quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Alex Cruz X Roberta Aires - Mudança nos Parâmetros Curriculares - FINAL DO CAMPEONATO


  1. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Saudações, Roberta e demais membros da Duelos Retóricos.
    É uma grande satisfação para mim chegar a esta final de campeonato depois de um duelo empedernido sobre a existência de Deus contra Micael Pimpim e outro que tomou rumos imprevistos sobre manipulação genética do ser humano contra o Raoni Latalista. Apesar das surpresas que tive nos duelos anteriores, creio que o maior desafio que enfrentarei neste campeonato está diante de mim na ilustre pessoa da jedi Roberta A. Aires. Isso não se deve a nenhuma limitação de meus concorrentes prévios, mas sim ao “modus operandi” de minha nova adversária, contra a qual meu estilo de debate incisivo não servirá para nada além de me atrair todas as antipatias possíveis. Para mim, este desafio é um verdadeiro teste de estilística que agora começo sem noção clara do que irá ocorrer daqui para frente...


    1) Introdução

    Com a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio como principal meio de acesso às universidades públicas brasileiras, a maioria das escolas nacionais modificou sua maneira de tratar os assuntos constantes no currículo escolar. Entretanto os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação ainda estão, a meu ver, muito atrasados em vários aspectos que já são, de alguma forma, cobrados nas questões do ENEM. A elaboração das questões dessa prova é mais voltada para aplicações práticas, para situações do cotidiano, para a interpretação de textos e para a interdisciplinaridade. Assim temos praticamente o mesmo conteúdo que tínhamos antes da criação do ENEM, mas com uma abordagem diferente nas questões de prova. A ideia que quero defender neste debate é que temos que levar os princípios da praticidade e da interdisciplinaridade também para os conteúdos do currículo e não apenas para a maneira de cobrá-los em um exame final.

    Desta forma, há três áreas do conhecimento para as quais eu gostaria de propor mudanças de conteúdo, seja para acrescentar assuntos da mais alta importância que hoje são desprezados, seja para retirar assuntos que, no meu entender, deveriam ser substituídos. As áreas em questão são Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Diante da possibilidade de não haver discordância entre a Roberta e mim, pretendo expor minhas ideias sobre o tema gradualmente ao longo da discussão. Como a Roberta é matemática, começarei as CIs já com este assunto. Nas réplicas entrarei nas Ciências da Natureza. As tréplicas serão dedicadas à parte que julgo mais necessitada de transformações: as Ciências Humanas. E as CFs ficarão para comentários gerais e alguns acréscimos que não se enquadram propriamente em nenhuma dessas divisões. Acho que assim, mesmo que não haja discordância explícita, poderemos comparar nossas visões sobre este assunto e enriquecer nossas ideias. Então, sem mais demora, vamos, Roberta e eu, à nossa luta cortês que (creio) em nada lembrará a pancadaria e os massacres de alguns debates aqui na DR. E que Darwin me ajude!
    ResponderExcluir
  2. 2) Mudanças no ensino de Matemática

    Os princípios centrais são a praticidade e a interdisciplinaridade. Todos nós saímos ou estamos saindo do Ensino Médio com uma educação matemática que considero bastante falha quanto ao seu conteúdo. O brasileiro sai da adolescência e entra na vida adulta sem uma paleta de conhecimentos que muitas vezes só aprende quando sua necessidade se torna urgente ou então da maneira mais dolorosa possível: errando, sendo enganado e pagando caro por isso.

    Talvez a principal falha do ensino de matemática seja a ausência de uma educação de caráter eminentemente financeiro e tributário. Quando um brasileiro médio vai comprar seu primeiro carro ou negociar a aquisição de um imóvel, geralmente através de um financiamento, percebe que acabará pagando muito mais do que esperava e não tem noção de que a taxa de juros que lhe informaram não é a taxa real que virá embutida nas parcelas. Será culpa da concessionária e da corretora? É claro que todos vêm na escola cálculos de porcentagem e problemas com juros, mas não há um direcionamento dessas matérias para a praticidade da vida adulta. Assim, quando essas noções nos são realmente necessárias, não sabemos lidar com elas ou já as esquecemos dada a maneira alheia à realidade prática com que nos foram transmitidas. Na escola, estudamos porcentagem assim como estudamos aritmética: mais como uma ferramenta de valor ambíguo do que como algo cuja compreensão é essencial para a vida moderna. Prova disso é que a maioria das pessoas não tem a menor noção de como funcionam os juros compostos na hora de financiar um carro, não sabe calcular quanto de desconto terá se adiantar o pagamento de uma parcela do seu financiamento e não sabe o que é uma tabela PRICE, embora tenham visto todas as ferramentas necessárias para isso na escola.

    A Matemática Financeira propriamente dita é ensinada em preparatórios para concursos públicos ou em universidades, mas não na escola. Não estou falando meramente em juros simples e compostos, mas também em taxa proporcional, efetiva e nominal; desconto racional e comercial; sistema de amortização de dívidas; anuidades antecipadas, postecipadas e diferidas; critérios de viabilidade financeira etc. Para muitos, isso parece uma coisa que veio de outro mundo uma realidade distante e que pertence ao “economês”, mas este tipo de estudo tem muito mais aplicação em nossas vidas práticas do que os conteúdos de trigonometria ou de matrizes e determinantes, por exemplo. Tornamo-nos adultos tendo estudado funções logarítmicas, mas sendo financeiramente analfabetos. O brasileiro médio não entende bem o que causa a inflação, não tem ideia do que seja a TR, faz uma cara de espanto quando é informado sobre a existência do IOF e ainda paga taxas de abertura de crédito sem saber da ilegalidade dessa cobrança.

    Aqui entra em cena a importância de um mínimo de educação tributária e econômica. Esse conhecimento naturalmente mescla-se com as ciências humanas, o que é bastante positivo segundo o princípio da interdisciplinaridade. Frequentemente pergunto-me como é que quase ninguém percebe o absurdo dessa situação em nossas escolas. Como pode uma escola querer formar adultos conscientes e preparados se não lhes dá a mais básica noção dos impostos cobrados em seu país, cujo conhecimento é tão importante para quase tudo o que se faz na vida adulta? Não é preciso muito esforço para constatar que o conhecimento básico dos tributos federais, estaduais e municipais, das alíquotas cobradas e da porcentagem que tudo isso representa no preço final de um produto acabaria por formar cidadãos muito mais conscientes do valor daquilo que pagam ao estado e, por consequência, do quão grande é a responsabilidade desse estado para com eles.
    ResponderExcluir
  3. A maioria de nós simplesmente ignora como funciona o Sistema Financeiro Nacional, não sabe ler o gráfico candlestick de uma ação da Bovespa, acha que uma média móvel exponencial de preços é algo de outro mundo. Nessa perspectiva, de que adianta o Estado e os partidos políticos serem transparentes com relação às suas finanças se os dados divulgados são ininteligíveis para a maioria da população? Para mim, a escola deveria preparar o cidadão para o mundo. E o mundo é cheio de números de caráter financeiro, tributário e econômico. Mas, em vez disso, ensinamos assuntos cuja única função parece ser a de ajudar a responder questões de prova.

    Não estou, de forma alguma, retirando a importância da trigonometria ou das matrizes. O que estou dizendo é que a escola deveria prezar mais por conteúdos cuja aplicação tenha uma utilidade pratica na vida do indivíduo. Sob essa perspectiva (e aqui faço apenas uma estimativa descompromissada), 60% do ensino de matemática será esquecido pelo aluno tão logo terminada a prova e jamais o mesmo aluno encontrará uma situação em sua vida na qual a lembrança desse conhecimento lhe será necessária. Assim temos cidadão alheios às finanças públicas, que não sabem calcular a porcentagem de um desconto, que endividam-se de forma irresponsável por não ter noção do quanto comprometeram seus salários, que assumem compromisso financeiros sem levar em conta despesas como IPVA e IPTU, que não sabem o que faz o Banco Central, que acham que o noticiário econômico nos jornais é grego etc.

    Em resumo, com a substituição de alguns conteúdos de matemática e com a interdisciplinaridade da educação tributária e econômica, teríamos cidadãos muito mais preparados para a vida adulta e certamente mais conscienciosos quanto ao uso do seu dinheiro e quanto ao emprego do dinheiro dos seus impostos pelo Estado. Desenvolveríamos uma cultura financeira que, para mim, consistiria num tremendo avanço para a democratização do conhecimento aplicável para o cidadão e para a comunidade. Só o fato de entendermos o sistema tributário nacional e de desenvolvermos uma cultura de investimentos em ações já daria à nossa população um sentimento muito maior de respeito por aquilo que é de todos, uma vez que em princípio qualquer um pode comprar ações uma empresa de sociedade anônima e assim tornar-se sócio dela. Basta isso para, por exemplo, gerar um paradigma de responsabilidade coletiva centrado naquilo que mais desperta a atenção e a ação das pessoas: o bolso!


    3) Terminando

    Claro que minha ideia de reforma curricular no que se refere à Matemática não representa um modelo fechado e acabado. Provavelmente minha colega Roberta ou outro(a) leitor(a) pode ter pensado em algo importante que minha exposição tenha deixado de contemplar. A questão financeira, econômica e tributária são apenas exemplos do que considero uma educação de caráter prático e de assuntos de vital importância para uma democracia com cidadãos mais participativos. Certamente há elementos aqui, como a educação tributária e econômica, que poderiam ser facilmente agrupados como parte das Ciências Humanas. Porém esses assuntos também envolvem conceitos e raciocínios de caráter matemático. São um exemplo de interdependência entre as disciplinas e sabemos que a maioria do conhecimento humano é interdependente.

    Passo agora a palavra à minha ilustre oponente. Gostaria de ouvir suas discordâncias, críticas e sugestões quanto a este assunto.


    Abraços financeiros do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz
    ResponderExcluir
  4. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


    È com entusiasmo que recebo as saudações de meu oponente, após um campeonato que, mais uma vez, (apesar de falas contrárias) fui surpreendida com uma boa colocação. Comemoro a melhoria em meu ranking pessoal, já que no último fui a 3ª colocada, e nesse, já conto com a confortável situação de ser ao menos, a vice-campeã, e assim, sem nenhum peso, encararei o desafio sem (muito) temor, apesar de conhecer o retrospecto de meu adversário, que até então, se mostra imbatível. O tema escolhido, apesar de ser na minha área de atuação, é um pouco distante de minha prática, mas enquanto estudiosa do assunto, acredito que o debate trará grandes pontos de reflexão e por isso, tenho enorme fé que será uma bem sucedida exposição de ideias, apesar de entender a complexidade do tema, até por conta da subjetividade a qual está inserida, tenho certeza que será envolto de boas maneiras. Por me remeter ao meu primeiro debate, fico feliz com a nova oportunidade de falar sobre o assunto da minha vida, que foi, até a chegada da maternidade, o que mais me completava, e até então, meu único talento e com isso em mente, inicio minha fala...


    Introdução:


    Antes de falar sobre essa fundamental mudança no currículo do Ensino Médio, se faz necessário um resgate histórico: Os Parâmetros Curriculares Nacionais foi uma criação do Governo Federal a partir do ano de 1996, e não engloba apenas o Ensino Médio, é um referencial que abrange todo o ensino básico, a começar pela Educação Infantil. O objetivo era uma maior padronização do ensino público do país, além de melhorar o convívio dos alunos e fazê-los desde sempre, co-participantes da sociedade. Por isso, a organização desse documento se deu a partir de módulos (áreas de conhecimento) objetivando atender toda dinâmica de uma sala de aula. Foi a partir dessa construção coletiva que se repensou critérios de avaliações e a relação professor-aluno. No início, era um documento único, mas, desde 2004 o mesmo é constantemente adaptado respeitando a realidade de cada região do país.


    A cada três anos, há a escolha de novos livros didáticos para a rede pública. Professores recebem inúmeras coleções com pouca diferenciação do conteúdo, porém, com variáveis metodologias. Se isso já acontece hoje, com os PCNs já inseridos na realidade educacional, imagine como era complicado eleger conteúdos e melhor avaliar seu aluno? Sabemos que é comum na Escola pública a evasão e transferência, e quando um aluno era matriculado em outra localidade, seu currículo era pouco aproveitado, levando esse educando a um déficit incalculável. Por essa razão foi importante essa padronização do ensino básico, que é uma tentativa de se criar uma identidade. Porém, é importantíssimo lembrar que os aspectos levantados são apenas um ponto de partida, cabendo a cada Instituição a liberdade de se reorganizar e eleger novos conteúdos, desde que os mínimos sejam contemplados. È aí que percebemos o problema da Educação: por inúmeras razões, a Escola se mostra ineficiente em se provar autônoma, sobre isso falarei mais adiante.
    ResponderExcluir
  5. Concordamos que há um atraso conceitual nos assuntos abordados tanto nos Parâmetros Curriculares como na LDB. Há pouco enfoque ao cientismo, o que, na prática, resultará em menos formadores de opinião, o que é sempre um motivo de pesar. Sobre a elaboração das questões no ENEM é um complicado ponto: um grande entrave é quanto ao enfoque à interdisciplinaridade sendo que, em minha opinião, o correto seria o enfocar transdisciplinarmente o conteúdo. Com essa mudança, que não é tão difícil, as aplicações práticas serão automáticas, já que o raciocínio (pensamento complexo) estará todo organizado, tudo fará sentido...


    Há ainda outro fator que precisa ser considerado: durante toda a vida escolar, o aluno será testado em diferentes tipos de avaliações, porém, instrumentos oficiais de seleções optam pela resposta mais “fácil”, o que acabará prejudicando uma parcela dos envolvidos. Não há, a meu ver, uma forma eficiente de se mudar esse quadro, não sem uma transformação profunda, onde a prioridade não seria aquisição do conteúdo e sim, sua aplicabilidade. È essa a discrepância dessa avaliação: pede-se uma coisa, mas oferece outra.


    Tem razão, há poucas discordâncias quando o assunto é o acréscimo e substituição de conteúdos, em especial na área da Matemática. Essa disciplina é a que tem maior rejeição por parte dos educandos. Já defendi que a Educação se baseava apenas no conteúdo, pouco importando a metodologia aplicada. Hoje, percebo que estava errada: as estratégias também precisam seguir um método, ter uma espécie de identidade, e é necessário rejeitar a desculpa da subjetividade do avaliador. È preciso entender que a avaliação é apenas parte de contexto, a qual considero bastante bur(r )ocrático: o que realmente deveria importar é se houve
    interesse pelo assunto, pesquisa individual e autônoma e reflexão sobre o “erro”...


    A matemática sempre foi um problema para a Educação, e isso não reflete apenas no Brasil, porém, uma mentalidade equivocada a qual o país também compactua, concorda com a sugestão de que o currículo seja enxugado. E essa opção não poderia ser mais errada: a solução não é a subtração de temas, e sim, na ampliação do significado. A matemática é também uma linguagem, e não é nada abstrata, é uma ciência argumentativa, portanto, racional. È, portanto, a ciência mais próxima do ser humano, pois está em tudo. Na primeira fase é lúdica e essencialmente ligada à prática. Não sei bem porque alguns professores, depois de uma determinada faixa etária, só aplicam à teoria, sem explicar a origem, e o mais importante, a importância dela na vida diária. Atribuo essa prática ao fato de poucos professores saberem correlacionar com a vida diária, fazendo dessa ciência, um exercício de repetição mecânico, quase vazio. Você bem citou que poucos sabem calcular o valor das parcelas de um empréstimo e, dessa parcela, qual é a proporção relativa aos pagamentos dos juros e a amortização da dívida. È uma conta simples que é desconhecida por mais de 60% da população brasileira. Isso é um problema social, que a tem na origem de outras falhas educacionais.
    ResponderExcluir
  6. Estamos ainda na era do ter em detrimento do ser, e isso reflete na aquisição de bens de consumo. O problema é evidenciado na Matemática, só que a causa não é explorada, e sem ter acesso a essa importante informação, o quadro não será mudado. Mas, voltando ao ponto da matemática, é necessário que ela seja entendida como uma disciplina que interliga conhecimentos, que é prática, o que derrubaria o signo da abstracidade. Somos resultado de uma revisão mal feita no que diz respeito a reestruturação do currículo: a educação, conteudista (anos 50-70) foi duramente criticada, depois, a dita libertadora (final de 70 e início de 80), foi difundida sem amarras. Falta unidade no discurso, além de faltar um maior preparo dos professores, sendo o fracasso educacional conseqüência óbvia.


    A Escola é responsável pelo ensino formal, ou seja, sua função é refinar aquilo que o indivíduo já vivencia em seus primeiros grupos sociais. Se o adulto tem dificuldade em lidar com dinheiro, é evidente que essa característica será repassada aos pequenos. A Educação é reflexo da sociedade, se a mesma não elege algumas prioridades, fica difícil numa sala de aula mudar comportamentos, pouco adiantando mostrar o que é o certo se isso não for experimentado em seu núcleo mais próximo, que é a família. Por isso, se faz necessário desde cedo atribuir valor ao dinheiro, que é resultado de pagamento de algum serviço. Um bom início para esse aprendizado é quando a criança pede ‘ aquela coisinha’, quando os pais voltam do trabalho. Alguns estimulam o consumismo ‘pagando’ o afeto da criança, através de mimos. O que a criança entenderá com essa ação motivada pela culpa?


