sábado, 14 de abril de 2012

Patrick X Roberta - Educação

Patrick BritoApr 14, 2012 04:19 PM

Hoje estou especialmente feliz, pois aprendi função piso e função teto, introduzidas pelo matemático formado no MIT, Kenneth Iverson, em 1962, funções que só aprenderia caso estivesse no curso de engenharia da computação, e que preciso para o vestibular do IME.
Mas, por que estou dizendo tudo isso?
Para exemplificar a enorme distância entre o ensino público e o ensino privado e como a escola brasileira pode ser forte, mesmo tendo que abedecer a uma legislação específica, visto que no cursinho há pessoas do último ano do ensino médio.
Em meio a tudo isso, faz-se necessário nos perguntarmos, qual o papel da escola na sociedade?
Na minha opinião, a escola deve atender às necessidades do mercado de trabalho. Se é no mercado de trabalho que o cidadão precisa ser inserido, nada mais normal que a escola atenda as suas demandas. Não podemos nos iludir com teses de pedagogia e de licenciatura que dizem como é massante a escola e como é passiva a posição do aluno em relação ao professor.
Já li algumas dessas teses e elas geralmente destroem a relação aluno-professor na escola brasileira e sequer apresentam uma solução para o que para eles não está certo. Pior que isso, dizem que não pode haver competição na escola e que o "professor deve dar a mãozinha para o aluno". Não, senhores! Deve haver competição, sim. A vida real, o mundo lá fora é assim, todos aqui trabalham ou estudam e sabem como as coisas de fato são. Nada mais certo que a escola reproduza esse ambiente de competição e prepare o aluno da melhor maneira possível a saber lidar com isso.
Eu acho que em um ponto devo concordar com a minha adversária. Não penso que deva ser o aluno a escolher quais disciplinas estudar, tal como no sistema americano. Eu tenho aula de tudo, tudo mesmo, das 13h30 às 21h10 de segunda à sexta, das 07h00 às 12h40 aos sábados e prova todo domingo. Sim, todo domingo, com exceção dos feriados. É nesse ambiente de estudos que todos os anos dezenas de alunos do Poliedro passam simultaneamente no ITA, IME, AFA, USP, UNESP, Unicamp, Unifesp et cetera. Sem esforço e dedicação, não há resultados. Para mim, é esse o papel da escola: atender as necessidades do mercado de trabalho de modo a preparar da melhor maneira possível o indivíduo para o ambiente de eterna competição.
Responder

LimerânciaApr 14, 2012 05:01 PM
Obrigada, Patrick pela escolha do tema, e também por ter tido paciência em minha resposta. Educação é o assunto da minha vida, é muito mais que meu ganha pão, é onde deposito minhas esperanças para uma sociedade melhor: menos injusta, mais humana. Fiquei impressionada com sua rotina de estudos e também, com suas metas tão pouco modestas, e fico feliz que o caminho escolhido para alcançar seus objetivos tenha sido pela disciplina, tem, desde já, meu respeito.
Há alguns meses, discuti esse assunto com Felipe e apesar disso, ele se mostra cada vez mais atual e importante, espero que esse tbm traga bons frutos e importantes reflexões.
Narra a felicidade de ter aprendido uma lição que fará diferença na carreira que escolheu( função piso e função teto): sei que a Matemática é pouco compreendida, e por isso sinto prazer quando percebo ‘os olhinhos brilhando’, satifação que só o professor conhece. E tem razão: esse conteúdo é meio exclusivo, sendo realmente assimilado em preparadas mentes. E em preparo, entenda estudo e fundamentação teórica. Mas, uma dúvida pairou: será que realmente aprendeu? Assimilou o conteúdo, consegue aplicá-lo em sua vida prática? È essa a grande diferença entre entender e assimilar uma lição. È isso que difere a informação do conhecimento. E é essa a principal explicação para a Matemática ser tão “odiada” . Não se ama aquilo que não entende. E não se entende, em grande parte, por ser o ensino cheio de falhas, como por exemplo, a preparação dos profissionais, as condições de trabalho , além, claro, da política educacional adotada pelo Governo.
Numa sociedade perfeita, não haveria diferença entre o ensino público e o privado. Mas não é o que ocorre, e percebemos isso já nas séries iniciais: enquanto uma criança oriunda da classe trabalhadora, só tem direito ao acesso a escolarização aos 6 anos, as famílias abastadas já podem contar com a educação ainda nos primeiros meses dessa criança. A minha realidade me obriga conhecer casos de meninos que foram alfabetizados apenas aos 12 anos, e quando vejo meu sobrinho, de apenas 5 anos um leitor fluente ( e já falando com relativa tranquilidade outros dois idiomas) fico realmente desanimada. Quem dera todos tivessem essa oportunidade, mas aí faço um resgate histórico e entendo que a Educação plena sempre foi um direito para poucos. Se preferir, podemos abordar esse aspecto com maior profundidade.
Não discordo que a educação tem como função preparar o individuo ao mercado de trabalho, porém, ela não é a única, e nem a mais importante. A principal função da Educação é formar cárater, fazer que os participantes tenham acesso a informação e que a transforme, através da prática, em conhecimento. È função dela desenvolver a autonomia e a cidadania. Enfim, é função dos integrantes a mudança positiva de toda uma sociedade. È nisso que acredito, e é por essa razão que não aceito como verdade absoluta essa busca dos primeiros lugares. Não gosto da competição, não nesse aspecto, por defender a teoria do “Ciclo do desenvolvimento humano”: o homem deve a todo instante buscar a superação, porém, usando como parâmentro, a si mesmo, e não em outro, que sofreu outros estímulos. Ou seja, a busca entre o seu melhor, uma vez que o máximo não existe. São conceitos que parecem abstratos , mas que terei prazer em explicar se perceber de você, interesse.
Gostaria que listasse as teses que leu sobre a relação delicada entre professor-aluno. Há sempre uma intenção, mas, de antemão afirmo: nenhum educador sério terá por prática a ação de permitir que seu aluno siga sem ter assimilado aspectos fundamentais. Quando apresentam argumentos como a tal mãozinha, entenda o real objetivo: não é pensando no aluno, não é gentileza (ou dó do professor) e sim, uma sórdida manipulação de dados, onde maqueiam a estatística buscando burlar regras de captação de recursos financeiros.
Responder

Patrick BritoApr 14, 2012 05:48 PM
Roberta, acredito que com esse debate poderemos aprender muito um com o outro e trocar experiências, cada uma dentro do ambiente de cada um dos debatedores.
De fato a busca pelo conhecimento exige disciplina e dedicação. Mas isso não basta se do outro lado da ponte você não tiver a sua disposição uma escola de excelência e professores comprometidos com resultados. Concordo com você que o papel da escola não se resume a atender aos interesses e às expectativas do mercado de trabalho. Mais que isso. É importante o preparo ético e moral do indivíduo para que ele saiba lidar com coerência com as situações que a vida o colocará.
Quando estava no ensino fundamental tive a oportunidade de ser convidado pelo meu então professor de Geografia a dar uma aula de energia nuclear para alunos do ensino médio de uma escola pública de Araçatuba, a Escola Estadual Professor Ary Bocuhy. Eu estava cheio de expectativas, acreditando que conseguiria motivar os alunos com esse assunto tão fascinante. Mas me frustrei. Senti-me impotente. Acho que poucas vezes na vida me senti tão mal. Nenhum dos alunos demonstrou interesse. Pior. Alguns sequer prestaram atenção. O professor, então, ameaçou colocar um dos alunos para fora, e ele? Ele o ignorou e em seguida o desafiou. Preferimos ignorá-lo e seguir com a aula. Ao final, foi contado a mim a vida de alguns daqueles alunos. Especificamente aquele que havia desafiado a mim e ao professor, fiquei sabendo que ele era filho de mãe solteira; renegado pelo pai, foi influenciado pelo tio, que no momento estava preso. A mãe chegou a espancá-lo na frente dos professores numa das vezes que, já cansada de ser chamada pela direção da escola, explodiu de raiva.
Com isso, pude me colocar no lugar do professor e sentir na pele como as coisas de fato são. Por isso, quando se fala em educação, muito se discuti sobre a relação aluno-professor, esquecendo-se que o laço de fato não é o aluno-professor, mas o família-escola. Por melhor que seja a infraestrutura da escola, de nada adianta se a família do aluno for desestruturada. Aí, cabe-nos perguntar: como a escola, ou mais corretamente, como a direção e os professores podem ajudar na relação filhos-pais sem parecer invasiva? É função mesmo da escola interferir nessa relação?
Eu não sei a opinião da minha adversária quanto a isso. Penso que a pergunta é extremamente delicada, visto que a família é algo mais relacionado com a vida privada do aluno. Mas se a família não vai bem, o aluno não vai bem. E aí? Como fica a escola? Como resolver esse dilema? Alguns diriam que esse já é papel do Conselho Tutelar. Mas todos sabem como são esses órgãos do governo. Não funcionam. Será que a escola pode por si só desempenhar esse papel? É viável isso? Gostaria de saber a opinião da minha adversária quanto a isso.
Uma outra coisa que gostaria de analisar é a questão da inclusão de alunos especiais. Tem como inseri-los na educação regular e mesmo assim manter o ritmo de aprendizado e o nível de dificuldade das escolas? Eu acredito que não. Por isso, sou contra a inclusão de alunos especiais na educação regular. Para mim, não há como uma escola regular se adaptar a um aluno especial sem prejudicar os demais alunos, que são maioria esmagadora. Por enquanto é só. Na tréplica, listo as referidas teses. Eu as li em uma revista que não está comigo agora. Pedi que a minha mãe me enviasse por correio. Abraços.
Responder

