quinta-feira, 5 de julho de 2012

Octávio X Roger - Televisão no Brasil e suas relações com as camadas populares

  1. Bem, como fui eu que desafiei meu oponente, creio ser melhor dar o pontapé inicial nesse bom debate. Foi graças aos conselhos do grande Chicão que decidimos debater este tema, sobre o qual pouco discordamos, mas muito temos a falar, acredito.

    Para começar a conversa, quero abordar, sem muita delonga, deixando as delongas para as próximas participações, dois fatores cujas relações com as camadas populares estão muitíssimo evidentes: as emissoras e programas que temos disponíveis atualmente.

    No tocante às emissoras, ater-me-ei às principais da TV aberta, já que são essas aquelas a que a maioria certamente tem acesso., destacando também os programas a serem abordados. Em primeiro lugar (literalmente), temos a tão detestada Rede Globo. A justificativa para toda a repugnância aos "globais" está no fato de essa emissora, segundo os críticos, não dar a devida importância a fatos decisivos para o futuro. Gostaria, antes de postar minha hipótese sobre, de saber que motivos meu oponente vê para essa omissão de fatos acontecer. Desta rede, destaco o famoso Jornal Nacional, a novela das 22h, o BBB e a cobertura futebolística do Globo Esporte.

    Em segundo lugar, vem a Rede Record, que divide opiniões. Se por um lado há os que a elogiam por apresentar uma visão independe daquela da Globo, outros, por outro lado, fazem duras críticas, pois a Record, rede comandada por um evangélico, teria um posicionamento religiosamente preconceituoso especialmentes com umbandistas e ateus. Destaco daqui os programas Jornal da Record e A Fazenda.

    Seguidamente, vêm Band e SBT. Coloco as duas juntas por perceber, pelo menos na região onde moro, uma ampla aceitação de ambas pela população, sendo a desta por influência de Señor Abravanel (Sílvio Santos) e a daquela por ter os melhores comentaristas e jornalistas futebolísticos e apresentar programação humorística engajada e de qualidade alta. Antes de hipotetizar sobre o porquê dessa aceitação, cito os programas CQC, A Liga, Agora é Tarde e Jogo Aberto pela Band e os programas De Frente com Gabi, Programa Sílvio Santos, A Praça é Nossa e Chaves pelo SBT.

    Por último, vem a Cultura, cuja abordagem será ampliada em réplica e/ou tréplica. Por enquanto, coloco, a nível de curiosidade, o fato de, mesmo com muitos gostando e aprovando a emissora, ela também ser divisora de opiniões, pois há aqueles que fazem elogios à programação diferenciada oferecida e aqueles que acusam a rede de ser apenas mais um reduto estatal da Esquerda Ateia brasileira, apesar da presença de filósofos religiosos e direitistas, como Luiz Felipe Pondé. Daqui, destaco Roda Viva, Café Filosófico, Metrópolis e Provocações.

    Enfim, é isso. Vou abordar um terceiro fator na réplica, apesar de achar que meu caro amigo Roger se adiantará a mim e o abordará já em suas Considerações Iniciais. Ainda assim, passo a palavra a ele e lhe dou a liberdade para ampliar ainda mais (ou não) o alcance que terá nossa discussão

    Octavius, Princeps, Imperator et
    Augustus Romanus
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  2. Eis que eu nunca havia imaginado debater este tema. Não por desmerecê-lo, mas porque pensava eu que não haveria muito a ser dito. E eu estava enganado, certamente.

    Comento já de início a abordagem que o Octávio faz sobre a Rede Globo, que é a emissora lider do país. Vejo que muita gente critica esta emissora, e existem várias causas, entre elas talvez a principal seja a que meu adversário citou, o fato de que supostamente esta emissora não dá a devida cobertura para assuntos mais culturais ou mesmo que sejam relevantes para o futuro. Já de cara eu, pelo menos, descartaria esta visão. Acusar a emissora de alienação cultural é um erro, visto que a programação passada na tela é aquilo que dá maior audiência.

    Por incrível que pareça, programas de humor como Zorra Total ainda tem uma grande audiência, pois por algum motivo a maioria das pessoas ainda assiste este programa. O mesmo serve para os filmes repetidos da sessão da tarde, ou para a Malhação. Enfim, a Rede Globo possui maior audiência na maior parte do dia, mesmo tendo uma programação de baixa qualidade.

    A causa que atribui a isto é simples: A concorrência é pior.

    A Rede Record, embora tenha uma diferenciação em sua programação, comete erros básicos que atingem a camada popular, e um dos principais erros é a repetição. Programas como Domingo Espetacular, que deveria ser comparável ao Fantástico, na realidade faz matérias repetitivas quase toda semana, e são matérias longas, massantes de se assistir. Além disso, por vezes estas mesmas matérias são repetidas em um programa que passa durante a tarde nos dias de semana, chamado "Tudo a Ver".

    O seriado "Todo mundo odeia o Chris", por exemplo, que é muito divertido e até tem um humor inteligente, tem os episódios repetidos à exaustão, fazendo assim com que o telespectador se canse de assistir todo dia as mesmas coisas. Durante a madrugada, a Rede Record é voltada apenas para o programa religioso da IURD, o Fala que eu te escuto. Obviamente, este programa tem uma audiência pífia, já que é visto somente por evangélicos desocupados o suficiente para estarem acordados em meio a madrugada com paciência de ligar para um programa de TV.

    Já o SBT, este sofre de um mal muito, mas muito maior, que ajuda a sua concorrente Rede Globo a ser aquilo que é: A Emissora lider. O Grande problema do SBT é a falta de comprometimento com horários. Se anunciam que um filme irá passar às 22 horas, pode esperar sentado, pois certamente o filme começará após às 23hs. E isso acontece com vários programas, que do dia para a noite têm os horários ou mesmo o dia modificado, fazendo com que o telespectador nunca tenha certeza sobre o que está passando naquele horário.

    Além disso, é claro, mais até do que a Rede Record, o SBT é especialista em imitações enfadonhas de outros programas de outras emissoras ou mesmo de emissoras estrangeiras, e também é expert na repetição da programação.

    Agora, porque estou informando tudo isso? Primeiro, porque achei importante enunciar estes fatos para justificar a liderança da Rede Globo. Embora a programação seja pobre, é menos pobre do que a de sua concorrência. Segundo, porque verifico que é neste ponto que a sociedade peca.

    Por falta de opção, optam pela "menos ruim". Isso faz com que a Rede Globo não só se mantenha na liderança mas que também mantenha sua programação ruim, pois esta programação aparentemente agrada o povo.

    É óbvio que a grande massa prefere novelas e programas com barraco na TV, ao estilo do Big Brother. Mas uma programação mais cultural não é tão bem vinda. A prova disso é a baixa audiência da TV Cultura, justamente enunciada pelo Octávio. Embora passem programas com temas filosóficos, históricos e até mesmo debates interessantes, isso não chama atenção da grande massa.
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  3. Moramos em um país de terceiro mundo, onde a educação é péssima, a qualidade dos empregos e das condições de trabalho não é a melhor possível, e as pessoas, talvez por cultura ou até mesmo por gene, convivem com isso sem muita revolta.

    Então, a relação que eu vejo entre a televisão brasileira e a população brasileira é a do circo, sendo que o pão está nos programas assistencialistas do governo federal. Não há porque um empresário investir em algo que não trará lucros; e eu mesmo, se fosse o dono da Rede Globo, obviamente iria optar por programas como BBB ou Futebol, que é o que dá mais audiência e consequentemente mais lucro.

    Isso não acontece em outros países. Na Inglaterra, por exemplo, a BBC exibe programas culturais, documentários, entrevistas, etc., e isso tem audiência. O mesmo ocorre em outros países. Mas, em um país como o Brasil, não vejo possibilidade de algo melhorar neste sentido.

    A televisão de uma nação reflete aquilo que os cidadãos (maioria) pensam.

    Encerro aqui minhas CIs.
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  4. De tudo que pude captar do meu oponente em suas bem ponderadas Considerações Iniciais, vejo que, de fato, esse debate será produtivo. Afinal, se ele mesmo disse que se enganara em seu julgamento prévio do tema, isso pode ter futuro.

    Concordo plenamente com a causa que Roger atribuiu como motivadora da liderança da Globo. Realmente, a concorrência é pífia e, a não ser pela Cultura e por alguns programas da Band, a Globo acaba sendo muito superior. Há, porém, como ele disse, programa desvalorizados. Ele citou a Cultura. Eu citarei quatro, sendo três da Band e um do SBT.

    Primeiro, vem o CQC. Apesar dos homens de preto terem, em minha opinião, cometido um verdadeiro pênalti ao chutar Rafinha Bastos da emissora, o programa ainda tem sua utilidade pública e um humor bem palatável até mesmo a olhos mais céticos.

    Depois, coloco A Liga. Apesar da audiência relativamente baixa perto dos programas da Globo, entre eles o Profissão Repórter, esse programa é bem mais informativo que qualquer outro do gênero, chegando a ser um verdadeiro estudo filosófico, antropológico e sociológico de temas como o Crack (Ver: http://www.youtube.com/watch?v=tu_P2nAz_lM ), a vida da comunidade LGBT e vários outros. Ainda assim, a boa qualidade do programa não se reflete em números. Novamente, como afirmou Roger, entra o fator cultural na questão.

    O último da BAND é o programa Agora é Tarde. Apresentado por Danilo Gentili, foi um dos únicos programas que, nos últimos tempos, me fez dar boas risadas por mais de 5 minutos sem parar. Ainda assim, sofre com a concorrência do muito mais famoso, mas muito inconstante em qualidade, Programa do Jô, e não consegue níveis de audiência tão elevados quanto merecia.

    Por falar em programa de humor, esse último que vou citar pode arruinar minha reputação, mas o cito do mesmo jeito. O programa que mais fez-me rir nos últimos tempos foi o muito criticado "A Praça é Nossa", do experiente Carlos Alberto de Nóbrega. Quando vejo o programa e vejo as críticas, percebo o quão infundadas estas são. Quem critica deve se basear ou na fama de não-comediante de Carlos Alberto (coisa que o mesmo assume), ou no triênio 2005-2006-2007, quando o programa sofreu uma grande queda de qualidade. Como espectador dos dias de hoje, digo, porém, para darem outra chance ao programa. O humor está mais solto, os personagens são mais cativantes. Pode ser bom.
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  5. Porém, não é tanto isso que está em debate. Como bem notou nosso colega Patrick César, não é debatendo programas específicos que chegaremos a algum lugar. Quero, agora, partir para o terceiro fator que prometi abordar: a televisão como parte da indústria do entretenimento.

    Quem vir o que eu disse acima pode pensar: "Xiii, o marxista já vai vir com aquela enrolação dos frankfurtianos, da coisificação, daquelas porra toda". Pensará, mas pensará errado. Não viemos aqui para CONDENAR a rede X ou Y, mas sim para debater, para fazer um mini-estudo sobre o tema. Além disso, acho a visão frankfurtiana do assunto um pouco ingênua para um mundo capitalista.

    Vou falar da indústria quanto a lucros e ideologia. O meu amigo atribuiu a omissão dos fatos global apenas ao fator audiência. A resposta não está completamente errada, mas ainda está com falta de algo. O verdadeiro porquê de a Globo não destacar esses fatos não é meramente porque não dá audiência, mas sim porque não convém à sua ideologia. E o que os "anti-Globo" do Facebook estão esquecendo é isso: A Globo é uma empresa de entretenimento, não de luta por causas sociais. E na indústria do entretenimento, vale tudo no amor e na guerra. Prova disso é que, mesmo com alguns autores tentando insistir nisso, a Globo não mostrou ainda uma cena com beijo homossexual pois, além de ferir seus telespectadores mais religiosos, não convém aos seus interesses ideológicos e nem aos da maioria.