    Tudo isso para mostrar que a mudança no foco da Matemática deverá ser outro, e que ensinar juros/porcentagens apenas no Ensino Médio é um engano, uma vez que desde sempre o aluno faz uso do dinheiro. Para chegar a assimilação de conceitos complexos como taxas proporcional, efetiva e nominal; descontos racional e comercial; sistema de amortização de dívidas; critérios de viabilidade financeira, devemos começar com o básico, que o uso racional de instrumentos como mesada, por exemplo. A dificuldade está em ver dissociada a Economia da Matemática, e por isso concordo com sua fala aonde diz que tornamo-nos letrados em funções logarítmicas, mas sendo financeiramente analfabetos. Foi muito feliz em constatar que o brasileiro médio não entende as causas da inflação, tampouco, a recessão, que não entende de tributação e é, constantemente engolido por índices bancários desonestos.


    Tendo isso claro, percebo um único ponto de discordância em nosso pensamento: não sou favorável a manutenção da interdisciplinaridade de conteúdos. E isso me remete a uma fantástica experiência a qual a pouco, fui apresentada: o documentário “PROSPERAR: O Que Será Necessário? “ é um achado que foi gentilmente cedido por um conhecido. Há toda sorte de sugestão a teorias da conspiração, o que me deixou um tanto zonza, mas, na metade do vídeo, há uma explicação sobre o dinheiro que não existe, e a forma que o sistema monetário se organiza...È muito, muito, muito interessante. Sugiro que conheça, particularmente, a partir do minuto 55.


    http://www.youtube.com/watch?v=oEKYSXHb_hA&feature=related


    Por isso que acredito que se a transdisciplinaridade fosse usual, o conhecimento seria sinérgico, e não fragmentado, como observamos. Mas eu iria além do que orienta/sugere os PCNs que é correlacioná-la aos temas transversais. Gosto da idéia da não separação de conteúdos. Se isso foi possível comigo, uma pedagoga que passeia com certa familiaridade com os números, não seria utópico desejar isso a todos, não acha?


    E, por enquanto é isso, finalizo minha parte agradecendo a gentileza em desculpar meu atraso e claro, também agradecer publicamente a oportunidade de um dialogo que será enriquecedor em minha prática.


    Att,


    R.
    ResponderExcluir
  7. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    RÉPLICA

    O bom de debater com quem gosta de um assunto é que sempre somos expostos a perspectivas novas. Desde que eu soube que minha oponente é educadora, imaginei que debateria sobre isso com ela. Primeiramente vejamos alguns pontos relativos às CIs e depois passemos a tratar das Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia). Ao trabalho!


    1) Comentários sobre as CIs:

    a) Subtração X Substituição
    Como bem disse minha colega: “a solução não é a subtração de temas, e sim, na ampliação do significado.” A minha visão de uma educação mais eficiente para a cidadania não se trata de mera subtração de conteúdos mas sim de uma substituição de assuntos que não terão utilidade para a maioria dos indivíduos por outros que farão parte de sua vida adulta e que hoje são desprezados pela escola. Para mim é assim que poderemos dar um significado maior ao ensino de matemática. Em termos práticos, não podemos puramente acrescentar muitos conteúdos sem sobrecarregar o currículo escolar. Simplesmente é muita coisa, é mais do que a maioria dos estudantes pode dar conta. É aí que entra a substituição de certos conteúdos por outros. Exemplo disso é o assunto de matrizes e determinantes. Qual é a aplicação prática das matrizes? Elas são muito utilizadas em computação gráfica e na Engenharia Elétrica, para projetar circuitos e linhas de transmissão. Será que este é um conhecimento direta ou indiretamente necessário para todos os cidadãos de modo a justificar-se sua presença no currículo escolar? Se temos que retirar alguns tópicos para abrir espaço para outros, certamente que não poderíamos eliminar a potenciação e radiciação, dada sua importância para uma longa lista de assuntos na matemática. Mas para mim matrizes e determinantes não são tão importantes para a cidadania quanto a educação financeira, econômica e tributária.

    b) Utopia e Realidade
    Roberta diz que “estamos ainda na era do ter em detrimento do ser” e é verdade. Julgo que a maioria de nós preferiria que o “ser” fosse um pouco mais apreciado. Minha preocupação é que alguém pense que uma educação financeira contribuiria para valorizar o “ter”. Nada mais falso. Não se trata de valorizar do “ter” e sim de preparar o cidadão para a realidade que ele irá enfrentar. Assim, todos (ou quase) prefeririam que não houvesse pedófilos, mas não é por isso que vamos deixar de ensinar nossos filhos a não aceitar convites de estranhos vestidos de preto. Da mesma forma, muitos preferem viver numa sociedade menos centrada no dinheiro, mas nem por isso vamos deixar nossos filhos ignorantes quanto à realidade e os meios para triunfar nela e, quiçá, modificá-la. Se queremos transformar nossa realidade econômica, a primeira coisa a fazer é conhecê-la e democratizar este conhecimento.

    c) Escola e Família
    Concordo com a Roberta quando ela afirma que “fica difícil numa sala de aula mudar comportamentos, pouco adiantando mostrar o que é o certo se isso não for experimentado em seu núcleo mais próximo, que é a família.” Pais financeiramente irresponsáveis tendem a desenvolver em seus filhos os mesmos vícios, dificultando o trabalho de uma educação prática neste ponto. Mas isso certamente não é motivo para a escola se omitir nessa questão. Pelo contrário: em algum momento este ciclo precisa ser quebrado e o local mais lógico é a escola. Não é preciso encher-se de dívidas para aprender a lidar melhor com o próprio dinheiro.
    ResponderExcluir
  8. d) O Projeto Thrive e o dinheiro que não existe
    Muito do que há no Projeto Thrive é uma grande fusão de teorias da conspiração. É como eu disse ao Raoni: qualquer um pode criar uma teoria com alguma aparente lógica interna, mas fundada em premissas e deduções falsas. É impressionante como o apresentador tira e confirma conclusões rapidamente e baseado em argumentos de autoridade (“um especialista disse...”), apelo ao medo (“posso estar errado, mas e se eu estiver certo?”) e simples coincidências (padrões em esculturas antigas, que, aliás, são iguais a uma cortina que havia na casa da minha avó). No documentário há muitos erros de caráter econômico, pois há um limite legal e prático para o endividamento dos bancos; físico, pois não há existem sistemas de energia infinita, além de muitas incoerências e contradições. Mesmo supondo que o apresentador esteja certo, é justamente a democratização do conhecimento sobre Economia que dará ao cidadão os meios de melhor compreender o que ocorre e reagir ao tal projeto de dominação global.

    Mas a verdade é que fiquei muito feliz ao assistir ao que diz o apresentador a partir no minuto 55 porque isso ilustra perfeitamente a falta de conhecimento sobre Economia que faz essas teorias conspiratórias prosperarem. Aí vão os motivos do que afirmo: O documentário ignora um princípio fundamental em Economia, informalmente expresso na singela frase “não existe almoço grátis.” Bancos em geral não “criam dinheiro” e sim crédito. É muito diferente! Os bancos podem utilizar o dinheiro que eu depositei para oferecer crédito a outra pessoa, mas continuarão devendo a mim e a todos os outros que depositaram. Há uma dívida correspondente à oferta de crédito. O único banco que pode, de fato, inventar dinheiro, seja imprimindo cédulas seja criando numerário virtual, é o Banco Central de um país. Mas o dinheiro criado não encontra correspondente na realidade, ou seja, ele não criará valor real. Isso fará com que ocorra a inflação e todo o dinheiro criado perderá valor até reencontrar o equilíbrio com o valor real existente.

    Um exemplo do que pode realmente gerar valor real é o trabalho. Imagine uma economia em que um balde de minério de ferro vale R$ 10,00. Se, pelo meu trabalho, eu transformo este minério de ferro em uma barra sólida, ela valerá R$ 20,00. Houve aumento do valor REAL do ferro ali presente através do meu trabalho. Se, em vez de trabalhar e gerar valor real, eu simplesmente criasse uma nota de R$ 10,00, essa quantia não representaria nem um beneficiamento do minério que eu tenho nem a extração de mais um balde dele. O dinheiro passaria a valer menos para equilibrar-se com a realidade. Assim, se todas as pessoas do país tivessem seu dinheiro duplicado, haveria muita demanda por produtos, mas os produtos não se duplicaram também. A demanda então irá fazer com que o preço dos produtos aumente e que o dinheiro valha menos até chegarmos ao ponto de equilíbrio em que tudo valerá mais ou menos o dobro.

    Meu exemplo é simplista, mas mostra que este documentário não teria tantos admiradores se tivéssemos uma população que estudou um pouco de Economia. Como isso não ocorreu, há muita gente hoje imaginando fantasmas por causa desse sensacionalismo de hipóteses fascinantes de que tanto fala Carl Sagan em “O Mundo Assombrado pelos Demônios”. Se o apresentador estivesse certo quanto ao que diz sobre as perseguições sofridas por aqueles que descobrem a verdade, não é estranho que ele ainda não tenha sido eliminado pelo “sistema” e seu vídeo ainda esteja circulando pelo You Tube bem debaixo do nariz dos Rockefellers?

    e) Interdisciplinaridade X Transdisciplinaridade
    Concordo com a Roberta no que se refere à transdisciplinaridade. É uma extensão da interdisciplinaridade que muitas vezes aplica-se melhor às ideias que quero passar. Aí vai o link de uma rápida apresentação de slides sobre as diferenças entre ambas:
    http://www.slideshare.net/silsiane/multidiciplinariedade-interdisciplinaridade-e-transdisciplinaridade-presentation
    ResponderExcluir
  9. 2) As Ciências da Natureza:

    Muito daquilo que considero importante na educação escolar, como trazer o conhecimento para a realidade do cidadão, já vem sendo posto em prática nas questões do ENEM. Isso é extremamente positivo, pois tende a modificar a maneira como o conhecimento é discutido na sala de aula. Então, diferentemente do ensino da Matemática e das Ciências Humanas, não tenho muitas alterações em termos de conteúdo a propor aqui. Nas Ciências da Natureza a questão é muito mais formal do que material e felizmente a coisa parece estar se encaminhando positivamente no Brasil. A única resalva que eu gostaria de fazer com relação aos conteúdos é, na verdade, uma interdição. Isso vai me render (mais uma vez!) a perda do voto dos fanáticos da Duelos Retóricos, mas paciência! É o preço que pago por defender a verdade.

    Para mim deveríamos sempre estar atentos para evitar a difusão do retrocesso obscurantista que já ocorre em muitas instituições educacionais do famoso “bible belt” americano e em algumas escolas mantidas por instituições religiosas aqui no Brasil: o ensino do Criacionismo e o Design Inteligente como se fossem explicações científicas para o surgimento e o desenvolvimento da vida no planeta. É preocupante que muitos parlamentares da bancada evangélica, a mais ausente e processada do Congresso Nacional, organizem-se para retirar o Criacionismo e o Design Inteligente das aulas de religião e levá-los para as aulas de Biologia. Evidentemente que não se trata de explicações com lastro científico tal como a Evolução. Colocar essas duas explicações como alternativas igualmente válidas é de uma incoerência extrema com relação ao método científico e ao empirismo, que orienta e perpassa todo o conhecimento relativo às Ciências da Natureza.

    A Lei 9394/96, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação diz em seu artigo 33:
    -- “Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.” --
    (fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm)

    Não é cometer proselitismo tratar como ciência uma explicação de caráter religioso? Não é uma agressão à laicidade do estado tornar obrigatório esse tipo de ensino? Como a lei diz, a matrícula no ensino religioso é facultativa. Então é evidente que não se pode falar em deuses nas aulas de ciência. Mas a lei pode ser modificada e a sociedade deve ficar atenta para repudiar essa tentativa arbitrária da bancada evangélica. Os pais que assim desejarem podem matricular seus filhos no catecismo, mas não podem obrigar todos a serem catequizados nas aulas de biologia.


    3) Algumas perguntas:

    Gostaria de saber se minha nobre oponente tem alguma discordância acerca do que eu disse sobre o documentário do Projeto Thrive e o conhecimento de Economia. Também estou curioso para saber se o assunto do Criacionismo nas escolas já foi discutido entre seus colegas de trabalho e o que ela pensa a respeito.

    Embora não me pareça necessário assinar como de hábito, ainda quero esperar um pouco mais para ver o que acontecerá e por hora despeço-me de minha nobre oponente ainda com os cumprimentos


    do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz
    ResponderExcluir

  10. RÉPLICA


    Reitero minha anterior fala: gostei muito de sua resposta, tem sido um exercício enriquecedor. Não é formidável a oportunidade de aprender num jogo como esse? Como sabe, sou educadora, mas focar no Ensino Médio não é mesmo minha especialidade, já que meu campo de atuação é com o as duas primeiras fases do ensino ( Ciclo I e II), além de atuar nas Licenciaturas de Pedagogia e Matemática, porém, apesar disso, tenho alguns posicionamentos sobre o tema que gostarei de discutir com você.


    Sobre a minha sugestão de substituir ao invés de subtrair temas, o faço por acreditar no significado que se dá ao conhecimento, e por substituir, entenda-se mudança na ordem que os conteúdos são apresentados. Por isso, não concordo na hipótese do ‘emagrecimento curricular’ (termo péssimo, diga-se de passagem), onde afirmam que
    há determinados assuntos menos pertinentes, e em Matemática, realmente não consigo vislumbrá-los, já que os conteúdos são interligados.


    Essa disciplina conta com uma metodologia própria, que é a repetição a partir de exemplos, onde o professor oscila os níveis de dificuldade, objetivando que os envolvidos tenham um aprendizado progressivo. Mas imagino que o teor de sua crítica a alguns conteúdos se dê na insuficiência pedagógica de grande parte dos educadores de correlacionar conteúdo e prática. Por essa razão, sou adepta da perspectiva etnomatemática, que se tiver interesse, posso posteriormente falar sobre o assunto.


    Por mais que alguns conteúdos sejam mais complicados, seja pela metodologia aplicada, inoperância do educador, ou ainda, pela falta de instrumentos pedagógicos para a conferência dos resultados, é inadequado pensar na possibilidade de se excluir a oportunidade do aluno ir além do que é comumente cobrado, até porque, é essa a função da Escola: apresentar o interesse, dar-lhe informação, e a partir disso, o aluno sair em busca de meios para formalizar seu conhecimento. Porém, é preciso que antes que se apresente um tema mais complexo, é fundamental que o mesmo domine aspectos básicos como definição de logaritmos, porcentagem, polinômios, análise combinatória, equações de reta e circunferência. Quando há déficit de aprendizagem, é evidente que o estudo sobre matrizes e determinantes parece sem sentido, mas engana-se quem imagina que sua aplicação se dê (em priori) em circuitos e linhas de transmissão. È um conteúdo absolutamente pertinente para qualquer profissional que precise tabular valores e inserir dados em tabelas para alguma finalidade prática. Há nesse link maior detalhamento sobre o fato :


    [ http://www.mat.ufrgs.br/~portosil/minmatr.html ]
    ResponderExcluir
  11. Como a leitura desse artigo, é possível notar que no dia a dia nos deparamos com a aplicação de matrizes e nem percebemos. Alias, é assim na maioria dos conteúdos da matemática, eles estão disfarçados no nosso dia a dia: nas construções, nos jogos, na natureza, na música, na tecnologia, na previsão com base em probabilidades e estatísticas, no estudo do comportamento do mercado de valores... Por essa razão, não há como mensurar o que é mais ou menos importante nessa disciplina, por mais que outros aspectos se mostram mais evidentes, como educação financeira e potenciação.


    Mas, tirando essa pequena dissidência no pensamento, acredito que há bastante afinidade em nossos ideais de vida e imagino, de trabalho. Concordo inteiramente com você quando afirma sobre a importância da transformação da sociedade através da democratização do conhecimento, este, obtido por meio de profundas reflexões: “utopia hoje, realidade amanhã” =)


    Sobre a questão “Escola e família”, tenho um, porém: há um clichê sobre a Educação, que ela está fundamentada num tripé, que é a família, escola e sociedade. A família é o primeiro grupo social que o individuo faz parte, e é daí que nascem as primeiras relações humanas. Na escola – esta enquanto instituição de ensino - cabe a função de formalizar a aprendizagem, e a sociedade, de ecoar aquilo que aprendeu, através do que foi ensinado e/ou observado. Por essa razão, mantenho a opinião que é praticamente impraticável considerar como certo um fato que em casa não é colocado em prática. Entenda: o tempo que um estudante passa na escola é ínfimo se comparado com os seus outros grupos sociais. Darei um exemplo que vivencio na escola onde cumpro alguns de minhas (muitas) horas semanais: tenho oito encontros semanais de uma hora cada, nesse período preciso destinar um tempo para a função burocrática, que é o preenchimento do diário, além da conferência da tarefa de casa, e claro, na apresentação de um novo conteúdo, com explanação livre, apresentação de exemplos, além de dedicar um espaço para sanar as possíveis dúvidas. Subtraindo essas obrigações profissionais, não sobra muito tempo para que o professor possa dar atenção exclusiva a um determinado aluno, cabendo a outras esferas sociais, essa função. Não é impossível que a Escola seja capaz de quebrar o ciclo vicioso, apenas é bastante improvável se conseguir sem a atuação da família nesse processo.


