Com estas reflexões, passo a palavra ao Alonso, para que possamos nos aprofundar ainda mais neste tema. Até mais!
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  11. Sentando em minha escrivaninha com um exemplar de Madame Bovary ao lado para me inspirar e fumando um Hollywood cigarro do sucesso eu chego ao ápice do texto do Chico Sofista que conclui o seguinte: “Todos os moralistas que vemos por aí na mídia são incoerentes com a lógica interna de seus próprios princípios”.

    A mídia nacional e a sociedade brasileira certamente vivem numa relação espúria onde uns enganam e outros deixam se enganar. Muito fácil detectar esse elemento quando notamos que o Jornal da TV de maior Ibope do país precede nada mais nada menos que uma novela do naipe de Avenida Brasil onde restou escancarado como o jeitinho brasileiro é algo que corre nas veias do povo e depois seguindo a programação temos futebol num campeonato qualquer. O Ibope revela isso com clareza esses são os três eixos motores da sociedade: Notícia deturpada, entretenimento de baixa qualidade vinculado com emoções baratas. Onde mais uma receita de engenharia social como essa daria certo?

    A resposta é simples e aterradora: Num país onde a educação não é considerado investimento, mas sim gasto supérfluo. Entre um comercial e outro de carros do ano, cervejas e eletrodomésticos o povo molda seu comportamento e passa a desejar e aspirar ter o corpo daquela vilã da novela ou casa de luxo da madame ou ser duma forma outra o craque que anda de carrão, pega todas as atrizes e modelos e ainda faz o que gosta. Esse é o prato principal, o aperitivo são noticias de catástrofes e corrupção,mas quem liga pra isso a não ser seu estado fisiológico e psicológico que ao se deparem com isso lançam na sua corrente sanguínea péssimos hormônios que depois são compensados por doses de prazer e adrenalina por causa da novela e futebol.

    Trocando em miúdos: A mídia é uma droga para a sociedade ignara. Poderiam essa massa de teleguiados estarem lendo ou estudando, mas preferem relaxar em frente a um meio de comunicação que apenas visa lucro e perpetuação duma sociedade castrada intelectualmente e cada vez mais aviltada moralmente.
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  12. Nesse ponto é que o moralismo religioso também engrossa o caldo e vai de encontro com aquilo que o Chico Sofista menciona com propriedade: “Pode ser que o moralismo tenha se impregnado na sociedade por difusão cultural, mas o próprio Jesus já havia nos alertado dos seus perigos. Sem influência religiosa alguma, Sócrates chegou à mesma conclusão, quando disse “Não caias no erro em que cai a maioria dos humanos: quase todos têm os olhos constantemente fitos no que fazem os outros, sem jamais volvê-los para o que fazem eles próprios.” Afinal de contas, que autoridade tem alguém para dizer o que o outro deve ou não fazer com sua vida, quando ele não sabe nem o melhor a fazer a respeito de sua própria vida?” Eis que podemos concluir que a mídia faz isso, pois a lógica interna das pessoas é pura contradição e hoax para que algum publicitário, autor de novela ou peritos em engenharia social façam da sociedade seu brinquedinho e fetiche de dominação.

    Os filósofos gregos clássicos buscavam harmonia e coerência entre o que se pensa e como se age, e isso por assim dizer é uma ética pessoal bastante rebuscada do ponto de vista social e moral também, devido exigir que nossos atos façam eco as nossas idéias mais simples ou profundas.

    Onde na sociedade brasileira vemos isso? Em poucos lugares, pois aquele aluno de faculdade que diz combater a corrupção é o mesmo que cola no exame de alguma disciplina e faz questão de transformar sua vida acadêmica numa esbórnia regada a cervejadas e maconha posando de militante de esquerda com agasalho de marca.

    Não existe coerência interna e nisso o Chico acerta em cheio ao afirmar e trazer como exemplos que o farisaísmo denunciado por Jesus ainda existe de diversas formas. A religião romana que deu lugar a uma sociedade vinculada a uma Igreja detentora dos dogmas de fé e moral tratava o conceito de religião não apenas como algo místico, mas também como uma forma de conduta social de interesse do Estado como forma de controle social da população através de condutas previamente determinadas por seus líderes e coordenadores de grupos sociais minoritários e segmentados.
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  13. Um fariseu moderno, ao meu ver, é aquele elemento que prega em sua igreja e culto boa moral e conduta fiel a Deus, mas que na primeira oportunidade de condenar seu próximo e aproveitar-se de sua fragilidade não a perde. Assim vemos dia a dia em nossas ruas aquele sujeitinho com terninho barato aspirando ser uma boa pessoa, mas no fundo a corrupção e incoerência entre pensamentos e palavras e ações e comportamentos concretos são diversas umas das outras.

    O que gostaria de questionar ao Chico Sofista é se existe alguma forma de reverter esse processo na opinião dele não apenas pela cultura e educação, mas por outro meio que dependa menos do Estado e mais das pessoas com prioridades mais elevadas que pagar contas, consumir, e dar dízimos e clamar por milagres mirabolantes de ordem pessoal e financeira?

    Assim deixo essa pauta para a tréplica do mesmo.
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  14. “existe alguma forma de reverter esse processo, não apenas pela cultura e educação, mas por outro meio que dependa menos do Estado e mais das pessoas com prioridades mais elevadas que pagar contas, consumir, e dar dízimos e clamar por milagres mirabolantes de ordem pessoal e financeira?”

    Ótima pergunta. Em sua tréplica, você falou bastante sobre engenharia social. Sobre como as pessoas se comportam como se fossem partes de rebanhos, seguindo o barulho das trombetas de seus guias, hoje representados pela mídia. A resposta para a sua pergunta é, em minha opinião, não. Assim como o medo, o orgulho e a inveja fazem parte da programação básica do comportamento humano. O máximo que a cultura pode é tentar fazer as pessoas enxergarem essas coisas em si mesmas e talvez condenarem e mudarem de atitudes. Mesmo assim, eu acho que alguém teria que ser fantasioso demais para acreditar que a humanidade poderá se ver livre destas coisas em um futuro próximo. Eu digo isso por que acredito piamente que a mentira é uma das coisas mais importantes que existe para a formação e manutenção da sociedade da forma como a conhecemos. Um mundo sem mentiras seria um mundo absurdamente caótico, ninguém em sã consciência iria querer viver nele. É isso o que vou explicar nesta tréplica.

    A capacidade de mentir é percebida em todas as fases do desenvolvimento humano. Aos poucos, o ser humano desenvolve a capacidade de imaginar o que pode estar se passando na cabeça das outras pessoas (teoria da mente) e a partir de então ela descobre que, assim como ela mesma, todas as outras pessoas são capazes de se enganar. Colocando-se no lugar do outro, alguém pode contar uma coisa que não é verdade e prever as possibilidades da outra pessoa descobrir ou não se aquilo é ou não mentira. As mentiras podem ser descaradas e facilmente detectáveis, levando o mentiroso ao total descrédito. Mas também podem ser extremamente sutis e praticamente imperceptíveis, sendo que o mentiroso pode viver sua vida inteira sem ser descoberto. A única mentira que não pode ser escondida pelo mentiroso é a mentira de “má-fé”, como descrita por Sartre, que é o ato de mentir para si mesmo. Normalmente fazemos isso quando queremos nos livrar da culpa por alguma coisa. Nas palavras do sábio filósofo contemporâneo americano Homer Simpson, se a culpa é minha, eu coloco em quem eu quiser.

    Perceba como as pessoas são sempre vítimas de alguma coisa, seja das desigualdades geradas pelo sistema, seja pela forma como os outros estão sempre agindo, por que as únicas pessoas equilibradas e sensatas neste mundo são sempre elas mesmas. Mas antes dos quatro anos de idade, nenhum ser humano é capaz de entender que podem existir outros pontos de vista no mundo além do que ele tem e por isso, não é capaz de mentir. Como nenhum outro animal consegue chegar neste estágio de desenvolvimento cognitivo (salvo alguns raríssimo primatas superiores), podemos dizer que esta é uma das características mais importantes que nos difere dos outros animais. Desde crianças, a experiência nos ensina que a omissão da verdade pode evitar uma série de problemas. Se você for esperto, pode sair ileso de uma série de situações, desde que ninguém as descubra. Com o tempo, as crianças vão deixando as mentiras absurdas e facilmente detectáveis de lado e aprendendo a criar mentiras que funcionam. Isso ocorre por que elas aprendem a compreender o conceito de credibilidade. Neste estágio de desenvolvimento, as crianças ainda não tem a compreensão moral para condenar este tipo de atitude. Apenas anos observando os efeitos negativos das mentiras é que as pessoas podem desenvolver apropriadamente a noção de como elas podem ser negativas e, nestes casos, refreá-las.
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  15. Segundo Nietzsche em “Humano, demasiado humano”, as pessoas só não mentem por causa das dificuldades existentes em se manter uma mentira. E até o Velho Testamento, que sempre condenou a mentira, em alguns momentos reconhece que foi a melhor coisa a ser feita, quando era para proteger algum espião judeu em território inimigo ou para proteger a mulher de Abraão, em terras estrangeiras, Por outro lado, a honestidade sempre foi vista como um símbolo de integridade e honra, nas mais diversas culturas e quase sempre alguém que é descoberto na mentira é alguém severamente censurado em sua comunidade. Exatamente por isso, os seres humanos foram se tornando cada vez mais especializados na arte da mentira, assim como também se aprimoraram na arte de esconder suas próprias mentiras e descobrir as dos outros.

    Imagine uma sociedade onde todos tivessem detectores de mentira enxertados em seus corpos e aparelhos de GPS que determinassem suas localizações em todos os momentos de sua vida. Em um mundo como este, sem espaço para a mentira, a privacidade seria algo de pouquíssima importância. Apesar de que o próprio conceito de privacidade é algo extremamente recente, mas tem se tornado cada vez mais valorizado pelas pessoas, conforme parece crescer na sociedade uma sensação de necessidade por individualidade que permite as pessoas fazerem coisas que ninguém mais precisaria ficar sabendo. Por isso eu disse no começo de minha tréplica que, em minha opinião, um mundo proibido de mentir seria um mundo ainda pior que o mundo hipócrita e mentiroso que vivemos.

    Por isso eu ainda prefiro viver em uma sociedade hipócrita e estúpida que coloca o rosto de jogadores de futebol horrorosos em todos os lugares, por que, por incrível que pareça, isso ajuda a aumentar as vendas. Que tem toda a sua atenção voltada para um comercial imbecil sobre uma tal de Luísa que estava no Canadá e, só por isso, ficou famosíssima e até andou posando nua em revistas masculinas. Onde um idiota qualquer faz uma música infantil cretina que fala sobre um cara que quer se aproximar de uma mulher e isso é traduzido para os mais impensáveis idiomas. Onde o ganha pão de alguns energúmenos e mendigar por alguma foto de alguém, só por que é famoso. Um lugar tão incrivelmente hipócrita que é capaz de ser palco da história de uma moça que ficou famosa por que foi com saia curta para a faculdade e foi alvo da mais intensa fúria coletiva de seus colegas, que queriam que ela fosse expulsa por causa disso, mas que em troca, ficou famosíssima e rica justamente por causa da fama que ganhou por causa da bizarra história da qual foi protagonista.

    A maior nação católica do planeta, mas onde o protestantismo cresce como poucos lugares e ocupam importante força política. Onde as pessoas são capazes de acreditar em atuações teatrais de pastores espertalhões, que fazem o que for necessário para chamar a atenção dos seus fiéis, nem que seja preciso dançar passos de funk em seus cultos, já que este é um estilo musical que movimenta multidões. Estilo este que foi totalmente desvirtuado em terras tupiniquins, criando músicas que dariam nojo em alguém que gosta de funk como ele foi criado, na voz de James Brown ou no baixo de Victor Wooten. Por outro lado, não conheço nenhum país do mundo onde as músicas conseguem ser tão sexualizadas e ao mesmo tempo altamente comercializadas quanto o Brasil. Não é mentira que este tipo de coisa faz sucesso em vários lugares do mundo, mas nada é tão descarado quanto o Axé nordestino ou o Funk carioca.
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  16. Esta semana, para indignação de muitos e desespero de alguns, foi aprovado o casamento gay no Brasil. O Raoni já aproveitou para postar um vídeo super honesto que mostra como é que o Marxismo Cultural está fazendo com que até as cartilhas escolares passem a incentivar o desenvolvimento de sexualidade precoce em crianças. Estão ensinando as crianças a se masturbarem e a tolerarem e gostarem de homossexualidade! E estão fazendo isso aos poucos, até que ninguém mais seja intolerante com nada e até a pedofilia passe a ser socialmente aceita como regra a ser seguida por todas as pessoas. Aí só falta legalizarem as drogas, para fazer com que todo mundo vire um monte de Zumbis, como em “The Walking Dead”, perseguindo as outras pessoas em busca de mais droga e depravação. Segundo o Raoni, se você for esperto, vai perceber como esta ameaça é séria e como as pessoas deveriam se unir para impedir que isso aconteça, custe o que custar.