LimerânciaApr 15, 2012 05:50 PM
( 1/2)
Patrick, eu tenho essa mesma fé com esse debate: depurar experiências e trocar visões. Não percebo até então, grandes divergências de pensamentos: concordamos no papel fundamental da Educação, e também, que há de se fazer, profundas modificações nos diversos aspectos, em especial, na política pública e na questão social. A Escola se tornou assistencialista, em principio, para dignificar o homem, mas o que percebemos é que esse papel social tem objetivos eleitoreiros.
Uma rápida explanação: você sabia que a merenda escolar é direito do educando, e na falta dela, a aula deverá ser suspensa? E que, pelo que orienta o Mec, ela deve suprir 20% da necessidade fisiológica diária do escolar? Porém, na prática, não é isso que ocorre: a alimentação é inadequada, além de escassa e isso prejudica o rendimento escolar. A fome é excelente fonte de dispersão, onde, em médio prazo, pode ser causa principal da deficiência cognitiva. A razão desse despropósito é de conhecimento nacional - incompetência administrativa e corrupção, e isso é apenas parte de um triste quadro, onde há o desvio (ou má aplicação) de verbas destinadas a Educação, sucateamento de prédios, defasagem no material didático, a ridícula remuneração oferecida aos profissionais... E não é tudo; há ainda o mais terrível dos entraves, que é em relação à própria sociedade: ela está doente, despreparada, é vítima da violência, é corrupta e corruptora, e por saber que a Educação está intrinsecamente ligada a ela, é natural que ela receba todas essas influências.
Você, de forma breve, narrou com propriedade um quadro que é, infelizmente, real em grande parte das instituições de ensino. Eu, no início do meu magistério me deparei com isso, e fiquei horrorizada: como era possível que meus alunos fossem tão maus nos testes? A primeira coisa que se passa na cabeça do educador é “ onde foi que errei?”, e em muitos casos, a culpa é a nossa maior prisão. Não conseguimos ir além, e enxergar o óbvio. A explicação do fracasso é uma simples sentença matemática, compreensível a qualquer pessoa que saiba somar 2 e 2... Em miúdos: a violência, fome, indisciplina, a péssima remuneração aos professores NÃO é causa de nada, são “apenas” sintomas, e é sobre isso que jamais devemos esquecer. È imperativo que não desviemos o foco.
Não acho que seja função da escola interferir nas relações familiares, uma vez que a formalização do ensino é algo complexo e que precise de todo o tempo disponível, porém, ela se vê obrigada a assumência desse papel por perceber que a família sozinha não dá conta. Mas aquilo que nasceu como exceção a regra virou obrigação, e isso trouxe um preço. O CT também não consegue atender a todas as solicitações, mas, ao menos ao que tenho presenciando, demonstram boa vontade.
Responder

LimerânciaApr 15, 2012 05:51 PM
(2/2)
Sobre a inclusão, tenho algumas ponderações: pela nossa Constituição, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Em seu artigo 208, ela assegura o atendimento educacional especializado aos “portadores de deficiência”, preferencialmente na rede regular de ensino, há em grande parte das escolas, interpretes nas salas de aula, além de cuidadores, e no contra turno, são oferecidas vagas em instituições que atendam de forma mais específica esse educando. Se me perguntarem se isso é o adequado, terei vergonha em responder, mas, é, ao menos, o primeiro passo. É claro que essa solução não me satisfaz completamente, mas é muito melhor do que no ensino privado, uma vez que os alunos ditos normais não têm o privilegio de conhecer as variantes humanas, já que lá, eles simplesmente não existem, então, me diz: como aprender a ser solidário sem isso? Como desenvolver a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem por meio da cooperação e o atendimento às necessidades educacionais especiais, sem que ela seja incluída?
Não concordo que se crie nichos para os portadores de necessidades especiais, seria, sob minha análise, uma nova caça as bruxas, onde o diferente, teria o exílio como opção, se a fogueira não lhe fosse atraente. Segregação, Patrick, seja ela qual for, deve ser entendida como um crime contra a humanidade. “É preciso preparar a escola para incluir nela o aluno especial e não ao contrário”. (Mantoan)
Em dezembro passado, Jadiel mostrou na antiga DR um interessante artigo que, por falta de fluxo na antiga casa, não foi devidamente destrinchado. Gostaria de sua opinião sobre ele, é de fato, uma reportagem muito interessante, que gostaria de analisar item a item, nas nossas próximas postagens:
http://veja.abril.com.br/tema/educacao-na-china
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/china-ensina-o-valor-do-sistema-baseado-no-merito
Até a próxima,
R.
Responder

Patrick BritoApr 18, 2012 05:13 PM
Primeiro, peço desculpas à minha adversária pela demora em responder. Eu fiquei sem internet e para piorar peguei uma gripe forte o bastante para me fazer faltar um dia no cursinho. Aliás, só eu sei o quanto estou me atrasando para respondê-la. A minha situação está bastante complicada.
Finalmente, alguma discordância em relação ao tema. Eu acredito que a questão da inclusão é importante tanto quanto delicada. Veja. Imagine que você é professora de uma determinada turma e tem que ensinar logarítimo, um conteúdo nada agradável de matemática (tanto quanto as paramétricas). Imagine também que a sua turma, de 40 alunos, tenha 1 aluno com síndrome de Dawn, por exemplo. Esse aluno com síndrome de Dawn tem capacidade intelectual para aprender logarítmo? A gente sabe que não. No momento em que você estiver ensinando logarítmo, esse aluno vai ficar totalmente desvinculado da aula, ou em outras palavras, excluído. Eu, que estudo na mais puxada turma de cursinho do país, a Turma ITA, sei como são as aulas de exatas, e você como professora de matemática também sabe. Pessoas com síndrome de Dawn não têm a mesma capacidade intelectual que eu e você.
Você conhece alguém com síndrome de Dawn que é formada em alguma área de exatas ou mesmo de humanas? O máximo que eu vi foi formado em música. Conhece também algum que seja professor? Eu acredito que idealizações são perigosas. Eu prefiro a realidade. E a realidade nos diz que as pessoas são desiguais. Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os iguais de uma forma desigual. Por isso, tratar quem tem síndrome de Dawn, por exemplo, da mesma forma que uma pessoal normal não é democrático.
Claro que pela legislação atual, negar a um aluno deficiente mental matrícula em uma escola regular é discriminação, crime previsto na lei. Por isso, acredito que os pais de filhos assim deveriam ter consciência das limitações mentais de seus filhos, e aceitá-las. O problema da maioria dos pais é que eles acreditam que seus filhos de fato são iguais a todo mundo. Mas não são! Não aceitar essa limitação é incorrer em perigo e prejudicar o próprio filho.
Em meio a tudo isso, você deve estar se perguntando como fica a questão da convivência com as outras pessoas de quem tem alguma deficiência mental. Não é surpresa para ninguém que o círculo de amizade de pessoas assim geralmente é limitado à própria família. A maioria das pessoas ditas normais não têm amizade com quem tem deficiência mental justamente por uma questão de identidade e homogeneidade. Tendemos a ter amigos que são parecidos conosco. Posso parecer cruel ao dizer isso. Mas essa é a realidade, não é mesmo? O mundo é cruel, e isso vai muito além da educação, foge ao seu campo de domínio. São dois conjuntos que entre si não satisfazem uma função.
Sobre os links que me enviou, eu já os tinha lido. Eu gosto muito do sistema de educação chinês. Mas acredito que na íntegra só faz sentido lá mesmo. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o respeito pelo papel do professor e da escola como um instrumento de ascensão social, coisa que falta nesse país. Por enquanto é só. Fico no aguardo da tréplica da minha adversária para que eu possa finalizar.
Responder