    Agora, a parte que mais gostei de sua resposta: fico imensamente grata por sua disposição em assistir o documentário “Trive”. Quando fui apresentada a ele, fui em busca de maiores informações e o propaguei aos meus colegas de trabalho e contatos virtuais. Poucos me deram um feedback, e desses, nenhum foi tão catedrático como você. Como antes afirmei, é tudo tão bem amarrado que dá até para desconfiar, porém, não nego, a aparente lógica me seduziu, e como foi bom ser liberta dessa ilusão. E por isso, já sinto que valeu a pena esse nosso “duelo”, independente do resultado da enquete, já percebo uma aquisição pessoal que sem essa conversa, demoraria a chegar numa conclusão, e por isso, sou-lhe grata.



    Sobre interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, nem há muito o que acrescentar, há, novamente, sintonia no pensamento, e sobre o link que apresentou, é bastante esclarecedor para aqueles que (ainda) não estão inseridos na área.


    ResponderExcluir
  12. II As Ciências da Natureza


    Sou absolutamente favorável a tudo que defendeu sobre o assunto. Por ter parentes por lá, e provavelmente ser meu próximo endereço num futuro próximo, temo pela educação do meu filho. Extremismos não são bem vindos, quando relacionados à religião, é uma preocupação a mais. Mas, não me focarei a uma hipótese pessoal, e sim, naquilo que reflete no ensino público brasileiro: é uma epidemia esse tipo de influência, que me faz suar frio na possibilidade de ter que aceitar numa prova a resposta criacionista, por respeito à liberdade religiosa. Afirmo que até aceitaria essa resposta, se a visse retratada, por exemplo, num soneto, a qual atribuiria razão por conta da tal licença poética, onde, seria essa, a minha única concessão.


    E fazendo uso da brecha que a lei permite, sempre evocarei o critério de a mesma ser optativa, é essa minha posição enquanto indivíduo, bem antes de uma defesa profissional. Esse foi inclusive um tema que defendi em forma de duelo, com Gabriel, na antiga DR, e aqui, está o link:


    [ http://duelosretoricos.blogspot.com.br/2012/03/roberta-x-gabriel-ensino-religioso.html ]


    Confesso que apesar de não fazer parte do tema de nossa conversa, a assinatura me deixou curiosa, e gostaria que me explicasse a razão de fazê-la tão repetitivamente, apesar de notar, que em sua segunda participação, subtraiu o termo “abraço financeiro”.


    Por enquanto é isso, no aguardo de sua resposta, despeço-me


    R.
    ResponderExcluir
  13. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA

    Gostaria de tratar muito do que aqui vai de forma mais específica, mas, como este debate é sobre mudanças em todo currículo escolar, terei de me conformar com explicações breves. Talvez futuramente haja ocasião para debates inteiros voltados para cada uma das propostas que farei sobre as Ciências Humanas. Enquanto isso, mãos a obra.


    1) Comentários sobre a réplica

    Com relação ao exemplo das Matrizes e Determinantes, fui da opinião de que este não é um conhecimento essencial para um cidadão, o que mantenho sem receio. Porém não estou propondo sua simples eliminação do currículo escolar e sim sua substituição por outros conteúdos. Faço isso partindo do princípio que não se pode puramente estender a quantidade de assuntos a serem abordados sem sobrecarregar os alunos. Então, se temos que fazer alguma substituição, que seja de conteúdos cuja aplicabilidade não nos faça tanta falta.

    Nossa discordância aqui é que você diz que matrizes e determinantes – “È um conteúdo absolutamente pertinente para qualquer profissional que precise tabular valores e inserir dados em tabelas para alguma finalidade prática.” – Pertinente? Não duvido. Mas a questão não é sobre sua pertinência e sim sobre sua necessidade. Deixo para o leitor avaliar se já precisou ou se conhece alguém que precisou calcular o determinante de uma matriz quadrada para preencher uma tabela. Se houver alguém, será uma prodigiosa exceção que só confirmará a regra geral. Todos nós somos ignorantes com relação a vários assuntos. Porém, se tivermos de escolher entre ignorar o cálculo de matrizes quadradas (o que quase todos nós de fato ignora) ou desconhecermos o que é a Taxa Selic, qual você escolheria?

    Na pergunta acima, optei intencionalmente por dois exemplos de conhecimentos que (acredito) a maioria dos leitores ignora. Um deles é ensinado pela escola (matrizes) e o outro não (Selic). Porém creio que não resta dúvida sobre qual deles tem um papel maior para a formação de um cidadão consciente sobre o funcionamento de sua sociedade. Se você discorda de mim, gostaria de saber então que conteúdos você retiraria do currículo de matemática para abrir espaço para uma um educação financeira, econômica e tributária. Se você não quiser fazer nenhuma concessão, chegaremos a um impasse, pois já vimos que não haverá espaço para incluir tantos assuntos importantíssimos para a vida adulta.


    2) As Ciências Humanas

    a) Filosofia e Sociologia:
    Essas disciplinas já foram incluídas no Ensino Médio, principalmente como reflexo do conhecimento de mundo exigido pela prova do ENEM. O problema é que elas são ministradas na maioria das escolas apenas “pro forma”. Ainda estamos longe de dar a estes assuntos a mesma importância que damos às disciplinas tradicionais, o que nos impede de colhermos vários benefícios.

    Uma intimidade com o pensamento filosófico, por exemplo, nos daria uma desenvoltura muito maior para lidar com conceitos abstratos e para formular raciocínios de maneira minimante válida. Nem é preciso argumentar muito para percebermos que a maioria das pessoas tem deficiências visíveis nesse aspecto. Não quero citar nomes, mas basta ler alguns debates desta casa para que se reconheça a veracidade do que eu estou dizendo... Para muitos de nós isso não parece ser realmente um problema porque já estamos inseridos nessa realidade. Costumamos vem aqueles que conseguem lidar bem com abstrações e com encadeamento de raciocínios como pessoas “acima da média”, quando, na verdade, todos deveriam ser capazes de fazer isso. O que poderia ajudar nessa questão? Um pouco de Filosofia na escola.

    Quanto à Sociologia, seus benefícios são evidentes. Conhecer as diversas formas de organização social nos permitirá reconhecer a valor da nossa própria e reagir quando nos sentirmos ameaçados por tentativas populistas de concentrar poder na mão dos governantes, tentação sempre presente em nosso Poder Executivo.
    ResponderExcluir
  14. Devido à falta de uma reflexão política e sociológica, nosso povo é predominantemente imediatista e cego quanto ao populismo barato de muitos governantes. Qual é o cidadão humilde, que recebe o seu Bolsa Família e está feliz com a vinda da Copa do Mundo para sua cidade, que reconhece que essas medidas podem ser vistas como uma política de pão e circo? Todos conhecem a história do servo liberto que não queria deixar de ser servo, pois nada sabia sobre outras formas de viver em sociedade. Para ele a exploração e os abusos a que se sujeitava lhe pareciam uma realidade absolutamente natural e justa. O conhecimento e a reflexão crítica sobre a sociedade em que vivemos e as alternativas que a história testou em muito contribuiria para formar cidadãos mais conscientes neste sentido.

    b) Por uma Educação Política:
    Vejamos primeiramente alguns artigos bastante interessantes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação:

    -- “Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu PREPARO PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA e sua qualificação para o trabalho.” --
    -- “Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
    I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos DIREITOS E DEVERES DOS CIDADÃOS, de RESPEITO AO BEM COMUM E À ORDEM DEMOCRÁTICA;” --
    -- “Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, TERÁ POR OBJETIVO A FORMAÇÃO BÁSICA DO CIDADÃO, mediante:
    II - a COMPREENSÃO do ambiente natural e social, DO SISTEMA POLÍTICO, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;” --
    (fonte: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm] grifos meus.)

    Sendo assim, pergunto: o currículo escolar contempla isso? Se questionarmos um aluno que acabou se concluir o Ensino Médio sobre a diferença entre um Senador e um Deputado Federal, existe uma grande chance de que ele não saiba a resposta. Se souber, certamente não terá aprendido isso por causa do currículo escolar. É evidente que formamos não apenas analfabetos financeiros, mas também analfabetos políticos, contrariando frontalmente a lei e o mais elementar bom senso.

    Considerem por um momento o absurdo: a lei preconiza a compreensão de nosso sistema político e um estudante de 16 anos, que já pode votar, não sabe diferenciar as atribuições dos ocupantes dos principais cargos eletivos. Como é que queremos formar cidadãos conscientes assim? O brasileiro médio não sabe diferenciar que questões são de responsabilidade da Prefeitura Municipal, do Governo do Estado e da Presidência da República; não sabe as atribuições de um vereador, de um deputado estadual, de um deputado federal de um senador. Sabe, quando muito, que existem três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. O que quer que passe disso, já constitui uma exceção difícil de encontrar.

    Como se pode facilmente antever, as consequências dessa aleivosia educacional são desastrosas para todos nós. Se alguém quiser fazer uma experiência prática, sugiro que, nestas eleições municipais, preste atenção nos candidatos a prefeito de sua cidade que fazem promessas relativas à segurança pública. O poder de ação das prefeituras no que se refere a essa questão é praticamente nulo. Em uma matéria de competência do Governo do Estado, diversos “prefeituráveis” espertalhões nos prometem maravilhas em troca de votos. E o pior: conseguem! Conseguem porque temos milhões de eleitores politicamente analfabetos que são tratados como autêntico gado político. Este ciclo perverso repete-se constantemente a cada eleição e, diante disso, o que faz o nosso currículo escolar? Permanece omisso quanto a uma educação política que é fundamental para uma experiência democrática bem sucedida.
    ResponderExcluir
  15. O que mais me incomoda é que essa situação parede ser mantida de forma proposital, pois a maioria de nossos representantes só terá a perder se estiver sujeita ao crivo de uma população politicamente madura e informada. Essa situação, porém, nem sempre foi assim. Sei que pessoas um pouco mais velhas que este moleque que vos fala tiveram aulas de uma disciplina chamada OSPB, Organização Social e Política Brasileira, que tratava justamente de informar o cidadão acerca do funcionamento político do estado brasileiro. Com a redemocratização, em meados da década de 80, muitos grupos de esquerda eufóricos e desejosos por suprimir tudo o que de alguma forma se remetesse ao regime militar deram a essa disciplina a pecha de “matéria da ditadura”, o que acabou por contribuir para a sua supressão do currículo escolar. O resultado é que estamos nos encaminhando para 30 anos de experiência democrática com uma população politicamente analfabeta e na qual nossos “senhores” cultivam um espírito verdadeiramente bovino.

    Diante disso, a leitura do que nos diz a LDB sobre os fins da educação, ela acaba se tornando de uma hipocrisia tragicamente engraçada, se me permitem a incoerência. Assim, uma reforma curricular que inclua uma educação política não é apenas desejável mas também necessária e urgente. Aqui, nada de proselitismo! Basta a informação e a reflexão para ajudar a cumprir o que determina a lei quanto ao papel da escola de garantir o “preparo para o exercício da cidadania”.

    c) A nossa Constituição:
    A Constituição Federal é a lei básica do nosso estado. Mesmo assim tratamos o estudo do Direito Constitucional como um assunto reservado apenas aos profissionais da área. Está errado! Este é mais um exemplo de conhecimento cuja democratização deveria ser alvo de todos os esforços. A comparação entre nossa realidade e a belíssima redação do artigo quinto da Carta Magna é de entristecer qualquer um. Imagino o tipo de pressão a que nossos governantes seriam submetidos caso o conhecimento básico da Constituição Federal fosse algo ser explorado pela escola.


    3) Concluindo


    Com o meu espaço prestes a acabar, gostaria de fazer uma breve reflexão acerca dessa bela “utopia” que por vezes deixei transparecer nos parágrafos acima. Não sou um simples sonhador (bem ao contrário!) nem acho que nossos problemas sociais seriam resolvidos apenas com as mudanças que sugeri. Certamente a realidade de nossas escolas públicas não ajudaria muito a transmissão daquilo que julgo fundamental para a formação cidadã, mas não é por isso que devemos deixar o pessimismo e a conformação tomarem conta de nossas atitudes. A democratização do conhecimento é apenas um primeiro passo e um dos mais importantes. Para mim, é justamente em seu povo que uma sociedade encontra os fundamentos para sua prosperidade e para o combate às injustiças. Mesmo países arrasados por guerras e catástrofes reergueram-se gloriosamente tendo apenas o valor intrínseco de seu povo como ponto de partida. Cuidemos então de nosso povo. Não com mimos e distribuição de dinheiro e espetáculos, mas com uma educação digna, pois é ela que abrirá espaço para todo o resto acontecer.


    PS.: Não sou candidato a prefeito nem a vereador...

    Abraços políticos do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz
    ResponderExcluir
  16. • Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA


    È, parece que nossas discordâncias foram evidenciadas, o que de todo não é mal: é muito bom ter em relação a Educação constante reflexão e reposicionamentos. Espero que realmente haja oportunidade para novas discussões sobre o tema, e enquanto isso não acontece, voltemos ao trabalho...


    Entendo que o exemplo que lançou ( Matrizes e Determinantes) não seja para grande parte da população um conteúdo de relevância e primeira necessidade, uma vez que o país é mau leitor e ainda capenga em raciocínio lógico-matemático, porém, mantenho minha posição sobre a necessidade deste conteúdo. Provavelmente esteja certo, e não terei como resposta alguém que tenha feito uso desse conhecimento e que escolheria aprender sobre a Taxa Selic, mas a minha questão não é escolher entre um e outro, já que acredito que há espaço para todos os conteúdos, ao menos, noções básicas, que é a primeira função de uma Escola.


    Muito se fala sobre o acumulo de conteúdo e que há a necessidade de elencar prioridades e vejo isso com alguma preocupação. Como disse anteriormente, não tenho no Ensino Médio grande intimidade e por isso não poderei opinar com propriedade sobre as outras áreas de conhecimento, que não a Matemática, e por essa razão, sou enfática em defender a manutenção dos conteúdos que considero mínimos, com no máximo, a substituição da ordem que são apresentados, além de se criar estratégias que anulem a fragmentação do mesmo.


    Não vejo razão de se excluir conteúdos da Matemática, especialmente quando se usa por justificativa que não haverá espaço para tantos os assuntos que devam ser abordados. A matemática é uma disciplina de aprendizado progressivo, e o conteúdo “Educação Financeira” já é trabalhado desde as séries inicias, e a escritora Susanna Stuart, mostra como isso se dá:


    • Crianças com 3/4 anos possuem pouco interesse pelas questões relacionadas ao dinheiro, mas gostam de moedas e suas cores. Portanto, é recomendado o enfoque quanto a classificação por tamanho e cor;


    • Já as de 5 anos conseguem distinguir moedas e começam a associar dinheiro e compra. È chegada a hora de trabalhar em sala, simulações de compra e venda;

    • As crianças de 6 anos já reconhecem conceito básico de valor maior e menor, e entendem que o dinheiro ainda é algo imediato. Apesar de não terem muita noção de poupar, esse hábito pode ser introduzido juntamente com a primeira mesada;


    • Aos 7 anos a criança já quer ganhar o próprio dinheiro, faz pequenas compras, já consegue lidar com troco


    • E finalmente, aos 8 anos já demonstram grande interesse pelo dinheiro, querem saber preço de tudo e conseguem guardar a mesada para compra algum item de maior valor. Idade ideal para discutir sobre os desejos a serem realizados a partir do hábito de poupar.
    ResponderExcluir
  17. • Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA


    È, parece que nossas discordâncias foram evidenciadas, o que de todo não é mal: é muito bom ter em relação a Educação constante reflexão e reposicionamentos. Espero que realmente haja oportunidade para novas discussões sobre o tema, e enquanto isso não acontece, voltemos ao trabalho...


    Entendo que o exemplo que lançou ( Matrizes e Determinantes) não seja para grande parte da população um conteúdo de relevância e primeira necessidade, uma vez que o país é mau leitor e ainda capenga em raciocínio lógico-matemático, porém, mantenho minha posição sobre a necessidade deste conteúdo. Provavelmente esteja certo, e não terei como resposta alguém que tenha feito uso desse conhecimento e que escolheria aprender sobre a Taxa Selic, mas a minha questão não é escolher entre um e outro, já que acredito que há espaço para todos os conteúdos, ao menos, noções básicas, que é a primeira função de uma Escola.