    Outra coisa: Muitos reclamam também da "falta de ensinamentos" e de engajamento no entretenimento global, mas o detalhe é que, mesmo sendo o didatismo e o engajamento fatores cultural e socialmente interessantes a serem explorados, entretenimento não tem obrigação de ser didático e muito menos de lutar contra o sistema ou pró-qualquer causa. Como o meu colega Roger bem citou, o entretenimento é baseado nas demandas do povo, e as mídias não têm a menor obrigação de desafiar os valores vigentes ou de apoiar o que não queiram. Prova disso é a Record. Muitos reclamam de sua conduta religiosamente preconceituosa, mas se esquecem de que a emissora não é obrigada a apoiar qualquer causa diferente da sua ou que fira os valores do seu principal público

    Após isso, porém, chega o ponto de nossa discordância principal, que é exatamente o fator cultural. Eu diria que meu caro amigo só cometeu um erro nas suas CIs, e foi exatamente sua última frase. Ele expõe muito bem a situação de outras localidades, faz uma comparação validíssima entre a Inglaterra e o Brasil. No entanto, quando ele diz "Mas, em um país como o Brasil, não vejo possibilidade de algo melhorar neste sentido.", ele faz o que o pessoal da Análise do Discurso chama de "incoerência textual". No caso, a incoerência foi externa, pois meu oponente se esquece de que, ao contrário do que muitos pregam, a cultura, assim como a língua e a posição social de cada indivíduo, não é um elemento estático. A cultura é um elemento dinâmico, moldável, mutável, e, portanto, só depende do atual público crítico mudar a situação.
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  6. Como mudar? Ora, simples. Quer cultura "engajada"? Saia da Globo, mas saia mesmo, pois não é ali que você achará. Saia e veja outros horizontes. Veja os programas da Cultura e da Band que eu citei. Já é um começo. Os programas da Cultura, especialmente o Provocações, são um belo começo, pois instigam a pensar diferente. Mas, não saia sozinho. Não foi porque um membro saiu sozinho que o Muro de Berlim foi derrubado. Saia e leve mais gente com você. Mostre-os que o entretenimento pode, mesmo que não necessariamente deva, ser engajado e manter uma boa qualidade. Não adianta apenas ficar no Facebook questionando a Globo ou qualquer das televisões. É preciso agir. E se não quiser a TV, leve para a leitura, para a observação empírica do cotidiano. O meu leitor tem duas opções: Fazer isso e tentar provar que o Roger está errado, ou então apenas criticar pelo Facebook e ver enquanto a Globo, mais competente e mais conhecida que a concorrência, expande, merecidamente (já que o leitor nem tentou agir), sua influência.

    Encerro a réplica e lhe passo a palavra, Roger.
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  7. Bem, vou abordar de cara aquilo que meu oponente julgou como um erro, para justificar o que talvez tenha sido uma mera falha de comunicação.

    É evidente que cultura não é algo estático. Vemos a cultura se alterar diariamente, pouco a pouco, e às vezes até vemos mudanças mais bruscas. De qualquer jeito, minha frase expressa apenas minha opinião. Não acho que a situação vai melhorar, e há um motivo para isso, é óbvio. Eu tenho percebido uma piora contínua no sentido intelectual e no senso crítico das pessoas, e tenho visto até mesmo as pessoas críticas se cansarem e se deixarem empurrar pela massa. Que a cultura vá mudar é coisa certa, mas duvido que vá mudar para melhor. A questão é que, como todos já devem ter notado, eu sou um negativista explícito. Sempre espero o pior. Mas isso é uma posição pessoal. Só isso.

    O Octávio fala sobre o programa CQC, que preferi não mencionar nas minhas considerações iniciais, e concordo com o que diz. Acredito que seja o melhor programa de humor da atualidade, e que tem um tipo de humor crítico inteligente, que nem sempre é tão engraçado, mas ainda assim é muito útil. Só que, por algum motivo, não dá audiência se comparado a programas como A Praça é Nossa e Zorra Total, que são muito ruins em minha opinião e que possuem o humor apelativo ou pastelão, com jargões repetidos e mulheres seminuas.

    Óbvio que para a grande massa da população uma mulher seminua é mais "engraçado" do que um homem de terno preto falando sobre politica em um programa de humor.

    E temos também a cultura do "politicamente correto" aqui no Brasil, onde só não é necessário ser "correto na política". Então muitas piadas do CQC não são devidamente compreendidas ou até são vistas com maus olhos por pessoas que tendem a achar ruim qualquer tipo de crítica contra índole de alguém, ainda que este alguém seja o Paulo Maluf.

    A questão é que na realidade, não se trata apenas de "ideologia" por trás da televisão. Claro, provavelmente a Record nunca passará uma matéria elogiando a igreja católica ou os mórmons, mas isso porque ela é uma emissora abertamente evangélica e todos sabem que o dono dela é também o dono da Igreja Universal. Então, nestes moldes, fica uma coisa muito clara. Agora, a Rede Globo não tem tanto este problema, pois ela até poderia passar uma programação diferenciada ou voltada a causas sociais, e provavelmente faria isso se fosse algo que interessasse ao público geral.

    Mas, agora quero abordar a questão por outro ponto de vista, mantendo o foco geral.

    - Um homem comum, que trabalhe em uma empresa como operador de máquina ou, sei lá, em uma loja como vendedor, tem um serviço massante, repetitivo e cansativo. Após um longo dia de trabalho, ele chega em casa e às vezes ainda tem as responsabilidades do lar.

    Pergunto: Se este homem é alguém com pouco estudo, ele tende a querer assistir um programa que o faça pensar em mais problemas sociais ou ele irá preferir um programa que o distraia dos problemas que ele já possui?

    Eis agora uma grande questão.

    Pessoas que trabalham em áreas que envolvem mais o lado intelectual, a cognição ou mesmo o raciocínio lógico, tendem a pensar mais sobre as coisas. Já alguém que trabalha na construção civil como pedreiro, um carpinteiro, ou vendedor de loja, que é alguém que trabalha muito mais com o corpo do que com a mente, tende a preferir o descanso sempre que possível. E que fique claro que isso é uma generalização, não se aplica a todos, apenas à maioria. Certamente há exceções a isso e não seria capaz de dizer o contrário.

    Mas, a questão da educação - ruim - que a população brasileira tem, associada ao fato de que o Brasil é ainda um país em desenvolvimento, dando muito mais oportunidade para o trabalho braçal do que intelectual, certamente contribui e reflete para este quadro que vivenciamos.

    Deixo esta questão para que meu adversário aborde em sua tréplica.

    Encerro-me por aqui!
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  8. Nesta réplica, meu adversário deu algumas brechas para eu entrar e destruir alguns de seus argumentos.

    Primeiro, ele faz o correto e admite seu erro como emissor no processo comunicativo. O problema é que ele admitiu um erro e criou outro, desta vez no campo pragmático da coisa, quando se justificou dizendo ser um negativista e que, portanto, não tem uma visão otimista na maioria dos casos. Até aí, tudo bem. O erro grave foi a forma como ele se expressou em suas considerações iniciais. Se ele tivesse dito "não acho, sinceramente, que a coisa tende a melhorar", eu nada teria a questionar, pois isso seria uma opinião pessoalíssima e que envolveria apenas as impressões de Roger, ou seja, um achismo não-justificado. Porém, quando ele disse "não vejo possibilidade", ele, mesmo sem querer, inferiu que, pelo menos em tese, procurou todas as possibilidades possíveis no conjunto e nada achou que pudesse guiá-lo. O problema nisso é simples: ele justificou o achismo. Só que justificou não com base no mundo exterior de fato, mas apenas com base em suas impressões do mundo e em sua realidade, generalizando o que na verdade é particular. Eu, por exemplo, poderia mostrar a minha realidade como contra-exemplo, pois passo boa parte do tempo em um ambiente onde o que deve fluir são novas ideias, não o velho ranço do que a TV passa, e o que flui são, de fato, ideias mais culturais sobre o mundo e sobre entretenimento. Ou seja, esse argumento dele foi pro espaço.

    Depois, ele fez algo que eu não esperava e que eu, muito particularmente, odeio, e que, em uma análise fria da situação, pode ser sua ruína principal aqui: apelou para o "politicamente correto". O problema não foi tanto usar o termo, mas sim aplicá-lo como culpado pela má compreensão das piadas e como algo, portanto, prejudicial. Na verdade, ser politicamente correto NADA tem de errado. O que as pessoas não veem é que, se não fosse essa nova cultura, que não necessariamente é inferior à cultura anterior, mas sim diferente, pois não se fala de inferioridade de cultura, questões como o Bullying, o Aborto, a Homofobia e o Racismo estariam ainda sendo tratadas como causas perdidas. O que traz malefício não é o politicamente correto. Ele traz é benefícios, traz novas discussões, novos horizontes. O problema é usá-lo com interesses de censura, mas essa restrição não foi feita pelo meu oponente em momento algum de sua réplica. Ou seja, esse argumento também foi fracamente usado.

    Em seguida, meu oponente falha de novo ao inferir, mesmo não intencionadamente, que eu restringi o tópico "apenas" a ideologias, quando não fiz isso, já que deixei bem claro que ele mesmo já havia respondido metade da minha questão. O problema nem foi tanto esse, mas sim depois, quando ele afirma que a Rede Globo não tem tanto o problema da Record sendo que, de fato, a Globo tem esse problema em um grau até maior, pois, mesmo sendo uma empresa riquíssima, ainda depende de contratos com PATROCINADORES e, se o que a Globo passar for contra a ideologia desses patrocinadores, acabou o papo e a rede. Mais uma vez, é a indústria do entretenimento agindo e provando que, se há algum culpado pela nossa situação, definitivamente não são as redes de televisão. E muito menos o é o sistema.
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  9. O culpado pela qualidade dos programas é só um: o povo! E isso é direcionado especialmente aos críticos da Globo e da Mídia pois, ao invés de tomarem uma postura ou organizar algo melhor, vivem de críticas e mais nada.

    Fala-se muito da nossa formação acomodada, mas mesmo com a nossa formação sociohistórica tendendo a um jeito populista e paternalista de ser, ninguém é obrigado a manter-se desse jeito. Aliás, fazer isso quer dizer consentir com a situação. Como diria Immanuel Kant em um de seus imperativos, é você que deve ser o exemplo que quer dar ao mundo. Se você não gosta da Globo, do SBT ou da Record, não assista e incentive outros a não assistirem também. Bem simples e democrático. Se ninguém assistir, haverá duas opções: fechar as portas ou mudar o jeito de fazer televisão. Resta saber qual opção será escolhida.

    Finalmente, talvez a única parte efetiva da réplica do meu adversário seja seu último argumento. Ainda assim, a solução não é impossível. O problema do atual entretenimento é que ele é muito banal ou muito informativo. E diz-se, na área de Análise do Discurso, que um texto informativo demais cansa o leitor ou, no caso, telespectador. O que deve ser feito, e que motivaria o telespectador a assistir mais programas desse tipo, são duas coisas. Primeiro, tratar as questões de forma mais leve, mais bem-humorada. Até aí o CQC vai bem. O problema é que eles não fazem o segundo, que é não ser panfletarista. Esses telespectadores, meu caro, por mais incrível que pareça, tem uma consciência política fantástica, e não aceitam a chamada demagogia. O problema é que os programas acabam sendo demagógicos demais, pois quando seus interesses estão em jogo, dane-se o público. E algo que tencione a trazer cultura não pode ser assim.