LimerânciaApr 19, 2012 04:34 PM
Não há razão para se preocupar: de minha parte, está tudo bem.
Nessa sua participação percebi grandes e importantes divergências, sendo a mais inacreditável a sua afirmação do que logaritmo não é um conteúdo agradável, e depois, para me matar de desgosto, ainda citou nesse mesmo patamar paramétricas... Endoideceu, é? :p
Agora, falando sério, nessa sua postagem há vários pontos que merecem maior atenção: você cometeu alguns enganos, facilmente explicados, mas, ainda assim, completamente equivocados. A razão de explicar seus enganos é simples: como disse, os alunos portadores de necessidades especiais não estão visíveis no ensino privado, portanto é comum acreditarmos que os mesmos não obtêm êxito em sua vida escolar. Mas há exceções. Já tive a experiência com alunos mudos, portadores do x frágil, autistas, com síndrome de Down e Asperger, cegos e cadeirantes, e em todos eles obtive resultados otimistas, claro que em alguns foram mais longe, já que há níveis distintos de limitação, é evidente que o portador severo terá maior dificuldade em sua aprendizagem, mas, ainda sim, não é correto imaginar que os mesmos não teriam acesso ao ensino formal e regular, uma vez que a Escola tem mais do que a função transmissora de conhecimentos, lá é local de exercício prático da cidadania. E à outra coisa que precisa ser entendida: o ensino da Matemática já é em princípio, excludente. Poucos têm nessa disciplina uma relação de amor e entendimento, e estou me referindo aos alunos considerados normais, é, estatisticamente a matéria mais odiada. E isso não é um problema local.
Partindo dessa lógica, poderíamos separar os alunos por categorias; criaríamos, ainda no ensino médio classes com maior enfoque a disciplina humanas, biológicas e exatas. Seria essa uma boa solução? Eu já não concordo com essa ideia. Dias atrás num post do Jadiel, houve uma fala bem interessante sobre o tema, revi alguns pontos de vista, sugiro que dê uma conferida nesse material.
E respondendo sua pergunta: sim, conheço. Presto assessoria no CORAE e lá todos os professores têm algum tipo de deficiência. No inicio achei estranho, mas, qual melhor forma de explicitar o reconhecimento ao aluno e sua família? Com esse exemplo prático, percebe-se que portadores de diferentes limitações também tem acesso a profissionalização, é só dar-lhes oportunidade.
Você também confundiu conceitos, trocou democracia por isonomia. E por igualdade compreende-se “tratar de forma igual os iguais, e desigualmente os desiguais na medida em que se desigualem ". Quem tem um filho sabe que o seu não é igual a nenhum outro, e exatamente por isso deseja que ele tenha os mesmos direitos que todos os outros. Você diz em seu texto que sua visão pode parecer cruel, mas eu afirmo que é apenas um ponto de vista, desfocado, em minha opinião: a Educação não foge de nenhum campo de domínio, uma vez que está incluída em todas as esferas ( e aspectos) de uma sociedade.
Há, enfim, algo que concordamos que é sobre a questão do ensino chinês.
Gostaria de ter nessa sua última participação, sua opinião sobre critérios de avaliação. Qual considera mais justo? E também, se acredita em burrice e em seu antônimo.
Sem mais, despeço-me...
R.
Responder

Patrick BritoApr 19, 2012 07:38 PM
Primeiro, gostaria de corrigir um erro de digitação na minha tréplica. No período "Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os iguais de uma forma desigual" troque por "Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os desiguais de uma forma desigual".
Segundo, acredito que eu me expressei mal, e por isso, fui interpretado de forma equivocada pela minha adversária. Quando eu disse que logarítmo é um conteúdo desagradável foi apenas para lembrar os nossos leitores de quanto tiveram logarítmo na escola e como ele deve ter sido desagradável para eles, para que paralelamente a isso pudesse concluir que se foi difícil para ele, imagine para um deficiente mental. Mas eu não tenho problema com logarítmo. Eu falei das paramétricas em razão do trabalho que dá para resolver problemas desse tipo, ainda mais quando se mistura em um mesmo exercício paramétrica, exponencial e logarítmo. Até que tudo bem resolver um exercício do tipo. Mas começa a ficar massante quando temos uma lista gigantesca de exercícios do tipo para resolver. Quem me dá esses conteúdos é o professor Umberto, engenheiro aeronáutico do ITA. Ele é conhecido pelas suas listas de exercícios. São 45 listas ao longo do ano. Para vocês terem uma ideia, a lista de logarítmo não se mede em número de exercícios, mas em kg de exercícios, visto a massa da lista.
Voltando ao assunto, eu não disse que pessoas deficientes mentais, excluindo-se daí os surdos, mudos e cadeirantes, não pudessem ter uma vida profissional, ou ocupar um lugar no mercado de trabalho. Mas todos os que conseguiram vencer na vida, e são muitos, trabalham em empresas privadas, indústrias, etc. Mas nenhum, nenhum mesmo, ocupa um lugar de destaque. E, na realidade, não é por preconceito. Até pode existir preconceito, e eu não duvido que tenha. Mas isso não diz absolutamente nada sobre a questão. Mesmo se o preconceito não existisse, não ocupariam lugar de destaque simplesmente porque não têm a mesma capacidade intelectual que eu e você; são deficientes mentais, oras. E todos aqueles que estão no mercado de trabalho, nenhum está numa área do conhecimento. Diga-me, conhece algum portador de síndrome de Dawn que é professor ou bolsista no CNPq? Não existe. Logo, colocá-los numa escola regular e dar a eles uma atenção especial dentro de uma sala regular além de inútil, no final das contas, prejudicaria o desempenho do restante da sala e ele ficaria excluído do mesmo jeito.
Aqui no Poliedro, a gente tem de ciclo em ciclo de provas (são 6 ciclos de provas ao longo do ano) a reestruturação de sala. Ela é feita levando-se em consideração o seu desempenho na sala de aula. Como eu faltei na semana 0 (por causa da demora em ser dispensado do TG), caí na ITA 3, como a gente diz, a escória da Turma ITA. É pouco produtivo ter aula lá, os alunos de lá são alunos que vieram de escolas ruins ou que ficaram um tempo considerável fora da escola. Toda hora a explicação é interrompida por causa de dúvidas, a maioria delas completamente proibidas para um aluno de Turma ITA. Atualmente estou na ITA 2, uma evolução e tanto. Como estou indo muito bem nesse ciclo, apesar de não ter mais vida social (acordo 06h00, estudo até as 11h00, almoço, arrumo-me, entro às 13h30, saio às 21h30, e ainda estudo mais quando chego na pensão, fora aula todos os sábados e prova todos os domingos). Em meio a tudo isso, fico imaginando como seria tudo isso para um aluno que gostaria muito de cursar uma engenharia, mas que tem sérias dificuldades. Digo dificuldades em geral. Na Turma Medicina, que é BEM menos puxada que a Turma ITA, BEM em letras garrafais mesmo, há também reestruturação de sala levando-se em conta a classificação dos alunos nos ciclos da Turma Medicina, que são diferentes dos da Turma ITA. Então, mesmo em uma turma que tem bem menos exatas, supondo-se que a dificuldade dele é geral, imagino como seria tudo isso para ele. De fato, a vida é como um rolo compressor, bastante dura com quem é especial ou tem algum tipo de dificuldade.
Responder