    Muito se fala sobre o acumulo de conteúdo e que há a necessidade de elencar prioridades e vejo isso com alguma preocupação. Como disse anteriormente, não tenho no Ensino Médio grande intimidade e por isso não poderei opinar com propriedade sobre as outras áreas de conhecimento, que não a Matemática, e por essa razão, sou enfática em defender a manutenção dos conteúdos que considero mínimos, com no máximo, a substituição da ordem que são apresentados, além de se criar estratégias que anulem a fragmentação do mesmo.


    Não vejo razão de se excluir conteúdos da Matemática, especialmente quando se usa por justificativa que não haverá espaço para tantos os assuntos que devam ser abordados. A matemática é uma disciplina de aprendizado progressivo, e o conteúdo “Educação Financeira” já é trabalhado desde as séries inicias, e a escritora Susanna Stuart, mostra como isso se dá:


    • Crianças com 3/4 anos possuem pouco interesse pelas questões relacionadas ao dinheiro, mas gostam de moedas e suas cores. Portanto, é recomendado o enfoque quanto a classificação por tamanho e cor;


    • Já as de 5 anos conseguem distinguir moedas e começam a associar dinheiro e compra. È chegada a hora de trabalhar em sala, simulações de compra e venda;


    • As crianças de 6 anos já reconhecem conceito básico de valor maior e menor, e entendem que o dinheiro ainda é algo imediato. Apesar de não terem muita noção de poupar, esse hábito pode ser introduzido juntamente com a primeira mesada;


    • Aos 7 anos a criança já quer ganhar o próprio dinheiro, faz pequenas compras, já consegue lidar com troco


    • E finalmente, aos 8 anos já demonstram grande interesse pelo dinheiro, querem saber preço de tudo e conseguem guardar a mesada para compra algum item de maior valor. Idade ideal para discutir sobre os desejos a serem realizados a partir do hábito de poupar.
    ResponderExcluir
  18. Percebe-se que a idéia já foi cultivada, facilitando a assimilação de novos conteúdos, como Educação Econômica e Tributária. Mas não é isso que acontece em nossas salas de aula: nossos estudantes chegam sem uma boa base, e isso tem como conseqüência o analfabetismo financeiro, que tão bem levantou em suas últimas postagens. Por desejar uma solução definitiva que enfoco na necessidade de se privilegiar o ensino básico de qualidade, para que, com o passar do tempo, não exista a possibilidade de se negligenciar um conteúdo, com a justificativa de não haver tempo hábil para essa assimilação.


    Quando digo que vejo com preocupação a mudança do currículo, é por temer as conseqüências: há a sugestão de se substituir o ensino médio pelo técnico, o que aumentaria a dificuldade de um aluno da classe trabalhadora de ingressar o ensino superior. Há ainda estudos que orientam a extinção do ensino médio noturno, tirando à oportunidade dos alunos que trabalham fora, o direito a instrução. Nenhuma dessas sugestões me satisfaz enquanto cidadã que é também, educadora, a solução, portanto não é extinguir ou ignorar determinados temas, e sim, melhorar o ensino para que temas de relevância prática como a interpretação de gráficos e tabelas, bem como índices das taxas e juros que norteiam nossa economia sejam efetivamente aplicados.


    Essa semana foi divulgada o índice do Idep, e o telejornal de maior audiência do país fez uma série de reportagens sobre o assunto, e o que foi apresentado não gerou surpresa para nenhum profissional da área: até houve avanços na educação básica, porém, no ensino médio, a melhoria foi quase imperceptível, isso claro tem relação direta ao que é investido. De tudo que é destinado a Educação, 65% são para o fundamental; 13% para o médio; 7% para o infantil; e 15% para o superior.



    2) As Ciências Humanas


    Concordo com absolutamente tudo que disse sobre o ensino de Filosofia e Sociologia. Uma das minhas maiores utopias seria com a prática efetiva da grade curricular paritária, mas isso só seria possível com o uso da transdisciplinaridade, algo bastante distante de se concretizar, graças a política educacional nacional, que faz o professor ter uma carga sobre humana de trabalho, o que impossibilita a formação continuada. O Ensino Médio também conta com outros desafios, que é, por exemplo, a falta de padronização de projetos pedagógicos específicos, além de não contar com o professor referência, contribuindo para a perpetuação de um currículo fragmentado.


    Respondendo sua pergunta, poucos são os alunos que saem do ensino médio com alguma consciência política, mas a responsabilidade ( não gosto da idéia da culpa) não pode ser atribuída apenas ao currículo. Infelizmente nossos alunos são reflexos de nossa sociedade. Poucos são os adultos dotados desse juízo de valor, e aqui, incluo grande parte dos professores. Como ensinar o que não se sabe? Por essa razão, volto naquele primeiro ponto: é improvável aprender algo se o mesmo não for colocado em prática. Por que digo isso? Antes de o professor ser o orientador de muitos, é alguém participante da sociedade, que tem família e participa de outros grupos sociais. Muitos educadores estão endividados, então, como correlacionar, com propriedade, teoria e prática? Da mesma forma, há muitos professores que chegam ao Magistério com déficit de aprendizagem, e isso infelizmente pude constatar, quando em minha primeira experiência no ensino superior (enquanto professora) tive a função de oferecer ‘reforço’ em Matemática básica, e mesmo nessa disciplina, percebia que muitos tinhas problemas estruturais em interpretação de texto. Eu me perguntava em como determinado aluno seria capaz de ser um professor. E de novo, a responsabilidade não estava no currículo, e sim, nas políticas assistencialistas que através de cotas, colocam pessoas despreparadas no ensino superior, perpetuando essa mazela social.
    ResponderExcluir
  19. Antes de abordar o próximo ponto, gostaria de elogiar sua defesa pela consciência política. È uma pena que não seja candidato, achei até possível vencer meu atual desânimo e votar em seu discurso, a menos, claro que não me sentisse ofendida por um importante ponto: estudei num colégio tradicionalíssimo no Rio de Janeiro, e lá eu pude contar com as disciplinas de OSPB e EMC, isso bem antes de entrar no ensino médio - nessa escola também contava com uma disciplina chamada “Técnicas Comercias”, e “Educação Familiar”, além do odioso ensino religioso, ou seja, tempos difíceis...rs


    Mas, voltando ponto, as disciplinas de EMC e OSPB foram anexadas ao currículo graças de acordo com o Decreto Lei 869/68, e por isso, tornaram-se obrigatórias no ensino brasileiro a partir de 1969, seguindo a ideologia do AI5. Porém, vi com bons olhos a recusa da LDB em manter essas disciplinas, por entender que as mesmas estavam impregnadas de um “caráter negativo de doutrinação”. [Dicionário Interativo da Educação], a solução encontrada foi a entrada das disciplinas de Filosofia e Sociologia, e o adendo importantíssimo que explicita a opcionalidade no que diz respeito ao Ensino Religioso, ou seja, vejo na LDB mais pontos positivos que negativos.


    Quando o assunto é a Constituição Federal, concordo inteiramente com sua opinião, e aqui, nada posso acrescentar. Como também, teria pouco a dizer frente ao seu último parágrafo, que foi de uma beleza ímpar: a Educação é bem mais que meu ganha - pão, é meu ideal de vida, e ver que ela é também fonte de profunda análise de outros, faz, de novo, nascer a esperança de dias melhores: portanto, obrigada por isso :’)



    Na espera de sua conclusão, despeço-me.


    Att,

    R.


    ResponderExcluir
  20. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Caríssima Roberta, minha última participação neste debate e neste campeonato será um pouco mais curta que as demais. Vejamos primeiro como ficará nossa maior discordância.


    1) O que é mais importante para os fins da educação?

    Nossa divergência é que eu creio que devemos reformular o currículo escolar substituindo alguns conteúdos por outros enquanto você acha que há espaço para todos os conteúdos, tanto os atuais quanto os que queremos acrescentar. O que eu gostaria de deixar claro é que as sugestões que fiz apareceram ao longo deste debate para fazer cumprir o que a lei já determina sobre os fins da educação. Entre estas finalidades estão:

    a) Preparar o estudante para a o exercício da cidadania.
    b) Dar-lhe o conhecimento de seus direitos e deveres.
    c) Fazê-lo compreender o sistema político nacional.
    d) Difundir o respeito pelo bem comum e pela democracia.

    Não é novidade para ninguém que o brasileiro típico tem carências em todos estes quatro aspectos. O próprio “jeitinho brasileiro” caracteriza essas deficiências em nossa cultura. Infelizmente a maioria de nós vê qualquer bem público não como algo que pertence a todos mas sim como aquilo que não é de ninguém. Eu ajuízo que esta maneira brasileira de encarar o estado e a sociedade está na origem da maioria de nossos problemas sociais: é uma força que nos puxa para o subdesenvolvimento e a corrupção. Em seu primoroso “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda descreve essa característica peculiar de nossa cultura ao definir o brasileiro como o Homem Cordial, o sujeito de bom coração que viola as regras gerais para fazer o bem aos particulares que lhe são próximos.

    Por mais que esta concepção social de nosso povo possa parecer até mesmo louvável em casos específicos, ela é catastrófica quando se torna uma espécie de “lei não escrita” que se sobrepõe à regra clara que deveria valer para todos. Temos exemplos disso o tempo inteiro na política, no trânsito, nas filas de supermercado e aqui mesmo no blog. Quando uma norma é violada, pode até ser que as pessoas envolvidas na situação concordem em relevar um pequeno desvio, mas a ordem estabelecida é abalada e a credibilidade de norma é posta em dúvida trazendo prejuízo para todos.

    Sabemos que uma característica cultural cujas raízes permeiam toda a história do nosso país não mudará tão facilmente sem que tomemos medidas efetivas no âmbito educacional. Por isso uma reforma curricular é tão importante. E veja que não estivemos falando de pouca coisa aqui. É muito o que tem que ser mudado! Só do que já mencionei temos:

    a) Matemática Financeira,
    b) Noções de Economia,
    c) Noções de Direito Tributário,
    d) Filosofia,
    e) Sociologia,
    f) Educação Política e
    g) Noções de Direito Constitucional.

    É evidente que o “espaço” do currículo do ensino Fundamental e Médio não é infinito. Então, por termos um espaço limitado e tanto a acrescentar, fatalmente há conteúdos que precisarão ser retirados. Por isso eu gostaria de saber se você mantém a ideia de que há espaço para tudo sem perigo de uma sobrecarga. Mesmo que você ache que “ainda” há espaço para alguns acréscimos, há de convir que 7 disciplinas extras não são pouca coisa. 
    ResponderExcluir
  21. Eu entendi perfeitamente seu raciocínio de que todo o conhecimento humano, particularmente a Matemática, está integrado e que um conteúdo liga-se ao outro de inumeráveis maneiras distintas. Entretanto estamos em uma situação em que os próprios fins da educação nacional não estão sendo atingidos graças à ausência (talvez proposital) de assuntos-chave. Em uma mão temos conhecimentos sem os quais é impossível (veja bem: impossível) ser um cidadão plenamente consciente e na outra mão um assunto cuja utilidade é específica e restrita a um reduzido número de profissionais. Para mim está claro que devemos dar prioridade àquela matéria sem a qual a própria razão de ser de uma educação cidadã será perdida. Foi justamente por isso que eu trouxe o exemplo das Matrizes e dos Determinantes. Minha intenção é mostrar que, se tiver que abrir espaço, há assuntos que poderão sair em nome de um bem maior. É uma ideia perigosa de se defender, pois é muito vulnerável a argumentos sofismáticos (nos quais você, honesta que é, não incorreu), mas é o que minha razão me diz.


    2) Respondendo...

    -- Você diz que “o conteúdo ‘Educação Financeira’ já é trabalhado desde as séries inicias”. Sim, é verdade. No Ensino Fundamental adquirimos a noção básica do que precisaremos fazer em qualquer cálculo financeiro posterior. Como você citou, a metodologia deve ser diferente ao lidarmos com crianças. Mas a questão que eu quero resaltar é que isso deve ser retomado no Ensino Médio, pois é nele que estamos mais próximos da realidade adulta e de todas as suas responsabilidades.

    -- Repare que em parte alguma eu digo que a “culpa” de nossa educação deficiente está apenas no currículo das escolas. É claro que há problemas com relação à família, com a formação dos professores e com o ambiente social em que o estudante vive. Eu me concentrei na questão curricular porque, enfim, este é o tema do debate e também porque a mudança positiva tem que começar, seja por onde for.

    -- Quanto à disciplina de OSPB ter um caráter doutrinário, concordo que isso deveria ser firmemente combatido, mas sem jamais suprimir a disciplina inteira e deixar este vácuo político que agora vemos em nossas escolas. Não é “doutrinário” ensinar aos estudantes quais são as atribuições de um ministro de estado ou de um senador, como se aprova um projeto de lei, como se estrutura o Poder Judiciário ou quais os assuntos de competência da união, dos estados e dos municípios. Como eu disse, basta a informação. Não há lugar para proselitismo partidário aqui. Por isso eu sustento que a supressão total do conteúdo foi um enorme desserviço que nos fizeram nossos governantes após a redemocratização. Eu compreendo o receio que eles tinham de deixar no currículo um assunto como este. Toda a onda reformista que se seguiu à saída dos militares acabou levando consigo muito do que eles fizeram de bom pela educação nacional. O problema é que no Brasil basta reconhecer algum mérito do governo militar para que o sujeito seja chamado de reacionário, nazista etc. Nós argumentadores, que temos o enorme poder da palavra, não devemos ter este receio. Devemos expor nossas opiniões por contraversas que sejam. Por isso eu digo: a disciplina de OSPB foi um aspecto positivo da educação prestada durante o regime militar e deveria ter sido mantida e reformada, jamais suprimida.

    -- A questão que você levantou sobre dar ao Ensino Médio um caráter técnico é interessante. Não tenho conhecimento de nenhum projeto que vise modificar todo o ensino neste sentido. Sei que hoje existem as Escolas Técnicas, em que o estudante vê, paralelamente ao currículo tradicional, o conteúdo relativo ao curso que escolheu. Para mim isso é positivo, pois qualifica o estudante para o trabalho assim que ele entra na idade legal para trabalhar. O que eu acho é que o ensino técnico deveria permanecer exatamente como é: opcional. 
    ResponderExcluir
  22. 3) Despedidas.

    Agradeço a todos os leitores que acompanharam esta final de campeonato, pois o assunto aqui tratado é de importância capital para nosso país, além de me ser muito caro. Este debate lembrou-me o que tive com o Raoni sobre o tema “Moral Cristã versus Moral Ateia”. Ambos foram muito agregadores para mim por não serem nem um pouco parecidos com os que costumo ter. A diferença é que, com o Raoni, houve discordância o tempo inteiro e aqui as divergências ficaram em segundo plano em prol da troca e exposição de ideias. Só tenho a agradecer à Roberta por mais esta experiência. Minha oponente foi leal, cortês e sempre me fez ganhar alguma coisa nas participações que fez até aqui, seja trazendo perspectivas novas seja obrigando-me a pensar em questões que eu não julgava problemáticas nos pontos que defendi. É por isso que excepcionalmente, diante desta verdadeira lady, eu me despeço dos meus nobres colegas assinando apenas como o grato

    Alex Cruz
    ResponderExcluir
  23. CFs.:


    Olá, Alex...


    Então, chegamos ao fim dessa proveitosa e agradável conversa. Chego com a feliz sensação de que muito foi dito, e na perspectiva que o assunto trará ao grupo boas discussões.


    Enquanto leitora (avaliadora) de debates, tomo a seguinte atitude: primeiro, leio todas as considerações do desafiante, em seguida, faço o mesmo com o desafiado, e só depois dessa leitura prévia, é que releio com as intercalações. È aparentemente demorado, quase metódico, mas com esse comportamento, tenho a impressão que é mais fácil avaliar unidade e coerência de raciocínio, e nesse aspecto, concluo que não há em nossa fala, grandes discordâncias.


    A questão da reformulação do currículo escolar é em minha opinião uma excelente reflexão; já que se faz necessário constante avaliação, afinal de contas, não existe nada mais dinâmico que a Escola, só não considero apropriada (necessária) na área da Matemática, sendo que o mesmo pode não ser verdade nas outras áreas de ensino. De forma sincera, afirmo que gostaria de ser mais enfática nesse ponto, mas, como anteriormente disse, não tenho com o Ensino Médio maior intimidade, creditando em você maior domínio da razão.


    Em sua defesa, colocou aspectos que ninguém em sã consciência questionaria que são as finalidades da Educação: a preparação para o amplo exercício da cidadania, além de propiciar que o indivíduo faça uso da consciência coletiva, difundindo o ideal da democracia. São valores que devem ser constantemente trabalhados, já que contamos com um problema já diagnosticado, onde num texto (apócrifo) atribuído a João Ubaldo Ribeiro é amplamente propagado pela internet: “Precisa-se de mão de obra para construir um País”, de Pablo Teach, não sei se conhece, mas, é quase um lugar comum quando em discussões pedagógicas, elencamos problemas e soluções para uma melhoria na Educação, que é na verdade, uma melhoria em toda sociedade, já que entendemos que a escola, enquanto instituição de ensino nada mais é que a continuação dos outros grupos sociais que todos nos fazemos parte. Se há problema na Escola, é porque antes, há na família. Por isso, o tal jeitinho brasileiro é tão emblemático, e sua menção ao “Raízes do Brasil”, tão feliz...