    Com isso, finalizo minha tréplica e espero pelas sábias palavras de meu oponente
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  10. Não sei mesmo se o Octávio está falando sério sobre esse papo de erro pragmático. Sei que ele não é nenhum tapado, por isso, acho mesmo é que está utilizando isso mais como um artifício retórico de distração do que propriamente como uma verdade. E claro que isso não é nada que saia das regras do jogo, já que, afinal de contas, todo mundo quer vencer.

    Mas, pra explicar que não há absolutamente erro algum, vou reescrever exatamente o que eu disse na introdução e que gerou este alvoroço no meu oponente:

    "Mas, em um país como o Brasil, não vejo possibilidade de algo melhorar neste sentido." (Roger)

    O que se pode presumir desta frase, caros leitores?

    Simples:

    1 - Ao usar o verbo "ver" na primeira pessoa do singular, o "eu", deixo evidente que estou falando de mim mesmo, de minha visão a respeito do assunto.

    2 - Quando afirmo não ver a possibilidade de melhora, significa apenas isso, que EU não vejo esta possibilidade. Não quer dizer que não exista ou que seja impossível que ela venha a existir.

    3 - Por ser uma afirmação simples e reta, não deixa margem a interpretação alguma, o que destrói a tática no mínimo suspeita do meu oponente em atribuir um erro pragmático inexistente na oração. E como é só uma opinião pessoal, não tenho porque justificá-la, já que não se trata de um argumento.

    Talvez ele diga que é um especialista em linguística e me 'humilhe' nas considerações finais, mas eu duvido que ele fará isso. Sei que é um cara esperto e saberá deixar este assunto de lado, já que ficou evidente a sua intenção boba aqui.

    Mas, seguindo no que realmente é o tema do debate, parece que meu oponente ficou um pouco confuso ou fingiu uma imensa confusão com relação a tudo o que eu lhe disse. Digo que é possível ele ter fingido esta confusão porque é um defensor claro da ideia de que a culpa é sempre do emissor da mensagem, mas, como o que importa mesmo é o voto dos leitores no final e o aprendizado que tiramos daqui, não acho que isso vai ter importância.
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  11. Para começar, algumas confusões que encontrei foram as seguintes:

    1 - "Na verdade, ser politicamente correto NADA tem de errado." (Octávio)

    Nunca disse que ser politicamente correto é errado. O que eu disse, isto sim, é que a forma como o brasileiro utiliza o termo é prejudicial e distorcida. Citei como exemplo o programa CQC e suas piadas que, por vezes, atingem a índole de algum político corrupto. Vendo pelo lado correto e legal, não é crime dizer que um político corrupto é corrupto. Crime seria chamar um político honesto de corrupto, o que se enquadraria em crime de calúnia.

    Onde quero chegar com isso é que, quando citei o termo "politicamente correto", entre aspas, estava me referindo na verdade ao que é incorreto, como ocultar as facetas de gente que rouba a nação. Por isso, disse o seguinte:

    "...muitas piadas do CQC não são devidamente compreendidas ou até são vistas com maus olhos por pessoas que tendem a achar ruim qualquer tipo de crítica contra índole de alguém, ainda que este alguém seja o Paulo Maluf." (Roger)

    O erro ocorre na tentativa pífia do meu adversário em fingir que não entendeu o que eu disse. Mas sei que os leitores terão capacidade para compreender claramente o que quis dizer.

    2 - "Em seguida, meu oponente falha de novo ao inferir, mesmo não intencionadamente, que eu restringi o tópico "apenas" a ideologias, quando não fiz isso..." (Octávio)

    E não fez mesmo. Por isso, justamente, não disse que ele fez. Vejamos o que eu realmente escrevi sobre isso:

    "A questão é que na realidade, não se trata apenas de "ideologia" por trás da televisão." (Roger)

    Como podem ver, eu não disse nada sobre o Octávio neste pensamento, e não disse que ele restringiu coisa alguma. Este é o único trecho de minha réplica onde menciono a palavra ideologia. Por este motivo, acho que o meu adversário está delirando.

    Mas, sobre a questão dos patrocinadores, não achei que fosse necessário falar isso até então porque julgo que todos os leitores, assim como meu próprio adversário, sabem que aqueles comerciais que passam entre a programação na TV não são de graça. Enfim, pareço ter superestimado meu adversário, embora esteja certo de que os leitores já soubessem disso.

    ___
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  12. Agora, deixando de lado o campo retórico pelo qual meu adversário resolveu entrar desarmado e nu, seguirei o raciocínio dentro do que realmente interessa, que é o tema do debate.

    "O culpado pela qualidade dos programas é só um: o povo!" [2]

    Faço coro a esta afirmação, que fique claro. É aliás o que defendi em minhas duas participações anteriores, pois digo justamente que a programação escolhida pela emissora é aquela que dá maior audiência, mesmo que não seja a melhor programação que ela tenha.

    Há alguns anos a Rede Globo comprou o direito para passar os jogos da Liga de Tênis, e acabou não passando. Isso ocorreu porque, embora a audiência fosse boa, não era tão boa quanto a do futebol. Então ela preferiu comprar os direitos de exibição para que as emissoras concorrentes não tivessem como disputar com ela. Alguns chamariam isso de jogo sujo, mas eu chamo de oportunismo e sagacidade. Não valia a pena a Rede Globo dividir audiência com outra emissora, já que a sua maior audiência é justamente com o futebol, e tudo isso porque o povo gosta.

    Mas o que realmente não entendo é quando o Octávio fala em demagogia. E fica estranho para alguém que se diz um grande estudioso da língua com métodos modernos, porque ele contradiz em seu pensamento exatamente o que é o conceito de demagogia.

    Caso alguém não saiba, a demagogia é, numa definição bem simples, "dizer aquilo que o povo quer ouvir, ainda que seja falso". Há variações, mas no fundo é isso. Se trata justamente de fazer aquilo que agrada as massas populares, um discurso bonito que se utiliza da semiótica para escapar da racionalização. E o que o Octávio diz é justamente contrário a isto.

    Ele diz que os telespectadores não aceitam a demagogia e que são politicamente conscientes. Será mesmo? Se formos entrar em um modo amplo da questão, generalizando a massa, certamente esta afirmação está equivocada e, justamente, o ibope das emissoras mostra isso. Se demagogia fosse algo repudiado pelos telespectadores, como meu adversário diz, então porque a maioria continua assistindo à Rede Globo, que é uma emissora amplamente demagógica, enquanto poderiam assistir a concorrência, que é muito menos demagógica, como a TV Cultura? Mas, quanto a consciência política, vou preferir considerar que foi apenas um engano, uma má expressão por parte do Octávio, pois este pensamento contradiz tanto o seu discurso que parece nem ter sido escrito por ele.

    E o mais importante de tudo, é que por algum motivo meu oponente resolveu desconsiderar justamente o argumento que ele diz ter sido a única coisa válida em minha réplica. E por este motivo, irei repeti-lo, pra ver se ele aproveita suas CFs e aborda a questão.

    CÓPIA:


    - Um homem comum, que trabalhe em uma empresa como operador de máquina ou, sei lá, em uma loja como vendedor, tem um serviço massante, repetitivo e cansativo. Após um longo dia de trabalho, ele chega em casa e às vezes ainda tem as responsabilidades do lar.

    Pergunto: Se este homem é alguém com pouco estudo, ele tende a querer assistir um programa que o faça pensar em mais problemas sociais ou ele irá preferir um programa que o distraia dos problemas que ele já possui?
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  13. Meu adversário, pelo visto, não leu muito do que eu disse, e não entendeu muito do que eu já expliquei.

    Primeiro, Roger tenta explicar o que ele quis dizer com a frase para a qual lhe chamei a atenção. Isso nada tem de errado, nem de desviante. O problema é quando ele diz que sua oração "não dá margem a qualquer interpretação". O problema deste absurdo comunicativo é exatamente o fato de que Roger afirma isso se lembrando do que eu havia dito, baseando-me não em minha opinião pessoal, mas nas teses dos grandes teóricos da comunicação escrita: É o emissor que tem que ser o mais claro possível. O detalhe é que não é só isso que basta: o emissor também deve ser polido, como foi o Roger durante este debate, para que o leitor não se perca na leitura nem perca o interesse, e deve MOTIVAR O LEITOR A PRODUZIR A RESPOSTA QUE QUER. O problema da frase do Roger foi exatamente esse, e que ele percebeu: como estamos em um duelo retórico, ele deve ser claríssimo já de cara para que eu não "apronte" com os artifícios.

    Depois, ele erra quanto ao que eu falaria, esquecendo-se de que muito aprendi nos debates. Não vou falar que sou um especialista em Linguística, primeiro porque não sou, e segundo porque qualquer dos nossos leitores pode fazer exatamente a interpretação que fiz, seja ele um advogado, administrador de empresas, ou um vestibulando do cursinho ITA. Não é preciso ser especialista em Linguística nem em interpretação para saber que a sua frase, Roger, deu margem à minha "sacanagem retórica". E também não é preciso saber Linguística para saber que "cada cabeça, uma sentença". Eu e você demos as nossas interpretações. Um leitor com visão de mundo diferente da de ambos pode nos dizer que não estamos interpretando bem, e mesmo que creiamos que ele, receptor, errou, não podemos afirmá-lo com total certeza, pois sua mensagem, caro Roger, foi tudo, menos clara e sem interpretações marginais.

    Em seguida, vem um tonel de besteiras e ad hominem por parte do meu nobre amigo, que deve ter dado uma vacilada cerebral naquele momento.

    Primeiro, é bom deixar claro que não entrei nu no campo retórico e creio ter acabado de prová-lo, além de não ser exatamente no campo retórico que quero entrar desse jeito (se é que os leitores me entendem).
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  14. Piadoscas à parte, o que meu oponente fez o tempo inteiro foi negar justamente o que antes dissera. Primeiramente, ele fala que não disse que o "politicamente correto" é ruim, mas sim a forma como é usado. Porém, ele não falou "cultura de uso errado do politicamente correto", e sim, ipsis litteris, "E temos também a cultura do "politicamente correto" aqui no Brasil,". Ou seja, mais uma vez, faltou a restrição semântica por parte de meu oponente. Sei, obviamente, que muitos leitores não compactuarão com minha visão tanto sobre o "politicamente correto" quanto sobre ao que Roger afirma, mas acho que todos sabemos a diferença entre "ter uma cultura X" e "usar cultura X erroneamente". Aliás, até mesmo esse uso do politicamente correto está sendo bem menos prejudicial do que se pensa, pois os programas de humor como o próprio CQC estão dando a volta por cima. Não é necessário fazer críticas tão diretas. Aliás, o humorista hoje considerado um dos maiores do mundo, o falecido Chico Anysio, era louvado por todas as classes por mostrar um senso crítico sem tanto panfletarismo, criticando, indiretamente, até mesmo a própria estrutura da televisão brasileira. E não precisava ser "politicamente incorreto" para isso. A questão é que há MUITO mimimi quanto a isso e pouca reflexão, sendo que o programa que recentemente foi vítima desse "uso", o CQC, está dando uma bela volta por cima. Além disso, se realmente usassemos o politicamente correto do modo tão grotesco quanto falam, até mesmo o "inocente" Chaves, tão adorado pelo público infanto-juvenil e até adulto, não escaparia, como demonstrado argumentativamente em: http://duelosretoricos.blogspot.com.br/2012/03/octavio-x-lucas-chaves.html

    Segundamente, meu oponente não disse que eu restringi a problemática à ideologia. Fato. Mas, eu não havia dito que ele disse, mas sim que inferiu. Dizer é uma coisa, inferir é outra, e uma análise menos profunda da situação já seria capaz de analisar que você, de fato, inferiu que eu restringira o tema à ideologia, quando utilizou "não se trata apenas de ideologias...". Ao invés disso, poderia ter deixado de se complicar e usado "como meu oponente colocou, a questão não é só de concorrência, mas também de ideologia, não se restringindo a qualquer dos dois".