Patrick BritoApr 19, 2012 07:39 PM
Hoje, fui visitar o CTA - Comando Tecnológico da Aeronáutica, onde fica o ITA - Instituto Tecnológico de Aeronátuca, IEAv - Instituto de Estudos Avançados e o IAE - Instituto de Aeronática e Espaço. Poucos sabem, mas foi no CTA que foi inventada a urna eletrônica, um projeto pioneiro no mundo, feito exclusivamente por brasileiros. No ITA, tivemos, entre outras coisas, uma palestra com o coordenador do vestibular do ITA, o Professor Luiz Carlos Rossato. Ele falou algumas coisas que eu gostaria de compartilhar. O ITA já teve um programa de cotas na década de 1970. Como a maioria dos alunos eram das regiões sul, sudeste e centro-oeste, criaram uma cota para alunos do norte e nordeste. Pensaram eles que, formando-se no ITA, esses cotistas voltariam para a sua região a fim de desenvolvê-las. No final das contas, todos ficavam em São Paulo mesmo depois de formados. E aí tiraram as cotas, pois de nada adiantaram. Agora eu lhes pergunto, se os alunos especiais merecem um atendimento especial na escola e uma prova de avaliação especial, visto que não podem absorver a maioria dos conteúdos, caso eles queiram entrar em uma universidade, como o ITA, por exemplo, não merecem eles também um vestibular especial, ou mesmo uma cota? No ITA, eles nunca entrariam. Mesmo um cadeirante não entra no ITA. O ITA não é subordinado ao MEC, mas ao Ministério da Defesa, e por lei, todo aluno do ITA deve fazer 1 ano de serviço militar, o CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. Por isso, quem tem problema físico ou mental, não entra, já que não poderia fazer o serviço militar.
Mas pensando numa USP, UNESP, Unicamp, como ficamos? Isso me lembra a massificação que o governo fez com relação à educação básica. Esse negócio de que todo mundo é igual, e que por isso, tem direitos iguais, o que era bonito na teoria, foi um desastre na prática. Foi a massificação do ensino, ou "educação para todos" que destrui a escola pública, antes modelo de educação.
Sobre critérios de avaliação, acredito que eles são falhos. No Poliedro, por exemplo, a maioria dos alunos aprovados ano passado no vestibular do ITA foi do ITA 1; alguns do ITA 1 foram reprovados porque acertaram menos de 8 questões de Inglês, o mínimo exigido pelo ITA (no ITA, Inglês não é classificatório, mas é eliminatório). Alguns que entraram foi do ITA 2 e supreendentemente um aluno do ITA 3. Mesmo os simulados do Poliedro, falharam na escolha daqueles que de fato seriam aprovados no vestibular do ITA. Mas isso é bem mais complexo na verdade, pois teve muito aluno bom que ficou nervoso em excesso no dia da prova, fora sorte também, que às vezes conta. Então, todas essas exceções ficam dentro da margem de erro. Mas ainda assim, acredito que provas teóricas como critério de avaliação, mesmo sendo falhas, tal como tudo o que é criado pelo homem, é o melhor que nós temos.
Sobre a burrice, acredito que o que podemos fazer é dar o máximo de atenção para pessoas assim. Mas no fundo, não há muito o que se fazer. Ainda mais, quando nos estendemos para os deficientes mentais graves.
Gostaria de terminar a conclusão com uma cena que presenciei na visita ao ITA. No momento que um determinado oficial ia entrar na sala de palestra, agora sobre o CPOR, anunciou-se a sua entrada, um tenente-coronel. Ele entrou, recebeu todas as honrarias militares, foi em direção às cadeiras da frente, onde estava sentado o professor Marcelo Pelisson, coordenador da Turma ITA do Poliedro de São José dos Campos. O tenente-coronel se inclinou frente ao professor Pelisson, um mero civil, e disse:
"Tudo bem, mestre?"
E é assim que termino minha conclusão, com essa frase que traduz o exemplo a ser copiado de respeito que o aluno tem pelo seu professor, que ele chama de mestre. Obrigado, Roberta, pelo duelo. Abraços.
Responder

LimerânciaApr 20, 2012 05:39 PM
Bom, então vamos a mais uma resposta...
Particularmente não gostei muito dessa sua última participação. Contribuiu a parte de estarmos em momentos distintos de vida: enquanto você briga para logo ser inserido no mercado de trabalho, eu luto diariamente para manter viva a minha fé, que é uma educação agregadora, plena, afetiva, e voltada a melhoria integral do indivíduo.
Reafirmo que você confundiu conceitos, mas não vou me ater a essa questão, e nem na brincadeira que me parece, você não entendeu. Quero focar na sua negativa em não se considerar preconceituoso: não conheço nenhum portador de síndrome de Down que seja professor ou bolsista do CNPq, mas eu não sirvo de parâmetro, uma vez que não conheço tanta gente assim. Mas, mesmo que seja provado que não exista pessoas com essa característica, pode significar outro fator que não a deficiência cognitiva, e sim, a ausência de oportunidade. Como saber, não é? O ser humano é surpreendente, pessoas como Beethoven, Christy Brown, Jean Bauby, Jonh Nash, Hellen Keller, Stephen Hawking não me deixam mentir. Portanto, afirmar ser inútil colocar pessoas com deficiências num ensino regular é ser, no mínimo, mau informado.
Sua rotina no Poliedro é extensa e quase desumana, tem sentido falta até de sua vida social... Para toda escolha, uma consequência, e esse foi o preço que escolheu pagar para entrar numa das mais fabulosas instituições de ensino do país. Sim, há mérito, não há como negar, mas, você já se deparou que isso em muito se assemelha ao ensino chinês, que o indivíduo abre mão de suas particularidades e se molda como ferramenta de trabalho.? Há quem se sujeite a isso, a sociedade precisa de mentes abnegadas, mas não é isso que acredito como verdade, e muito menos, aquilo que desejo ao meu filho. E é sobre isso que defendo nesse duelo: a qualidade x quantidade de conteúdo. O conhecimento x informação. O máximo x o ótimo.
Por essa razão, perguntei sobre sua concepção de avaliação, qual seria a mais justa. Eu defendo a ideia da superação pessoal, portanto, a avaliação é prognóstica e individualizada: o conteúdo apresentado para a turma é o mesmo, mas a forma que cada um processa (assimila) é pessoal. Lembra-se quando perguntei que tipo de aluno você era? (visual, auditivo, cinestésico). A avaliação é prognóstica, mesma devera ser contínua , cumulativa e sistemática. Não pode priorizar o resultado, e sim, investigar ( e entender) o processo. O erro, nessa concepção, não existe, já que é uma tentativa de acerto. O aluno tem a obrigação de superar a si mesmo, e não é avaliado por seu agrupamento, é um ser ativo e dinâmico, que participa da construção de seu próprio conhecimento. Nessa concepção, o professor não é “mestre”, e sim, um colaborador de aprendizagem.
Apesar de tantas diferenças de pensamento, agradeço a participação nessa conversa: é sempre agradável falar sobre esse assunto.
Att.,
R.

11 comentários:

  1. Primeiro, quero agradecer a minha adversária por aceitar debater um tema tão discutido na realidade. Acho que nunca se falou tanto em educação, principalmente no Brasil, visto o abismo profundo existente entre o ensino público e o ensino privado.