    Ainda que não seja possível uma mudança no currículo, penso que muito do que foi abordado aqui dependa mais do educador do que, propriamente do que diz a lei. Gosto do poder transformador que individualmente somos capazes de realizar. Porém, há de se preocupar que, há casos numerosos que nossos professores já não sabem o que fazer na sala de aula, graças a falta de capacitação continuada, ausência de motivação pessoal, além da falta de estrutura tão característica dessa profissão.


    E respondendo sua pergunta, manteria o currículo da Matemática praticamente intacto, mantendo os conteúdos só reorganizando o cronograma, ou seja, seria mais uma questão metodológica. Sobre as outras áreas, creio que não seriam setes novas disciplinas, já que consigo visualizar a transdisciplinaridade dos temas, fazendo a seguinte adaptação do que foi apresentado:


    a) Noções de Direito Constitucional e Tributário;
    b) Matemática Financeira & Noções de Economia;
    c) Filosofia;
    d) Sociologia & Educação Política.
    ResponderExcluir
  24. Ainda assim, pareceria um exagero de disciplinas, frente a todos as outras, mas eu diluiria entre os anos, por exemplo, Filosofia, Sociologia & Educação Política, deixaria para os dois últimos anos do Ensino Médio, já Noções de Direito Constitucional e Tributário, a partir do 9° ano de escolarização, Matemática Financeira & Noções de Economia, desde a Educação Infantil.

    E fiquei feliz por minha fala ser amplamente entendida no que diz respeito à Matemática, é sobre tudo que foi apresentado, meu único ‘talento’...rs

    Sobre a ausência de assuntos chaves, acredito que em muitos casos, a causa do fracasso é por ter no educador alguém pouco apto a ensinar determinados conteúdos. Muitos que estão em sala de aula, são resultados de uma formação deficitária, e por isso, não saberiam explicar com propriedade a funcionalidade de um conteúdo como Matrizes e Determinantes, fazendo parecer ao grande público que é um conceito abstrato e pouco útil a vida diária.

    Finalizando...


    Sim, eu mantenho a opinião que o conteúdo “Educação Financeira” é desde cedo trabalhado na escola. E entendendo que a Matemática parte daquilo que já se sabe para conhecimentos mais complexos, vejo que essa transição é bastante tranqüila, observando, claro, a metodologia de ensino.


    E eu não trabalho com a idéia de culpa, Alex, e sim, da co-responsabilidade. E sabendo da minha função enquanto cidadã e educadora assumo sim, alguns aspectos do fracasso escolar devido a minha prática, ou pior, omissão. Como também, aceito como natural, resultados positivos, que são também bastante observados. Há aqui uma única correção: a mudança vem de dentro para fora, por isso ela não nascerá na escola, ou melhor, no currículo, e sim, na sociedade, através da cobrança política, com uso de manifestações populares. E aqui, o poder está em outros grupos sociais, sendo o mais importante, a família. A escola, portanto, como reflexo da sociedade, absorverá essa mudança. È nisso que acredito, bastante utópico, não? =)
    ResponderExcluir
  25. Quando mencionou a disciplina de OSPB em sua penúltima participação, tive um ataque de riso: “céus, como estou velha!”, e é assim que vejo a disciplina. È um conteúdo atrasado que teve as devidas melhorias, onde considero a adoção de Filosofia e Sociologia de um ganho maior para os estudantes. Na minha época de estudante ( aqui de novo a idade denunciando...rs), a professora responsável pela disciplina tentava fazer de sua aula, uma doutrinação, era quase uma visão religiosa sobre vultos e símbolos da Pátria. Mas penso que se a professora não fosse alguém sisuda e religiosa, provavelmente teria por essa disciplina algum apreço. E aqui entra de novo aquela minha fala: muito do que é realizado na sala de aula depende mais da ação eficiente de um mestre do que diz uma cadeira: essa pobre infeliz seria fracassada se ensinasse Filosofia, Sociologia, ou Educação para o Trânsito por exemplo.



    Sobre a questão de dar ao Ensino Médio um caráter técnico é uma das discussões levantadas pela Bancada da Educação, como também a de se extinguir o Ensino Noturno para adolescentes. Espero que esse tipo de ‘solução’ não passe, pois vejo mais prejuízos do que avanços. Darei um exemplo prático: o meu ensino médio foi técnico, e quando prestei meu primeiro vestibular, ainda na fila de inscrição, fiquei apavorada com os conteúdos normativos que meu curso não contemplava. As áreas de exatas foram as mais negligenciadas, onde tive enorme trabalho em sanar esse déficit educacional. È evidente que minha posição é parcial, uma vez que sou originária da educação pública. No meu estado, os ensinos técnicos não são opcionais. Mas contamos com Escolas de Educação Superior com enfoque ao tecnicismo, que é, na minha opinião, na falta de coisa melhor, uma boa solução.



    E então, concluo minha participação mais uma vez agradecendo ao nobre oponente por ter me propiciado um novo olhar sobre um tema que me é tão caro, torcendo inclusive que esse debate traga importantes contribuições.


    Grata pelo exercício,

    R.

29 comentários:

  1. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Saudações, Roberta e demais membros da Duelos Retóricos.
    É uma grande satisfação para mim chegar a esta final de campeonato depois de um duelo empedernido sobre a existência de Deus contra Micael Pimpim e outro que tomou rumos imprevistos sobre manipulação genética do ser humano contra o Raoni Latalista. Apesar das surpresas que tive nos duelos anteriores, creio que o maior desafio que enfrentarei neste campeonato está diante de mim na ilustre pessoa da jedi Roberta A. Aires. Isso não se deve a nenhuma limitação de meus concorrentes prévios, mas sim ao “modus operandi” de minha nova adversária, contra a qual meu estilo de debate incisivo não servirá para nada além de me atrair todas as antipatias possíveis. Para mim, este desafio é um verdadeiro teste de estilística que agora começo sem noção clara do que irá ocorrer daqui para frente...


    1) Introdução

    Com a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio como principal meio de acesso às universidades públicas brasileiras, a maioria das escolas nacionais modificou sua maneira de tratar os assuntos constantes no currículo escolar. Entretanto os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação ainda estão, a meu ver, muito atrasados em vários aspectos que já são, de alguma forma, cobrados nas questões do ENEM. A elaboração das questões dessa prova é mais voltada para aplicações práticas, para situações do cotidiano, para a interpretação de textos e para a interdisciplinaridade. Assim temos praticamente o mesmo conteúdo que tínhamos antes da criação do ENEM, mas com uma abordagem diferente nas questões de prova. A ideia que quero defender neste debate é que temos que levar os princípios da praticidade e da interdisciplinaridade também para os conteúdos do currículo e não apenas para a maneira de cobrá-los em um exame final.

    Desta forma, há três áreas do conhecimento para as quais eu gostaria de propor mudanças de conteúdo, seja para acrescentar assuntos da mais alta importância que hoje são desprezados, seja para retirar assuntos que, no meu entender, deveriam ser substituídos. As áreas em questão são Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Diante da possibilidade de não haver discordância entre a Roberta e mim, pretendo expor minhas ideias sobre o tema gradualmente ao longo da discussão. Como a Roberta é matemática, começarei as CIs já com este assunto. Nas réplicas entrarei nas Ciências da Natureza. As tréplicas serão dedicadas à parte que julgo mais necessitada de transformações: as Ciências Humanas. E as CFs ficarão para comentários gerais e alguns acréscimos que não se enquadram propriamente em nenhuma dessas divisões. Acho que assim, mesmo que não haja discordância explícita, poderemos comparar nossas visões sobre este assunto e enriquecer nossas ideias. Então, sem mais demora, vamos, Roberta e eu, à nossa luta cortês que (creio) em nada lembrará a pancadaria e os massacres de alguns debates aqui na DR. E que Darwin me ajude!

    ResponderExcluir
  2. 2) Mudanças no ensino de Matemática

    Os princípios centrais são a praticidade e a interdisciplinaridade. Todos nós saímos ou estamos saindo do Ensino Médio com uma educação matemática que considero bastante falha quanto ao seu conteúdo. O brasileiro sai da adolescência e entra na vida adulta sem uma paleta de conhecimentos que muitas vezes só aprende quando sua necessidade se torna urgente ou então da maneira mais dolorosa possível: errando, sendo enganado e pagando caro por isso.

    Talvez a principal falha do ensino de matemática seja a ausência de uma educação de caráter eminentemente financeiro e tributário. Quando um brasileiro médio vai comprar seu primeiro carro ou negociar a aquisição de um imóvel, geralmente através de um financiamento, percebe que acabará pagando muito mais do que esperava e não tem noção de que a taxa de juros que lhe informaram não é a taxa real que virá embutida nas parcelas. Será culpa da concessionária e da corretora? É claro que todos vêm na escola cálculos de porcentagem e problemas com juros, mas não há um direcionamento dessas matérias para a praticidade da vida adulta. Assim, quando essas noções nos são realmente necessárias, não sabemos lidar com elas ou já as esquecemos dada a maneira alheia à realidade prática com que nos foram transmitidas. Na escola, estudamos porcentagem assim como estudamos aritmética: mais como uma ferramenta de valor ambíguo do que como algo cuja compreensão é essencial para a vida moderna. Prova disso é que a maioria das pessoas não tem a menor noção de como funcionam os juros compostos na hora de financiar um carro, não sabe calcular quanto de desconto terá se adiantar o pagamento de uma parcela do seu financiamento e não sabe o que é uma tabela PRICE, embora tenham visto todas as ferramentas necessárias para isso na escola.

    A Matemática Financeira propriamente dita é ensinada em preparatórios para concursos públicos ou em universidades, mas não na escola. Não estou falando meramente em juros simples e compostos, mas também em taxa proporcional, efetiva e nominal; desconto racional e comercial; sistema de amortização de dívidas; anuidades antecipadas, postecipadas e diferidas; critérios de viabilidade financeira etc. Para muitos, isso parece uma coisa que veio de outro mundo uma realidade distante e que pertence ao “economês”, mas este tipo de estudo tem muito mais aplicação em nossas vidas práticas do que os conteúdos de trigonometria ou de matrizes e determinantes, por exemplo. Tornamo-nos adultos tendo estudado funções logarítmicas, mas sendo financeiramente analfabetos. O brasileiro médio não entende bem o que causa a inflação, não tem ideia do que seja a TR, faz uma cara de espanto quando é informado sobre a existência do IOF e ainda paga taxas de abertura de crédito sem saber da ilegalidade dessa cobrança.

    Aqui entra em cena a importância de um mínimo de educação tributária e econômica. Esse conhecimento naturalmente mescla-se com as ciências humanas, o que é bastante positivo segundo o princípio da interdisciplinaridade. Frequentemente pergunto-me como é que quase ninguém percebe o absurdo dessa situação em nossas escolas. Como pode uma escola querer formar adultos conscientes e preparados se não lhes dá a mais básica noção dos impostos cobrados em seu país, cujo conhecimento é tão importante para quase tudo o que se faz na vida adulta? Não é preciso muito esforço para constatar que o conhecimento básico dos tributos federais, estaduais e municipais, das alíquotas cobradas e da porcentagem que tudo isso representa no preço final de um produto acabaria por formar cidadãos muito mais conscientes do valor daquilo que pagam ao estado e, por consequência, do quão grande é a responsabilidade desse estado para com eles.

    ResponderExcluir
  3. A maioria de nós simplesmente ignora como funciona o Sistema Financeiro Nacional, não sabe ler o gráfico candlestick de uma ação da Bovespa, acha que uma média móvel exponencial de preços é algo de outro mundo. Nessa perspectiva, de que adianta o Estado e os partidos políticos serem transparentes com relação às suas finanças se os dados divulgados são ininteligíveis para a maioria da população? Para mim, a escola deveria preparar o cidadão para o mundo. E o mundo é cheio de números de caráter financeiro, tributário e econômico. Mas, em vez disso, ensinamos assuntos cuja única função parece ser a de ajudar a responder questões de prova.

    Não estou, de forma alguma, retirando a importância da trigonometria ou das matrizes. O que estou dizendo é que a escola deveria prezar mais por conteúdos cuja aplicação tenha uma utilidade pratica na vida do indivíduo. Sob essa perspectiva (e aqui faço apenas uma estimativa descompromissada), 60% do ensino de matemática será esquecido pelo aluno tão logo terminada a prova e jamais o mesmo aluno encontrará uma situação em sua vida na qual a lembrança desse conhecimento lhe será necessária. Assim temos cidadão alheios às finanças públicas, que não sabem calcular a porcentagem de um desconto, que endividam-se de forma irresponsável por não ter noção do quanto comprometeram seus salários, que assumem compromisso financeiros sem levar em conta despesas como IPVA e IPTU, que não sabem o que faz o Banco Central, que acham que o noticiário econômico nos jornais é grego etc.

    Em resumo, com a substituição de alguns conteúdos de matemática e com a interdisciplinaridade da educação tributária e econômica, teríamos cidadãos muito mais preparados para a vida adulta e certamente mais conscienciosos quanto ao uso do seu dinheiro e quanto ao emprego do dinheiro dos seus impostos pelo Estado. Desenvolveríamos uma cultura financeira que, para mim, consistiria num tremendo avanço para a democratização do conhecimento aplicável para o cidadão e para a comunidade. Só o fato de entendermos o sistema tributário nacional e de desenvolvermos uma cultura de investimentos em ações já daria à nossa população um sentimento muito maior de respeito por aquilo que é de todos, uma vez que em princípio qualquer um pode comprar ações uma empresa de sociedade anônima e assim tornar-se sócio dela. Basta isso para, por exemplo, gerar um paradigma de responsabilidade coletiva centrado naquilo que mais desperta a atenção e a ação das pessoas: o bolso!


    3) Terminando

    Claro que minha ideia de reforma curricular no que se refere à Matemática não representa um modelo fechado e acabado. Provavelmente minha colega Roberta ou outro(a) leitor(a) pode ter pensado em algo importante que minha exposição tenha deixado de contemplar. A questão financeira, econômica e tributária são apenas exemplos do que considero uma educação de caráter prático e de assuntos de vital importância para uma democracia com cidadãos mais participativos. Certamente há elementos aqui, como a educação tributária e econômica, que poderiam ser facilmente agrupados como parte das Ciências Humanas. Porém esses assuntos também envolvem conceitos e raciocínios de caráter matemático. São um exemplo de interdependência entre as disciplinas e sabemos que a maioria do conhecimento humano é interdependente.

    Passo agora a palavra à minha ilustre oponente. Gostaria de ouvir suas discordâncias, críticas e sugestões quanto a este assunto.


    Abraços financeiros do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz

    ResponderExcluir
  4. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


    È com entusiasmo que recebo as saudações de meu oponente, após um campeonato que, mais uma vez, (apesar de falas contrárias) fui surpreendida com uma boa colocação. Comemoro a melhoria em meu ranking pessoal, já que no último fui a 3ª colocada, e nesse, já conto com a confortável situação de ser ao menos, a vice-campeã, e assim, sem nenhum peso, encararei o desafio sem (muito) temor, apesar de conhecer o retrospecto de meu adversário, que até então, se mostra imbatível. O tema escolhido, apesar de ser na minha área de atuação, é um pouco distante de minha prática, mas enquanto estudiosa do assunto, acredito que o debate trará grandes pontos de reflexão e por isso, tenho enorme fé que será uma bem sucedida exposição de ideias, apesar de entender a complexidade do tema, até por conta da subjetividade a qual está inserida, tenho certeza que será envolto de boas maneiras. Por me remeter ao meu primeiro debate, fico feliz com a nova oportunidade de falar sobre o assunto da minha vida, que foi, até a chegada da maternidade, o que mais me completava, e até então, meu único talento e com isso em mente, inicio minha fala...


    Introdução:


    Antes de falar sobre essa fundamental mudança no currículo do Ensino Médio, se faz necessário um resgate histórico: Os Parâmetros Curriculares Nacionais foi uma criação do Governo Federal a partir do ano de 1996, e não engloba apenas o Ensino Médio, é um referencial que abrange todo o ensino básico, a começar pela Educação Infantil. O objetivo era uma maior padronização do ensino público do país, além de melhorar o convívio dos alunos e fazê-los desde sempre, co-participantes da sociedade. Por isso, a organização desse documento se deu a partir de módulos (áreas de conhecimento) objetivando atender toda dinâmica de uma sala de aula. Foi a partir dessa construção coletiva que se repensou critérios de avaliações e a relação professor-aluno. No início, era um documento único, mas, desde 2004 o mesmo é constantemente adaptado respeitando a realidade de cada região do país.