    Certas são as escolas públicas brasileiras que pagam em média 3 dólares por hora trabalhada para seus professores (digo isso no exterior e quase ninguém acredita). Desse jeito, ninguém ensina nada e também ninguém aprende. E como não aprendem nada, muito menos educação sexual, vemos como nossas crianças, catequizadas ou não, tem facilidade para engravidar. Talvez a melhor saída seja continuar dizendo pra elas que o usar camisinha ou pílula anticoncepcional é pecado. Continuem mentindo que masturbação é imoral e que as pessoas só fazem sexo quando se casam, talvez algum dia alguém realmente acredite isso e com bastante sorte, alguém realmente obedeça e cumpra, ao invés de apenas dizer que cumpre.

    Segundo François duc de la Rochefoucauld, "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". É a situação onde o mal acaba sendo reconhecido como bem, como um lobo em pelo de cordeiro, por que a partir do fingimento, comportamentos corretos, virtuosos, socialmente aceitos são perfeitos cavalos de Tróia para os verdadeiros soldados: Nossos desejos mais mesquinhos. Nossa vaidade, nosso ódio, nossa dissimulação, nossa imensa propensão à ingratidão. Mas segundo Samuel Johnson, é muito injusto taxar como hipócritas todas as pessoas que expressam zelo por virtudes que eles mesmos negligenciam na prática, desde que a pessoa esteja sinceramente convencida das vantagens adquiridas no ato de aprender a administrar suas próprias paixões, mesmo que não tenha obtido vitória, como “um homem pode estar convencido das vantagens de uma viagem sem ter tido a coragem de fazê-la”. Segundo este moralista americano, não existe mal algum em se recomendar aos outros aquilo que você mesmo pode falhar em conseguir fazer.

    Pensando dessa forma, não haveria nada de hipócrita no comportamento do Raoni, do Big John ou do Ted Haggard, que acreditam que estão sendo honestos ao reconhecer as vantagens de se seguir ao pé da letra algumas recomendações cristãs baseadas na Bíblia ou mesmo de negligenciar outras que são recomendadas no mesmo livro, desde que alguma autoridade religiosa concorde com ele. Mesmo que eles não consigam seguir os próprios preceitos que defendem, isso não os impede de continuar acreditando que aqueles preceitos morais são realmente os melhores, afinal de contas, se formos deixar para cada um decidir o que deve ser moralmente aceito ou não, sabemos que cada pessoa tenderá sempre a justificar suas próprias ações e condenar as dos outros. Por isso, sem uma única régua absoluta para todo mundo, o mundo está perdido.

    Com estas reflexões em mente, espero pelas considerações finais do Alonso, para que possamos concluir este agradável exercício dialético. Até mais!
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  17. Quero antes de tudo, cumprimentar o meu parceiro nesse debate pela sua grandeza de caráter pessoal e intelectual em não tornar esse debate num show barato de refutações das idéias contrárias e pontos de vistas dissonantes como a grande maioria dos debates são realizados numa batalha retórica infrutífera e irracional do “eu estou certo e você errado”. Ao buscarmos tão somente o encontro das idéias que podem ser lapidadas e aproveitadas visando o aprofundamento conceitual e dialético em benefício do aprendizado mútuo tornamos o debate fruto do conhecimento e não do desconhecimento. Creio que eu e Chico Sofista tenhamos inaugurado uma nova fase de debates nesse grupo com esse comportamento e estilo de debate.

    Para iniciar as minhas considerações finais propriamente dita, trago o seguinte trecho dum texto que li recentemente nos escritos de Contardo Calligaris: “O século XX teve uma série de acontecimentos que de certa forma acabaram por auto-afirmar o sistema de engodo de auto-enganação pessoal - racional e emocional - do individuo baseado no liberalismo político, falência do autoritarismo das instituições morais tradicionais e reconhecimento da diversidade humana e livre pensamento.

    Não critico tal sistema em si, pois dentre todas alternativas e propostas de bem estar e qualidade de vida do ser humano aplicadas ao século passado esse sistema se mostrou como a mais capaz de promover a igualdade entre pessoas que antes eram inimigas mortais umas das outras, seja por questões religiosas, de gênero, raça e orientação sexual entre tantas outras formas de cerceamento das relações humanas com base na moral antiquada perpetrada por instituições inquisitivas ou absolutistas.

    O que critico é a essência e superficialidade desse mesmo sistema ser um tanto contraditório, pois é baseado na diferença, mas que busca uniformizar os pensamentos, os sonhos, as vontades e tudo mais que compõe o que podemos chamar de força de originalidade dos indivíduos.

    Sistema que gira a partir de uma lógica interna auto-reguladora e retro-alimentadora que nos ensina a tratar com hostilidade tudo que se apresenta como diferente de si mesma para assim se auto-conservar de ameaças internas e externas.

    Justamente assim o sistema cria seu jeito de se impor sobre os indivíduos, falsificando a impressão de já estar contido na essência de cada um, forçando-nos o princípio de identidade que acaba por impossibilitar o exercício da autonomia plena e tenta se colocar no lugar de uma suposta natureza humana”.

    Não obstante disso, pesquisando a obra de Frederich Schiller que escreveu tratados concretos sobre moral e ética, assim como Michel de Montaigne descreve em Ensaios as minúcias motivacionais do comportamento ético e moral das pessoas vivendo “in societate” fica evidenciado com solar clareza que o ser humano é um produto do seu meio ou um produto puro da sua razão e espírito quando estes não restam aprisionados e condicionados ao meio em que se vive.

    Alguém clamou na multidão que o problema da sociedade brasileira quanto ao moralismo não se resumiria apenas ao aspecto religioso. E nisso está correto. Entretanto, são em grande parte as pessoas que se refugiam na religião de baixa qualidade calcada em fundamentos de moral sem nexo com a ação interna de pensar e externa de agir que revelam os outros aspectos que massacram a sociedade com esse moralismo fajuto dentre eles destaco: Problemas de relacionamento de ordem psico-afetiva, baixo nível intelectual do indivíduo devido uma educação de má qualidade nas instituições públicas, além dos já citados parâmetros de propaganda, ideologias políticas e filosóficas que não correspondem necessariamente à religião. 
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  18. Um bom conhecedor de história antiga do Império Romano logo no início da cristandade poderia reverter os argumentos e práticas do Estado e sociedade de hoje em nossa atualidade para o passado romano-cristão e compará-los chegando à conclusão que em toda sociedade a religião sempre foi a camada mais superficial do controle social imposto pela ideologia de poder. Esse moralismo não é visto por aqueles que acham que o Estado laico não se liga em nada com religião quando a história romana e medieval nos narra que o Estado sempre usou o aspecto da crença e conduta religiosa como fator de controle e imposição de idéias e condutas morais.

    Hoje em dia a faceta do moralismo religioso na sociedade brasileira abarca um cenário de políticos advindos de currais eleitorais onde a religião é fator preponderante como o caso do Pastor e Deputado Marcos Feliciano que queiramos ou não prega seja em sua comunidade de fiéis ou em sua base política a mesma espécie de moralismo e ideologias que visam não a ascese da pessoa religiosamente, mas sim uma conduta e forma de pensar que gere militância em prol de poder político ou religioso sobre a massa de seguidores sem crítica racional.

    Aqui se insere sem dúvida o cenário contraditório estampado por Calligaris e já trazido a baila pelo Chico e também por mim em outros momentos do debate.

    Ao meu ver essa falta de coerência da pregação do ideário moralista com a ação deste mesmo ideário é o grande problema como já exposto. Seja o moralismo mixado ou advindo com aspectos de religião ou política ou filosofia ou estilo de vida alternativo, é esse moralismo ou falsa moral que corrompe a essência da natureza humana que é fundada na liberdade de pensamento e ação.

    Todos conhecem a alegoria socrática-platônica dos cativos na caverna que vivem enxergando retalhos de realidade distorcida e presos numa espécie de força social ou institucional moral ou moralista que os impede de serem livres em visão da realidade e capazes do pensamento próprio e ações livres por si mesmos, pois seria mais vantajoso ao aparato político-religioso e social todos serem e verem apenas as coisas como elas são expostas por aqueles com maior poder.

    Nisso resta pré-estabelecido que o problema é antigo e que é de ordem moral e filosófica em grande parte. Teóricos como Marx chamam esses elementos e relações de poder com moral de estrutura e superestrutura dentro do campo do materialismo histórico e que outros chamam de microfísica do poder ou existencialismo dentre outras tantas vertentes.

    Não há em suma uma idéia dentro sistema filosófico ou político e até mesmo religioso que não seja advindo em certos aspectos da Alegoria da Caverna que retrata a sociedade aprisionada em valores e situações onde restam cativos da própria ignorância.
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  19. Na fé o sujeito anda nas trevas até encontrar seu salvador ou a religião que detém a verdade sobre tudo e todos revelada pelo criador a tal grupo de pessoas ou fulano como profeta e mestre. No campo político o grupo que prega a igualdade via revolução é melhor do aquele que prega o capitalismo e na filosofia aqueles que acreditam imanência pura e total são mais espertos dos que acreditam nos filósofos antigos ou com alguma coisa ligada a transcendência.


    O moralismo é a faceta cruel da ignorância sobre tudo que nos cerca e sobre si mesmo. Essa é a realidade. Qualquer sistema político, religioso ou filosófico oco com esse engodo no seu alicerce de idéias, no fundo visa mascarar a realidade e tornar o indivíduo escravo de sua falta de percepção sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca por si mesmo de forma livre e desimpedida.

    Não tenho muito mais o que dizer sobre esse assunto a não ser recomendar leitura de vasta bibliografia sobre o assunto que é multidisciplinar e altamente controverso em muitos pontos a começar pelos pensadores e obras citadas nesse debate.
    Para aqueles que acreditam nos Yuris Bezemenovs da vida ou teólogos ou filósofos modernos ou aqueles que seguem padres ou pastores eu diria que ler Nietzsche seria fatal para suas convicções desde que fossem capazes de compreender meia frase do que ele diz em algum de seus livros. Como são todos fruto duma sociedade que enaltece a “expertisse em tudo sem saber de nada” espero que esses senhores e senhoras nem se atrevam a votar em minha pessoa nesse debate ou tecerem comentários sobre os meus pontos de vista com base "naquilo que pensam" pois nunca fundamentam em nada suas opiniões, aliás não quero essa gentalha sem respaldo intelectual e moral me faça perder tempo lendo suas escrotices habituais.

    Com esse desabafo encerro minha participação nesse debate agradecendo sempre ao leitor e dessa vez ao debatedor do outro lado da tela.

    Obrigado e até a próxima!
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  20. O senhor Crowley já dizia que só uma mente pouco treinada tem os seus pontos de vista como respostas definitivas para os dilemas da realidade. Se você dorme com a certeza, acorda ao lado de uma velha enrugada. Mas ao lado da dúvida, você dança a noite inteira e ela continua jovem e linda no dia seguinte. Mas como ele foi só um louco, pouca gente deu bola para o que ele disse e resolveram dar mais atenção ao que diziam as figuras de autoridade. Já o Alonso sabiamente afirma que “o ser humano é um produto do seu meio ou um produto puro da sua razão e espírito quando estes não restam aprisionados e condicionados ao meio em que se vive“, quando disserta a respeito do papel da religião como controle social e especificamente como curral eleitoral no Brasil atual. Durante todo o debate, o Alonso por diversos momentos citou a educação como um fator importante para combater os males que este tipo de moralismo causa na sociedade, por isso eu vou começar minhas considerações finais falando um pouco sobre este tema, pois acho que é fundamental para este debate. Além disso, é bastante atual, pois ainda hoje a Roberta postou um texto onde falava a respeito de sua indignação ao descobrir que o filho estava aprendendo a cantar musicas infantis de igrejas evangélicas que ensinam a dar o dízimo, quando ela achava que a escola de seu filho tinha uma metodologia interacionista respeitadora da individualidade religiosa do aluno. Quando disse que tirou o aluno da escola por este motivo, foi motivo de indignação pelos nossos representantes do PCS (Partido Conservador Sofista) da comunidade.

    Afinal de contas, a doutrinação infantil em escolas é legítima? O evangelho diz claramente “ensina teu filho no caminho que deve andar”. Por este motivo, acredito que a maioria dos religiosos tende a acreditar que a doutrinação infantil é um importante aspecto na formação da pessoa. Os conservadores iriam dizer que o problema está na falta de catecismo da população, não no excesso dele. No decorrer do tópico, eu argumentei que, se a premissa central do discurso conservador estiver correta e, de fato, o que vai acontecer com sua alma pelo resto da eternidade depende disso, então nada mais justo que todas as pessoas sejam doutrinadas o mais rápido possível. Mas tenhamos certeza que estamos fazendo isso com a religião certa, por que se estivermos errando, estaremos condenando as almas de milhares de crianças a uma eternidade em sofrimentos.