    Aqui quem vos fala é um vestibulando da Turma ITA do Cursinho Poliedro de São José dos Campos, o melhor e mais forte cursinho do país. Por isso, a minha abordagem da educação será feita sob a ótica de um vestibulando, assim como acredito que a minha adversária fará uma análise sob o ponto de vista da realidade com que ela convive na situação de matemática e pedagoga. Nesse sentido, espero que ambos os debatedores possam trocar ideias advindas de pontos de vistas e situações que, mesmo antagônicas, aluno e professor, complementam-se.

    Hoje estou especialmente feliz, pois aprendi função piso e função teto, introduzidas pelo matemático formado no MIT, Kenneth Iverson, em 1962, funções que só aprenderia caso estivesse no curso de engenharia da computação, e que preciso para o vestibular do IME.

    Mas, por que estou dizendo tudo isso?

    Para exemplificar a enorme distância entre o ensino público e o ensino privado e como a escola brasileira pode ser forte, mesmo tendo que abedecer a uma legislação específica, visto que no cursinho há pessoas do último ano do ensino médio.

    Em meio a tudo isso, faz-se necessário nos perguntarmos, qual o papel da escola na sociedade?

    Na minha opinião, a escola deve atender às necessidades do mercado de trabalho. Se é no mercado de trabalho que o cidadão precisa ser inserido, nada mais normal que a escola atenda as suas demandas. Não podemos nos iludir com teses de pedagogia e de licenciatura que dizem como é massante a escola e como é passiva a posição do aluno em relação ao professor.

    Já li algumas dessas teses e elas geralmente destroem a relação aluno-professor na escola brasileira e sequer apresentam uma solução para o que para eles não está certo. Pior que isso, dizem que não pode haver competição na escola e que o "professor deve dar a mãozinha para o aluno". Não, senhores! Deve haver competição, sim. A vida real, o mundo lá fora é assim, todos aqui trabalham ou estudam e sabem como as coisas de fato são. Nada mais certo que a escola reproduza esse ambiente de competição e prepare o aluno da melhor maneira possível a saber lidar com isso.

    Eu acho que em um ponto devo concordar com a minha adversária. Não penso que deva ser o aluno a escolher quais disciplinas estudar, tal como no sistema americano. Eu tenho aula de tudo, tudo mesmo, das 13h30 às 21h10 de segunda à sexta, das 07h00 às 12h40 aos sábados e prova todo domingo. Sim, todo domingo, com exceção dos feriados. É nesse ambiente de estudos que todos os anos dezenas de alunos do Poliedro passam simultaneamente no ITA, IME, AFA, USP, UNESP, Unicamp, Unifesp et cetera. Sem esforço e dedicação, não há resultados. Para mim, é esse o papel da escola: atender as necessidades do mercado de trabalho de modo a preparar da melhor maneira possível o indivíduo para o ambiente de eterna competição.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Obrigada, Patrick pela escolha do tema, e também por ter tido paciência em minha resposta. Educação é o assunto da minha vida, é muito mais que meu ganha pão, é onde deposito minhas esperanças para uma sociedade melhor: menos injusta, mais humana. Fiquei impressionada com sua rotina de estudos e também, com suas metas tão pouco modestas, e fico feliz que o caminho escolhido para alcançar seus objetivos tenha sido pela disciplina, tem, desde já, meu respeito.

    Há alguns meses, discuti esse assunto com Felipe e apesar disso, ele se mostra cada vez mais atual e importante, espero que esse tbm traga bons frutos e importantes reflexões.

    Narra a felicidade de ter aprendido uma lição que fará diferença na carreira que escolheu( função piso e função teto): sei que a Matemática é pouco compreendida, e por isso sinto prazer quando percebo ‘os olhinhos brilhando’, satifação que só o professor conhece. E tem razão: esse conteúdo é meio exclusivo, sendo realmente assimilado em preparadas mentes. E em preparo, entenda estudo e fundamentação teórica. Mas, uma dúvida pairou: será que realmente aprendeu? Assimilou o conteúdo, consegue aplicá-lo em sua vida prática? È essa a grande diferença entre entender e assimilar uma lição. È isso que difere a informação do conhecimento. E é essa a principal explicação para a Matemática ser tão “odiada” . Não se ama aquilo que não entende. E não se entende, em grande parte, por ser o ensino cheio de falhas, como por exemplo, a preparação dos profissionais, as condições de trabalho , além, claro, da política educacional adotada pelo Governo.

    Numa sociedade perfeita, não haveria diferença entre o ensino público e o privado. Mas não é o que ocorre, e percebemos isso já nas séries iniciais: enquanto uma criança oriunda da classe trabalhadora, só tem direito ao acesso a escolarização aos 6 anos, as famílias abastadas já podem contar com a educação ainda nos primeiros meses dessa criança. A minha realidade me obriga conhecer casos de meninos que foram alfabetizados apenas aos 12 anos, e quando vejo meu sobrinho, de apenas 5 anos um leitor fluente ( e já falando com relativa tranquilidade outros dois idiomas) fico realmente desanimada. Quem dera todos tivessem essa oportunidade, mas aí faço um resgate histórico e entendo que a Educação plena sempre foi um direito para poucos. Se preferir, podemos abordar esse aspecto com maior profundidade.

    Não discordo que a educação tem como função preparar o individuo ao mercado de trabalho, porém, ela não é a única, e nem a mais importante. A principal função da Educação é formar cárater, fazer que os participantes tenham acesso a informação e que a transforme, através da prática, em conhecimento. È função dela desenvolver a autonomia e a cidadania. Enfim, é função dos integrantes a mudança positiva de toda uma sociedade. È nisso que acredito, e é por essa razão que não aceito como verdade absoluta essa busca dos primeiros lugares. Não gosto da competição, não nesse aspecto, por defender a teoria do “Ciclo do desenvolvimento humano”: o homem deve a todo instante buscar a superação, porém, usando como parâmentro, a si mesmo, e não em outro, que sofreu outros estímulos. Ou seja, a busca entre o seu melhor, uma vez que o máximo não existe. São conceitos que parecem abstratos , mas que terei prazer em explicar se perceber de você, interesse.

    Gostaria que listasse as teses que leu sobre a relação delicada entre professor-aluno. Há sempre uma intenção, mas, de antemão afirmo: nenhum educador sério terá por prática a ação de permitir que seu aluno siga sem ter assimilado aspectos fundamentais. Quando apresentam argumentos como a tal mãozinha, entenda o real objetivo: não é pensando no aluno, não é gentileza (ou dó do professor) e sim, uma sórdida manipulação de dados, onde maqueiam a estatística buscando burlar regras de captação de recursos financeiros.

    ResponderExcluir
  4. Roberta, acredito que com esse debate poderemos aprender muito um com o outro e trocar experiências, cada uma dentro do ambiente de cada um dos debatedores.

    De fato a busca pelo conhecimento exige disciplina e dedicação. Mas isso não basta se do outro lado da ponte você não tiver a sua disposição uma escola de excelência e professores comprometidos com resultados. Concordo com você que o papel da escola não se resume a atender aos interesses e às expectativas do mercado de trabalho. Mais que isso. É importante o preparo ético e moral do indivíduo para que ele saiba lidar com coerência com as situações que a vida o colocará.

    Quando estava no ensino fundamental tive a oportunidade de ser convidado pelo meu então professor de Geografia a dar uma aula de energia nuclear para alunos do ensino médio de uma escola pública de Araçatuba, a Escola Estadual Professor Ary Bocuhy. Eu estava cheio de expectativas, acreditando que conseguiria motivar os alunos com esse assunto tão fascinante. Mas me frustrei. Senti-me impotente. Acho que poucas vezes na vida me senti tão mal. Nenhum dos alunos demonstrou interesse. Pior. Alguns sequer prestaram atenção. O professor, então, ameaçou colocar um dos alunos para fora, e ele? Ele o ignorou e em seguida o desafiou. Preferimos ignorá-lo e seguir com a aula. Ao final, foi contado a mim a vida de alguns daqueles alunos. Especificamente aquele que havia desafiado a mim e ao professor, fiquei sabendo que ele era filho de mãe solteira; renegado pelo pai, foi influenciado pelo tio, que no momento estava preso. A mãe chegou a espancá-lo na frente dos professores numa das vezes que, já cansada de ser chamada pela direção da escola, explodiu de raiva.