    A cada três anos, há a escolha de novos livros didáticos para a rede pública. Professores recebem inúmeras coleções com pouca diferenciação do conteúdo, porém, com variáveis metodologias. Se isso já acontece hoje, com os PCNs já inseridos na realidade educacional, imagine como era complicado eleger conteúdos e melhor avaliar seu aluno? Sabemos que é comum na Escola pública a evasão e transferência, e quando um aluno era matriculado em outra localidade, seu currículo era pouco aproveitado, levando esse educando a um déficit incalculável. Por essa razão foi importante essa padronização do ensino básico, que é uma tentativa de se criar uma identidade. Porém, é importantíssimo lembrar que os aspectos levantados são apenas um ponto de partida, cabendo a cada Instituição a liberdade de se reorganizar e eleger novos conteúdos, desde que os mínimos sejam contemplados. È aí que percebemos o problema da Educação: por inúmeras razões, a Escola se mostra ineficiente em se provar autônoma, sobre isso falarei mais adiante.

    ResponderExcluir
  5. Concordamos que há um atraso conceitual nos assuntos abordados tanto nos Parâmetros Curriculares como na LDB. Há pouco enfoque ao cientismo, o que, na prática, resultará em menos formadores de opinião, o que é sempre um motivo de pesar. Sobre a elaboração das questões no ENEM é um complicado ponto: um grande entrave é quanto ao enfoque à interdisciplinaridade sendo que, em minha opinião, o correto seria o enfocar transdisciplinarmente o conteúdo. Com essa mudança, que não é tão difícil, as aplicações práticas serão automáticas, já que o raciocínio (pensamento complexo) estará todo organizado, tudo fará sentido...


    Há ainda outro fator que precisa ser considerado: durante toda a vida escolar, o aluno será testado em diferentes tipos de avaliações, porém, instrumentos oficiais de seleções optam pela resposta mais “fácil”, o que acabará prejudicando uma parcela dos envolvidos. Não há, a meu ver, uma forma eficiente de se mudar esse quadro, não sem uma transformação profunda, onde a prioridade não seria aquisição do conteúdo e sim, sua aplicabilidade. È essa a discrepância dessa avaliação: pede-se uma coisa, mas oferece outra.


    Tem razão, há poucas discordâncias quando o assunto é o acréscimo e substituição de conteúdos, em especial na área da Matemática. Essa disciplina é a que tem maior rejeição por parte dos educandos. Já defendi que a Educação se baseava apenas no conteúdo, pouco importando a metodologia aplicada. Hoje, percebo que estava errada: as estratégias também precisam seguir um método, ter uma espécie de identidade, e é necessário rejeitar a desculpa da subjetividade do avaliador. È preciso entender que a avaliação é apenas parte de contexto, a qual considero bastante bur(r )ocrático: o que realmente deveria importar é se houve
    interesse pelo assunto, pesquisa individual e autônoma e reflexão sobre o “erro”...


    A matemática sempre foi um problema para a Educação, e isso não reflete apenas no Brasil, porém, uma mentalidade equivocada a qual o país também compactua, concorda com a sugestão de que o currículo seja enxugado. E essa opção não poderia ser mais errada: a solução não é a subtração de temas, e sim, na ampliação do significado. A matemática é também uma linguagem, e não é nada abstrata, é uma ciência argumentativa, portanto, racional. È, portanto, a ciência mais próxima do ser humano, pois está em tudo. Na primeira fase é lúdica e essencialmente ligada à prática. Não sei bem porque alguns professores, depois de uma determinada faixa etária, só aplicam à teoria, sem explicar a origem, e o mais importante, a importância dela na vida diária. Atribuo essa prática ao fato de poucos professores saberem correlacionar com a vida diária, fazendo dessa ciência, um exercício de repetição mecânico, quase vazio. Você bem citou que poucos sabem calcular o valor das parcelas de um empréstimo e, dessa parcela, qual é a proporção relativa aos pagamentos dos juros e a amortização da dívida. È uma conta simples que é desconhecida por mais de 60% da população brasileira. Isso é um problema social, que a tem na origem de outras falhas educacionais.

    ResponderExcluir
  6. Estamos ainda na era do ter em detrimento do ser, e isso reflete na aquisição de bens de consumo. O problema é evidenciado na Matemática, só que a causa não é explorada, e sem ter acesso a essa importante informação, o quadro não será mudado. Mas, voltando ao ponto da matemática, é necessário que ela seja entendida como uma disciplina que interliga conhecimentos, que é prática, o que derrubaria o signo da abstracidade. Somos resultado de uma revisão mal feita no que diz respeito a reestruturação do currículo: a educação, conteudista (anos 50-70) foi duramente criticada, depois, a dita libertadora (final de 70 e início de 80), foi difundida sem amarras. Falta unidade no discurso, além de faltar um maior preparo dos professores, sendo o fracasso educacional conseqüência óbvia.


    A Escola é responsável pelo ensino formal, ou seja, sua função é refinar aquilo que o indivíduo já vivencia em seus primeiros grupos sociais. Se o adulto tem dificuldade em lidar com dinheiro, é evidente que essa característica será repassada aos pequenos. A Educação é reflexo da sociedade, se a mesma não elege algumas prioridades, fica difícil numa sala de aula mudar comportamentos, pouco adiantando mostrar o que é o certo se isso não for experimentado em seu núcleo mais próximo, que é a família. Por isso, se faz necessário desde cedo atribuir valor ao dinheiro, que é resultado de pagamento de algum serviço. Um bom início para esse aprendizado é quando a criança pede ‘ aquela coisinha’, quando os pais voltam do trabalho. Alguns estimulam o consumismo ‘pagando’ o afeto da criança, através de mimos. O que a criança entenderá com essa ação motivada pela culpa?


    Tudo isso para mostrar que a mudança no foco da Matemática deverá ser outro, e que ensinar juros/porcentagens apenas no Ensino Médio é um engano, uma vez que desde sempre o aluno faz uso do dinheiro. Para chegar a assimilação de conceitos complexos como taxas proporcional, efetiva e nominal; descontos racional e comercial; sistema de amortização de dívidas; critérios de viabilidade financeira, devemos começar com o básico, que o uso racional de instrumentos como mesada, por exemplo. A dificuldade está em ver dissociada a Economia da Matemática, e por isso concordo com sua fala aonde diz que tornamo-nos letrados em funções logarítmicas, mas sendo financeiramente analfabetos. Foi muito feliz em constatar que o brasileiro médio não entende as causas da inflação, tampouco, a recessão, que não entende de tributação e é, constantemente engolido por índices bancários desonestos.


    Tendo isso claro, percebo um único ponto de discordância em nosso pensamento: não sou favorável a manutenção da interdisciplinaridade de conteúdos. E isso me remete a uma fantástica experiência a qual a pouco, fui apresentada: o documentário “PROSPERAR: O Que Será Necessário? “ é um achado que foi gentilmente cedido por um conhecido. Há toda sorte de sugestão a teorias da conspiração, o que me deixou um tanto zonza, mas, na metade do vídeo, há uma explicação sobre o dinheiro que não existe, e a forma que o sistema monetário se organiza...È muito, muito, muito interessante. Sugiro que conheça, particularmente, a partir do minuto 55.


    http://www.youtube.com/watch?v=oEKYSXHb_hA&feature=related


    Por isso que acredito que se a transdisciplinaridade fosse usual, o conhecimento seria sinérgico, e não fragmentado, como observamos. Mas eu iria além do que orienta/sugere os PCNs que é correlacioná-la aos temas transversais. Gosto da idéia da não separação de conteúdos. Se isso foi possível comigo, uma pedagoga que passeia com certa familiaridade com os números, não seria utópico desejar isso a todos, não acha?


    E, por enquanto é isso, finalizo minha parte agradecendo a gentileza em desculpar meu atraso e claro, também agradecer publicamente a oportunidade de um dialogo que será enriquecedor em minha prática.


    Att,


    R.

    ResponderExcluir
  7. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    RÉPLICA

    O bom de debater com quem gosta de um assunto é que sempre somos expostos a perspectivas novas. Desde que eu soube que minha oponente é educadora, imaginei que debateria sobre isso com ela. Primeiramente vejamos alguns pontos relativos às CIs e depois passemos a tratar das Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia). Ao trabalho!


    1) Comentários sobre as CIs:

    a) Subtração X Substituição
    Como bem disse minha colega: “a solução não é a subtração de temas, e sim, na ampliação do significado.” A minha visão de uma educação mais eficiente para a cidadania não se trata de mera subtração de conteúdos mas sim de uma substituição de assuntos que não terão utilidade para a maioria dos indivíduos por outros que farão parte de sua vida adulta e que hoje são desprezados pela escola. Para mim é assim que poderemos dar um significado maior ao ensino de matemática. Em termos práticos, não podemos puramente acrescentar muitos conteúdos sem sobrecarregar o currículo escolar. Simplesmente é muita coisa, é mais do que a maioria dos estudantes pode dar conta. É aí que entra a substituição de certos conteúdos por outros. Exemplo disso é o assunto de matrizes e determinantes. Qual é a aplicação prática das matrizes? Elas são muito utilizadas em computação gráfica e na Engenharia Elétrica, para projetar circuitos e linhas de transmissão. Será que este é um conhecimento direta ou indiretamente necessário para todos os cidadãos de modo a justificar-se sua presença no currículo escolar? Se temos que retirar alguns tópicos para abrir espaço para outros, certamente que não poderíamos eliminar a potenciação e radiciação, dada sua importância para uma longa lista de assuntos na matemática. Mas para mim matrizes e determinantes não são tão importantes para a cidadania quanto a educação financeira, econômica e tributária.

    b) Utopia e Realidade
    Roberta diz que “estamos ainda na era do ter em detrimento do ser” e é verdade. Julgo que a maioria de nós preferiria que o “ser” fosse um pouco mais apreciado. Minha preocupação é que alguém pense que uma educação financeira contribuiria para valorizar o “ter”. Nada mais falso. Não se trata de valorizar do “ter” e sim de preparar o cidadão para a realidade que ele irá enfrentar. Assim, todos (ou quase) prefeririam que não houvesse pedófilos, mas não é por isso que vamos deixar de ensinar nossos filhos a não aceitar convites de estranhos vestidos de preto. Da mesma forma, muitos preferem viver numa sociedade menos centrada no dinheiro, mas nem por isso vamos deixar nossos filhos ignorantes quanto à realidade e os meios para triunfar nela e, quiçá, modificá-la. Se queremos transformar nossa realidade econômica, a primeira coisa a fazer é conhecê-la e democratizar este conhecimento.

    c) Escola e Família
    Concordo com a Roberta quando ela afirma que “fica difícil numa sala de aula mudar comportamentos, pouco adiantando mostrar o que é o certo se isso não for experimentado em seu núcleo mais próximo, que é a família.” Pais financeiramente irresponsáveis tendem a desenvolver em seus filhos os mesmos vícios, dificultando o trabalho de uma educação prática neste ponto. Mas isso certamente não é motivo para a escola se omitir nessa questão. Pelo contrário: em algum momento este ciclo precisa ser quebrado e o local mais lógico é a escola. Não é preciso encher-se de dívidas para aprender a lidar melhor com o próprio dinheiro.

    ResponderExcluir
  8. d) O Projeto Thrive e o dinheiro que não existe
    Muito do que há no Projeto Thrive é uma grande fusão de teorias da conspiração. É como eu disse ao Raoni: qualquer um pode criar uma teoria com alguma aparente lógica interna, mas fundada em premissas e deduções falsas. É impressionante como o apresentador tira e confirma conclusões rapidamente e baseado em argumentos de autoridade (“um especialista disse...”), apelo ao medo (“posso estar errado, mas e se eu estiver certo?”) e simples coincidências (padrões em esculturas antigas, que, aliás, são iguais a uma cortina que havia na casa da minha avó). No documentário há muitos erros de caráter econômico, pois há um limite legal e prático para o endividamento dos bancos; físico, pois não há existem sistemas de energia infinita, além de muitas incoerências e contradições. Mesmo supondo que o apresentador esteja certo, é justamente a democratização do conhecimento sobre Economia que dará ao cidadão os meios de melhor compreender o que ocorre e reagir ao tal projeto de dominação global.

    Mas a verdade é que fiquei muito feliz ao assistir ao que diz o apresentador a partir no minuto 55 porque isso ilustra perfeitamente a falta de conhecimento sobre Economia que faz essas teorias conspiratórias prosperarem. Aí vão os motivos do que afirmo: O documentário ignora um princípio fundamental em Economia, informalmente expresso na singela frase “não existe almoço grátis.” Bancos em geral não “criam dinheiro” e sim crédito. É muito diferente! Os bancos podem utilizar o dinheiro que eu depositei para oferecer crédito a outra pessoa, mas continuarão devendo a mim e a todos os outros que depositaram. Há uma dívida correspondente à oferta de crédito. O único banco que pode, de fato, inventar dinheiro, seja imprimindo cédulas seja criando numerário virtual, é o Banco Central de um país. Mas o dinheiro criado não encontra correspondente na realidade, ou seja, ele não criará valor real. Isso fará com que ocorra a inflação e todo o dinheiro criado perderá valor até reencontrar o equilíbrio com o valor real existente.

    Um exemplo do que pode realmente gerar valor real é o trabalho. Imagine uma economia em que um balde de minério de ferro vale R$ 10,00. Se, pelo meu trabalho, eu transformo este minério de ferro em uma barra sólida, ela valerá R$ 20,00. Houve aumento do valor REAL do ferro ali presente através do meu trabalho. Se, em vez de trabalhar e gerar valor real, eu simplesmente criasse uma nota de R$ 10,00, essa quantia não representaria nem um beneficiamento do minério que eu tenho nem a extração de mais um balde dele. O dinheiro passaria a valer menos para equilibrar-se com a realidade. Assim, se todas as pessoas do país tivessem seu dinheiro duplicado, haveria muita demanda por produtos, mas os produtos não se duplicaram também. A demanda então irá fazer com que o preço dos produtos aumente e que o dinheiro valha menos até chegarmos ao ponto de equilíbrio em que tudo valerá mais ou menos o dobro.

    Meu exemplo é simplista, mas mostra que este documentário não teria tantos admiradores se tivéssemos uma população que estudou um pouco de Economia. Como isso não ocorreu, há muita gente hoje imaginando fantasmas por causa desse sensacionalismo de hipóteses fascinantes de que tanto fala Carl Sagan em “O Mundo Assombrado pelos Demônios”. Se o apresentador estivesse certo quanto ao que diz sobre as perseguições sofridas por aqueles que descobrem a verdade, não é estranho que ele ainda não tenha sido eliminado pelo “sistema” e seu vídeo ainda esteja circulando pelo You Tube bem debaixo do nariz dos Rockefellers?

    e) Interdisciplinaridade X Transdisciplinaridade
    Concordo com a Roberta no que se refere à transdisciplinaridade. É uma extensão da interdisciplinaridade que muitas vezes aplica-se melhor às ideias que quero passar. Aí vai o link de uma rápida apresentação de slides sobre as diferenças entre ambas:
    http://www.slideshare.net/silsiane/multidiciplinariedade-interdisciplinaridade-e-transdisciplinaridade-presentation

    ResponderExcluir
  9. 2) As Ciências da Natureza:

    Muito daquilo que considero importante na educação escolar, como trazer o conhecimento para a realidade do cidadão, já vem sendo posto em prática nas questões do ENEM. Isso é extremamente positivo, pois tende a modificar a maneira como o conhecimento é discutido na sala de aula. Então, diferentemente do ensino da Matemática e das Ciências Humanas, não tenho muitas alterações em termos de conteúdo a propor aqui. Nas Ciências da Natureza a questão é muito mais formal do que material e felizmente a coisa parece estar se encaminhando positivamente no Brasil. A única resalva que eu gostaria de fazer com relação aos conteúdos é, na verdade, uma interdição. Isso vai me render (mais uma vez!) a perda do voto dos fanáticos da Duelos Retóricos, mas paciência! É o preço que pago por defender a verdade.

    Para mim deveríamos sempre estar atentos para evitar a difusão do retrocesso obscurantista que já ocorre em muitas instituições educacionais do famoso “bible belt” americano e em algumas escolas mantidas por instituições religiosas aqui no Brasil: o ensino do Criacionismo e o Design Inteligente como se fossem explicações científicas para o surgimento e o desenvolvimento da vida no planeta. É preocupante que muitos parlamentares da bancada evangélica, a mais ausente e processada do Congresso Nacional, organizem-se para retirar o Criacionismo e o Design Inteligente das aulas de religião e levá-los para as aulas de Biologia. Evidentemente que não se trata de explicações com lastro científico tal como a Evolução. Colocar essas duas explicações como alternativas igualmente válidas é de uma incoerência extrema com relação ao método científico e ao empirismo, que orienta e perpassa todo o conhecimento relativo às Ciências da Natureza.