    Pensando nisto, o Alex postou um vídeo muito interessante que fazia uma sátira que contava a história de uma moça que morreu e descobriu que o único Deus verdadeiro sempre tinha sido o Deus de uma tribo da polinésia e como todo o resto da humanidade não havia seguido seus preceitos estaria condenada ao abismo. O João Cirilo argumentou que a doutrina da ICAR estava livre deste absurdo lógico, pois segundo o que prega, alguém poderia muito bem ser salvo, mesmo sem nunca ter tido nenhum contato com o catolicismo, pois existe um “Direito natural” inscrito no DNA de cada filho de Deus que nos faz ter uma percepção intuitiva a respeito de moralidade. A igreja estaria apenas ajudando as pessoas a reconhecerem essas coisas que já estariam dentro delas, já que algumas pessoas possuem mais facilidade para reconhecê-las que outras. Com isso em mente, o Padre Beto, de Bauru, resolveu assumir a postura de “livre pensador” e falar tudo o que pensava a respeito do amor entre homossexuais e outros temas igualmente polêmicos. Apesar de seguir à risca em sua vida os preceitos da doutrina católica, Padre Beto foi excomungado ao passo que nenhum dos padres envolvidos em escândalos de pedofilia (e não são poucos) foi excomungado até hoje. Parece que para a Igreja Católica, o mais importante para decidir se você vai ser excomungado ou não é o que você diz e prega dentro da igreja, não o que você realmente FAZ com sua vida, desde que você se arrependa e admita que errou.
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  21. Para a ICAR, é preferível que você seja um pedófilo arrependido do que um arrogante como Bruno, Galileu e Padre Beto em suas ousadias de tentarem ser “livres pensadores”, quando a verdadeira liberdade é justamente aquela que nos aproxima do senhor. E quem melhor para saber como é que podemos ser REALMENTE livres do que a santíssima igreja? Devemos lembrar que sem a igreja estamos jogados em um mundo de caos e de subjetivismos hermenêuticos, onde cada um afirma que está interpretando com sua “inspiração divina”. Se não houver uma instituição única para nos dizer o que é ou não REALMENTE divino, como é que podemos acreditar em alguma coisa com segurança, neste mundo dominado pelo relativismo? Não é justamente para isso que a educação é importante? Apontar alguma direção para as pessoas seguirem, para que elas deixem de ser umas moralistas ignorantes e passem a se importar em usar seu conhecimento em seus trabalhos?

    No filme “The Wall”, do Pink Floyd, tem uma cena muito interessante que mostra uma série de pessoas com máscaras idênticas caindo em um moedor de carne e sendo trituradas. Isso antes dos alunos fazerem uma fogueira com as carteiras da escola e jogarem os professores nela. É uma excelente crítica em forma de metáfora para o processo de uniformização que o Alonso se referiu em suas considerações finais quando falou do paradoxo que existe no fato de um sistema pautado nas diferenças como o capitalismo ter uma tendência tão grande à uniformização. Eu acredito que isto se deva à mentalidade de produção em série que surgiu com a revolução industrial e que permitiu que o ser humano produzisse vários produtos iguais e ao mesmo tempo. Este mecanismo de produção foi transferido para todas as formas de produção humana e também na disseminação da cultura. Quando atingiu a educação criou este sistema educacional que conhecemos e que o Alonso citou tantas vezes como solução para a maioria dos problemas. Neste aspecto, eu tenho que discordar totalmente do que disse meu adversário, pois acredito que o sistema educacional nos modelos como o existente é justamente um dos fatores causadores dos problemas que temos por ter uma sociedade que não é muito dada à reflexão.

    A função da escola acabou se tornando preparar as pessoas para o mercado de trabalho, ou seja, apenas mais um processo de doutrinação alienante para transformar essas pessoas em seres sem capacidade de inovação ou de manifestação criativa, por que foram induzidas a viver em caixas durante suas vidas inteiras. Da mesma forma que para os homens presos no interior da caverna de Platão que o Alonso citou em sua finalização, não é fácil para estas pessoas conseguirem viver fora de suas caixas. Estudos mostram que a escola tem a capacidade de reduzir o potencial criativo das pessoas ao longo da vida, quanto mais elas se adaptam a este sistema de uniformização ao qual estamos acostumados. Mas não há dúvidas que alguma uniformização é extremamente importante, principalmente enquanto tivermos estratificação nas modalidades de trabalho e necessidade de certificados que comprovem a qualificação das pessoas nas áreas em que se aventuram trabalhar. Por outro lado, a diferença também é importante, pois somente com a existência da mesma podemos perceber os enganos do senso comum.
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  22. A tentativa de trazer alguma uniformidade na marra para os sistemas econômicos e transformar o trabalho em uma atividade de Oompa Loompas falou miseravelmente. Por outro lado, justamente por privilegiar o mérito e dar valor à diferença, a competição presente no sistema capitalista faz com que este sistema seja muito mais dinâmico e possa até garantir boa qualidade de vida para a população, quando não é selvagem. Isto mostra que o problema vai muito além dos nossos sistemas econômicos, apesar de que pode ser intensificado por causa de características dos mesmos. Todo moralista tem um sonho idealista de uniformização e odeia diferenças. Ainda que elas não o prejudiquem diretamente, vai tentar achar alguma argumentação que mostre o contrário, só para poder continuar a contrariar aquilo que eles não querem admitir: Que alguém possa fazer alguma escolha diferente da dele e, mesmo assim, possa estar certo. Por que se isso for verdade, talvez não valha tanto a pena assim continuar sendo rígido com seus próprios preceitos de moralidade. Mas isso, jamais! Afinal de contas, eles são todos uns príncipes semideuses que nunca erram, não é? Pobre de mim, perdido neste mundo de heróis invencíveis e sem a companhia do Álvaro de Campos para tomarmos um vinho e rirmos sobre como conseguimos ser tão vis, quando parece ser tão simples para os outros serem sempre tão perfeitos. Com isso, termino este debate com um poema deste gênio, que fala exatamente sobre este assunto:

    “Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,
    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?
    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”

    Agradeço ao Alonso pela conversa e a todos os leitores pela atenção.

    Até mais!

    Chico Sofista.

24 comentários:

  1. Saudações ao headbanger Chico Sofista;

    vou direito ao tema sem mais rapapés:

    O Moralismo arbitrário é uma das formas mais nocivas de propagar preconceitos, intolerância e puritanismo, dentre eles na maior parte dos casos, o moralismo religioso é o mais incapacitante e escravizante ideológico dentro da atual sociedade brasileira, bem como o seu antagonista do moralismo libertário ao extremo.


    Caso exemplar disso para dar um pano de fundo é a atitude de Olavo de Carvalho em censurar seu desafeto Paulo Ghiraldelli quando este expôs sua esposa nua na internet. De um lado temos um ultra-direitista católico e defensor da moral cristã mais ortodoxa possível e até mesmo do moralismo militar que hoje em dia se encontra falido diante do pensamento corrente mais aberto e liberal.


    Primeiro temos nessa conduta a expressão da intolerância aliada a conceitos antiquados de interferência na liberdade da vida alheia. Segundo: Quem de nós em sã consciência tem o direito de criticar o que uma pessoa ou casal fazem de suas vidas e figuras não deveria ser os mesmos e quiçá sua família e não terceiros por motivos de pura fiscalização da moral alheia? Terceiro: Sabemos que a figura do censor nesse caso era – como afirma por si mesmo – um grande puteiro no seu passado e hoje diz que sossegou o facho. Quarto: Não seria mais legítimo compreender a ação do casal ao invés de escarnecer o mesmo como alvo da crítica moralista?


    Isso são perguntas meramente reflexivas para cada um de nós se auto-policiar em nossas condutas sobre situações similares. Se o Chico quiser poderá responder dando sua visão sobre o episódio.


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    1. Quero ir um pouco mais além desse arcabouço da moralidade filosófica e ética na prática e expor algumas idéias de Alexis de Tocqueville sobre o conteúdo político do moralismo e puritanismo que foi implantado no EUA por imigrantes ingleses - e que por mais paradoxal que isso pareça ser - tornou o EUA uma das nações que mais prezam a liberdade individual e respeito à liberdade de terceiros em sua cultura social e humana.


      Social no sentido de que politicamente temos no EUA - ao contrário do Brasil - uma densa capacidade de pensar em questões políticas desligadas de conceitos demagogos de religiosidade, embora a religiosidade seja um elemento presente na sociedade americana de forma indelével.


      Humanamente seria apontar para o sentido de que os valores de conservação do bem estar humano, e de fazer o bem para outros seres humanos ser uma marca patente da moralidade religiosa e também uma espécie de filosofia de vida de fazer o bem ao próximo em sentido “laico” através das instituições públicas e privadas.


      No Brasil como sabemos impera o que chamamos de “jeitinho brasileiro” onde tudo aquilo que é vantagem ou algo que ajude a se safar duma situação é bem aceito como moralidade cultural do povo. Entretanto, é esse mesmo elemento que muitas vezes agrega valores iníquos de subversão de valores morais como boa fé e honestidade que levam a prática da corrupção no seio social mais comum e que toma maiores contornos expostos dentro do sistema político do aparato estatal a olhos vistos.


      Outro aspecto é que em contrapartida disso vivemos no Brasil mergulhado nos últimos trinta anos em especial no aumento duma religiosidade marcada pela doutrina que tem certa ligação com o puritanismo como fator de projeto político e social para um grupo de pessoas intolerantes e preconceituosas que são moldadas pela ganância por dinheiro via Teologia da Prosperidade e pela ambição política quando o dinheiro não traz mais poder suficiente aos doutrinadores desses grupos.


      Como sabemos Max Webber é claro em tornar essa mística do protestantismo de viés puritano melhor entendida na sua obra “A ética protestante e o "espírito" do capitalismo” que versa sobre o paradoxo da vida de devoção da religião dominante anterior (catolicismo) fundada numa moral rígida onde até mesmo o lucro era tido como usura uma espécie de “pecado social” ao praticante da fé católica.

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    2. Ao contrário temos o escopo Protestante Calvinista onde a moral aceita e abarca como graça tudo aquilo que tem finalidade econômica na vida da pessoa ao ponto de avareza ou consumismo não serem tidos “in práxis” como um pecado ou desvio de conduta humana e social. Nem o excesso de riqueza que ruborizaria São Francisco de Assis nem mesmo a sua pobreza são valores supremos divinos como eram antes, pois passaram a ser amortizados como capital espiritual e graça dentro duma conduta moral racionalmente construída.


      Por outro lado, temos dentro dessa mesma síntese puritana de valores um moralismo que condena a pessoa humana por seus atos de cunho extra-religioso como vida sexual desvirtuada, pertença a outro grupo religioso ou político como falhas graves na moral da pessoa.
      Ao contrário do sistema católico que prega e vale-se ainda hoje da misericórdia e perdão à pessoa do pecador e ódio e condenação para o ato da falha moral dentro do conceito de pecado, pois este afeta gravosamente a vida espiritual do mesmo. Em suma temos aqui uma clara distinção entre ato e pessoa agente desse ato, enquanto que no moralismo de fundo puritano e calvinista temos em um só plano os mesmos elementos (ato e pessoa) como se fossem a mesma coisa.


      No Brasil de 40 anos ou mais anos atrás, a sociedade era profundamente religiosa e moralizada como ainda é hoje, mas a diferença era que a moralidade católica era mais abrangente inclusive dentro das questões sociais e políticas e imperiosamente nas questões morais como sexualidade e família.


      Em outro aspecto o moralismo parece estar se infiltrando cada dia mais no Estado através do grupo de moralistas mais ligados ao modelo calvinista e puritano, com traços de intolerância e preconceitos, que buscam vetar a todo custo a liberdade de expressão popular, e em muitos casos e privilegiar a sua classe no campo das idéias e valores que não são democráticos, mas sim remendo de idéias sociais e políticas totalitaristas mixadas com idéias de religião que não expressam fé, mas sim autoritarismo e cerceamento de direitos e liberdades individuais como se tudo fosse pecaminoso quando não obedece a ética protestante.


      Para finalizar, compreendo que esse papel de responsabilidade moral, que antes era dado ao indivíduo e que era tarefa do ambiente familiar no máximo fazer isso, hoje está sendo usurpado pelos grupos de formatação ideológica tanto extremante libertário quanto os de viés religioso altamente fanático, ambos com intenções políticas de dominação das outras classes, ou até mesmo de destruição uma da outra.