    Com isso, pude me colocar no lugar do professor e sentir na pele como as coisas de fato são. Por isso, quando se fala em educação, muito se discuti sobre a relação aluno-professor, esquecendo-se que o laço de fato não é o aluno-professor, mas o família-escola. Por melhor que seja a infraestrutura da escola, de nada adianta se a família do aluno for desestruturada. Aí, cabe-nos perguntar: como a escola, ou mais corretamente, como a direção e os professores podem ajudar na relação filhos-pais sem parecer invasiva? É função mesmo da escola interferir nessa relação?

    Eu não sei a opinião da minha adversária quanto a isso. Penso que a pergunta é extremamente delicada, visto que a família é algo mais relacionado com a vida privada do aluno. Mas se a família não vai bem, o aluno não vai bem. E aí? Como fica a escola? Como resolver esse dilema? Alguns diriam que esse já é papel do Conselho Tutelar. Mas todos sabem como são esses órgãos do governo. Não funcionam. Será que a escola pode por si só desempenhar esse papel? É viável isso? Gostaria de saber a opinião da minha adversária quanto a isso.

    Uma outra coisa que gostaria de analisar é a questão da inclusão de alunos especiais. Tem como inseri-los na educação regular e mesmo assim manter o ritmo de aprendizado e o nível de dificuldade das escolas? Eu acredito que não. Por isso, sou contra a inclusão de alunos especiais na educação regular. Para mim, não há como uma escola regular se adaptar a um aluno especial sem prejudicar os demais alunos, que são maioria esmagadora. Por enquanto é só. Na tréplica, listo as referidas teses. Eu as li em uma revista que não está comigo agora. Pedi que a minha mãe me enviasse por correio. Abraços.

    ResponderExcluir
  5. ( 1/2)

    Patrick, eu tenho essa mesma fé com esse debate: depurar experiências e trocar visões. Não percebo até então, grandes divergências de pensamentos: concordamos no papel fundamental da Educação, e também, que há de se fazer, profundas modificações nos diversos aspectos, em especial, na política pública e na questão social. A Escola se tornou assistencialista, em principio, para dignificar o homem, mas o que percebemos é que esse papel social tem objetivos eleitoreiros.

    Uma rápida explanação: você sabia que a merenda escolar é direito do educando, e na falta dela, a aula deverá ser suspensa? E que, pelo que orienta o Mec, ela deve suprir 20% da necessidade fisiológica diária do escolar? Porém, na prática, não é isso que ocorre: a alimentação é inadequada, além de escassa e isso prejudica o rendimento escolar. A fome é excelente fonte de dispersão, onde, em médio prazo, pode ser causa principal da deficiência cognitiva. A razão desse despropósito é de conhecimento nacional - incompetência administrativa e corrupção, e isso é apenas parte de um triste quadro, onde há o desvio (ou má aplicação) de verbas destinadas a Educação, sucateamento de prédios, defasagem no material didático, a ridícula remuneração oferecida aos profissionais... E não é tudo; há ainda o mais terrível dos entraves, que é em relação à própria sociedade: ela está doente, despreparada, é vítima da violência, é corrupta e corruptora, e por saber que a Educação está intrinsecamente ligada a ela, é natural que ela receba todas essas influências.

    Você, de forma breve, narrou com propriedade um quadro que é, infelizmente, real em grande parte das instituições de ensino. Eu, no início do meu magistério me deparei com isso, e fiquei horrorizada: como era possível que meus alunos fossem tão maus nos testes? A primeira coisa que se passa na cabeça do educador é “ onde foi que errei?”, e em muitos casos, a culpa é a nossa maior prisão. Não conseguimos ir além, e enxergar o óbvio. A explicação do fracasso é uma simples sentença matemática, compreensível a qualquer pessoa que saiba somar 2 e 2... Em miúdos: a violência, fome, indisciplina, a péssima remuneração aos professores NÃO é causa de nada, são “apenas” sintomas, e é sobre isso que jamais devemos esquecer. È imperativo que não desviemos o foco.

    Não acho que seja função da escola interferir nas relações familiares, uma vez que a formalização do ensino é algo complexo e que precise de todo o tempo disponível, porém, ela se vê obrigada a assumência desse papel por perceber que a família sozinha não dá conta. Mas aquilo que nasceu como exceção a regra virou obrigação, e isso trouxe um preço. O CT também não consegue atender a todas as solicitações, mas, ao menos ao que tenho presenciando, demonstram boa vontade.

    ResponderExcluir
  6. (2/2)

    Sobre a inclusão, tenho algumas ponderações: pela nossa Constituição, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Em seu artigo 208, ela assegura o atendimento educacional especializado aos “portadores de deficiência”, preferencialmente na rede regular de ensino, há em grande parte das escolas, interpretes nas salas de aula, além de cuidadores, e no contra turno, são oferecidas vagas em instituições que atendam de forma mais específica esse educando. Se me perguntarem se isso é o adequado, terei vergonha em responder, mas, é, ao menos, o primeiro passo. É claro que essa solução não me satisfaz completamente, mas é muito melhor do que no ensino privado, uma vez que os alunos ditos normais não têm o privilegio de conhecer as variantes humanas, já que lá, eles simplesmente não existem, então, me diz: como aprender a ser solidário sem isso? Como desenvolver a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem por meio da cooperação e o atendimento às necessidades educacionais especiais, sem que ela seja incluída?

    Não concordo que se crie nichos para os portadores de necessidades especiais, seria, sob minha análise, uma nova caça as bruxas, onde o diferente, teria o exílio como opção, se a fogueira não lhe fosse atraente. Segregação, Patrick, seja ela qual for, deve ser entendida como um crime contra a humanidade. “É preciso preparar a escola para incluir nela o aluno especial e não ao contrário”. (Mantoan)

    Em dezembro passado, Jadiel mostrou na antiga DR um interessante artigo que, por falta de fluxo na antiga casa, não foi devidamente destrinchado. Gostaria de sua opinião sobre ele, é de fato, uma reportagem muito interessante, que gostaria de analisar item a item, nas nossas próximas postagens:

    http://veja.abril.com.br/tema/educacao-na-china

    http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/china-ensina-o-valor-do-sistema-baseado-no-merito

    Até a próxima,

    R.

    ResponderExcluir
  7. Primeiro, peço desculpas à minha adversária pela demora em responder. Eu fiquei sem internet e para piorar peguei uma gripe forte o bastante para me fazer faltar um dia no cursinho. Aliás, só eu sei o quanto estou me atrasando para respondê-la. A minha situação está bastante complicada.

    Finalmente, alguma discordância em relação ao tema. Eu acredito que a questão da inclusão é importante tanto quanto delicada. Veja. Imagine que você é professora de uma determinada turma e tem que ensinar logarítimo, um conteúdo nada agradável de matemática (tanto quanto as paramétricas). Imagine também que a sua turma, de 40 alunos, tenha 1 aluno com síndrome de Dawn, por exemplo. Esse aluno com síndrome de Dawn tem capacidade intelectual para aprender logarítmo? A gente sabe que não. No momento em que você estiver ensinando logarítmo, esse aluno vai ficar totalmente desvinculado da aula, ou em outras palavras, excluído. Eu, que estudo na mais puxada turma de cursinho do país, a Turma ITA, sei como são as aulas de exatas, e você como professora de matemática também sabe. Pessoas com síndrome de Dawn não têm a mesma capacidade intelectual que eu e você.

    Você conhece alguém com síndrome de Dawn que é formada em alguma área de exatas ou mesmo de humanas? O máximo que eu vi foi formado em música. Conhece também algum que seja professor? Eu acredito que idealizações são perigosas. Eu prefiro a realidade. E a realidade nos diz que as pessoas são desiguais. Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os iguais de uma forma desigual. Por isso, tratar quem tem síndrome de Dawn, por exemplo, da mesma forma que uma pessoal normal não é democrático.