    A Lei 9394/96, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação diz em seu artigo 33:
    -- “Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.” --
    (fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm)

    Não é cometer proselitismo tratar como ciência uma explicação de caráter religioso? Não é uma agressão à laicidade do estado tornar obrigatório esse tipo de ensino? Como a lei diz, a matrícula no ensino religioso é facultativa. Então é evidente que não se pode falar em deuses nas aulas de ciência. Mas a lei pode ser modificada e a sociedade deve ficar atenta para repudiar essa tentativa arbitrária da bancada evangélica. Os pais que assim desejarem podem matricular seus filhos no catecismo, mas não podem obrigar todos a serem catequizados nas aulas de biologia.


    3) Algumas perguntas:

    Gostaria de saber se minha nobre oponente tem alguma discordância acerca do que eu disse sobre o documentário do Projeto Thrive e o conhecimento de Economia. Também estou curioso para saber se o assunto do Criacionismo nas escolas já foi discutido entre seus colegas de trabalho e o que ela pensa a respeito.

    Embora não me pareça necessário assinar como de hábito, ainda quero esperar um pouco mais para ver o que acontecerá e por hora despeço-me de minha nobre oponente ainda com os cumprimentos


    do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz

    ResponderExcluir

  10. RÉPLICA


    Reitero minha anterior fala: gostei muito de sua resposta, tem sido um exercício enriquecedor. Não é formidável a oportunidade de aprender num jogo como esse? Como sabe, sou educadora, mas focar no Ensino Médio não é mesmo minha especialidade, já que meu campo de atuação é com o as duas primeiras fases do ensino ( Ciclo I e II), além de atuar nas Licenciaturas de Pedagogia e Matemática, porém, apesar disso, tenho alguns posicionamentos sobre o tema que gostarei de discutir com você.


    Sobre a minha sugestão de substituir ao invés de subtrair temas, o faço por acreditar no significado que se dá ao conhecimento, e por substituir, entenda-se mudança na ordem que os conteúdos são apresentados. Por isso, não concordo na hipótese do ‘emagrecimento curricular’ (termo péssimo, diga-se de passagem), onde afirmam que
    há determinados assuntos menos pertinentes, e em Matemática, realmente não consigo vislumbrá-los, já que os conteúdos são interligados.


    Essa disciplina conta com uma metodologia própria, que é a repetição a partir de exemplos, onde o professor oscila os níveis de dificuldade, objetivando que os envolvidos tenham um aprendizado progressivo. Mas imagino que o teor de sua crítica a alguns conteúdos se dê na insuficiência pedagógica de grande parte dos educadores de correlacionar conteúdo e prática. Por essa razão, sou adepta da perspectiva etnomatemática, que se tiver interesse, posso posteriormente falar sobre o assunto.


    Por mais que alguns conteúdos sejam mais complicados, seja pela metodologia aplicada, inoperância do educador, ou ainda, pela falta de instrumentos pedagógicos para a conferência dos resultados, é inadequado pensar na possibilidade de se excluir a oportunidade do aluno ir além do que é comumente cobrado, até porque, é essa a função da Escola: apresentar o interesse, dar-lhe informação, e a partir disso, o aluno sair em busca de meios para formalizar seu conhecimento. Porém, é preciso que antes que se apresente um tema mais complexo, é fundamental que o mesmo domine aspectos básicos como definição de logaritmos, porcentagem, polinômios, análise combinatória, equações de reta e circunferência. Quando há déficit de aprendizagem, é evidente que o estudo sobre matrizes e determinantes parece sem sentido, mas engana-se quem imagina que sua aplicação se dê (em priori) em circuitos e linhas de transmissão. È um conteúdo absolutamente pertinente para qualquer profissional que precise tabular valores e inserir dados em tabelas para alguma finalidade prática. Há nesse link maior detalhamento sobre o fato :


    [ http://www.mat.ufrgs.br/~portosil/minmatr.html ]

    ResponderExcluir
  11. Como a leitura desse artigo, é possível notar que no dia a dia nos deparamos com a aplicação de matrizes e nem percebemos. Alias, é assim na maioria dos conteúdos da matemática, eles estão disfarçados no nosso dia a dia: nas construções, nos jogos, na natureza, na música, na tecnologia, na previsão com base em probabilidades e estatísticas, no estudo do comportamento do mercado de valores... Por essa razão, não há como mensurar o que é mais ou menos importante nessa disciplina, por mais que outros aspectos se mostram mais evidentes, como educação financeira e potenciação.


    Mas, tirando essa pequena dissidência no pensamento, acredito que há bastante afinidade em nossos ideais de vida e imagino, de trabalho. Concordo inteiramente com você quando afirma sobre a importância da transformação da sociedade através da democratização do conhecimento, este, obtido por meio de profundas reflexões: “utopia hoje, realidade amanhã” =)


    Sobre a questão “Escola e família”, tenho um, porém: há um clichê sobre a Educação, que ela está fundamentada num tripé, que é a família, escola e sociedade. A família é o primeiro grupo social que o individuo faz parte, e é daí que nascem as primeiras relações humanas. Na escola – esta enquanto instituição de ensino - cabe a função de formalizar a aprendizagem, e a sociedade, de ecoar aquilo que aprendeu, através do que foi ensinado e/ou observado. Por essa razão, mantenho a opinião que é praticamente impraticável considerar como certo um fato que em casa não é colocado em prática. Entenda: o tempo que um estudante passa na escola é ínfimo se comparado com os seus outros grupos sociais. Darei um exemplo que vivencio na escola onde cumpro alguns de minhas (muitas) horas semanais: tenho oito encontros semanais de uma hora cada, nesse período preciso destinar um tempo para a função burocrática, que é o preenchimento do diário, além da conferência da tarefa de casa, e claro, na apresentação de um novo conteúdo, com explanação livre, apresentação de exemplos, além de dedicar um espaço para sanar as possíveis dúvidas. Subtraindo essas obrigações profissionais, não sobra muito tempo para que o professor possa dar atenção exclusiva a um determinado aluno, cabendo a outras esferas sociais, essa função. Não é impossível que a Escola seja capaz de quebrar o ciclo vicioso, apenas é bastante improvável se conseguir sem a atuação da família nesse processo.


    Agora, a parte que mais gostei de sua resposta: fico imensamente grata por sua disposição em assistir o documentário “Trive”. Quando fui apresentada a ele, fui em busca de maiores informações e o propaguei aos meus colegas de trabalho e contatos virtuais. Poucos me deram um feedback, e desses, nenhum foi tão catedrático como você. Como antes afirmei, é tudo tão bem amarrado que dá até para desconfiar, porém, não nego, a aparente lógica me seduziu, e como foi bom ser liberta dessa ilusão. E por isso, já sinto que valeu a pena esse nosso “duelo”, independente do resultado da enquete, já percebo uma aquisição pessoal que sem essa conversa, demoraria a chegar numa conclusão, e por isso, sou-lhe grata.



    Sobre interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, nem há muito o que acrescentar, há, novamente, sintonia no pensamento, e sobre o link que apresentou, é bastante esclarecedor para aqueles que (ainda) não estão inseridos na área.



    ResponderExcluir
  12. II As Ciências da Natureza


    Sou absolutamente favorável a tudo que defendeu sobre o assunto. Por ter parentes por lá, e provavelmente ser meu próximo endereço num futuro próximo, temo pela educação do meu filho. Extremismos não são bem vindos, quando relacionados à religião, é uma preocupação a mais. Mas, não me focarei a uma hipótese pessoal, e sim, naquilo que reflete no ensino público brasileiro: é uma epidemia esse tipo de influência, que me faz suar frio na possibilidade de ter que aceitar numa prova a resposta criacionista, por respeito à liberdade religiosa. Afirmo que até aceitaria essa resposta, se a visse retratada, por exemplo, num soneto, a qual atribuiria razão por conta da tal licença poética, onde, seria essa, a minha única concessão.


    E fazendo uso da brecha que a lei permite, sempre evocarei o critério de a mesma ser optativa, é essa minha posição enquanto indivíduo, bem antes de uma defesa profissional. Esse foi inclusive um tema que defendi em forma de duelo, com Gabriel, na antiga DR, e aqui, está o link:


    [ http://duelosretoricos.blogspot.com.br/2012/03/roberta-x-gabriel-ensino-religioso.html ]


    Confesso que apesar de não fazer parte do tema de nossa conversa, a assinatura me deixou curiosa, e gostaria que me explicasse a razão de fazê-la tão repetitivamente, apesar de notar, que em sua segunda participação, subtraiu o termo “abraço financeiro”.


    Por enquanto é isso, no aguardo de sua resposta, despeço-me


    R.

    ResponderExcluir
  13. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA

    Gostaria de tratar muito do que aqui vai de forma mais específica, mas, como este debate é sobre mudanças em todo currículo escolar, terei de me conformar com explicações breves. Talvez futuramente haja ocasião para debates inteiros voltados para cada uma das propostas que farei sobre as Ciências Humanas. Enquanto isso, mãos a obra.


    1) Comentários sobre a réplica

    Com relação ao exemplo das Matrizes e Determinantes, fui da opinião de que este não é um conhecimento essencial para um cidadão, o que mantenho sem receio. Porém não estou propondo sua simples eliminação do currículo escolar e sim sua substituição por outros conteúdos. Faço isso partindo do princípio que não se pode puramente estender a quantidade de assuntos a serem abordados sem sobrecarregar os alunos. Então, se temos que fazer alguma substituição, que seja de conteúdos cuja aplicabilidade não nos faça tanta falta.

    Nossa discordância aqui é que você diz que matrizes e determinantes – “È um conteúdo absolutamente pertinente para qualquer profissional que precise tabular valores e inserir dados em tabelas para alguma finalidade prática.” – Pertinente? Não duvido. Mas a questão não é sobre sua pertinência e sim sobre sua necessidade. Deixo para o leitor avaliar se já precisou ou se conhece alguém que precisou calcular o determinante de uma matriz quadrada para preencher uma tabela. Se houver alguém, será uma prodigiosa exceção que só confirmará a regra geral. Todos nós somos ignorantes com relação a vários assuntos. Porém, se tivermos de escolher entre ignorar o cálculo de matrizes quadradas (o que quase todos nós de fato ignora) ou desconhecermos o que é a Taxa Selic, qual você escolheria?

    Na pergunta acima, optei intencionalmente por dois exemplos de conhecimentos que (acredito) a maioria dos leitores ignora. Um deles é ensinado pela escola (matrizes) e o outro não (Selic). Porém creio que não resta dúvida sobre qual deles tem um papel maior para a formação de um cidadão consciente sobre o funcionamento de sua sociedade. Se você discorda de mim, gostaria de saber então que conteúdos você retiraria do currículo de matemática para abrir espaço para uma um educação financeira, econômica e tributária. Se você não quiser fazer nenhuma concessão, chegaremos a um impasse, pois já vimos que não haverá espaço para incluir tantos assuntos importantíssimos para a vida adulta.


    2) As Ciências Humanas

    a) Filosofia e Sociologia:
    Essas disciplinas já foram incluídas no Ensino Médio, principalmente como reflexo do conhecimento de mundo exigido pela prova do ENEM. O problema é que elas são ministradas na maioria das escolas apenas “pro forma”. Ainda estamos longe de dar a estes assuntos a mesma importância que damos às disciplinas tradicionais, o que nos impede de colhermos vários benefícios.

    Uma intimidade com o pensamento filosófico, por exemplo, nos daria uma desenvoltura muito maior para lidar com conceitos abstratos e para formular raciocínios de maneira minimante válida. Nem é preciso argumentar muito para percebermos que a maioria das pessoas tem deficiências visíveis nesse aspecto. Não quero citar nomes, mas basta ler alguns debates desta casa para que se reconheça a veracidade do que eu estou dizendo... Para muitos de nós isso não parece ser realmente um problema porque já estamos inseridos nessa realidade. Costumamos vem aqueles que conseguem lidar bem com abstrações e com encadeamento de raciocínios como pessoas “acima da média”, quando, na verdade, todos deveriam ser capazes de fazer isso. O que poderia ajudar nessa questão? Um pouco de Filosofia na escola.

    Quanto à Sociologia, seus benefícios são evidentes. Conhecer as diversas formas de organização social nos permitirá reconhecer a valor da nossa própria e reagir quando nos sentirmos ameaçados por tentativas populistas de concentrar poder na mão dos governantes, tentação sempre presente em nosso Poder Executivo.

    ResponderExcluir
  14. Devido à falta de uma reflexão política e sociológica, nosso povo é predominantemente imediatista e cego quanto ao populismo barato de muitos governantes. Qual é o cidadão humilde, que recebe o seu Bolsa Família e está feliz com a vinda da Copa do Mundo para sua cidade, que reconhece que essas medidas podem ser vistas como uma política de pão e circo? Todos conhecem a história do servo liberto que não queria deixar de ser servo, pois nada sabia sobre outras formas de viver em sociedade. Para ele a exploração e os abusos a que se sujeitava lhe pareciam uma realidade absolutamente natural e justa. O conhecimento e a reflexão crítica sobre a sociedade em que vivemos e as alternativas que a história testou em muito contribuiria para formar cidadãos mais conscientes neste sentido.

    b) Por uma Educação Política:
    Vejamos primeiramente alguns artigos bastante interessantes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação:

    -- “Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu PREPARO PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA e sua qualificação para o trabalho.” --
    -- “Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
    I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos DIREITOS E DEVERES DOS CIDADÃOS, de RESPEITO AO BEM COMUM E À ORDEM DEMOCRÁTICA;” --
    -- “Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, TERÁ POR OBJETIVO A FORMAÇÃO BÁSICA DO CIDADÃO, mediante:
    II - a COMPREENSÃO do ambiente natural e social, DO SISTEMA POLÍTICO, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;” --
    (fonte: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm] grifos meus.)

    Sendo assim, pergunto: o currículo escolar contempla isso? Se questionarmos um aluno que acabou se concluir o Ensino Médio sobre a diferença entre um Senador e um Deputado Federal, existe uma grande chance de que ele não saiba a resposta. Se souber, certamente não terá aprendido isso por causa do currículo escolar. É evidente que formamos não apenas analfabetos financeiros, mas também analfabetos políticos, contrariando frontalmente a lei e o mais elementar bom senso.

    Considerem por um momento o absurdo: a lei preconiza a compreensão de nosso sistema político e um estudante de 16 anos, que já pode votar, não sabe diferenciar as atribuições dos ocupantes dos principais cargos eletivos. Como é que queremos formar cidadãos conscientes assim? O brasileiro médio não sabe diferenciar que questões são de responsabilidade da Prefeitura Municipal, do Governo do Estado e da Presidência da República; não sabe as atribuições de um vereador, de um deputado estadual, de um deputado federal de um senador. Sabe, quando muito, que existem três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. O que quer que passe disso, já constitui uma exceção difícil de encontrar.

    Como se pode facilmente antever, as consequências dessa aleivosia educacional são desastrosas para todos nós. Se alguém quiser fazer uma experiência prática, sugiro que, nestas eleições municipais, preste atenção nos candidatos a prefeito de sua cidade que fazem promessas relativas à segurança pública. O poder de ação das prefeituras no que se refere a essa questão é praticamente nulo. Em uma matéria de competência do Governo do Estado, diversos “prefeituráveis” espertalhões nos prometem maravilhas em troca de votos. E o pior: conseguem! Conseguem porque temos milhões de eleitores politicamente analfabetos que são tratados como autêntico gado político. Este ciclo perverso repete-se constantemente a cada eleição e, diante disso, o que faz o nosso currículo escolar? Permanece omisso quanto a uma educação política que é fundamental para uma experiência democrática bem sucedida.

    ResponderExcluir
  15. O que mais me incomoda é que essa situação parede ser mantida de forma proposital, pois a maioria de nossos representantes só terá a perder se estiver sujeita ao crivo de uma população politicamente madura e informada. Essa situação, porém, nem sempre foi assim. Sei que pessoas um pouco mais velhas que este moleque que vos fala tiveram aulas de uma disciplina chamada OSPB, Organização Social e Política Brasileira, que tratava justamente de informar o cidadão acerca do funcionamento político do estado brasileiro. Com a redemocratização, em meados da década de 80, muitos grupos de esquerda eufóricos e desejosos por suprimir tudo o que de alguma forma se remetesse ao regime militar deram a essa disciplina a pecha de “matéria da ditadura”, o que acabou por contribuir para a sua supressão do currículo escolar. O resultado é que estamos nos encaminhando para 30 anos de experiência democrática com uma população politicamente analfabeta e na qual nossos “senhores” cultivam um espírito verdadeiramente bovino.

    Diante disso, a leitura do que nos diz a LDB sobre os fins da educação, ela acaba se tornando de uma hipocrisia tragicamente engraçada, se me permitem a incoerência. Assim, uma reforma curricular que inclua uma educação política não é apenas desejável mas também necessária e urgente. Aqui, nada de proselitismo! Basta a informação e a reflexão para ajudar a cumprir o que determina a lei quanto ao papel da escola de garantir o “preparo para o exercício da cidadania”.

    c) A nossa Constituição:
    A Constituição Federal é a lei básica do nosso estado. Mesmo assim tratamos o estudo do Direito Constitucional como um assunto reservado apenas aos profissionais da área. Está errado! Este é mais um exemplo de conhecimento cuja democratização deveria ser alvo de todos os esforços. A comparação entre nossa realidade e a belíssima redação do artigo quinto da Carta Magna é de entristecer qualquer um. Imagino o tipo de pressão a que nossos governantes seriam submetidos caso o conhecimento básico da Constituição Federal fosse algo ser explorado pela escola.