    Depois, ele explicita o seu principal erro: julgar o leitor. Ele julga que o leitor sabe da história dos patrocinadores, mas não julga que o leitor possa saber que foi por ir contra a ideologia dos patrocinadores muitas vezes e "ofender" a honra de um que Rafinha Bastos foi convidado a se ausentar do CQC.

    Em seguida, meu oponente coloca o ponto em que concordamos de forma bem clara, inclusive com o exemplo da Liga de Tênis. Porém, quando fala de "demagogia", creio que ele restringiu um pouco na questão semântica. É óbvio que o povo aceita seus próprios valores. Porém, o significado popular para demagogia é diferente do dicionarial. E é a esse que me refiro. A etimologia popular classifica "demagogia" como o falar muito e nada fazer. E isso, definitivamente, não é do caráter global, que é o de agir antes de falar, manipular os bastidores. E é disso que esse povo pragmático gosta. O que eles não toleram é programas que falam muito e pouco fazem.
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  15. Tenho um exemplo para isso e que, por incrível que pareça, não será um argumento com apelo à historinha de família. Minha mãe e meu pai, duas pessoas que não ligam para política mas que sabem MUITO dela, por causa das experiências e desilusões que tiveram, não assistem o CQC de jeito nenhum. Quando pergunto a eles o porquê disso, eles respondem que criticar e falar é fácil, difícil é fazer melhor que quem está lá, e acusam, corretamente, o programa de ser demagógico. E isso não só eles dizem. Conheci pessoas por todo o Brasil que dizem o mesmo e que tem consciência política aguçada. O detalhe é: o povo é pragmático, não teórico. O povo quer ação. E não é por isso que não tem consciência política, pois é composto de pessoas experientes, que viveram e que viram muita desilusão alheia com isso. Esse negócio do "homem pobre e tolo" é exceção e mito esquerdista para tentar calar certos órgãos de imprensa. E, no fim do dia, a rede menos demagógica, pelo menos na etimologia popular, é a própria Globo. Daí vem boa explicação para seu sucesso.

    Para finalizar, digo que o homem tende a querer assistir o programa que o distraia dos problemas. Mas:

    CÓPIA:

    Ainda assim, a solução não é impossível. O problema do atual entretenimento é que ele é muito banal ou muito informativo. E diz-se, na área de Análise do Discurso, que um texto informativo demais cansa o leitor ou, no caso, telespectador. O que deve ser feito, e que motivaria o telespectador a assistir mais programas desse tipo, são duas coisas. Primeiro, tratar as questões de forma mais leve, mais bem-humorada. Até aí o CQC vai bem. O problema é que eles não fazem o segundo, que é não ser panfletarista. Esses telespectadores, meu caro, por mais incrível que pareça, tem uma consciência política fantástica, e não aceitam a chamada demagogia. O problema é que os programas acabam sendo demagógicos demais, pois quando seus interesses estão em jogo, dane-se o público. E algo que tencione a trazer cultura não pode ser assim.

    Resumindo, eu nem precisei responder diretamente sua pergunta para dar uma solução.

    Enfim, é isso. Mais discordâncias do que pensávamos, muito foi dito, muito faltou, mas é assim no mundo dos debates. Como eu adiantei na réplica, isto é apenas um mini-estudo. Para ampliá-lo, é só haver outros debates, com outros participantes. Reforço a minha tese de que o que se passa na televisão é questão de destruir a concorrência e manter a fidelidade com o ideal popular e dos patrocinadores, elogio a Globo nesse sentido e critico os revolucionários do sofá que muito falam, mas na hora do vamos ver ficam só na TV assistindo justamente à rede que tanto odeiam.

    Encerro minhas participações.

    Octavius, Princeps, Imperator et Augustus Romanus
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  16. O que é uma falácia Ad Hominem?

    Embora muitos saibam, vale reforçar: Ad hominem é um argumento falacioso que ataca o autor de uma proposição sem atacar a proposição.

    No caso deste debate, não ataquei a pessoa do Octávio Henrique, e muito menos deixei de atacar as proposições dele. Aliás, o que fiz foi o inverso do ad hominem, uma vez que não deixei em momento algum de expor ou mesmo de refutar os argumentos do meu oponente.

    Por isso, quando ele diz que usei esta falácia, não só está mentindo como certamente está tentando enganar a todos com essa mentira. A minha tranquilidade quanto a isto é grande, pois a maior parte dos eleitores é bem experiente e irá notar claramente o que digo. Mesmo assim, não me custava fazer este reforço.

    Continuando, penso que a partir da tréplica meu oponente esqueceu do tema e resolveu procurar falhas inexistentes em meu discurso. Como não as encontrou, partiu pra semântica, que é um campo onde podemos discutir qualquer frase ao infinito, sem nunca chegarmos a uma conclusão.

    Ele repete que cometi um erro, e eu repito que isso é artifício retórico. Minha frase, aquela que eu copiei na tréplica, é muito clara e bem simples, e por isso não dá margem a interpretação nenhuma. É apenas uma frase que expressa a minha opinião sobre um assunto e pronto. Ao insistir nisso, acho que meu oponente pecou por duas vezes, já que além de ter explicado o sentido da frase no sentido subjetivo que ela carrega, eu também a expliquei na forma linguística dos termos, e, sobre linguística, meu oponente entende bastante, o que mostra que essa atitude de insistir em apontar o meu "erro" não passa de uma tática infame que nada tem de produtivo.

    Pra variar, como não foi capaz de localizar as tais falhas que ele gostaria de ter encontrado, ele discute MAIS SEMÂNTICA, e ainda apresenta conceitos meramente subjetivos que ele próprio carrega sobre as palavras.

    Não vou falar de novo sobre o "politicamente correto", sei que isso ficou bem claro desde o começo e que o Octávio apenas usou isso contra mim por achar que ia colar. Mas não colou. O que vou fazer, então, é partir direto para a Demagogia, pois ele não só não assumiu o seu equívoco - o que teria sido louvável - como também reforçou este erro.

    "Porém, quando fala de "demagogia", creio que ele restringiu um pouco na questão semântica. É óbvio que o povo aceita seus próprios valores. Porém, o significado popular para demagogia é diferente do dicionarial (sic)." (Octávio)

    Primeiro, se é pra falar em semântica, começo dizendo que a palavra "dicionarial" nem mesmo existe. Mas, como ainda assim é possível compreender o que ele diz, a oração continua sendo válida. Agora, no início da frase ele me acusa de restringir à questão semântica, enquanto em suas considerações finais ele falou somente de semântica.

    Mas o ponto principal mesmo é que não consigo achar outra coisa senão graça quando uma pessoa vem nos dizer que "a palavra não tem o significado do dicionário"... Ora, se não tem o significado do dicionário, então para quê serve o dicionário? E mais estranho ainda fica a definição pessoal que ele coloca, pra tentar ocultar um evidente equívoco, quando diz que "demagogia é falar e não fazer".

    Poderia considerar isso, é claro, como uma variação do termo, mas da forma como ele colocou dá para ver que não é este o caso. "Este é o significado popular da palavra", ele diria. Só que, eu pergunto aos leitores: Quem é o Octávio Henrique para nos dizer que o significado popular é este, sendo que justamente ele disse que cultura é algo mutável, e também sabemos que as diferenças culturais de uma região para a outra são enormes, e as palavras acabam tendo uma significação diferente em cada lugar?
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  17. Isso me pareceu uma tentativa pífia de esconder seu erro, já que ele aponta uma informação inverificável. Para saber se as pessoas acham que este é o significado de demagogia, precisaríamos sair por aí perguntando a todo mundo e aposto que não chegaríamos a nenhum consenso.

    Língua é convenção. E é para isso que serve o dicionário. Lá estão os significados das palavras segundo a cultura de um país ou região. E dizer que demagogia é "falar e não fazer" é como jogar no lixo o trabalho daqueles que realmente são especialistas no assunto.

    Então, vou repetir, o significado de "Demagogia" é falar/dizer aquilo que o povo quer ouvir/ver ainda que não seja verdade. Discursos populistas, por exemplo, são demagógicos porque inflamam o coração das massas ao falar sobre melhorias na saúde ou aumento no salário mínimo.

    Agora, visto que já perdi muito tempo na questão semântica criada pelo meu adversário e não por mim, vou partir para a finalização do debate tentando manter o foco no tema, coisa que meu oponente perdeu desde sua réplica.

    ___

    Uma emissora de TV é uma empresa, que tem patrocinadores, acionistas, e um núcleo de pessoas que decidem o rumo. Algumas empresas têm envolvimento em causas sociais, como é o caso da Globo. Isso é demagógico, porque está na moda, a população valoriza ações sociais em periferias e vilarejos afastados, ou aquelas propagandas bem elaboradas para "combater" o uso de drogas.

    O discurso do meu oponente, a partir do momento em que ele entra na ideia de que a população prefere a prática do que a teoria, contradiz tudo o que havia sido dito antes por ele próprio. Simplesmente, não é isso que a realidade nos mostra, e repito, a audiência da Rede Globo serve como estatística para uma boa comparação.

    Vamos pegar aqui dois programas de humor, sendo um o CQC e o outro o Casseta & Planeta. O primeiro, além de ser engajado em questões políticas importantes, conta com uma dinâmica diferente, na qual os repórteres vão direto à fonte entrevistar de forma jocosa os políticos do senado ou do congresso. Há alguns quadros no programa onde os repórteres vão verificar problemas em uma determinada localidade, eles entram em contato com a prefeitura local ou com quem quer que seja responsável pelas obras da região e fazem uma certa pressão, além de constrangerem o político responsável - ou irresponsável - por aquela ação.

    O segundo, Casseta & Planeta, é justamente o oposto, é demagógico. Diz aquilo que o povo quer ouvir e na prática não faz absolutamente nada. Faz piadas com políticos, mas não vai verificar nada do que diz. Enfim, é um programa que faz piadas pastelão sem muito conteúdo elucidativo, sem exercer uma ação em si.
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  18. É claro, a televisão é entretenimento, e não tem obrigação alguma de realizar ações políticas. Mas, mesmo assim, a audiência do Casseta & Planeta é maior que a do CQC, o que prova que a população EM GERAL não prefere a prática, e por isso mesmo não é pragmática, como meu oponente afirma.

    No fim, penso que como foi ele quem propôs o tema poderia ter-se aprofundado mais na questão, como eu tentei fazer na réplica com aquele questionamento simples.

    Esse papo de "homem pobre e tolo" é coisa de gente ignorante. Eu nunca disse que pobres são tolos, e nunca diria. Até porque eu nem mesmo usei a palavra 'pobre'. A situação hipotética que apresentei versava sobre um homem trabalhador braçal, que não usa o esforço mental pra exercer sua função, e que chegaria em casa cansado com seus problemas diários, e que por isso ele provavelmente iria preferir um programa que o distraísse dos seus problemas e não um que o trouxesse novos problemas.

    No fundo, esta hipótese teria sido muito importante para a discussão, porque não é só o fator social ou cultural que influencia, mas o fator psicológico também. De modo geral, as pessoas têm seus problemas diários e querem ver TV para se distrair, para relaxar, para rir um pouco, e não para pensar sobre os problemas da sociedade e do mundo. E isso também deve ser um fator importante para explicar a liderança da Rede Globo e a baixa audiência de uma emissora como a TV Cultura.

    Infelizmente, meu oponente preferiu ficar na semântica e não disse nada de importante neste sentido. Por isso, sem mais nada a dizer, encerro minha participação e por conseguinte o debate.