    Claro que pela legislação atual, negar a um aluno deficiente mental matrícula em uma escola regular é discriminação, crime previsto na lei. Por isso, acredito que os pais de filhos assim deveriam ter consciência das limitações mentais de seus filhos, e aceitá-las. O problema da maioria dos pais é que eles acreditam que seus filhos de fato são iguais a todo mundo. Mas não são! Não aceitar essa limitação é incorrer em perigo e prejudicar o próprio filho.

    Em meio a tudo isso, você deve estar se perguntando como fica a questão da convivência com as outras pessoas de quem tem alguma deficiência mental. Não é surpresa para ninguém que o círculo de amizade de pessoas assim geralmente é limitado à própria família. A maioria das pessoas ditas normais não têm amizade com quem tem deficiência mental justamente por uma questão de identidade e homogeneidade. Tendemos a ter amigos que são parecidos conosco. Posso parecer cruel ao dizer isso. Mas essa é a realidade, não é mesmo? O mundo é cruel, e isso vai muito além da educação, foge ao seu campo de domínio. São dois conjuntos que entre si não satisfazem uma função.

    Sobre os links que me enviou, eu já os tinha lido. Eu gosto muito do sistema de educação chinês. Mas acredito que na íntegra só faz sentido lá mesmo. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o respeito pelo papel do professor e da escola como um instrumento de ascensão social, coisa que falta nesse país. Por enquanto é só. Fico no aguardo da tréplica da minha adversária para que eu possa finalizar.

    ResponderExcluir
  8. Não há razão para se preocupar: de minha parte, está tudo bem.

    Nessa sua participação percebi grandes e importantes divergências, sendo a mais inacreditável a sua afirmação do que logaritmo não é um conteúdo agradável, e depois, para me matar de desgosto, ainda citou nesse mesmo patamar paramétricas... Endoideceu, é? :p

    Agora, falando sério, nessa sua postagem há vários pontos que merecem maior atenção: você cometeu alguns enganos, facilmente explicados, mas, ainda assim, completamente equivocados. A razão de explicar seus enganos é simples: como disse, os alunos portadores de necessidades especiais não estão visíveis no ensino privado, portanto é comum acreditarmos que os mesmos não obtêm êxito em sua vida escolar. Mas há exceções. Já tive a experiência com alunos mudos, portadores do x frágil, autistas, com síndrome de Down e Asperger, cegos e cadeirantes, e em todos eles obtive resultados otimistas, claro que em alguns foram mais longe, já que há níveis distintos de limitação, é evidente que o portador severo terá maior dificuldade em sua aprendizagem, mas, ainda sim, não é correto imaginar que os mesmos não teriam acesso ao ensino formal e regular, uma vez que a Escola tem mais do que a função transmissora de conhecimentos, lá é local de exercício prático da cidadania. E à outra coisa que precisa ser entendida: o ensino da Matemática já é em princípio, excludente. Poucos têm nessa disciplina uma relação de amor e entendimento, e estou me referindo aos alunos considerados normais, é, estatisticamente a matéria mais odiada. E isso não é um problema local.

    Partindo dessa lógica, poderíamos separar os alunos por categorias; criaríamos, ainda no ensino médio classes com maior enfoque a disciplina humanas, biológicas e exatas. Seria essa uma boa solução? Eu já não concordo com essa ideia. Dias atrás num post do Jadiel, houve uma fala bem interessante sobre o tema, revi alguns pontos de vista, sugiro que dê uma conferida nesse material.

    E respondendo sua pergunta: sim, conheço. Presto assessoria no CORAE e lá todos os professores têm algum tipo de deficiência. No inicio achei estranho, mas, qual melhor forma de explicitar o reconhecimento ao aluno e sua família? Com esse exemplo prático, percebe-se que portadores de diferentes limitações também tem acesso a profissionalização, é só dar-lhes oportunidade.

    Você também confundiu conceitos, trocou democracia por isonomia. E por igualdade compreende-se “tratar de forma igual os iguais, e desigualmente os desiguais na medida em que se desigualem ". Quem tem um filho sabe que o seu não é igual a nenhum outro, e exatamente por isso deseja que ele tenha os mesmos direitos que todos os outros. Você diz em seu texto que sua visão pode parecer cruel, mas eu afirmo que é apenas um ponto de vista, desfocado, em minha opinião: a Educação não foge de nenhum campo de domínio, uma vez que está incluída em todas as esferas ( e aspectos) de uma sociedade.

    Há, enfim, algo que concordamos que é sobre a questão do ensino chinês.

    Gostaria de ter nessa sua última participação, sua opinião sobre critérios de avaliação. Qual considera mais justo? E também, se acredita em burrice e em seu antônimo.

    Sem mais, despeço-me...


    R.

    ResponderExcluir
  9. Primeiro, gostaria de corrigir um erro de digitação na minha tréplica. No período "Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os iguais de uma forma desigual" troque por "Uma democracia verdadeira é aquela que trata os iguais de uma forma igual e os desiguais de uma forma desigual".

    Segundo, acredito que eu me expressei mal, e por isso, fui interpretado de forma equivocada pela minha adversária. Quando eu disse que logarítmo é um conteúdo desagradável foi apenas para lembrar os nossos leitores de quanto tiveram logarítmo na escola e como ele deve ter sido desagradável para eles, para que paralelamente a isso pudesse concluir que se foi difícil para ele, imagine para um deficiente mental. Mas eu não tenho problema com logarítmo. Eu falei das paramétricas em razão do trabalho que dá para resolver problemas desse tipo, ainda mais quando se mistura em um mesmo exercício paramétrica, exponencial e logarítmo. Até que tudo bem resolver um exercício do tipo. Mas começa a ficar massante quando temos uma lista gigantesca de exercícios do tipo para resolver. Quem me dá esses conteúdos é o professor Umberto, engenheiro aeronáutico do ITA. Ele é conhecido pelas suas listas de exercícios. São 45 listas ao longo do ano. Para vocês terem uma ideia, a lista de logarítmo não se mede em número de exercícios, mas em kg de exercícios, visto a massa da lista.

    Voltando ao assunto, eu não disse que pessoas deficientes mentais, excluindo-se daí os surdos, mudos e cadeirantes, não pudessem ter uma vida profissional, ou ocupar um lugar no mercado de trabalho. Mas todos os que conseguiram vencer na vida, e são muitos, trabalham em empresas privadas, indústrias, etc. Mas nenhum, nenhum mesmo, ocupa um lugar de destaque. E, na realidade, não é por preconceito. Até pode existir preconceito, e eu não duvido que tenha. Mas isso não diz absolutamente nada sobre a questão. Mesmo se o preconceito não existisse, não ocupariam lugar de destaque simplesmente porque não têm a mesma capacidade intelectual que eu e você; são deficientes mentais, oras. E todos aqueles que estão no mercado de trabalho, nenhum está numa área do conhecimento. Diga-me, conhece algum portador de síndrome de Dawn que é professor ou bolsista no CNPq? Não existe. Logo, colocá-los numa escola regular e dar a eles uma atenção especial dentro de uma sala regular além de inútil, no final das contas, prejudicaria o desempenho do restante da sala e ele ficaria excluído do mesmo jeito.