      Isso sem dúvida é um paradigma de moralismo que estamos hodiernamente testemunhando sem dar uma resposta racional no campo filosófico, sem dar resposta política no campo social e sem dar resposta crítica efetiva no campo da moral religiosa, para que com isso se viabilize a manutenção de liberdades e direitos ancorada num padrão social e político realmente democrático e humanamente consciente de que diferenças de comportamento e opinião não são um malefício e sim um benefício para o progresso de todos.


      Termino por aqui o meu prefácio nesse debate.

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  2. Saudações ao grupo Duelos Retóricos e ao meu oponente e colega, Aloprado Alonso!

    Como você bem apontou em sua introdução, Alonso, existem diferentes maneiras de se referir ao termo “moralismo”. Normalmente, esta palavra aparece associada a pessoas que seguem e pregam rigidamente preceitos de algum código moral e, freqüentemente, desejam impor aos outros os seus valores. Tendem a valorizar mais as pessoas que seguem os mesmos princípios que os seus e freqüentemente associam-se em grupos com fortes influências ideológicas. Em alguns casos, podem ser responsáveis por ações descriminatórias ou possivelmente preconceituosas. Entretanto, você também pode ver alguém usando este termo simplesmente para se referir a alguém que segue os “bons” costumes e neste caso, você também é um moralista, pois já chegou a uma conclusão a respeito de quais costumes são “bons” para que TODOS sigam.

    É um termo que aparece com frequência em discussões de fóruns da internet, principalmente nos debates envolvendo os temas mais polêmicos como legalização das drogas, das diferentes formas de aborto, direitos para homossexuais, etc... Com o aumento do poder político conquistado pelos grupos evangélicos, este tipo de discussão nunca foi tão fumegante quanto está sendo hoje em dia e nós estamos vendo esse tipo de questão sendo discutida, ainda que de forma indireta, em todos os duelos atuais do nosso grupo.

    Mahatma Ghandi dizia que nós devemos ser a mudança que nós queremos ver no mundo. Esta frase nos faz refletir sobre algumas coisas. Primeiro, que tudo aquilo que fazemos, de uma forma ou outra, irá servir de exemplo para outras pessoas e poderá influenciar, ainda que indiretamente, alguém a ter a mesma atitude que você está tendo. E o mesmo aconteceu contigo, antes de exibir este comportamento. Estamos sendo influenciados e influenciando o tempo todo e somos reféns dessa lógica, quer queiramos, quer não. Além disso, se alguém toma alguma decisão, o faz por que acha que é a melhor escolha a ser feita, dadas suas circunstâncias. E se é a melhor escolha que você pode fazer, por analogia, deve ser a mesma coisa que o outro pode fazer também, em circunstâncias parecidas. Se você está agindo certo, melhor seria se o mundo todo seguisse seu exemplo, não é?

    Mas Ghandi não disse que nós devemos fazer o mundo se tornar igual a nós mesmos, apesar de que o objetivo prático dessa conduta seria exatamente este. Ele disse o que os cínicos já haviam dito, que se você acha que uma atitude é correta, a única forma de demonstrar isso é agindo de acordo com o princípio que você acredita. Pode ser que o mundo não mude por causa da sua atitude isolada, mas se nem você pratica o que prega, como é que pode exigir que os outros pratiquem?

    Todo estudo da moralidade é baseado na premissa de que é possível fazer análises lógicas e objetivas das intenções e decisões humanas, diferenciando as boas das más escolhas. Mas cada código moral é derivado de sistemas culturais influenciados pela religião e pela filosofia de povos psicologicamente distintos. A percepção deste fato resulta na gênese do relativismo cultural e a partir de então, toda análise objetiva da moralidade precisou levar em consideração a universalidade de cada código, antes de se pensar na aplicação prática de uma norma, que passa a ser considerada “ética” para determinada situação.

    Nenhum código moral é mais universal que a regra de ouro “não faça para os outros o que não gostaria que fizessem para você”. A aplicação desta regra acontece em quase todos os tipos de códigos morais aceitos amplamente por grupos humanos, por que é uma regra fundamental para se garantir o bem estar de um número grande de indivíduos que interage entre si. Mas ela pode gerar várias interpretações, então sempre houve a necessidade de ser mais específico. Por isso Moisés teve que subir e descer a montanha duas vezes para trazer 10 regras fundamentais, que não passam, na maioria das vezes, de repetições da regra de ouro.

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  3. Os religiosos estufam o peito para dizer que são a maior influência para a disseminação de preceitos morais na sociedade, desde sua formação e que nós só vivemos em um mundo que respeita as atuais normas por que a religião deles nos tornou o que somos. Em parte, eles têm razão. Não há dúvidas que vários preceitos foram fortemente enraigados em nossa civilização por causa da manifestação contínua de uma “ética” que guiou nossos atos e nos tornou o que somos hoje. Alexis de Tocqueville e Max Webber falaram mais sobre isso, como você bem lembrou. Mas também é verdade que todo grupo humano, em qualquer época e em qualquer local, procurou por seus próprios códigos morais e viveram sob seus próprios preceitos, muitas vezes considerando os preceitos dos outros tão errados e provindos de povos “bárbaros” quanto nós temos a tendência de considerar.

    Isso nos faz imaginar a possibilidade de que, se não fosse a ética protestante, outro conjunto de ideias iria se aliar aos interesses dos colonos dos Estados Unidos e quem sabe hoje, eles estariam dizendo que só chegaram onde chegaram (sabe-se lá o que seria) por que acreditaram em seu código e não no do outro. Você já reparou como a mídia gosta de tratar o termo “fundamentalismo religioso”? Quando algum muçulmano doido se explode matando um monte de gente junto com ele, o motivo é sempre religioso, agora quando algum membro do IRA faz a mesma coisa, aí o motivo é político, por que ocidentais não podem ser fundamentalistas. Fundamentalismo católico então? Nem pensar. Isso é coisa de povos bárbaros islâmicos. Nossa ética não nos permite agir como esses animais.

    Pura hipocrisia. Não é preciso pesquisar muito a fundo para perceber que nós conseguimos ser tão bárbaros e tão cruéis (se não mais) que qualquer outro povo do mundo. Nossos códigos éticos, assim como qualquer outro conjunto de normas, possui uma característica inviolável: Ele é freqüêntemente quebrado. As normas são especialmente importantes como aparência, mas facilmente contornadas quando ninguém está vendo ou sabendo. Por isso que este “jeitinho” a que você se referiu não é só brasileiro, apesar de aqui ele conseguir ser visto como algo bom. Em outras culturas, com outros códigos morais, a desonra e a mentira são vistos como coisas muito mais graves do que enxergamos aqui e isto tem uma influência direta na forma como esses povos se organizam em sistemas políticos e como conduzem suas burocracias.

    Você que trabalha com direito, poderia nos falar mais sobre o moralismo legal, que é a teoria da jurisprudência e da filosofia do direito que diz que as leis devem ser utilizadas para proibir ou requerir comportamento baseado ou não nos julgamentos morais coletivos da sociedade sobre o que é considerado “moral” ou “imoral”. Isto implica que é premitido ao estado usar poder coecertivo para reforçar a moralidade coletiva da sociedade. Por isto que se alguém andar pelado por aí vai para o xilindró por atentado violento ao pudor, mas em Amsterdã aprovaram uma lei dizendo que você pode fazer sexo em praças públicas, sem problema algum. Em uma sociedade em que cresce cada vez mais o número de evangélicos, que tipo de leis poderíamos esperar, ou que tipo de transformações que estão acontecendo em outros países, poderiam ser evitadas?

    Todos vivem acreditando em algum código de moralidade, ainda que seja pegando pedaços isolados de códigos de outros grupos. Você lembrou o caso da discussão entre o Olavo de Carvalho e o Paulo Ghiraldelli, onde o Olavo tentou desvalorizar o Paulo pelo fato dele não se importar (e aparentemente gostar) de ver sua mulher com pouca roupa na internet. Segundo o código moral ultra conservador do Olavo de Carvalho, alguém que faz este tipo de coisa, é um imoral, um depravado e merece ser repreendido. Já para o Paulo, que não tem vergonha alguma de dizer que gosta de fio terra, isto é café pequeno.

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  4. Tempos atrás, em nosso grupo, a Anja Arcanja estava realizando um debate com a Paula Sorato sobre sexualidade e falaram sobre assuntos muito polêmicos como bissexualidade e poliamor. Em determinada parte, Anja cita que foi vista fazendo sexo por um de seus filhos, mas que conversou com ele e explicou o que é que se tratava. É claro que esta história arranhou a armadura do nosso paladino da moralidade católica, o cacique Raoni, em sua armadura de cavaleiro das cruzadas, lutando pelos bons costumes do catolicismo, tentando impedir que a sociedade seja destruída pelo relativismo dos não crentes. Desceu de seu cavalo pampa e perguntou pra Anja, de forma irônica, se ela não acharia correto ensinar sexo, de forma prática, para seus filhos. Já que não existia uma linha bem clara para o comportamento dela dizendo para ela até onde ela deveria ir, na cabeça do Raoni, fazia todo sentido misturar no mesmo caldeirão bissexualismo e poliamor com incesto e pedofilia. É claro que a Anja se sentiu profundamente ofendida, o que deu origem a uma histórica discussão com o Raoni.

    Raoni sentiu como se sua tese tivesse sido provada: Todos somos moralistas e todos nos sentimos ofendidos quando algo ultrapassa as linhas que traçamos, ainda que não sejam tão nítidas quanto os que seguem princípios absolutos de moralidade. Isto é verdade. Mas isto também não quer dizer que por que as linhas são mais “nítidas”, elas são melhores ou que todos deveriam seguir. Muito menos que por causa disso, as linhas dos outros estariam certamente fadadas ao insucesso e se a sociedade seguir preceitos diferentes dos seus estará fadada ao colapso.

    É comum vermos os crentes do nosso grupo reclamando que a maioria de lá é de ateus, mas isso não é verdade. Basta analisarmos a recente onda de ativismo cristão, liderada principalmente pelo Big John, o Ted Haggard brasileiro, em sua defesa enfurecida pelos discursos do Malafaia, do Bolsonaro ou do Feliciano. Houve debate, mas não houve rejeição ferrenha a nada do que foi postado. Eu duvido que teríamos a mesma resposta se o ativismo fosse de grupos LGBT, mas é claro que não é algo que eu possa provar, apenas supor.

    O que eu sei, com certeza, é que Ted Haggard dizia viver e respeitar limites extremamente rígidos de moralidade e que as linhas deveriam ser absolutas e imutáveis. Como a tríade louvada pelo Big John, Ted Haggard ficou famoso nos EUA por condenar os avanços do ativismo LGBT e a aprovação de leis que garantia a união civil de homossexuais e adoção de crianças por estes casais. Era um dos que acreditava piamente na chamada “cura gay”, repetindo essas coisas que o Malafaia diz, como “ninguém nasce homossexual”, por isso, este tipo de desejo e comportamento deveria ser fortemente reprimido.

    Depois de ser considerado um dos 25 líderes mais influentes dos EUA, Haggard fez parte de um escândalo que chocou cerca de 30 milhões de fiéis: Estava envolvido em um relacionamento homossexual com seu personal trainer, que também era prostituto e gravou suas conversas espalhou para todo mundo. Pra mim, isto faz todo o sentido do mundo. Quando eu vejo estas pessoas falando na “ameaça” que a homossexualidade traz para a sociedade, não posso deixar de pensar que aparentemente estas pessoas tem medo de que, se isso começar a se tornar algo “normal” demais, elas correm o risco de se tornarem gays. Algum motivo para isso, com certeza, deve existir.

    Essa discussão ainda vai longe, mas vou deixar os temas mais específicos para as próximas participações. Acredito que teremos muita coisa para discutir enquanto nos aprofundamos neste assunto. Se pudesse, eu gostaria de saber o seu posicionamento sobre algumas destas questões pontuais e polêmicas que eu apontei, como legalização de drogas, aborto e casamento gay, pois a partir deles, podemos fazer uma análise sobre como estas questões podem se desenvolver no atual cenário moralista nacional.

    Até a próxima!

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  5. RÉPLICA – MORALISMO

    – As colocações feitas pela outra parte sobre o militante indiano Mahatama Gandhi merecem destaque e aprofundamento.
    A filosofia de Gandhi recebe influencia tanto da cultura oriental, bem como, da ocidental, pois Gandhi é adepto da Satyagraha que é uma forma de manifestação de posições sócio-políticas sem agressão ao outro pólo envolvido na questão de conflito, e por ter formação acadêmica na Inglaterra recebendo influencia de pensadores anarquistas dentre outros. Mas num mundo “glocal” (global e local) como seguir o pensamento citado de Gandhi de sermos nós mesmos a mudança que desejamos ver? Não pretendo responder isso, mas sim dar subsídios para polemizar e refletir sobre isso.