    Fim.

20 comentários:

  1. Bem, como fui eu que desafiei meu oponente, creio ser melhor dar o pontapé inicial nesse bom debate. Foi graças aos conselhos do grande Chicão que decidimos debater este tema, sobre o qual pouco discordamos, mas muito temos a falar, acredito.

    Para começar a conversa, quero abordar, sem muita delonga, deixando as delongas para as próximas participações, dois fatores cujas relações com as camadas populares estão muitíssimo evidentes: as emissoras e programas que temos disponíveis atualmente.

    No tocante às emissoras, ater-me-ei às principais da TV aberta, já que são essas aquelas a que a maioria certamente tem acesso., destacando também os programas a serem abordados. Em primeiro lugar (literalmente), temos a tão detestada Rede Globo. A justificativa para toda a repugnância aos "globais" está no fato de essa emissora, segundo os críticos, não dar a devida importância a fatos decisivos para o futuro. Gostaria, antes de postar minha hipótese sobre, de saber que motivos meu oponente vê para essa omissão de fatos acontecer. Desta rede, destaco o famoso Jornal Nacional, a novela das 22h, o BBB e a cobertura futebolística do Globo Esporte.

    Em segundo lugar, vem a Rede Record, que divide opiniões. Se por um lado há os que a elogiam por apresentar uma visão independe daquela da Globo, outros, por outro lado, fazem duras críticas, pois a Record, rede comandada por um evangélico, teria um posicionamento religiosamente preconceituoso especialmentes com umbandistas e ateus. Destaco daqui os programas Jornal da Record e A Fazenda.

    Seguidamente, vêm Band e SBT. Coloco as duas juntas por perceber, pelo menos na região onde moro, uma ampla aceitação de ambas pela população, sendo a desta por influência de Señor Abravanel (Sílvio Santos) e a daquela por ter os melhores comentaristas e jornalistas futebolísticos e apresentar programação humorística engajada e de qualidade alta. Antes de hipotetizar sobre o porquê dessa aceitação, cito os programas CQC, A Liga, Agora é Tarde e Jogo Aberto pela Band e os programas De Frente com Gabi, Programa Sílvio Santos, A Praça é Nossa e Chaves pelo SBT.

    Por último, vem a Cultura, cuja abordagem será ampliada em réplica e/ou tréplica. Por enquanto, coloco, a nível de curiosidade, o fato de, mesmo com muitos gostando e aprovando a emissora, ela também ser divisora de opiniões, pois há aqueles que fazem elogios à programação diferenciada oferecida e aqueles que acusam a rede de ser apenas mais um reduto estatal da Esquerda Ateia brasileira, apesar da presença de filósofos religiosos e direitistas, como Luiz Felipe Pondé. Daqui, destaco Roda Viva, Café Filosófico, Metrópolis e Provocações.

    Enfim, é isso. Vou abordar um terceiro fator na réplica, apesar de achar que meu caro amigo Roger se adiantará a mim e o abordará já em suas Considerações Iniciais. Ainda assim, passo a palavra a ele e lhe dou a liberdade para ampliar ainda mais (ou não) o alcance que terá nossa discussão

    Octavius, Princeps, Imperator et
    Augustus Romanus

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  4. De tudo que pude captar do meu oponente em suas bem ponderadas Considerações Iniciais, vejo que, de fato, esse debate será produtivo. Afinal, se ele mesmo disse que se enganara em seu julgamento prévio do tema, isso pode ter futuro.

    Concordo plenamente com a causa que Roger atribuiu como motivadora da liderança da Globo. Realmente, a concorrência é pífia e, a não ser pela Cultura e por alguns programas da Band, a Globo acaba sendo muito superior. Há, porém, como ele disse, programa desvalorizados. Ele citou a Cultura. Eu citarei quatro, sendo três da Band e um do SBT.

    Primeiro, vem o CQC. Apesar dos homens de preto terem, em minha opinião, cometido um verdadeiro pênalti ao chutar Rafinha Bastos da emissora, o programa ainda tem sua utilidade pública e um humor bem palatável até mesmo a olhos mais céticos.

    Depois, coloco A Liga. Apesar da audiência relativamente baixa perto dos programas da Globo, entre eles o Profissão Repórter, esse programa é bem mais informativo que qualquer outro do gênero, chegando a ser um verdadeiro estudo filosófico, antropológico e sociológico de temas como o Crack (Ver: http://www.youtube.com/watch?v=tu_P2nAz_lM ), a vida da comunidade LGBT e vários outros. Ainda assim, a boa qualidade do programa não se reflete em números. Novamente, como afirmou Roger, entra o fator cultural na questão.

    O último da BAND é o programa Agora é Tarde. Apresentado por Danilo Gentili, foi um dos únicos programas que, nos últimos tempos, me fez dar boas risadas por mais de 5 minutos sem parar. Ainda assim, sofre com a concorrência do muito mais famoso, mas muito inconstante em qualidade, Programa do Jô, e não consegue níveis de audiência tão elevados quanto merecia.

    Por falar em programa de humor, esse último que vou citar pode arruinar minha reputação, mas o cito do mesmo jeito. O programa que mais fez-me rir nos últimos tempos foi o muito criticado "A Praça é Nossa", do experiente Carlos Alberto de Nóbrega. Quando vejo o programa e vejo as críticas, percebo o quão infundadas estas são. Quem critica deve se basear ou na fama de não-comediante de Carlos Alberto (coisa que o mesmo assume), ou no triênio 2005-2006-2007, quando o programa sofreu uma grande queda de qualidade. Como espectador dos dias de hoje, digo, porém, para darem outra chance ao programa. O humor está mais solto, os personagens são mais cativantes. Pode ser bom.

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  5. Porém, não é tanto isso que está em debate. Como bem notou nosso colega Patrick César, não é debatendo programas específicos que chegaremos a algum lugar. Quero, agora, partir para o terceiro fator que prometi abordar: a televisão como parte da indústria do entretenimento.

    Quem vir o que eu disse acima pode pensar: "Xiii, o marxista já vai vir com aquela enrolação dos frankfurtianos, da coisificação, daquelas porra toda". Pensará, mas pensará errado. Não viemos aqui para CONDENAR a rede X ou Y, mas sim para debater, para fazer um mini-estudo sobre o tema. Além disso, acho a visão frankfurtiana do assunto um pouco ingênua para um mundo capitalista.

    Vou falar da indústria quanto a lucros e ideologia. O meu amigo atribuiu a omissão dos fatos global apenas ao fator audiência. A resposta não está completamente errada, mas ainda está com falta de algo. O verdadeiro porquê de a Globo não destacar esses fatos não é meramente porque não dá audiência, mas sim porque não convém à sua ideologia. E o que os "anti-Globo" do Facebook estão esquecendo é isso: A Globo é uma empresa de entretenimento, não de luta por causas sociais. E na indústria do entretenimento, vale tudo no amor e na guerra. Prova disso é que, mesmo com alguns autores tentando insistir nisso, a Globo não mostrou ainda uma cena com beijo homossexual pois, além de ferir seus telespectadores mais religiosos, não convém aos seus interesses ideológicos e nem aos da maioria.

    Outra coisa: Muitos reclamam também da "falta de ensinamentos" e de engajamento no entretenimento global, mas o detalhe é que, mesmo sendo o didatismo e o engajamento fatores cultural e socialmente interessantes a serem explorados, entretenimento não tem obrigação de ser didático e muito menos de lutar contra o sistema ou pró-qualquer causa. Como o meu colega Roger bem citou, o entretenimento é baseado nas demandas do povo, e as mídias não têm a menor obrigação de desafiar os valores vigentes ou de apoiar o que não queiram. Prova disso é a Record. Muitos reclamam de sua conduta religiosamente preconceituosa, mas se esquecem de que a emissora não é obrigada a apoiar qualquer causa diferente da sua ou que fira os valores do seu principal público

    Após isso, porém, chega o ponto de nossa discordância principal, que é exatamente o fator cultural. Eu diria que meu caro amigo só cometeu um erro nas suas CIs, e foi exatamente sua última frase. Ele expõe muito bem a situação de outras localidades, faz uma comparação validíssima entre a Inglaterra e o Brasil. No entanto, quando ele diz "Mas, em um país como o Brasil, não vejo possibilidade de algo melhorar neste sentido.", ele faz o que o pessoal da Análise do Discurso chama de "incoerência textual". No caso, a incoerência foi externa, pois meu oponente se esquece de que, ao contrário do que muitos pregam, a cultura, assim como a língua e a posição social de cada indivíduo, não é um elemento estático. A cultura é um elemento dinâmico, moldável, mutável, e, portanto, só depende do atual público crítico mudar a situação.

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  6. Como mudar? Ora, simples. Quer cultura "engajada"? Saia da Globo, mas saia mesmo, pois não é ali que você achará. Saia e veja outros horizontes. Veja os programas da Cultura e da Band que eu citei. Já é um começo. Os programas da Cultura, especialmente o Provocações, são um belo começo, pois instigam a pensar diferente. Mas, não saia sozinho. Não foi porque um membro saiu sozinho que o Muro de Berlim foi derrubado. Saia e leve mais gente com você. Mostre-os que o entretenimento pode, mesmo que não necessariamente deva, ser engajado e manter uma boa qualidade. Não adianta apenas ficar no Facebook questionando a Globo ou qualquer das televisões. É preciso agir. E se não quiser a TV, leve para a leitura, para a observação empírica do cotidiano. O meu leitor tem duas opções: Fazer isso e tentar provar que o Roger está errado, ou então apenas criticar pelo Facebook e ver enquanto a Globo, mais competente e mais conhecida que a concorrência, expande, merecidamente (já que o leitor nem tentou agir), sua influência.

    Encerro a réplica e lhe passo a palavra, Roger.

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  7. Bem, vou abordar de cara aquilo que meu oponente julgou como um erro, para justificar o que talvez tenha sido uma mera falha de comunicação.

    É evidente que cultura não é algo estático. Vemos a cultura se alterar diariamente, pouco a pouco, e às vezes até vemos mudanças mais bruscas. De qualquer jeito, minha frase expressa apenas minha opinião. Não acho que a situação vai melhorar, e há um motivo para isso, é óbvio. Eu tenho percebido uma piora contínua no sentido intelectual e no senso crítico das pessoas, e tenho visto até mesmo as pessoas críticas se cansarem e se deixarem empurrar pela massa. Que a cultura vá mudar é coisa certa, mas duvido que vá mudar para melhor. A questão é que, como todos já devem ter notado, eu sou um negativista explícito. Sempre espero o pior. Mas isso é uma posição pessoal. Só isso.

    O Octávio fala sobre o programa CQC, que preferi não mencionar nas minhas considerações iniciais, e concordo com o que diz. Acredito que seja o melhor programa de humor da atualidade, e que tem um tipo de humor crítico inteligente, que nem sempre é tão engraçado, mas ainda assim é muito útil. Só que, por algum motivo, não dá audiência se comparado a programas como A Praça é Nossa e Zorra Total, que são muito ruins em minha opinião e que possuem o humor apelativo ou pastelão, com jargões repetidos e mulheres seminuas.

    Óbvio que para a grande massa da população uma mulher seminua é mais "engraçado" do que um homem de terno preto falando sobre politica em um programa de humor.

    E temos também a cultura do "politicamente correto" aqui no Brasil, onde só não é necessário ser "correto na política". Então muitas piadas do CQC não são devidamente compreendidas ou até são vistas com maus olhos por pessoas que tendem a achar ruim qualquer tipo de crítica contra índole de alguém, ainda que este alguém seja o Paulo Maluf.