    Aqui no Poliedro, a gente tem de ciclo em ciclo de provas (são 6 ciclos de provas ao longo do ano) a reestruturação de sala. Ela é feita levando-se em consideração o seu desempenho na sala de aula. Como eu faltei na semana 0 (por causa da demora em ser dispensado do TG), caí na ITA 3, como a gente diz, a escória da Turma ITA. É pouco produtivo ter aula lá, os alunos de lá são alunos que vieram de escolas ruins ou que ficaram um tempo considerável fora da escola. Toda hora a explicação é interrompida por causa de dúvidas, a maioria delas completamente proibidas para um aluno de Turma ITA. Atualmente estou na ITA 2, uma evolução e tanto. Como estou indo muito bem nesse ciclo, apesar de não ter mais vida social (acordo 06h00, estudo até as 11h00, almoço, arrumo-me, entro às 13h30, saio às 21h30, e ainda estudo mais quando chego na pensão, fora aula todos os sábados e prova todos os domingos). Em meio a tudo isso, fico imaginando como seria tudo isso para um aluno que gostaria muito de cursar uma engenharia, mas que tem sérias dificuldades. Digo dificuldades em geral. Na Turma Medicina, que é BEM menos puxada que a Turma ITA, BEM em letras garrafais mesmo, há também reestruturação de sala levando-se em conta a classificação dos alunos nos ciclos da Turma Medicina, que são diferentes dos da Turma ITA. Então, mesmo em uma turma que tem bem menos exatas, supondo-se que a dificuldade dele é geral, imagino como seria tudo isso para ele. De fato, a vida é como um rolo compressor, bastante dura com quem é especial ou tem algum tipo de dificuldade.

    ResponderExcluir
  10. Hoje, fui visitar o CTA - Comando Tecnológico da Aeronáutica, onde fica o ITA - Instituto Tecnológico de Aeronátuca, IEAv - Instituto de Estudos Avançados e o IAE - Instituto de Aeronática e Espaço. Poucos sabem, mas foi no CTA que foi inventada a urna eletrônica, um projeto pioneiro no mundo, feito exclusivamente por brasileiros. No ITA, tivemos, entre outras coisas, uma palestra com o coordenador do vestibular do ITA, o Professor Luiz Carlos Rossato. Ele falou algumas coisas que eu gostaria de compartilhar. O ITA já teve um programa de cotas na década de 1970. Como a maioria dos alunos eram das regiões sul, sudeste e centro-oeste, criaram uma cota para alunos do norte e nordeste. Pensaram eles que, formando-se no ITA, esses cotistas voltariam para a sua região a fim de desenvolvê-las. No final das contas, todos ficavam em São Paulo mesmo depois de formados. E aí tiraram as cotas, pois de nada adiantaram. Agora eu lhes pergunto, se os alunos especiais merecem um atendimento especial na escola e uma prova de avaliação especial, visto que não podem absorver a maioria dos conteúdos, caso eles queiram entrar em uma universidade, como o ITA, por exemplo, não merecem eles também um vestibular especial, ou mesmo uma cota? No ITA, eles nunca entrariam. Mesmo um cadeirante não entra no ITA. O ITA não é subordinado ao MEC, mas ao Ministério da Defesa, e por lei, todo aluno do ITA deve fazer 1 ano de serviço militar, o CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. Por isso, quem tem problema físico ou mental, não entra, já que não poderia fazer o serviço militar.

    Mas pensando numa USP, UNESP, Unicamp, como ficamos? Isso me lembra a massificação que o governo fez com relação à educação básica. Esse negócio de que todo mundo é igual, e que por isso, tem direitos iguais, o que era bonito na teoria, foi um desastre na prática. Foi a massificação do ensino, ou "educação para todos" que destrui a escola pública, antes modelo de educação.

    Sobre critérios de avaliação, acredito que eles são falhos. No Poliedro, por exemplo, a maioria dos alunos aprovados ano passado no vestibular do ITA foi do ITA 1; alguns do ITA 1 foram reprovados porque acertaram menos de 8 questões de Inglês, o mínimo exigido pelo ITA (no ITA, Inglês não é classificatório, mas é eliminatório). Alguns que entraram foi do ITA 2 e supreendentemente um aluno do ITA 3. Mesmo os simulados do Poliedro, falharam na escolha daqueles que de fato seriam aprovados no vestibular do ITA. Mas isso é bem mais complexo na verdade, pois teve muito aluno bom que ficou nervoso em excesso no dia da prova, fora sorte também, que às vezes conta. Então, todas essas exceções ficam dentro da margem de erro. Mas ainda assim, acredito que provas teóricas como critério de avaliação, mesmo sendo falhas, tal como tudo o que é criado pelo homem, é o melhor que nós temos.

    Sobre a burrice, acredito que o que podemos fazer é dar o máximo de atenção para pessoas assim. Mas no fundo, não há muito o que se fazer. Ainda mais, quando nos estendemos para os deficientes mentais graves.

    Gostaria de terminar a conclusão com uma cena que presenciei na visita ao ITA. No momento que um determinado oficial ia entrar na sala de palestra, agora sobre o CPOR, anunciou-se a sua entrada, um tenente-coronel. Ele entrou, recebeu todas as honrarias militares, foi em direção às cadeiras da frente, onde estava sentado o professor Marcelo Pelisson, coordenador da Turma ITA do Poliedro de São José dos Campos. O tenente-coronel se inclinou frente ao professor Pelisson, um mero civil, e disse:

    "Tudo bem, mestre?"

    E é assim que termino minha conclusão, com essa frase que traduz o exemplo a ser copiado de respeito que o aluno tem pelo seu professor, que ele chama de mestre. Obrigado, Roberta, pelo duelo. Abraços.

    ResponderExcluir
  11. Bom, então vamos a mais uma resposta...

    Particularmente não gostei muito dessa sua última participação. Contribuiu a parte de estarmos em momentos distintos de vida: enquanto você briga para logo ser inserido no mercado de trabalho, eu luto diariamente para manter viva a minha fé, que é uma educação agregadora, plena, afetiva, e voltada a melhoria integral do indivíduo.

    Reafirmo que você confundiu conceitos, mas não vou me ater a essa questão, e nem na brincadeira que me parece, você não entendeu. Quero focar na sua negativa em não se considerar preconceituoso: não conheço nenhum portador de síndrome de Down que seja professor ou bolsista do CNPq, mas eu não sirvo de parâmetro, uma vez que não conheço tanta gente assim. Mas, mesmo que seja provado que não exista pessoas com essa característica, pode significar outro fator que não a deficiência cognitiva, e sim, a ausência de oportunidade. Como saber, não é? O ser humano é surpreendente, pessoas como Beethoven, Christy Brown, Jean Bauby, Jonh Nash, Hellen Keller, Stephen Hawking não me deixam mentir. Portanto, afirmar ser inútil colocar pessoas com deficiências num ensino regular é ser, no mínimo, mau informado.

    Sua rotina no Poliedro é extensa e quase desumana, tem sentido falta até de sua vida social... Para toda escolha, uma consequência, e esse foi o preço que escolheu pagar para entrar numa das mais fabulosas instituições de ensino do país. Sim, há mérito, não há como negar, mas, você já se deparou que isso em muito se assemelha ao ensino chinês, que o indivíduo abre mão de suas particularidades e se molda como ferramenta de trabalho.? Há quem se sujeite a isso, a sociedade precisa de mentes abnegadas, mas não é isso que acredito como verdade, e muito menos, aquilo que desejo ao meu filho. E é sobre isso que defendo nesse duelo: a qualidade x quantidade de conteúdo. O conhecimento x informação. O máximo x o ótimo.

    Por essa razão, perguntei sobre sua concepção de avaliação, qual seria a mais justa. Eu defendo a ideia da superação pessoal, portanto, a avaliação é prognóstica e individualizada: o conteúdo apresentado para a turma é o mesmo, mas a forma que cada um processa (assimila) é pessoal. Lembra-se quando perguntei que tipo de aluno você era? (visual, auditivo, cinestésico). A avaliação é prognóstica, mesma devera ser contínua , cumulativa e sistemática. Não pode priorizar o resultado, e sim, investigar ( e entender) o processo. O erro, nessa concepção, não existe, já que é uma tentativa de acerto. O aluno tem a obrigação de superar a si mesmo, e não é avaliado por seu agrupamento, é um ser ativo e dinâmico, que participa da construção de seu próprio conhecimento. Nessa concepção, o professor não é “mestre”, e sim, um colaborador de aprendizagem.

    Apesar de tantas diferenças de pensamento, agradeço a participação nessa conversa: é sempre agradável falar sobre esse assunto.


    Att.,
    R.

    ResponderExcluir