    Com base nisso Chico Sofista aponta que nenhum código moral e de ética é universal ao salientar a seguinte premissa: “Todo estudo da moralidade é baseado na premissa de que é possível fazer análises lógicas e objetivas das intenções e decisões humanas, diferenciando as boas das más escolhas. Mas cada código moral é derivado de sistemas culturais influenciados pela religião e pela filosofia de povos psicologicamente distintos. A percepção deste fato resulta na gênese do relativismo cultural e a partir de então, toda análise objetiva da moralidade precisou levar em consideração a universalidade de cada código, antes de se pensar na aplicação prática de uma norma, que passa a ser considerada “ética” para determinada situação”.


    Aqui cabe uma distinção pontual, pois a ética e moral são sistemas que envolvem escolhas e aderência pessoal, mas em muitos casos não são opções de conduta pessoal e individualista e sim cultural e territorial etc. Não podemos confundir o mecanismo moral dum seguidor do Islã com a ética de um nativo indígena Sioux ou até mesmo judeu ou cristão, pois sempre haverá conceitos chaves de conduta moral e ética os quais divergem e conflitam.

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  6. Nesse caso o moralismo - e não a moral - parece ser um desmembramento da moral dentro da sociedade com inúmeras influencias sociais, filosóficas e culturais que merece ser diferenciado da ética por ser de fato um conjunto de regras de grupos fechados como por exemplo da Cosa Nostra ou até mesmo entidades como Skull and Bones, Maçonaria, Torcidas Organizadas, Grupos e ONGs como Greenpeace, religiões e seitas e partidos políticos etc.


    Para quem leu muito Nietzsche encontra na obra Genealogia da Moral a questão da inversão de valores suscitando o rompimento com a tradição judaico-cristã do que é bom e do que é mal (pontos que ele aborda em outras obras também). Nos dias atuais, grande parte do mundo ainda pensa e age de acordo com a moral medieval e aparentemente antiquada ao tempo moderno focada na moral judaico-cristã. Enquanto isso, outro grande grupo pensa de forma racional com moral relativizada sem muitos parâmetros rígidos e até mesmo dissonantes duma verdadeira moral concebendo assim a idéia da ética pessoal ou de setores sociais e culturais com maior ou menor influência na sociedade.


    Diante disso, trazendo a questão para um foco mais próximo é que testemunhamos grupos de pessoas que exacerbam-se na defesa duma suposta moral que existe como regra para os outros e onde eles são exceção a esta mesma regra, pois inexistente no campo concreto dos atos dos mesmos atitudes sérias de acordo com o pensamento e discurso ora manifesto e prolatado aos quatro ventos como donos da verdade e virtudes. Vemos muitos seguidores de Haggard saltarem a olhos vistos em nossos meios de comunicação social e até mesmo círculos pessoais que são meras cópias do mesmo em inteiro teor. Isso é o que pode ser chamado de moralismo tomando como conceito a distorção da moral para formatar um novo conjunto de enunciados morais e éticos que só servem para um discurso ficto, pois na realidade concreta não passam dum “hoax” para esconder pessoas sem uso da razão em nível socialmente aceitável e suas mazelas psico-afetivas conturbadas que precisam duma máscara para o baile de fantasias da chamada teoria do papel.

    Aqui cabe elencar a Teoria do Papel de forma mais exata para deixar as claras o caminho que desejo apontar: “A teoria do papel, criação intelectual praticamente toda americana, afirma que cada situação apresenta expectativas específicas a um indivíduo, onde o papel, ou seja, “uma resposta tipificada a uma expectativa tipificada” (pg. 108, 1º §), oferece os padrões que devem ser seguidos pelas pessoas nas diversas situações, implicando em ações, emoções e atitudes a eles relacionadas. Cabe ressaltar que na maioria das vezes essas implicações vêm naturalmente, inconscientemente, e não propositada ou refletidamente. Os papéis têm sua disciplina interior, dando forma e construindo tanto a ação quanto o ator, e acarretam em certa identidade. Essas identidades, por sua vez, e os papéis que as definem, podem ser de fácil mobilidade, como também quase impossível mudança. Concluindo, o autor afirma que “o significado da teoria do papel poderia ser sintetizado dizendo-se que, numa perspectiva sociológica, a identidade é atribuída socialmente, sustentada socialmente e transformada socialmente” (Berger, Peter Perspectivas Sociológicas, Cap V)

    Qualquer aluno de ciências sociais já leu a obra supracitada de cabo a rabo e talvez tenha lido José Saramago que menciona: “Deus não fez nossos olhos para ver a realidade como ela é e não há porque perder tempo com isso”.


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  7. A questão que fica é: O que queremos dizer com isso?

    Todos em maior ou menor grau acreditam que se uma pessoa diz algo e faz algo de acordo com o que ela mesma diz essa pessoa é honesta e coerente, mas não é bem assim que máscara social parece reproduzir essa mesma espécie de comportamento nos dias atuais.

    Podemos ter um vizinho amável e certinho que na realidade é psicopata e depravado e mata pessoas aos finais de semana, mas durante a semana está dando aula para nossos filhos de gravata borboleta e camisa e cabelo engomados. Podemos ter contato com um pervertido sexual que foi abusado sexualmente no passado, mas na internet usa a máscara do senhor de meia idade em busca de novas aventuras amorosas de cunho heterossexual e bem estabelecido como pessoa de moral religiosa e oriundo duma instituição masculinizada com regras rígidas de conduta as quais enaltece sempre, mas que no fundo o mesmo se veste de mulher todas as noites e faz programa para jogadores de futebol.

    Até o próprio jogador de futebol, rico e craque duma torcida que chama a torcida rival de bambis seria um modelo de que: “as coisas não são como elas aparentam ser”.

    Não sejamos ingênuos de crer que uma pessoa é o que ela diz ser ou aparenta ser. Tenhamos em conta que nessa sociedade muitas pessoas atuam como protagonistas em diversos palcos fazendo e dizendo coisas que na verdade nem sabem o real significado, pois não vivem de acordo com o discurso, mas sim de acordo com a necessidade de aceitação coletiva.

    Aqui poderia esmiuçar Emile Durkheim e contrapor inúmeros fatos, mas creio que seja melhor ater-se ao fato concreto de que as pessoas criam mentiras bem estruturadas para serem aceitas e formarem círculos de aceitação repletos de elementos que seria intrincado demais de dizer um a um algo de substancial sobre cada um desses elementos. Fiquemos então com o básico de que esse complexo sistema de mentiras bem estruturadas seja de fato o moralismo que todos os dias vemos e testemunhamos em qualquer lugar onde exista uma relação humana e social ou política e até mesmo cultural ou de fé.

    Quatro elementos básicos da vida de qualquer pessoa que apontam muito sobre suas tendências, passado, convicções, personalidade e caráter. Se nos deparamos com uma mulher bissexual e altamente inteligente e com personalidade forte e marcante como por exemplo a encenada por Penélope Cruz no filme Vicky Cristina Barcelona, logo temos por tendência o habito de taxar de moderninha, louca, destrambelhada, sem antes notar que isso não é apenas “pré-conceito” mas sim repulsa de encontrar no outro muito que há de nós mesmos escancarado no outro de forma livre mas que e resta reprimido em nós mesmos por “escondermos o verdadeiro eu de nós mesmos”.

    Trocando em miúdos: Pessoas reprimidas vivem e criam moralismo ou aderem a uma ideologia moralista para se auto-enganarem. Essa é a minha sincera opinião.

    Imaginem aquele pacato funcionário de banco que acredita piamente que certa corrente política que faliu a Rússia durante setenta anos nada mudou e que hoje ainda é a mesma em sua essência dando ricos portentos aos chineses e que diante disso acredita que tudo foi relativizado na sociedade e que o mercado é uma estrutura onde os otários não sobrevivem, mas ao mesmo tempo que pensa isso e acredita nisso, ingressa em networks de pirâmide achando que não está sendo enganado. Eis o contra-senso que o moralismo permeia no ser e o impede de ver o que Saramago bem tratou no livro Ensaio sobre a Cegueira. Mais uma vez trocando em miúdos: Esse é o longo processo de tortura que muitos passam a vida sem enxergar a realidade. Esse processo é manifesto - ao meu ver - no moralismo e deve ser visto com reservas por aqueles que ainda se julgam: Donos de si mesmos.

    Assim encerro minha réplica e retorno o câmbio ao Chico Sofista.

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  8. Saudações Alonso e leitores da Duelos Retóricos.


    Este debate está me fazendo refletir bastante sobre várias coisas e está sendo bastante proveitoso. Como você citou em sua réplica, “nenhum código moral e de ética é totalmente universal”. Se você selecionar arbitrariamente qualquer código, fatalmente vai encontrar pessoas que não concordam com uma regra ou outra do mesmo, ou por que não lhe faz sentido lógico ou por que viola algum princípio muito importante de sua cultura. Mas quase todos os códigos morais amplamente utilizados pelas civilizações possuem atributos que são universais e que ou coincidem com o que também é defendido por outros códigos. A declaração universal dos direitos humanos é talvez, o melhor exemplo da tentativa de uma universalização de valores e influencia fortemente as políticas de vários países do mundo. Segundo esta declaração, todo ser humano teria o inviolável direito de ter a liberdade de escolher a religião que quiser. E a única forma de respeitar este direito inviolável é aceitar que as pessoas são guiadas por diferentes códigos morais. Diferente do que acontecia na idade média, quando hereges eram perseguidos e assassinados por não partilharem da mesma opinião sobre os códigos morais aceitos como padrão para a civilização da época. Hoje em dia, é função dos estados garantir que todas as pessoas tenham liberdade religiosa, assim como devem criar leis que possam ser cumpridas por pessoas de qualquer (ou nenhuma) religião.

    Você também fez a distinção entre “ética” e “moral”, assim como “moralidade” e “moralismo”, o que acho que é extremamente importante para este diálogo. Também citou Nietzsche, que criticou severamente o idealismo metafísico. Concordo com ele quando ele diz que as pessoas tendem a seguir preceitos morais mais por tradição do que por realmente compreenderem por que deveriam segui-los. Mas diferente da forma como eu enxergo as questões morais, Nietzsche não defendia que as pessoas devessem fazer análises racionais e utilitárias de questões morais, de forma individual. Ao invés disso, ele defendia a existência de um ser humano que fosse capaz de enxergar além dos símbolos que norteiam sua vida, para ver além de seus valores e também além de si mesmo. Quando isso acontecesse, ele reconheceria valores que estão muito além da moral servil que foi propagada por tradição ao longo dos séculos e que só serve para proteger os fracos e castrar a moral dos guerreiros e vencedores. É bom lembrar que este tipo de moralidade é exatamente o tipo de moralidade defendido pelos comunistas ao julgarem que existem classes “injustiçadas” em relação a outras e que deveriam existir inversões nos valores das pessoas para que a igualdade pudesse realmente existir.

    Por isso, não me espanta muito quando eu vejo teólogos que defendem valores que podem ser muito parecidos com valores marxistas. Afinal de contas, ambos os grupos acreditam que são capazes de conhecer a “verdade”, seja através de revelações sobrenaturais ou através de um “socialismo científico”. Ambos se julgam capazes de levar a humanidade para um “estado ideal”. Além disso, quem acredita existir um plano transcendente para tudo o que é descrito na Bíblia, deve se perguntar por que é que Deus teria mandado seu filho para viver a vida de um plebeu miserável ao invés de mandá-lo como um rei, senhor de exércitos capazes de propagar de forma muito mais eficiente sua palavra. Talvez Deus pense como os cínicos, que acham que o mais importante na vida são os exemplos que damos com nossas ações e não o que foi interpretado por terceiros e escrito em forma de conselhos para a população.

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  9. Pensando assim, as passagens mais importantes da Bíblia seriam justamente aquelas relatando as AÇÕES de Jesus Cristo e não os dizeres de passagens de discípulos sobre como as novas igrejas deveriam se importar, muito menos textos milenares falando sobre normas de comportamento que deveriam ser seguidas por antigos ancestrais de Jesus. Tanto é que Jesus se importa muito pouco em “mudar” as regras dos Judeus ou de César. Parece entender que as leis dos diferentes povos estão sempre mudando, mas mais importante que elas são as suas atitudes frente a elas. Corrija-me se eu estiver errado, mas a minha leitura do texto Bíblico é a de que ele CONDENA o moralismo. Isso é perfeitamente observado na passagem em que Jesus impede o apedrejamento de uma prostituta (Maria Madalena) alegando que nenhum de seus facínoras teria moral para fazer isso, uma vez que também são pecadores. Se até o criminoso que estava ao seu lado na cruz Jesus perdoou, quem somos nós para nos julgarmos juízes das ações alheias e sabedores de quem é ou não merecedor do reino dos céus?