    A questão é que na realidade, não se trata apenas de "ideologia" por trás da televisão. Claro, provavelmente a Record nunca passará uma matéria elogiando a igreja católica ou os mórmons, mas isso porque ela é uma emissora abertamente evangélica e todos sabem que o dono dela é também o dono da Igreja Universal. Então, nestes moldes, fica uma coisa muito clara. Agora, a Rede Globo não tem tanto este problema, pois ela até poderia passar uma programação diferenciada ou voltada a causas sociais, e provavelmente faria isso se fosse algo que interessasse ao público geral.

    Mas, agora quero abordar a questão por outro ponto de vista, mantendo o foco geral.

    - Um homem comum, que trabalhe em uma empresa como operador de máquina ou, sei lá, em uma loja como vendedor, tem um serviço massante, repetitivo e cansativo. Após um longo dia de trabalho, ele chega em casa e às vezes ainda tem as responsabilidades do lar.

    Pergunto: Se este homem é alguém com pouco estudo, ele tende a querer assistir um programa que o faça pensar em mais problemas sociais ou ele irá preferir um programa que o distraia dos problemas que ele já possui?

    Eis agora uma grande questão.

    Pessoas que trabalham em áreas que envolvem mais o lado intelectual, a cognição ou mesmo o raciocínio lógico, tendem a pensar mais sobre as coisas. Já alguém que trabalha na construção civil como pedreiro, um carpinteiro, ou vendedor de loja, que é alguém que trabalha muito mais com o corpo do que com a mente, tende a preferir o descanso sempre que possível. E que fique claro que isso é uma generalização, não se aplica a todos, apenas à maioria. Certamente há exceções a isso e não seria capaz de dizer o contrário.

    Mas, a questão da educação - ruim - que a população brasileira tem, associada ao fato de que o Brasil é ainda um país em desenvolvimento, dando muito mais oportunidade para o trabalho braçal do que intelectual, certamente contribui e reflete para este quadro que vivenciamos.

    Deixo esta questão para que meu adversário aborde em sua tréplica.

    Encerro-me por aqui!

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  8. Nesta réplica, meu adversário deu algumas brechas para eu entrar e destruir alguns de seus argumentos.

    Primeiro, ele faz o correto e admite seu erro como emissor no processo comunicativo. O problema é que ele admitiu um erro e criou outro, desta vez no campo pragmático da coisa, quando se justificou dizendo ser um negativista e que, portanto, não tem uma visão otimista na maioria dos casos. Até aí, tudo bem. O erro grave foi a forma como ele se expressou em suas considerações iniciais. Se ele tivesse dito "não acho, sinceramente, que a coisa tende a melhorar", eu nada teria a questionar, pois isso seria uma opinião pessoalíssima e que envolveria apenas as impressões de Roger, ou seja, um achismo não-justificado. Porém, quando ele disse "não vejo possibilidade", ele, mesmo sem querer, inferiu que, pelo menos em tese, procurou todas as possibilidades possíveis no conjunto e nada achou que pudesse guiá-lo. O problema nisso é simples: ele justificou o achismo. Só que justificou não com base no mundo exterior de fato, mas apenas com base em suas impressões do mundo e em sua realidade, generalizando o que na verdade é particular. Eu, por exemplo, poderia mostrar a minha realidade como contra-exemplo, pois passo boa parte do tempo em um ambiente onde o que deve fluir são novas ideias, não o velho ranço do que a TV passa, e o que flui são, de fato, ideias mais culturais sobre o mundo e sobre entretenimento. Ou seja, esse argumento dele foi pro espaço.

    Depois, ele fez algo que eu não esperava e que eu, muito particularmente, odeio, e que, em uma análise fria da situação, pode ser sua ruína principal aqui: apelou para o "politicamente correto". O problema não foi tanto usar o termo, mas sim aplicá-lo como culpado pela má compreensão das piadas e como algo, portanto, prejudicial. Na verdade, ser politicamente correto NADA tem de errado. O que as pessoas não veem é que, se não fosse essa nova cultura, que não necessariamente é inferior à cultura anterior, mas sim diferente, pois não se fala de inferioridade de cultura, questões como o Bullying, o Aborto, a Homofobia e o Racismo estariam ainda sendo tratadas como causas perdidas. O que traz malefício não é o politicamente correto. Ele traz é benefícios, traz novas discussões, novos horizontes. O problema é usá-lo com interesses de censura, mas essa restrição não foi feita pelo meu oponente em momento algum de sua réplica. Ou seja, esse argumento também foi fracamente usado.

    Em seguida, meu oponente falha de novo ao inferir, mesmo não intencionadamente, que eu restringi o tópico "apenas" a ideologias, quando não fiz isso, já que deixei bem claro que ele mesmo já havia respondido metade da minha questão. O problema nem foi tanto esse, mas sim depois, quando ele afirma que a Rede Globo não tem tanto o problema da Record sendo que, de fato, a Globo tem esse problema em um grau até maior, pois, mesmo sendo uma empresa riquíssima, ainda depende de contratos com PATROCINADORES e, se o que a Globo passar for contra a ideologia desses patrocinadores, acabou o papo e a rede. Mais uma vez, é a indústria do entretenimento agindo e provando que, se há algum culpado pela nossa situação, definitivamente não são as redes de televisão. E muito menos o é o sistema.

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  9. O culpado pela qualidade dos programas é só um: o povo! E isso é direcionado especialmente aos críticos da Globo e da Mídia pois, ao invés de tomarem uma postura ou organizar algo melhor, vivem de críticas e mais nada.

    Fala-se muito da nossa formação acomodada, mas mesmo com a nossa formação sociohistórica tendendo a um jeito populista e paternalista de ser, ninguém é obrigado a manter-se desse jeito. Aliás, fazer isso quer dizer consentir com a situação. Como diria Immanuel Kant em um de seus imperativos, é você que deve ser o exemplo que quer dar ao mundo. Se você não gosta da Globo, do SBT ou da Record, não assista e incentive outros a não assistirem também. Bem simples e democrático. Se ninguém assistir, haverá duas opções: fechar as portas ou mudar o jeito de fazer televisão. Resta saber qual opção será escolhida.

    Finalmente, talvez a única parte efetiva da réplica do meu adversário seja seu último argumento. Ainda assim, a solução não é impossível. O problema do atual entretenimento é que ele é muito banal ou muito informativo. E diz-se, na área de Análise do Discurso, que um texto informativo demais cansa o leitor ou, no caso, telespectador. O que deve ser feito, e que motivaria o telespectador a assistir mais programas desse tipo, são duas coisas. Primeiro, tratar as questões de forma mais leve, mais bem-humorada. Até aí o CQC vai bem. O problema é que eles não fazem o segundo, que é não ser panfletarista. Esses telespectadores, meu caro, por mais incrível que pareça, tem uma consciência política fantástica, e não aceitam a chamada demagogia. O problema é que os programas acabam sendo demagógicos demais, pois quando seus interesses estão em jogo, dane-se o público. E algo que tencione a trazer cultura não pode ser assim.

    Com isso, finalizo minha tréplica e espero pelas sábias palavras de meu oponente

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  11. Para começar, algumas confusões que encontrei foram as seguintes:

    1 - "Na verdade, ser politicamente correto NADA tem de errado." (Octávio)

    Nunca disse que ser politicamente correto é errado. O que eu disse, isto sim, é que a forma como o brasileiro utiliza o termo é prejudicial e distorcida. Citei como exemplo o programa CQC e suas piadas que, por vezes, atingem a índole de algum político corrupto. Vendo pelo lado correto e legal, não é crime dizer que um político corrupto é corrupto. Crime seria chamar um político honesto de corrupto, o que se enquadraria em crime de calúnia.

    Onde quero chegar com isso é que, quando citei o termo "politicamente correto", entre aspas, estava me referindo na verdade ao que é incorreto, como ocultar as facetas de gente que rouba a nação. Por isso, disse o seguinte:

    "...muitas piadas do CQC não são devidamente compreendidas ou até são vistas com maus olhos por pessoas que tendem a achar ruim qualquer tipo de crítica contra índole de alguém, ainda que este alguém seja o Paulo Maluf." (Roger)

    O erro ocorre na tentativa pífia do meu adversário em fingir que não entendeu o que eu disse. Mas sei que os leitores terão capacidade para compreender claramente o que quis dizer.

    2 - "Em seguida, meu oponente falha de novo ao inferir, mesmo não intencionadamente, que eu restringi o tópico "apenas" a ideologias, quando não fiz isso..." (Octávio)

    E não fez mesmo. Por isso, justamente, não disse que ele fez. Vejamos o que eu realmente escrevi sobre isso:

    "A questão é que na realidade, não se trata apenas de "ideologia" por trás da televisão." (Roger)

    Como podem ver, eu não disse nada sobre o Octávio neste pensamento, e não disse que ele restringiu coisa alguma. Este é o único trecho de minha réplica onde menciono a palavra ideologia. Por este motivo, acho que o meu adversário está delirando.

    Mas, sobre a questão dos patrocinadores, não achei que fosse necessário falar isso até então porque julgo que todos os leitores, assim como meu próprio adversário, sabem que aqueles comerciais que passam entre a programação na TV não são de graça. Enfim, pareço ter superestimado meu adversário, embora esteja certo de que os leitores já soubessem disso.

    ___

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  12. Agora, deixando de lado o campo retórico pelo qual meu adversário resolveu entrar desarmado e nu, seguirei o raciocínio dentro do que realmente interessa, que é o tema do debate.

    "O culpado pela qualidade dos programas é só um: o povo!" [2]

    Faço coro a esta afirmação, que fique claro. É aliás o que defendi em minhas duas participações anteriores, pois digo justamente que a programação escolhida pela emissora é aquela que dá maior audiência, mesmo que não seja a melhor programação que ela tenha.

    Há alguns anos a Rede Globo comprou o direito para passar os jogos da Liga de Tênis, e acabou não passando. Isso ocorreu porque, embora a audiência fosse boa, não era tão boa quanto a do futebol. Então ela preferiu comprar os direitos de exibição para que as emissoras concorrentes não tivessem como disputar com ela. Alguns chamariam isso de jogo sujo, mas eu chamo de oportunismo e sagacidade. Não valia a pena a Rede Globo dividir audiência com outra emissora, já que a sua maior audiência é justamente com o futebol, e tudo isso porque o povo gosta.

    Mas o que realmente não entendo é quando o Octávio fala em demagogia. E fica estranho para alguém que se diz um grande estudioso da língua com métodos modernos, porque ele contradiz em seu pensamento exatamente o que é o conceito de demagogia.

    Caso alguém não saiba, a demagogia é, numa definição bem simples, "dizer aquilo que o povo quer ouvir, ainda que seja falso". Há variações, mas no fundo é isso. Se trata justamente de fazer aquilo que agrada as massas populares, um discurso bonito que se utiliza da semiótica para escapar da racionalização. E o que o Octávio diz é justamente contrário a isto.

    Ele diz que os telespectadores não aceitam a demagogia e que são politicamente conscientes. Será mesmo? Se formos entrar em um modo amplo da questão, generalizando a massa, certamente esta afirmação está equivocada e, justamente, o ibope das emissoras mostra isso. Se demagogia fosse algo repudiado pelos telespectadores, como meu adversário diz, então porque a maioria continua assistindo à Rede Globo, que é uma emissora amplamente demagógica, enquanto poderiam assistir a concorrência, que é muito menos demagógica, como a TV Cultura? Mas, quanto a consciência política, vou preferir considerar que foi apenas um engano, uma má expressão por parte do Octávio, pois este pensamento contradiz tanto o seu discurso que parece nem ter sido escrito por ele.