    Isto é ilustrado na parábola da oração do Fariseu e do Publicano. Os Fariseus exerciam grande influência sobre o povo e atribuíam a si mesmos uma condição espiritual mais elevada que a dos outros. Em sua oração, o Fariseu dá graças a Deus por não ser como os outros homens “roubadores, injustos e adúlteros”. Por outro lado, o Publicano pede misericórdia de SI MESMO, reconhecendo que é um pecador. Jesus termina dizendo que o Publicano justificou a si mesmo, mas o Fariseu não. Ambos estavam fazendo autoexames, mas o primeiro não possuía humildade nem arrependimento, enquanto que o segundo parecia ter muito maior discernimento sobre a sua real condição. Outro exemplo interessante é uma leitura muito interessante da história de Santo Antão, que era uma pessoa que viveu sua vida inteira atormentado por demônios, mas que venceu todas as tentações que foram colocadas em sua frente. No fim da vida, já com mais de 100 anos, o demônio finalmente desiste de continuar atormentando Antão, reconhecendo que ele era imbatível. Alegre com a situação, Antão sorri, pois finalmente iria se tornar um santo. Logo em seguida, o demônio ri e volta novamente. Antão havia cometido o pecado capital do orgulho. A mesma vaidade que derrubou Lúcifer junto com um terço dos anjos do céu.


    Você citou uns trabalhos sociológicos como a teoria dos papéis citada pelo Peter Berger e também a ideia de coesão social do Durkheim. É interessante que os sociólogos tendem a acreditar que os principais agentes que moldam as ações das pessoas são sempre externos a elas. Eu concordo que na maioria dos casos isso é verdade, mas como gosto muito da literatura existencialista, não consigo achar que parte desta responsabilidade é do próprio indivíduo. Pode ser que o moralismo tenha se impregnado na sociedade por difusão cultural, mas o próprio Jesus já havia nos alertado dos seus perigos. Sem influência religiosa alguma, Sócrates chegou à mesma conclusão, quando disse “Não caias no erro em que cai a maioria dos humanos: quase todos têm os olhos constantemente fitos no que fazem os outros, sem jamais volvê-los para o que fazem eles próprios.” Afinal de contas, que autoridade tem alguém para dizer o que o outro deve ou não fazer com sua vida, quando ele não sabe nem o melhor a fazer a respeito de sua própria vida? Ainda que soubesse, segundo a parábola que Jesus contou, teria que guardar isso para si mesmo, pois apenas Deus é juiz dos atos dos homens, pois só ele conhece a intimidade dos pensamentos de cada pessoa.

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  10. Pensando por este ângulo, todos os moralistas que vemos por aí na mídia são incoerentes com a lógica interna de seus próprios princípios. Quem realmente valoriza as lições da Bíblia, ao invés de saírem por aí apontando-nos outros o que eles fazem de “errado”, deveriam investigar a si mesmos. Em sua introdução você aponta que isto ocorre na maioria das vezes pelos protestantes, já que, aparentemente, a igreja católica parece ser mais rígida na interpretação destas passagens. Mas você tocou em um ponto ainda mais fundamental ao citar a frase do José Saramago, “Deus não fez nossos olhos para ver a realidade como ela é e não há porque perder tempo com isso”. A verdade é que não é a honestidade com a lógica interna de seu código de moralidade que torna uma pessoa coerente, mesmo por que, a maioria das pessoas agem de acordo com suas máscaras sociais, padronizando e pasteurizando o comportamento humano.

    Neste sentido, a hipocrisia tomou conta do senso comum. Entre em uma sala cheia de gente e peça para levantar a mão todas as pessoas que já se julgaram vítimas de invejas. Todos levantam as mãos, por mais que seja difícil de encontrar na pessoa algum qualidade que possa ser digna de inveja. Agora pergunte quantas pessoas são invejosas e verá que ninguém consegue admitir isso. Então, se todos são invejados e ninguém é invejoso, de onde vem toda essa inveja no mundo? O mesmo vale para o ódio. Quem sente ódio são os outros, nós somos sempre perfeitos estoicos fleumáticos que sempre respondem de forma calma e paciente em todas as situações.
    Você tem razão quando diz que as pessoas criam mentiras bem estruturadas para serem aceitas em seus círculos sociais, uma vez que seria intrincado demais analisar cuidadosamente cada um dos elementos de seus códigos morais. Além disso, você foi cirúrgico ao apontar a repulsa que existe quando encontramos escancarado no outro pedaços de nós mesmos que reprimimos. Se nós temos que nos esforçar para reprimir estes comportamentos, por que diabos o outro pode ser livre para exibi-los?

    O significado etimológico da palavra inveja relaciona-se com “aquele que não quer ver” ou “aquele que não quer reconhecer a verdade”. No Inferno de Dante, os invejosos tem seus olhos costurados com arame, por que passaram a vida inteira sem enxergar, achando que é possível encontrar alguma verdade que esteja além de si mesmo. Preocupam-se com a vida dos outros por que não conseguem livrar-se das correntes das comparações. Caim não matou Abel por que Deus não aceitou suas oferendas, mas por que gostou mais das oferendas de Abel que das dele. Inveja é isso: Infelicidade pela Felicidade alheia. Quando se une a outros pecados capitais como o orgulho e a vaidade, faz com que as pessoas racionalizem seus desejos e sintam-se superiores às outras por que seguem algum princípio que o outro não segue. Além disso, por reprimir algum desejo que o outro manifesta sem medo, o orgulhoso e invejoso passa a combater as ações alheias, mesmo quando elas não lhe dizem o menor respeito.

    Argumentam que se as pessoas não passarem a agir exatamente igual a elas, a sociedade estará fadada ao colapso, pois só seu código moral pode ser eficiente para manter coesão social. Todos os outros levariam a estados de anomia, que só podem resultar em sérios problemas sociais. É claro que isso é plenamente justificável quando se refere a atitudes criminosas que podem prejudicar a vida de terceiros. Do contrário, não há nada muito diferente do discurso de Hitler, que dizia que os Judeus levariam a civilização ao colapso pelo simples fato de serem judeus. As causas combatidas pelos moralistas não prejudicam a sociedade e não é por que eles querem que a civilização irá ser prejudicada. Por outro lado, o moralismo pode sim ser extremamente prejudicial à sociedade, como foi outras vezes.

    Com estas reflexões, passo a palavra ao Alonso, para que possamos nos aprofundar ainda mais neste tema. Até mais!

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  11. Sentando em minha escrivaninha com um exemplar de Madame Bovary ao lado para me inspirar e fumando um Hollywood cigarro do sucesso eu chego ao ápice do texto do Chico Sofista que conclui o seguinte: “Todos os moralistas que vemos por aí na mídia são incoerentes com a lógica interna de seus próprios princípios”.

    A mídia nacional e a sociedade brasileira certamente vivem numa relação espúria onde uns enganam e outros deixam se enganar. Muito fácil detectar esse elemento quando notamos que o Jornal da TV de maior Ibope do país precede nada mais nada menos que uma novela do naipe de Avenida Brasil onde restou escancarado como o jeitinho brasileiro é algo que corre nas veias do povo e depois seguindo a programação temos futebol num campeonato qualquer. O Ibope revela isso com clareza esses são os três eixos motores da sociedade: Notícia deturpada, entretenimento de baixa qualidade vinculado com emoções baratas. Onde mais uma receita de engenharia social como essa daria certo?

    A resposta é simples e aterradora: Num país onde a educação não é considerado investimento, mas sim gasto supérfluo. Entre um comercial e outro de carros do ano, cervejas e eletrodomésticos o povo molda seu comportamento e passa a desejar e aspirar ter o corpo daquela vilã da novela ou casa de luxo da madame ou ser duma forma outra o craque que anda de carrão, pega todas as atrizes e modelos e ainda faz o que gosta. Esse é o prato principal, o aperitivo são noticias de catástrofes e corrupção,mas quem liga pra isso a não ser seu estado fisiológico e psicológico que ao se deparem com isso lançam na sua corrente sanguínea péssimos hormônios que depois são compensados por doses de prazer e adrenalina por causa da novela e futebol.

    Trocando em miúdos: A mídia é uma droga para a sociedade ignara. Poderiam essa massa de teleguiados estarem lendo ou estudando, mas preferem relaxar em frente a um meio de comunicação que apenas visa lucro e perpetuação duma sociedade castrada intelectualmente e cada vez mais aviltada moralmente.

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  12. Nesse ponto é que o moralismo religioso também engrossa o caldo e vai de encontro com aquilo que o Chico Sofista menciona com propriedade: “Pode ser que o moralismo tenha se impregnado na sociedade por difusão cultural, mas o próprio Jesus já havia nos alertado dos seus perigos. Sem influência religiosa alguma, Sócrates chegou à mesma conclusão, quando disse “Não caias no erro em que cai a maioria dos humanos: quase todos têm os olhos constantemente fitos no que fazem os outros, sem jamais volvê-los para o que fazem eles próprios.” Afinal de contas, que autoridade tem alguém para dizer o que o outro deve ou não fazer com sua vida, quando ele não sabe nem o melhor a fazer a respeito de sua própria vida?” Eis que podemos concluir que a mídia faz isso, pois a lógica interna das pessoas é pura contradição e hoax para que algum publicitário, autor de novela ou peritos em engenharia social façam da sociedade seu brinquedinho e fetiche de dominação.

    Os filósofos gregos clássicos buscavam harmonia e coerência entre o que se pensa e como se age, e isso por assim dizer é uma ética pessoal bastante rebuscada do ponto de vista social e moral também, devido exigir que nossos atos façam eco as nossas idéias mais simples ou profundas.

    Onde na sociedade brasileira vemos isso? Em poucos lugares, pois aquele aluno de faculdade que diz combater a corrupção é o mesmo que cola no exame de alguma disciplina e faz questão de transformar sua vida acadêmica numa esbórnia regada a cervejadas e maconha posando de militante de esquerda com agasalho de marca.

    Não existe coerência interna e nisso o Chico acerta em cheio ao afirmar e trazer como exemplos que o farisaísmo denunciado por Jesus ainda existe de diversas formas. A religião romana que deu lugar a uma sociedade vinculada a uma Igreja detentora dos dogmas de fé e moral tratava o conceito de religião não apenas como algo místico, mas também como uma forma de conduta social de interesse do Estado como forma de controle social da população através de condutas previamente determinadas por seus líderes e coordenadores de grupos sociais minoritários e segmentados.

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  13. Um fariseu moderno, ao meu ver, é aquele elemento que prega em sua igreja e culto boa moral e conduta fiel a Deus, mas que na primeira oportunidade de condenar seu próximo e aproveitar-se de sua fragilidade não a perde. Assim vemos dia a dia em nossas ruas aquele sujeitinho com terninho barato aspirando ser uma boa pessoa, mas no fundo a corrupção e incoerência entre pensamentos e palavras e ações e comportamentos concretos são diversas umas das outras.

    O que gostaria de questionar ao Chico Sofista é se existe alguma forma de reverter esse processo na opinião dele não apenas pela cultura e educação, mas por outro meio que dependa menos do Estado e mais das pessoas com prioridades mais elevadas que pagar contas, consumir, e dar dízimos e clamar por milagres mirabolantes de ordem pessoal e financeira?

    Assim deixo essa pauta para a tréplica do mesmo.

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  14. “existe alguma forma de reverter esse processo, não apenas pela cultura e educação, mas por outro meio que dependa menos do Estado e mais das pessoas com prioridades mais elevadas que pagar contas, consumir, e dar dízimos e clamar por milagres mirabolantes de ordem pessoal e financeira?”

    Ótima pergunta. Em sua tréplica, você falou bastante sobre engenharia social. Sobre como as pessoas se comportam como se fossem partes de rebanhos, seguindo o barulho das trombetas de seus guias, hoje representados pela mídia. A resposta para a sua pergunta é, em minha opinião, não. Assim como o medo, o orgulho e a inveja fazem parte da programação básica do comportamento humano. O máximo que a cultura pode é tentar fazer as pessoas enxergarem essas coisas em si mesmas e talvez condenarem e mudarem de atitudes. Mesmo assim, eu acho que alguém teria que ser fantasioso demais para acreditar que a humanidade poderá se ver livre destas coisas em um futuro próximo. Eu digo isso por que acredito piamente que a mentira é uma das coisas mais importantes que existe para a formação e manutenção da sociedade da forma como a conhecemos. Um mundo sem mentiras seria um mundo absurdamente caótico, ninguém em sã consciência iria querer viver nele. É isso o que vou explicar nesta tréplica.

    A capacidade de mentir é percebida em todas as fases do desenvolvimento humano. Aos poucos, o ser humano desenvolve a capacidade de imaginar o que pode estar se passando na cabeça das outras pessoas (teoria da mente) e a partir de então ela descobre que, assim como ela mesma, todas as outras pessoas são capazes de se enganar. Colocando-se no lugar do outro, alguém pode contar uma coisa que não é verdade e prever as possibilidades da outra pessoa descobrir ou não se aquilo é ou não mentira. As mentiras podem ser descaradas e facilmente detectáveis, levando o mentiroso ao total descrédito. Mas também podem ser extremamente sutis e praticamente imperceptíveis, sendo que o mentiroso pode viver sua vida inteira sem ser descoberto. A única mentira que não pode ser escondida pelo mentiroso é a mentira de “má-fé”, como descrita por Sartre, que é o ato de mentir para si mesmo. Normalmente fazemos isso quando queremos nos livrar da culpa por alguma coisa. Nas palavras do sábio filósofo contemporâneo americano Homer Simpson, se a culpa é minha, eu coloco em quem eu quiser.

    Perceba como as pessoas são sempre vítimas de alguma coisa, seja das desigualdades geradas pelo sistema, seja pela forma como os outros estão sempre agindo, por que as únicas pessoas equilibradas e sensatas neste mundo são sempre elas mesmas. Mas antes dos quatro anos de idade, nenhum ser humano é capaz de entender que podem existir outros pontos de vista no mundo além do que ele tem e por isso, não é capaz de mentir. Como nenhum outro animal consegue chegar neste estágio de desenvolvimento cognitivo (salvo alguns raríssimo primatas superiores), podemos dizer que esta é uma das características mais importantes que nos difere dos outros animais. Desde crianças, a experiência nos ensina que a omissão da verdade pode evitar uma série de problemas. Se você for esperto, pode sair ileso de uma série de situações, desde que ninguém as descubra. Com o tempo, as crianças vão deixando as mentiras absurdas e facilmente detectáveis de lado e aprendendo a criar mentiras que funcionam. Isso ocorre por que elas aprendem a compreender o conceito de credibilidade. Neste estágio de desenvolvimento, as crianças ainda não tem a compreensão moral para condenar este tipo de atitude. Apenas anos observando os efeitos negativos das mentiras é que as pessoas podem desenvolver apropriadamente a noção de como elas podem ser negativas e, nestes casos, refreá-las.

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  15. Segundo Nietzsche em “Humano, demasiado humano”, as pessoas só não mentem por causa das dificuldades existentes em se manter uma mentira. E até o Velho Testamento, que sempre condenou a mentira, em alguns momentos reconhece que foi a melhor coisa a ser feita, quando era para proteger algum espião judeu em território inimigo ou para proteger a mulher de Abraão, em terras estrangeiras, Por outro lado, a honestidade sempre foi vista como um símbolo de integridade e honra, nas mais diversas culturas e quase sempre alguém que é descoberto na mentira é alguém severamente censurado em sua comunidade. Exatamente por isso, os seres humanos foram se tornando cada vez mais especializados na arte da mentira, assim como também se aprimoraram na arte de esconder suas próprias mentiras e descobrir as dos outros.

    Imagine uma sociedade onde todos tivessem detectores de mentira enxertados em seus corpos e aparelhos de GPS que determinassem suas localizações em todos os momentos de sua vida. Em um mundo como este, sem espaço para a mentira, a privacidade seria algo de pouquíssima importância. Apesar de que o próprio conceito de privacidade é algo extremamente recente, mas tem se tornado cada vez mais valorizado pelas pessoas, conforme parece crescer na sociedade uma sensação de necessidade por individualidade que permite as pessoas fazerem coisas que ninguém mais precisaria ficar sabendo. Por isso eu disse no começo de minha tréplica que, em minha opinião, um mundo proibido de mentir seria um mundo ainda pior que o mundo hipócrita e mentiroso que vivemos.

    Por isso eu ainda prefiro viver em uma sociedade hipócrita e estúpida que coloca o rosto de jogadores de futebol horrorosos em todos os lugares, por que, por incrível que pareça, isso ajuda a aumentar as vendas. Que tem toda a sua atenção voltada para um comercial imbecil sobre uma tal de Luísa que estava no Canadá e, só por isso, ficou famosíssima e até andou posando nua em revistas masculinas. Onde um idiota qualquer faz uma música infantil cretina que fala sobre um cara que quer se aproximar de uma mulher e isso é traduzido para os mais impensáveis idiomas. Onde o ganha pão de alguns energúmenos e mendigar por alguma foto de alguém, só por que é famoso. Um lugar tão incrivelmente hipócrita que é capaz de ser palco da história de uma moça que ficou famosa por que foi com saia curta para a faculdade e foi alvo da mais intensa fúria coletiva de seus colegas, que queriam que ela fosse expulsa por causa disso, mas que em troca, ficou famosíssima e rica justamente por causa da fama que ganhou por causa da bizarra história da qual foi protagonista.

    A maior nação católica do planeta, mas onde o protestantismo cresce como poucos lugares e ocupam importante força política. Onde as pessoas são capazes de acreditar em atuações teatrais de pastores espertalhões, que fazem o que for necessário para chamar a atenção dos seus fiéis, nem que seja preciso dançar passos de funk em seus cultos, já que este é um estilo musical que movimenta multidões. Estilo este que foi totalmente desvirtuado em terras tupiniquins, criando músicas que dariam nojo em alguém que gosta de funk como ele foi criado, na voz de James Brown ou no baixo de Victor Wooten. Por outro lado, não conheço nenhum país do mundo onde as músicas conseguem ser tão sexualizadas e ao mesmo tempo altamente comercializadas quanto o Brasil. Não é mentira que este tipo de coisa faz sucesso em vários lugares do mundo, mas nada é tão descarado quanto o Axé nordestino ou o Funk carioca.

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  16. Esta semana, para indignação de muitos e desespero de alguns, foi aprovado o casamento gay no Brasil. O Raoni já aproveitou para postar um vídeo super honesto que mostra como é que o Marxismo Cultural está fazendo com que até as cartilhas escolares passem a incentivar o desenvolvimento de sexualidade precoce em crianças. Estão ensinando as crianças a se masturbarem e a tolerarem e gostarem de homossexualidade! E estão fazendo isso aos poucos, até que ninguém mais seja intolerante com nada e até a pedofilia passe a ser socialmente aceita como regra a ser seguida por todas as pessoas. Aí só falta legalizarem as drogas, para fazer com que todo mundo vire um monte de Zumbis, como em “The Walking Dead”, perseguindo as outras pessoas em busca de mais droga e depravação. Segundo o Raoni, se você for esperto, vai perceber como esta ameaça é séria e como as pessoas deveriam se unir para impedir que isso aconteça, custe o que custar.

    Certas são as escolas públicas brasileiras que pagam em média 3 dólares por hora trabalhada para seus professores (digo isso no exterior e quase ninguém acredita). Desse jeito, ninguém ensina nada e também ninguém aprende. E como não aprendem nada, muito menos educação sexual, vemos como nossas crianças, catequizadas ou não, tem facilidade para engravidar. Talvez a melhor saída seja continuar dizendo pra elas que o usar camisinha ou pílula anticoncepcional é pecado. Continuem mentindo que masturbação é imoral e que as pessoas só fazem sexo quando se casam, talvez algum dia alguém realmente acredite isso e com bastante sorte, alguém realmente obedeça e cumpra, ao invés de apenas dizer que cumpre.

    Segundo François duc de la Rochefoucauld, "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". É a situação onde o mal acaba sendo reconhecido como bem, como um lobo em pelo de cordeiro, por que a partir do fingimento, comportamentos corretos, virtuosos, socialmente aceitos são perfeitos cavalos de Tróia para os verdadeiros soldados: Nossos desejos mais mesquinhos. Nossa vaidade, nosso ódio, nossa dissimulação, nossa imensa propensão à ingratidão. Mas segundo Samuel Johnson, é muito injusto taxar como hipócritas todas as pessoas que expressam zelo por virtudes que eles mesmos negligenciam na prática, desde que a pessoa esteja sinceramente convencida das vantagens adquiridas no ato de aprender a administrar suas próprias paixões, mesmo que não tenha obtido vitória, como “um homem pode estar convencido das vantagens de uma viagem sem ter tido a coragem de fazê-la”. Segundo este moralista americano, não existe mal algum em se recomendar aos outros aquilo que você mesmo pode falhar em conseguir fazer.

    Pensando dessa forma, não haveria nada de hipócrita no comportamento do Raoni, do Big John ou do Ted Haggard, que acreditam que estão sendo honestos ao reconhecer as vantagens de se seguir ao pé da letra algumas recomendações cristãs baseadas na Bíblia ou mesmo de negligenciar outras que são recomendadas no mesmo livro, desde que alguma autoridade religiosa concorde com ele. Mesmo que eles não consigam seguir os próprios preceitos que defendem, isso não os impede de continuar acreditando que aqueles preceitos morais são realmente os melhores, afinal de contas, se formos deixar para cada um decidir o que deve ser moralmente aceito ou não, sabemos que cada pessoa tenderá sempre a justificar suas próprias ações e condenar as dos outros. Por isso, sem uma única régua absoluta para todo mundo, o mundo está perdido.

    Com estas reflexões em mente, espero pelas considerações finais do Alonso, para que possamos concluir este agradável exercício dialético. Até mais!

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  17. Quero antes de tudo, cumprimentar o meu parceiro nesse debate pela sua grandeza de caráter pessoal e intelectual em não tornar esse debate num show barato de refutações das idéias contrárias e pontos de vistas dissonantes como a grande maioria dos debates são realizados numa batalha retórica infrutífera e irracional do “eu estou certo e você errado”. Ao buscarmos tão somente o encontro das idéias que podem ser lapidadas e aproveitadas visando o aprofundamento conceitual e dialético em benefício do aprendizado mútuo tornamos o debate fruto do conhecimento e não do desconhecimento. Creio que eu e Chico Sofista tenhamos inaugurado uma nova fase de debates nesse grupo com esse comportamento e estilo de debate.

    Para iniciar as minhas considerações finais propriamente dita, trago o seguinte trecho dum texto que li recentemente nos escritos de Contardo Calligaris: “O século XX teve uma série de acontecimentos que de certa forma acabaram por auto-afirmar o sistema de engodo de auto-enganação pessoal - racional e emocional - do individuo baseado no liberalismo político, falência do autoritarismo das instituições morais tradicionais e reconhecimento da diversidade humana e livre pensamento.

    Não critico tal sistema em si, pois dentre todas alternativas e propostas de bem estar e qualidade de vida do ser humano aplicadas ao século passado esse sistema se mostrou como a mais capaz de promover a igualdade entre pessoas que antes eram inimigas mortais umas das outras, seja por questões religiosas, de gênero, raça e orientação sexual entre tantas outras formas de cerceamento das relações humanas com base na moral antiquada perpetrada por instituições inquisitivas ou absolutistas.

    O que critico é a essência e superficialidade desse mesmo sistema ser um tanto contraditório, pois é baseado na diferença, mas que busca uniformizar os pensamentos, os sonhos, as vontades e tudo mais que compõe o que podemos chamar de força de originalidade dos indivíduos.

    Sistema que gira a partir de uma lógica interna auto-reguladora e retro-alimentadora que nos ensina a tratar com hostilidade tudo que se apresenta como diferente de si mesma para assim se auto-conservar de ameaças internas e externas.

    Justamente assim o sistema cria seu jeito de se impor sobre os indivíduos, falsificando a impressão de já estar contido na essência de cada um, forçando-nos o princípio de identidade que acaba por impossibilitar o exercício da autonomia plena e tenta se colocar no lugar de uma suposta natureza humana”.

    Não obstante disso, pesquisando a obra de Frederich Schiller que escreveu tratados concretos sobre moral e ética, assim como Michel de Montaigne descreve em Ensaios as minúcias motivacionais do comportamento ético e moral das pessoas vivendo “in societate” fica evidenciado com solar clareza que o ser humano é um produto do seu meio ou um produto puro da sua razão e espírito quando estes não restam aprisionados e condicionados ao meio em que se vive.

    Alguém clamou na multidão que o problema da sociedade brasileira quanto ao moralismo não se resumiria apenas ao aspecto religioso. E nisso está correto. Entretanto, são em grande parte as pessoas que se refugiam na religião de baixa qualidade calcada em fundamentos de moral sem nexo com a ação interna de pensar e externa de agir que revelam os outros aspectos que massacram a sociedade com esse moralismo fajuto dentre eles destaco: Problemas de relacionamento de ordem psico-afetiva, baixo nível intelectual do indivíduo devido uma educação de má qualidade nas instituições públicas, além dos já citados parâmetros de propaganda, ideologias políticas e filosóficas que não correspondem necessariamente à religião.