    E o mais importante de tudo, é que por algum motivo meu oponente resolveu desconsiderar justamente o argumento que ele diz ter sido a única coisa válida em minha réplica. E por este motivo, irei repeti-lo, pra ver se ele aproveita suas CFs e aborda a questão.

    CÓPIA:


    - Um homem comum, que trabalhe em uma empresa como operador de máquina ou, sei lá, em uma loja como vendedor, tem um serviço massante, repetitivo e cansativo. Após um longo dia de trabalho, ele chega em casa e às vezes ainda tem as responsabilidades do lar.

    Pergunto: Se este homem é alguém com pouco estudo, ele tende a querer assistir um programa que o faça pensar em mais problemas sociais ou ele irá preferir um programa que o distraia dos problemas que ele já possui?

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  13. Meu adversário, pelo visto, não leu muito do que eu disse, e não entendeu muito do que eu já expliquei.

    Primeiro, Roger tenta explicar o que ele quis dizer com a frase para a qual lhe chamei a atenção. Isso nada tem de errado, nem de desviante. O problema é quando ele diz que sua oração "não dá margem a qualquer interpretação". O problema deste absurdo comunicativo é exatamente o fato de que Roger afirma isso se lembrando do que eu havia dito, baseando-me não em minha opinião pessoal, mas nas teses dos grandes teóricos da comunicação escrita: É o emissor que tem que ser o mais claro possível. O detalhe é que não é só isso que basta: o emissor também deve ser polido, como foi o Roger durante este debate, para que o leitor não se perca na leitura nem perca o interesse, e deve MOTIVAR O LEITOR A PRODUZIR A RESPOSTA QUE QUER. O problema da frase do Roger foi exatamente esse, e que ele percebeu: como estamos em um duelo retórico, ele deve ser claríssimo já de cara para que eu não "apronte" com os artifícios.

    Depois, ele erra quanto ao que eu falaria, esquecendo-se de que muito aprendi nos debates. Não vou falar que sou um especialista em Linguística, primeiro porque não sou, e segundo porque qualquer dos nossos leitores pode fazer exatamente a interpretação que fiz, seja ele um advogado, administrador de empresas, ou um vestibulando do cursinho ITA. Não é preciso ser especialista em Linguística nem em interpretação para saber que a sua frase, Roger, deu margem à minha "sacanagem retórica". E também não é preciso saber Linguística para saber que "cada cabeça, uma sentença". Eu e você demos as nossas interpretações. Um leitor com visão de mundo diferente da de ambos pode nos dizer que não estamos interpretando bem, e mesmo que creiamos que ele, receptor, errou, não podemos afirmá-lo com total certeza, pois sua mensagem, caro Roger, foi tudo, menos clara e sem interpretações marginais.

    Em seguida, vem um tonel de besteiras e ad hominem por parte do meu nobre amigo, que deve ter dado uma vacilada cerebral naquele momento.

    Primeiro, é bom deixar claro que não entrei nu no campo retórico e creio ter acabado de prová-lo, além de não ser exatamente no campo retórico que quero entrar desse jeito (se é que os leitores me entendem).

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  14. Piadoscas à parte, o que meu oponente fez o tempo inteiro foi negar justamente o que antes dissera. Primeiramente, ele fala que não disse que o "politicamente correto" é ruim, mas sim a forma como é usado. Porém, ele não falou "cultura de uso errado do politicamente correto", e sim, ipsis litteris, "E temos também a cultura do "politicamente correto" aqui no Brasil,". Ou seja, mais uma vez, faltou a restrição semântica por parte de meu oponente. Sei, obviamente, que muitos leitores não compactuarão com minha visão tanto sobre o "politicamente correto" quanto sobre ao que Roger afirma, mas acho que todos sabemos a diferença entre "ter uma cultura X" e "usar cultura X erroneamente". Aliás, até mesmo esse uso do politicamente correto está sendo bem menos prejudicial do que se pensa, pois os programas de humor como o próprio CQC estão dando a volta por cima. Não é necessário fazer críticas tão diretas. Aliás, o humorista hoje considerado um dos maiores do mundo, o falecido Chico Anysio, era louvado por todas as classes por mostrar um senso crítico sem tanto panfletarismo, criticando, indiretamente, até mesmo a própria estrutura da televisão brasileira. E não precisava ser "politicamente incorreto" para isso. A questão é que há MUITO mimimi quanto a isso e pouca reflexão, sendo que o programa que recentemente foi vítima desse "uso", o CQC, está dando uma bela volta por cima. Além disso, se realmente usassemos o politicamente correto do modo tão grotesco quanto falam, até mesmo o "inocente" Chaves, tão adorado pelo público infanto-juvenil e até adulto, não escaparia, como demonstrado argumentativamente em: http://duelosretoricos.blogspot.com.br/2012/03/octavio-x-lucas-chaves.html

    Segundamente, meu oponente não disse que eu restringi a problemática à ideologia. Fato. Mas, eu não havia dito que ele disse, mas sim que inferiu. Dizer é uma coisa, inferir é outra, e uma análise menos profunda da situação já seria capaz de analisar que você, de fato, inferiu que eu restringira o tema à ideologia, quando utilizou "não se trata apenas de ideologias...". Ao invés disso, poderia ter deixado de se complicar e usado "como meu oponente colocou, a questão não é só de concorrência, mas também de ideologia, não se restringindo a qualquer dos dois".

    Depois, ele explicita o seu principal erro: julgar o leitor. Ele julga que o leitor sabe da história dos patrocinadores, mas não julga que o leitor possa saber que foi por ir contra a ideologia dos patrocinadores muitas vezes e "ofender" a honra de um que Rafinha Bastos foi convidado a se ausentar do CQC.

    Em seguida, meu oponente coloca o ponto em que concordamos de forma bem clara, inclusive com o exemplo da Liga de Tênis. Porém, quando fala de "demagogia", creio que ele restringiu um pouco na questão semântica. É óbvio que o povo aceita seus próprios valores. Porém, o significado popular para demagogia é diferente do dicionarial. E é a esse que me refiro. A etimologia popular classifica "demagogia" como o falar muito e nada fazer. E isso, definitivamente, não é do caráter global, que é o de agir antes de falar, manipular os bastidores. E é disso que esse povo pragmático gosta. O que eles não toleram é programas que falam muito e pouco fazem.

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  15. Tenho um exemplo para isso e que, por incrível que pareça, não será um argumento com apelo à historinha de família. Minha mãe e meu pai, duas pessoas que não ligam para política mas que sabem MUITO dela, por causa das experiências e desilusões que tiveram, não assistem o CQC de jeito nenhum. Quando pergunto a eles o porquê disso, eles respondem que criticar e falar é fácil, difícil é fazer melhor que quem está lá, e acusam, corretamente, o programa de ser demagógico. E isso não só eles dizem. Conheci pessoas por todo o Brasil que dizem o mesmo e que tem consciência política aguçada. O detalhe é: o povo é pragmático, não teórico. O povo quer ação. E não é por isso que não tem consciência política, pois é composto de pessoas experientes, que viveram e que viram muita desilusão alheia com isso. Esse negócio do "homem pobre e tolo" é exceção e mito esquerdista para tentar calar certos órgãos de imprensa. E, no fim do dia, a rede menos demagógica, pelo menos na etimologia popular, é a própria Globo. Daí vem boa explicação para seu sucesso.

    Para finalizar, digo que o homem tende a querer assistir o programa que o distraia dos problemas. Mas:

    CÓPIA:

    Ainda assim, a solução não é impossível. O problema do atual entretenimento é que ele é muito banal ou muito informativo. E diz-se, na área de Análise do Discurso, que um texto informativo demais cansa o leitor ou, no caso, telespectador. O que deve ser feito, e que motivaria o telespectador a assistir mais programas desse tipo, são duas coisas. Primeiro, tratar as questões de forma mais leve, mais bem-humorada. Até aí o CQC vai bem. O problema é que eles não fazem o segundo, que é não ser panfletarista. Esses telespectadores, meu caro, por mais incrível que pareça, tem uma consciência política fantástica, e não aceitam a chamada demagogia. O problema é que os programas acabam sendo demagógicos demais, pois quando seus interesses estão em jogo, dane-se o público. E algo que tencione a trazer cultura não pode ser assim.

    Resumindo, eu nem precisei responder diretamente sua pergunta para dar uma solução.

    Enfim, é isso. Mais discordâncias do que pensávamos, muito foi dito, muito faltou, mas é assim no mundo dos debates. Como eu adiantei na réplica, isto é apenas um mini-estudo. Para ampliá-lo, é só haver outros debates, com outros participantes. Reforço a minha tese de que o que se passa na televisão é questão de destruir a concorrência e manter a fidelidade com o ideal popular e dos patrocinadores, elogio a Globo nesse sentido e critico os revolucionários do sofá que muito falam, mas na hora do vamos ver ficam só na TV assistindo justamente à rede que tanto odeiam.

    Encerro minhas participações.

    Octavius, Princeps, Imperator et Augustus Romanus

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  16. O que é uma falácia Ad Hominem?

    Embora muitos saibam, vale reforçar: Ad hominem é um argumento falacioso que ataca o autor de uma proposição sem atacar a proposição.

    No caso deste debate, não ataquei a pessoa do Octávio Henrique, e muito menos deixei de atacar as proposições dele. Aliás, o que fiz foi o inverso do ad hominem, uma vez que não deixei em momento algum de expor ou mesmo de refutar os argumentos do meu oponente.

    Por isso, quando ele diz que usei esta falácia, não só está mentindo como certamente está tentando enganar a todos com essa mentira. A minha tranquilidade quanto a isto é grande, pois a maior parte dos eleitores é bem experiente e irá notar claramente o que digo. Mesmo assim, não me custava fazer este reforço.

    Continuando, penso que a partir da tréplica meu oponente esqueceu do tema e resolveu procurar falhas inexistentes em meu discurso. Como não as encontrou, partiu pra semântica, que é um campo onde podemos discutir qualquer frase ao infinito, sem nunca chegarmos a uma conclusão.

    Ele repete que cometi um erro, e eu repito que isso é artifício retórico. Minha frase, aquela que eu copiei na tréplica, é muito clara e bem simples, e por isso não dá margem a interpretação nenhuma. É apenas uma frase que expressa a minha opinião sobre um assunto e pronto. Ao insistir nisso, acho que meu oponente pecou por duas vezes, já que além de ter explicado o sentido da frase no sentido subjetivo que ela carrega, eu também a expliquei na forma linguística dos termos, e, sobre linguística, meu oponente entende bastante, o que mostra que essa atitude de insistir em apontar o meu "erro" não passa de uma tática infame que nada tem de produtivo.

    Pra variar, como não foi capaz de localizar as tais falhas que ele gostaria de ter encontrado, ele discute MAIS SEMÂNTICA, e ainda apresenta conceitos meramente subjetivos que ele próprio carrega sobre as palavras.

    Não vou falar de novo sobre o "politicamente correto", sei que isso ficou bem claro desde o começo e que o Octávio apenas usou isso contra mim por achar que ia colar. Mas não colou. O que vou fazer, então, é partir direto para a Demagogia, pois ele não só não assumiu o seu equívoco - o que teria sido louvável - como também reforçou este erro.

    "Porém, quando fala de "demagogia", creio que ele restringiu um pouco na questão semântica. É óbvio que o povo aceita seus próprios valores. Porém, o significado popular para demagogia é diferente do dicionarial (sic)." (Octávio)

    Primeiro, se é pra falar em semântica, começo dizendo que a palavra "dicionarial" nem mesmo existe. Mas, como ainda assim é possível compreender o que ele diz, a oração continua sendo válida. Agora, no início da frase ele me acusa de restringir à questão semântica, enquanto em suas considerações finais ele falou somente de semântica.