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  18. Um bom conhecedor de história antiga do Império Romano logo no início da cristandade poderia reverter os argumentos e práticas do Estado e sociedade de hoje em nossa atualidade para o passado romano-cristão e compará-los chegando à conclusão que em toda sociedade a religião sempre foi a camada mais superficial do controle social imposto pela ideologia de poder. Esse moralismo não é visto por aqueles que acham que o Estado laico não se liga em nada com religião quando a história romana e medieval nos narra que o Estado sempre usou o aspecto da crença e conduta religiosa como fator de controle e imposição de idéias e condutas morais.

    Hoje em dia a faceta do moralismo religioso na sociedade brasileira abarca um cenário de políticos advindos de currais eleitorais onde a religião é fator preponderante como o caso do Pastor e Deputado Marcos Feliciano que queiramos ou não prega seja em sua comunidade de fiéis ou em sua base política a mesma espécie de moralismo e ideologias que visam não a ascese da pessoa religiosamente, mas sim uma conduta e forma de pensar que gere militância em prol de poder político ou religioso sobre a massa de seguidores sem crítica racional.

    Aqui se insere sem dúvida o cenário contraditório estampado por Calligaris e já trazido a baila pelo Chico e também por mim em outros momentos do debate.

    Ao meu ver essa falta de coerência da pregação do ideário moralista com a ação deste mesmo ideário é o grande problema como já exposto. Seja o moralismo mixado ou advindo com aspectos de religião ou política ou filosofia ou estilo de vida alternativo, é esse moralismo ou falsa moral que corrompe a essência da natureza humana que é fundada na liberdade de pensamento e ação.

    Todos conhecem a alegoria socrática-platônica dos cativos na caverna que vivem enxergando retalhos de realidade distorcida e presos numa espécie de força social ou institucional moral ou moralista que os impede de serem livres em visão da realidade e capazes do pensamento próprio e ações livres por si mesmos, pois seria mais vantajoso ao aparato político-religioso e social todos serem e verem apenas as coisas como elas são expostas por aqueles com maior poder.

    Nisso resta pré-estabelecido que o problema é antigo e que é de ordem moral e filosófica em grande parte. Teóricos como Marx chamam esses elementos e relações de poder com moral de estrutura e superestrutura dentro do campo do materialismo histórico e que outros chamam de microfísica do poder ou existencialismo dentre outras tantas vertentes.

    Não há em suma uma idéia dentro sistema filosófico ou político e até mesmo religioso que não seja advindo em certos aspectos da Alegoria da Caverna que retrata a sociedade aprisionada em valores e situações onde restam cativos da própria ignorância.

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  19. Na fé o sujeito anda nas trevas até encontrar seu salvador ou a religião que detém a verdade sobre tudo e todos revelada pelo criador a tal grupo de pessoas ou fulano como profeta e mestre. No campo político o grupo que prega a igualdade via revolução é melhor do aquele que prega o capitalismo e na filosofia aqueles que acreditam imanência pura e total são mais espertos dos que acreditam nos filósofos antigos ou com alguma coisa ligada a transcendência.


    O moralismo é a faceta cruel da ignorância sobre tudo que nos cerca e sobre si mesmo. Essa é a realidade. Qualquer sistema político, religioso ou filosófico oco com esse engodo no seu alicerce de idéias, no fundo visa mascarar a realidade e tornar o indivíduo escravo de sua falta de percepção sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca por si mesmo de forma livre e desimpedida.

    Não tenho muito mais o que dizer sobre esse assunto a não ser recomendar leitura de vasta bibliografia sobre o assunto que é multidisciplinar e altamente controverso em muitos pontos a começar pelos pensadores e obras citadas nesse debate.
    Para aqueles que acreditam nos Yuris Bezemenovs da vida ou teólogos ou filósofos modernos ou aqueles que seguem padres ou pastores eu diria que ler Nietzsche seria fatal para suas convicções desde que fossem capazes de compreender meia frase do que ele diz em algum de seus livros. Como são todos fruto duma sociedade que enaltece a “expertisse em tudo sem saber de nada” espero que esses senhores e senhoras nem se atrevam a votar em minha pessoa nesse debate ou tecerem comentários sobre os meus pontos de vista com base "naquilo que pensam" pois nunca fundamentam em nada suas opiniões, aliás não quero essa gentalha sem respaldo intelectual e moral me faça perder tempo lendo suas escrotices habituais.

    Com esse desabafo encerro minha participação nesse debate agradecendo sempre ao leitor e dessa vez ao debatedor do outro lado da tela.

    Obrigado e até a próxima!

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  20. O senhor Crowley já dizia que só uma mente pouco treinada tem os seus pontos de vista como respostas definitivas para os dilemas da realidade. Se você dorme com a certeza, acorda ao lado de uma velha enrugada. Mas ao lado da dúvida, você dança a noite inteira e ela continua jovem e linda no dia seguinte. Mas como ele foi só um louco, pouca gente deu bola para o que ele disse e resolveram dar mais atenção ao que diziam as figuras de autoridade. Já o Alonso sabiamente afirma que “o ser humano é um produto do seu meio ou um produto puro da sua razão e espírito quando estes não restam aprisionados e condicionados ao meio em que se vive“, quando disserta a respeito do papel da religião como controle social e especificamente como curral eleitoral no Brasil atual. Durante todo o debate, o Alonso por diversos momentos citou a educação como um fator importante para combater os males que este tipo de moralismo causa na sociedade, por isso eu vou começar minhas considerações finais falando um pouco sobre este tema, pois acho que é fundamental para este debate. Além disso, é bastante atual, pois ainda hoje a Roberta postou um texto onde falava a respeito de sua indignação ao descobrir que o filho estava aprendendo a cantar musicas infantis de igrejas evangélicas que ensinam a dar o dízimo, quando ela achava que a escola de seu filho tinha uma metodologia interacionista respeitadora da individualidade religiosa do aluno. Quando disse que tirou o aluno da escola por este motivo, foi motivo de indignação pelos nossos representantes do PCS (Partido Conservador Sofista) da comunidade.

    Afinal de contas, a doutrinação infantil em escolas é legítima? O evangelho diz claramente “ensina teu filho no caminho que deve andar”. Por este motivo, acredito que a maioria dos religiosos tende a acreditar que a doutrinação infantil é um importante aspecto na formação da pessoa. Os conservadores iriam dizer que o problema está na falta de catecismo da população, não no excesso dele. No decorrer do tópico, eu argumentei que, se a premissa central do discurso conservador estiver correta e, de fato, o que vai acontecer com sua alma pelo resto da eternidade depende disso, então nada mais justo que todas as pessoas sejam doutrinadas o mais rápido possível. Mas tenhamos certeza que estamos fazendo isso com a religião certa, por que se estivermos errando, estaremos condenando as almas de milhares de crianças a uma eternidade em sofrimentos.

    Pensando nisto, o Alex postou um vídeo muito interessante que fazia uma sátira que contava a história de uma moça que morreu e descobriu que o único Deus verdadeiro sempre tinha sido o Deus de uma tribo da polinésia e como todo o resto da humanidade não havia seguido seus preceitos estaria condenada ao abismo. O João Cirilo argumentou que a doutrina da ICAR estava livre deste absurdo lógico, pois segundo o que prega, alguém poderia muito bem ser salvo, mesmo sem nunca ter tido nenhum contato com o catolicismo, pois existe um “Direito natural” inscrito no DNA de cada filho de Deus que nos faz ter uma percepção intuitiva a respeito de moralidade. A igreja estaria apenas ajudando as pessoas a reconhecerem essas coisas que já estariam dentro delas, já que algumas pessoas possuem mais facilidade para reconhecê-las que outras. Com isso em mente, o Padre Beto, de Bauru, resolveu assumir a postura de “livre pensador” e falar tudo o que pensava a respeito do amor entre homossexuais e outros temas igualmente polêmicos. Apesar de seguir à risca em sua vida os preceitos da doutrina católica, Padre Beto foi excomungado ao passo que nenhum dos padres envolvidos em escândalos de pedofilia (e não são poucos) foi excomungado até hoje. Parece que para a Igreja Católica, o mais importante para decidir se você vai ser excomungado ou não é o que você diz e prega dentro da igreja, não o que você realmente FAZ com sua vida, desde que você se arrependa e admita que errou.

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  21. Para a ICAR, é preferível que você seja um pedófilo arrependido do que um arrogante como Bruno, Galileu e Padre Beto em suas ousadias de tentarem ser “livres pensadores”, quando a verdadeira liberdade é justamente aquela que nos aproxima do senhor. E quem melhor para saber como é que podemos ser REALMENTE livres do que a santíssima igreja? Devemos lembrar que sem a igreja estamos jogados em um mundo de caos e de subjetivismos hermenêuticos, onde cada um afirma que está interpretando com sua “inspiração divina”. Se não houver uma instituição única para nos dizer o que é ou não REALMENTE divino, como é que podemos acreditar em alguma coisa com segurança, neste mundo dominado pelo relativismo? Não é justamente para isso que a educação é importante? Apontar alguma direção para as pessoas seguirem, para que elas deixem de ser umas moralistas ignorantes e passem a se importar em usar seu conhecimento em seus trabalhos?

    No filme “The Wall”, do Pink Floyd, tem uma cena muito interessante que mostra uma série de pessoas com máscaras idênticas caindo em um moedor de carne e sendo trituradas. Isso antes dos alunos fazerem uma fogueira com as carteiras da escola e jogarem os professores nela. É uma excelente crítica em forma de metáfora para o processo de uniformização que o Alonso se referiu em suas considerações finais quando falou do paradoxo que existe no fato de um sistema pautado nas diferenças como o capitalismo ter uma tendência tão grande à uniformização. Eu acredito que isto se deva à mentalidade de produção em série que surgiu com a revolução industrial e que permitiu que o ser humano produzisse vários produtos iguais e ao mesmo tempo. Este mecanismo de produção foi transferido para todas as formas de produção humana e também na disseminação da cultura. Quando atingiu a educação criou este sistema educacional que conhecemos e que o Alonso citou tantas vezes como solução para a maioria dos problemas. Neste aspecto, eu tenho que discordar totalmente do que disse meu adversário, pois acredito que o sistema educacional nos modelos como o existente é justamente um dos fatores causadores dos problemas que temos por ter uma sociedade que não é muito dada à reflexão.

    A função da escola acabou se tornando preparar as pessoas para o mercado de trabalho, ou seja, apenas mais um processo de doutrinação alienante para transformar essas pessoas em seres sem capacidade de inovação ou de manifestação criativa, por que foram induzidas a viver em caixas durante suas vidas inteiras. Da mesma forma que para os homens presos no interior da caverna de Platão que o Alonso citou em sua finalização, não é fácil para estas pessoas conseguirem viver fora de suas caixas. Estudos mostram que a escola tem a capacidade de reduzir o potencial criativo das pessoas ao longo da vida, quanto mais elas se adaptam a este sistema de uniformização ao qual estamos acostumados. Mas não há dúvidas que alguma uniformização é extremamente importante, principalmente enquanto tivermos estratificação nas modalidades de trabalho e necessidade de certificados que comprovem a qualificação das pessoas nas áreas em que se aventuram trabalhar. Por outro lado, a diferença também é importante, pois somente com a existência da mesma podemos perceber os enganos do senso comum.

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  22. A tentativa de trazer alguma uniformidade na marra para os sistemas econômicos e transformar o trabalho em uma atividade de Oompa Loompas falou miseravelmente. Por outro lado, justamente por privilegiar o mérito e dar valor à diferença, a competição presente no sistema capitalista faz com que este sistema seja muito mais dinâmico e possa até garantir boa qualidade de vida para a população, quando não é selvagem. Isto mostra que o problema vai muito além dos nossos sistemas econômicos, apesar de que pode ser intensificado por causa de características dos mesmos. Todo moralista tem um sonho idealista de uniformização e odeia diferenças. Ainda que elas não o prejudiquem diretamente, vai tentar achar alguma argumentação que mostre o contrário, só para poder continuar a contrariar aquilo que eles não querem admitir: Que alguém possa fazer alguma escolha diferente da dele e, mesmo assim, possa estar certo. Por que se isso for verdade, talvez não valha tanto a pena assim continuar sendo rígido com seus próprios preceitos de moralidade. Mas isso, jamais! Afinal de contas, eles são todos uns príncipes semideuses que nunca erram, não é? Pobre de mim, perdido neste mundo de heróis invencíveis e sem a companhia do Álvaro de Campos para tomarmos um vinho e rirmos sobre como conseguimos ser tão vis, quando parece ser tão simples para os outros serem sempre tão perfeitos. Com isso, termino este debate com um poema deste gênio, que fala exatamente sobre este assunto:

    “Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,
    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?
    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”

    Agradeço ao Alonso pela conversa e a todos os leitores pela atenção.

    Até mais!

    Chico Sofista.

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