    Mas o ponto principal mesmo é que não consigo achar outra coisa senão graça quando uma pessoa vem nos dizer que "a palavra não tem o significado do dicionário"... Ora, se não tem o significado do dicionário, então para quê serve o dicionário? E mais estranho ainda fica a definição pessoal que ele coloca, pra tentar ocultar um evidente equívoco, quando diz que "demagogia é falar e não fazer".

    Poderia considerar isso, é claro, como uma variação do termo, mas da forma como ele colocou dá para ver que não é este o caso. "Este é o significado popular da palavra", ele diria. Só que, eu pergunto aos leitores: Quem é o Octávio Henrique para nos dizer que o significado popular é este, sendo que justamente ele disse que cultura é algo mutável, e também sabemos que as diferenças culturais de uma região para a outra são enormes, e as palavras acabam tendo uma significação diferente em cada lugar?

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  17. Isso me pareceu uma tentativa pífia de esconder seu erro, já que ele aponta uma informação inverificável. Para saber se as pessoas acham que este é o significado de demagogia, precisaríamos sair por aí perguntando a todo mundo e aposto que não chegaríamos a nenhum consenso.

    Língua é convenção. E é para isso que serve o dicionário. Lá estão os significados das palavras segundo a cultura de um país ou região. E dizer que demagogia é "falar e não fazer" é como jogar no lixo o trabalho daqueles que realmente são especialistas no assunto.

    Então, vou repetir, o significado de "Demagogia" é falar/dizer aquilo que o povo quer ouvir/ver ainda que não seja verdade. Discursos populistas, por exemplo, são demagógicos porque inflamam o coração das massas ao falar sobre melhorias na saúde ou aumento no salário mínimo.

    Agora, visto que já perdi muito tempo na questão semântica criada pelo meu adversário e não por mim, vou partir para a finalização do debate tentando manter o foco no tema, coisa que meu oponente perdeu desde sua réplica.

    ___

    Uma emissora de TV é uma empresa, que tem patrocinadores, acionistas, e um núcleo de pessoas que decidem o rumo. Algumas empresas têm envolvimento em causas sociais, como é o caso da Globo. Isso é demagógico, porque está na moda, a população valoriza ações sociais em periferias e vilarejos afastados, ou aquelas propagandas bem elaboradas para "combater" o uso de drogas.

    O discurso do meu oponente, a partir do momento em que ele entra na ideia de que a população prefere a prática do que a teoria, contradiz tudo o que havia sido dito antes por ele próprio. Simplesmente, não é isso que a realidade nos mostra, e repito, a audiência da Rede Globo serve como estatística para uma boa comparação.

    Vamos pegar aqui dois programas de humor, sendo um o CQC e o outro o Casseta & Planeta. O primeiro, além de ser engajado em questões políticas importantes, conta com uma dinâmica diferente, na qual os repórteres vão direto à fonte entrevistar de forma jocosa os políticos do senado ou do congresso. Há alguns quadros no programa onde os repórteres vão verificar problemas em uma determinada localidade, eles entram em contato com a prefeitura local ou com quem quer que seja responsável pelas obras da região e fazem uma certa pressão, além de constrangerem o político responsável - ou irresponsável - por aquela ação.

    O segundo, Casseta & Planeta, é justamente o oposto, é demagógico. Diz aquilo que o povo quer ouvir e na prática não faz absolutamente nada. Faz piadas com políticos, mas não vai verificar nada do que diz. Enfim, é um programa que faz piadas pastelão sem muito conteúdo elucidativo, sem exercer uma ação em si.

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  18. É claro, a televisão é entretenimento, e não tem obrigação alguma de realizar ações políticas. Mas, mesmo assim, a audiência do Casseta & Planeta é maior que a do CQC, o que prova que a população EM GERAL não prefere a prática, e por isso mesmo não é pragmática, como meu oponente afirma.

    No fim, penso que como foi ele quem propôs o tema poderia ter-se aprofundado mais na questão, como eu tentei fazer na réplica com aquele questionamento simples.

    Esse papo de "homem pobre e tolo" é coisa de gente ignorante. Eu nunca disse que pobres são tolos, e nunca diria. Até porque eu nem mesmo usei a palavra 'pobre'. A situação hipotética que apresentei versava sobre um homem trabalhador braçal, que não usa o esforço mental pra exercer sua função, e que chegaria em casa cansado com seus problemas diários, e que por isso ele provavelmente iria preferir um programa que o distraísse dos seus problemas e não um que o trouxesse novos problemas.

    No fundo, esta hipótese teria sido muito importante para a discussão, porque não é só o fator social ou cultural que influencia, mas o fator psicológico também. De modo geral, as pessoas têm seus problemas diários e querem ver TV para se distrair, para relaxar, para rir um pouco, e não para pensar sobre os problemas da sociedade e do mundo. E isso também deve ser um fator importante para explicar a liderança da Rede Globo e a baixa audiência de uma emissora como a TV Cultura.

    Infelizmente, meu oponente preferiu ficar na semântica e não disse nada de importante neste sentido. Por isso, sem mais nada a dizer, encerro minha participação e por conseguinte o debate.

    Fim.

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  19. Rede Globo, que é uma emissora amplamente demagógica, enquanto poderiam assistir a concorrência, que é muito menos demagógica, como a TV Cultura? (Roger)

    Acho essa conclusão meio precipitada, já que por uma lado sim e por outro não, no caso vejo que a globo ameniza determinada situação e outras emissoras amplificam, as duas são formas de manipulação, que pode entrar no contexto de demagogia que vocês estão usando. Já a TV cultura é ate exceção já que há espaço para tratar profundamente de temas, facilitando uma informação abrangente. É importante fazermos comparações proporcionais.

    Porém, o significado popular para demagogia é diferente do dicionarial. E é a esse que me refiro. A etimologia popular classifica "demagogia" como o falar muito e nada fazer. E isso, definitivamente, não é do caráter global, que é o de agir antes de falar, manipular os bastidores. E é disso que esse povo pragmático gosta. O que eles não toleram é programas que falam muito e pouco fazem. Octavio

    Estranho esse foco do Octavio em estabelecer o significado que ele quer para a palavra,rsrs mas tudo bem. Não entendi muito bem esse agir antes de falar, seria tipo editar a matéria antes de transmiti-la? Normal pra qualquer emissora, nada de especial aqui. Sua conclusão é extremamente precipitada, já que quem expressa essa opinião também caem no mesmo erro de falar que não toleram esse tipo de programa mas que na verdade assistem fielmente, hehe.

    O detalhe é: o povo é pragmático, não teórico. O povo quer ação. E não é por isso que não tem consciência política, pois é composto de pessoas experientes, que viveram e que viram muita desilusão alheia com isso. Esse negócio do "homem pobre e tolo" é exceção e mito esquerdista para tentar calar certos órgãos de imprensa. E, no fim do dia, a rede menos demagógica, pelo menos na etimologia popular, é a própria Globo. Daí vem boa explicação para seu sucesso.(Octavio)

    Penso da mesma maneira sobre a globo, mas esse lance do povo gostar de ação, aqui no Brasil, você empolgou legal, só se for ação de boteco, falar que “faz e acontece” e tudo fica na mesma. Povo que espera ação e não tem simplesmente age, isso não tem no Brasil. A melhor explicação pro sucesso da globo ainda é a tradição, o hábito de ligar nela influenciado pela melhor qualidade da imagem e de programas tradicionais. É ainda o primeiro canal que as pessoas pensam na hora de ligar a TV.

    Esses telespectadores, meu caro, por mais incrível que pareça, tem uma consciência política fantástica, e não aceitam a chamada demagogia. O problema é que os programas acabam sendo demagógicos demais, pois quando seus interesses estão em jogo, dane-se o público. E algo que tencione a trazer cultura não pode ser assim.(Octavio)

    E Põe incrível nisso! Nem eu será capaz de tamanha teoria conspiratória Octavio,hehehe, chamar de fantástica a consciência política do brasileiro é realmente fantástico. Mesmo que subestimemos essa consciência jamais podemos chamá-la de fantástica mesmo por que é das piores do mundo.
    “Demagógico demais” é esquisito também, qual é o parâmetro de demagogia? E ela é justamente para atrair o publico, o “dane-se” fica complicado aqui também, e falar em jogo de interesses é chover no molhado, já que explica um comportamento óbvio.

    O verdadeiro porquê de a Globo não destacar esses fatos não é meramente porque não dá audiência, mas sim porque não convém à sua ideologia. E o que os "anti-Globo" do Facebook estão esquecendo é isso: A Globo é uma empresa de entretenimento, não de luta por causas sociais. E na indústria do entretenimento, vale tudo no amor e na guerra. Prova disso é que, mesmo com alguns autores tentando insistir nisso, a Globo não mostrou ainda uma cena com beijo homossexual pois, além de ferir seus telespectadores mais religiosos, não convém aos seus interesses ideológicos e nem aos da maioria. Octavio

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  20. Ficou confuso seus termos pois ideologia parece relacionar mais a “causas sociais” e audiência a entretenimento, fica parecendo que sua explicação contradiz a afirmação inicial. A globo mostra de maneira mais branda essas cenas muito mais pela questão de audiência, já que há ainda uma parcela grande do publico mais conservador e que ainda contribui para formação de opinião, que são os idosos da geração pré anos 60.

    A cultura é um elemento dinâmico, moldável, mutável, e, portanto, só depende do atual público crítico mudar a situação.
    Como mudar? Ora, simples. Quer cultura "engajada"? Saia da Globo, mas saia mesmo, pois não é ali que você achará. Saia e veja outros horizontes.
    Não adianta apenas ficar no Facebook questionando a Globo ou qualquer das televisões. É preciso agir.(Octavio)

    Isso ta bem panfleto ideológico demagogo, na verdade as mudanças vem dos formadores de opinião que são intelectuais de modo geral e professores, a mídia, numa sociedade relativamente livre segue apenas a onda, mesmo por que é muito risco investir em algo que não vai “vingar”. A questão da mudança são as tendências a moda, e o Roger vai falar disso.


    Reforço a minha tese de que o que se passa na televisão é questão de destruir a concorrência e manter a fidelidade com o ideal popular e dos patrocinadores, elogio a Globo nesse sentido e critico os revolucionários do sofá que muito falam, mas na hora do vamos ver ficam só na TV assistindo justamente à rede que tanto odeiam.(Octavio)

    Melhor parte sua! É a mesma critica que faço aos oportunistas e transvertido de pacifistas, criticando e dando soluções para conflitos e crises que jamais fariam na pratica, o engraçado é ver um socialista, que são mestres nisso, como esse argumento,hehehe

    Algumas empresas têm envolvimento em causas sociais, como é o caso da Globo. Isso é demagógico, porque está na moda, a população valoriza ações sociais em periferias e vilarejos afastados, ou aquelas propagandas bem elaboradas para "combater" o uso de drogas.
    De modo geral, as pessoas têm seus problemas diários e querem ver TV para se distrair, para relaxar, para rir um pouco, e não para pensar sobre os problemas da sociedade e do mundo.(Roger)

    Perfeito Roger, e votaria em quem citasse ou comentasse sobre essa realidade, essa é a chave de tudo,moda, tendência! As empresas em geral são escravas disso, sobrevivem na busca de tendências antecipando a moda e sendo pioneiras na divulgação ou oferta para a demanda especifica. Interessante que nunca discuti com ninguém que falasse ou aceitasse esse argumento e agora vejo o Roger falando disso. Você aprendeu comigo Roger?rsrsrs

    Voto no Roger pois alem de tudo o Octavio cismou em desviar o foco ao atacá-lo em um ponto desnecessário e que não tinha peso nenhum para o debate.

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