    3) Concluindo


    Com o meu espaço prestes a acabar, gostaria de fazer uma breve reflexão acerca dessa bela “utopia” que por vezes deixei transparecer nos parágrafos acima. Não sou um simples sonhador (bem ao contrário!) nem acho que nossos problemas sociais seriam resolvidos apenas com as mudanças que sugeri. Certamente a realidade de nossas escolas públicas não ajudaria muito a transmissão daquilo que julgo fundamental para a formação cidadã, mas não é por isso que devemos deixar o pessimismo e a conformação tomarem conta de nossas atitudes. A democratização do conhecimento é apenas um primeiro passo e um dos mais importantes. Para mim, é justamente em seu povo que uma sociedade encontra os fundamentos para sua prosperidade e para o combate às injustiças. Mesmo países arrasados por guerras e catástrofes reergueram-se gloriosamente tendo apenas o valor intrínseco de seu povo como ponto de partida. Cuidemos então de nosso povo. Não com mimos e distribuição de dinheiro e espetáculos, mas com uma educação digna, pois é ela que abrirá espaço para todo o resto acontecer.


    PS.: Não sou candidato a prefeito nem a vereador...

    Abraços políticos do “sofista, agressivo, mercenário, indigno, torpe, desprezível e impudico”
    Alex Cruz

    ResponderExcluir
  16. • Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA


    È, parece que nossas discordâncias foram evidenciadas, o que de todo não é mal: é muito bom ter em relação a Educação constante reflexão e reposicionamentos. Espero que realmente haja oportunidade para novas discussões sobre o tema, e enquanto isso não acontece, voltemos ao trabalho...


    Entendo que o exemplo que lançou ( Matrizes e Determinantes) não seja para grande parte da população um conteúdo de relevância e primeira necessidade, uma vez que o país é mau leitor e ainda capenga em raciocínio lógico-matemático, porém, mantenho minha posição sobre a necessidade deste conteúdo. Provavelmente esteja certo, e não terei como resposta alguém que tenha feito uso desse conhecimento e que escolheria aprender sobre a Taxa Selic, mas a minha questão não é escolher entre um e outro, já que acredito que há espaço para todos os conteúdos, ao menos, noções básicas, que é a primeira função de uma Escola.


    Muito se fala sobre o acumulo de conteúdo e que há a necessidade de elencar prioridades e vejo isso com alguma preocupação. Como disse anteriormente, não tenho no Ensino Médio grande intimidade e por isso não poderei opinar com propriedade sobre as outras áreas de conhecimento, que não a Matemática, e por essa razão, sou enfática em defender a manutenção dos conteúdos que considero mínimos, com no máximo, a substituição da ordem que são apresentados, além de se criar estratégias que anulem a fragmentação do mesmo.


    Não vejo razão de se excluir conteúdos da Matemática, especialmente quando se usa por justificativa que não haverá espaço para tantos os assuntos que devam ser abordados. A matemática é uma disciplina de aprendizado progressivo, e o conteúdo “Educação Financeira” já é trabalhado desde as séries inicias, e a escritora Susanna Stuart, mostra como isso se dá:


    • Crianças com 3/4 anos possuem pouco interesse pelas questões relacionadas ao dinheiro, mas gostam de moedas e suas cores. Portanto, é recomendado o enfoque quanto a classificação por tamanho e cor;


    • Já as de 5 anos conseguem distinguir moedas e começam a associar dinheiro e compra. È chegada a hora de trabalhar em sala, simulações de compra e venda;

    • As crianças de 6 anos já reconhecem conceito básico de valor maior e menor, e entendem que o dinheiro ainda é algo imediato. Apesar de não terem muita noção de poupar, esse hábito pode ser introduzido juntamente com a primeira mesada;


    • Aos 7 anos a criança já quer ganhar o próprio dinheiro, faz pequenas compras, já consegue lidar com troco


    • E finalmente, aos 8 anos já demonstram grande interesse pelo dinheiro, querem saber preço de tudo e conseguem guardar a mesada para compra algum item de maior valor. Idade ideal para discutir sobre os desejos a serem realizados a partir do hábito de poupar.

    ResponderExcluir
  17. • Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    TRÉPLICA


    È, parece que nossas discordâncias foram evidenciadas, o que de todo não é mal: é muito bom ter em relação a Educação constante reflexão e reposicionamentos. Espero que realmente haja oportunidade para novas discussões sobre o tema, e enquanto isso não acontece, voltemos ao trabalho...


    Entendo que o exemplo que lançou ( Matrizes e Determinantes) não seja para grande parte da população um conteúdo de relevância e primeira necessidade, uma vez que o país é mau leitor e ainda capenga em raciocínio lógico-matemático, porém, mantenho minha posição sobre a necessidade deste conteúdo. Provavelmente esteja certo, e não terei como resposta alguém que tenha feito uso desse conhecimento e que escolheria aprender sobre a Taxa Selic, mas a minha questão não é escolher entre um e outro, já que acredito que há espaço para todos os conteúdos, ao menos, noções básicas, que é a primeira função de uma Escola.


    Muito se fala sobre o acumulo de conteúdo e que há a necessidade de elencar prioridades e vejo isso com alguma preocupação. Como disse anteriormente, não tenho no Ensino Médio grande intimidade e por isso não poderei opinar com propriedade sobre as outras áreas de conhecimento, que não a Matemática, e por essa razão, sou enfática em defender a manutenção dos conteúdos que considero mínimos, com no máximo, a substituição da ordem que são apresentados, além de se criar estratégias que anulem a fragmentação do mesmo.


    Não vejo razão de se excluir conteúdos da Matemática, especialmente quando se usa por justificativa que não haverá espaço para tantos os assuntos que devam ser abordados. A matemática é uma disciplina de aprendizado progressivo, e o conteúdo “Educação Financeira” já é trabalhado desde as séries inicias, e a escritora Susanna Stuart, mostra como isso se dá:


    • Crianças com 3/4 anos possuem pouco interesse pelas questões relacionadas ao dinheiro, mas gostam de moedas e suas cores. Portanto, é recomendado o enfoque quanto a classificação por tamanho e cor;


    • Já as de 5 anos conseguem distinguir moedas e começam a associar dinheiro e compra. È chegada a hora de trabalhar em sala, simulações de compra e venda;


    • As crianças de 6 anos já reconhecem conceito básico de valor maior e menor, e entendem que o dinheiro ainda é algo imediato. Apesar de não terem muita noção de poupar, esse hábito pode ser introduzido juntamente com a primeira mesada;


    • Aos 7 anos a criança já quer ganhar o próprio dinheiro, faz pequenas compras, já consegue lidar com troco


    • E finalmente, aos 8 anos já demonstram grande interesse pelo dinheiro, querem saber preço de tudo e conseguem guardar a mesada para compra algum item de maior valor. Idade ideal para discutir sobre os desejos a serem realizados a partir do hábito de poupar.

    ResponderExcluir
  18. Percebe-se que a idéia já foi cultivada, facilitando a assimilação de novos conteúdos, como Educação Econômica e Tributária. Mas não é isso que acontece em nossas salas de aula: nossos estudantes chegam sem uma boa base, e isso tem como conseqüência o analfabetismo financeiro, que tão bem levantou em suas últimas postagens. Por desejar uma solução definitiva que enfoco na necessidade de se privilegiar o ensino básico de qualidade, para que, com o passar do tempo, não exista a possibilidade de se negligenciar um conteúdo, com a justificativa de não haver tempo hábil para essa assimilação.


    Quando digo que vejo com preocupação a mudança do currículo, é por temer as conseqüências: há a sugestão de se substituir o ensino médio pelo técnico, o que aumentaria a dificuldade de um aluno da classe trabalhadora de ingressar o ensino superior. Há ainda estudos que orientam a extinção do ensino médio noturno, tirando à oportunidade dos alunos que trabalham fora, o direito a instrução. Nenhuma dessas sugestões me satisfaz enquanto cidadã que é também, educadora, a solução, portanto não é extinguir ou ignorar determinados temas, e sim, melhorar o ensino para que temas de relevância prática como a interpretação de gráficos e tabelas, bem como índices das taxas e juros que norteiam nossa economia sejam efetivamente aplicados.


    Essa semana foi divulgada o índice do Idep, e o telejornal de maior audiência do país fez uma série de reportagens sobre o assunto, e o que foi apresentado não gerou surpresa para nenhum profissional da área: até houve avanços na educação básica, porém, no ensino médio, a melhoria foi quase imperceptível, isso claro tem relação direta ao que é investido. De tudo que é destinado a Educação, 65% são para o fundamental; 13% para o médio; 7% para o infantil; e 15% para o superior.



    2) As Ciências Humanas


    Concordo com absolutamente tudo que disse sobre o ensino de Filosofia e Sociologia. Uma das minhas maiores utopias seria com a prática efetiva da grade curricular paritária, mas isso só seria possível com o uso da transdisciplinaridade, algo bastante distante de se concretizar, graças a política educacional nacional, que faz o professor ter uma carga sobre humana de trabalho, o que impossibilita a formação continuada. O Ensino Médio também conta com outros desafios, que é, por exemplo, a falta de padronização de projetos pedagógicos específicos, além de não contar com o professor referência, contribuindo para a perpetuação de um currículo fragmentado.


    Respondendo sua pergunta, poucos são os alunos que saem do ensino médio com alguma consciência política, mas a responsabilidade ( não gosto da idéia da culpa) não pode ser atribuída apenas ao currículo. Infelizmente nossos alunos são reflexos de nossa sociedade. Poucos são os adultos dotados desse juízo de valor, e aqui, incluo grande parte dos professores. Como ensinar o que não se sabe? Por essa razão, volto naquele primeiro ponto: é improvável aprender algo se o mesmo não for colocado em prática. Por que digo isso? Antes de o professor ser o orientador de muitos, é alguém participante da sociedade, que tem família e participa de outros grupos sociais. Muitos educadores estão endividados, então, como correlacionar, com propriedade, teoria e prática? Da mesma forma, há muitos professores que chegam ao Magistério com déficit de aprendizagem, e isso infelizmente pude constatar, quando em minha primeira experiência no ensino superior (enquanto professora) tive a função de oferecer ‘reforço’ em Matemática básica, e mesmo nessa disciplina, percebia que muitos tinhas problemas estruturais em interpretação de texto. Eu me perguntava em como determinado aluno seria capaz de ser um professor. E de novo, a responsabilidade não estava no currículo, e sim, nas políticas assistencialistas que através de cotas, colocam pessoas despreparadas no ensino superior, perpetuando essa mazela social.

    ResponderExcluir
  19. Antes de abordar o próximo ponto, gostaria de elogiar sua defesa pela consciência política. È uma pena que não seja candidato, achei até possível vencer meu atual desânimo e votar em seu discurso, a menos, claro que não me sentisse ofendida por um importante ponto: estudei num colégio tradicionalíssimo no Rio de Janeiro, e lá eu pude contar com as disciplinas de OSPB e EMC, isso bem antes de entrar no ensino médio - nessa escola também contava com uma disciplina chamada “Técnicas Comercias”, e “Educação Familiar”, além do odioso ensino religioso, ou seja, tempos difíceis...rs


    Mas, voltando ponto, as disciplinas de EMC e OSPB foram anexadas ao currículo graças de acordo com o Decreto Lei 869/68, e por isso, tornaram-se obrigatórias no ensino brasileiro a partir de 1969, seguindo a ideologia do AI5. Porém, vi com bons olhos a recusa da LDB em manter essas disciplinas, por entender que as mesmas estavam impregnadas de um “caráter negativo de doutrinação”. [Dicionário Interativo da Educação], a solução encontrada foi a entrada das disciplinas de Filosofia e Sociologia, e o adendo importantíssimo que explicita a opcionalidade no que diz respeito ao Ensino Religioso, ou seja, vejo na LDB mais pontos positivos que negativos.


    Quando o assunto é a Constituição Federal, concordo inteiramente com sua opinião, e aqui, nada posso acrescentar. Como também, teria pouco a dizer frente ao seu último parágrafo, que foi de uma beleza ímpar: a Educação é bem mais que meu ganha - pão, é meu ideal de vida, e ver que ela é também fonte de profunda análise de outros, faz, de novo, nascer a esperança de dias melhores: portanto, obrigada por isso :’)



    Na espera de sua conclusão, despeço-me.


    Att,

    R.



    ResponderExcluir
  20. Mudanças nos Parâmetros Curriculares


    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Caríssima Roberta, minha última participação neste debate e neste campeonato será um pouco mais curta que as demais. Vejamos primeiro como ficará nossa maior discordância.


    1) O que é mais importante para os fins da educação?

    Nossa divergência é que eu creio que devemos reformular o currículo escolar substituindo alguns conteúdos por outros enquanto você acha que há espaço para todos os conteúdos, tanto os atuais quanto os que queremos acrescentar. O que eu gostaria de deixar claro é que as sugestões que fiz apareceram ao longo deste debate para fazer cumprir o que a lei já determina sobre os fins da educação. Entre estas finalidades estão:

    a) Preparar o estudante para a o exercício da cidadania.
    b) Dar-lhe o conhecimento de seus direitos e deveres.
    c) Fazê-lo compreender o sistema político nacional.
    d) Difundir o respeito pelo bem comum e pela democracia.

    Não é novidade para ninguém que o brasileiro típico tem carências em todos estes quatro aspectos. O próprio “jeitinho brasileiro” caracteriza essas deficiências em nossa cultura. Infelizmente a maioria de nós vê qualquer bem público não como algo que pertence a todos mas sim como aquilo que não é de ninguém. Eu ajuízo que esta maneira brasileira de encarar o estado e a sociedade está na origem da maioria de nossos problemas sociais: é uma força que nos puxa para o subdesenvolvimento e a corrupção. Em seu primoroso “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda descreve essa característica peculiar de nossa cultura ao definir o brasileiro como o Homem Cordial, o sujeito de bom coração que viola as regras gerais para fazer o bem aos particulares que lhe são próximos.

    Por mais que esta concepção social de nosso povo possa parecer até mesmo louvável em casos específicos, ela é catastrófica quando se torna uma espécie de “lei não escrita” que se sobrepõe à regra clara que deveria valer para todos. Temos exemplos disso o tempo inteiro na política, no trânsito, nas filas de supermercado e aqui mesmo no blog. Quando uma norma é violada, pode até ser que as pessoas envolvidas na situação concordem em relevar um pequeno desvio, mas a ordem estabelecida é abalada e a credibilidade de norma é posta em dúvida trazendo prejuízo para todos.

    Sabemos que uma característica cultural cujas raízes permeiam toda a história do nosso país não mudará tão facilmente sem que tomemos medidas efetivas no âmbito educacional. Por isso uma reforma curricular é tão importante. E veja que não estivemos falando de pouca coisa aqui. É muito o que tem que ser mudado! Só do que já mencionei temos:

    a) Matemática Financeira,
    b) Noções de Economia,
    c) Noções de Direito Tributário,
    d) Filosofia,
    e) Sociologia,
    f) Educação Política e
    g) Noções de Direito Constitucional.

    É evidente que o “espaço” do currículo do ensino Fundamental e Médio não é infinito. Então, por termos um espaço limitado e tanto a acrescentar, fatalmente há conteúdos que precisarão ser retirados. Por isso eu gostaria de saber se você mantém a ideia de que há espaço para tudo sem perigo de uma sobrecarga. Mesmo que você ache que “ainda” há espaço para alguns acréscimos, há de convir que 7 disciplinas extras não são pouca coisa.

    ResponderExcluir
  21. Eu entendi perfeitamente seu raciocínio de que todo o conhecimento humano, particularmente a Matemática, está integrado e que um conteúdo liga-se ao outro de inumeráveis maneiras distintas. Entretanto estamos em uma situação em que os próprios fins da educação nacional não estão sendo atingidos graças à ausência (talvez proposital) de assuntos-chave. Em uma mão temos conhecimentos sem os quais é impossível (veja bem: impossível) ser um cidadão plenamente consciente e na outra mão um assunto cuja utilidade é específica e restrita a um reduzido número de profissionais. Para mim está claro que devemos dar prioridade àquela matéria sem a qual a própria razão de ser de uma educação cidadã será perdida. Foi justamente por isso que eu trouxe o exemplo das Matrizes e dos Determinantes. Minha intenção é mostrar que, se tiver que abrir espaço, há assuntos que poderão sair em nome de um bem maior. É uma ideia perigosa de se defender, pois é muito vulnerável a argumentos sofismáticos (nos quais você, honesta que é, não incorreu), mas é o que minha razão me diz.


    2) Respondendo...

    -- Você diz que “o conteúdo ‘Educação Financeira’ já é trabalhado desde as séries inicias”. Sim, é verdade. No Ensino Fundamental adquirimos a noção básica do que precisaremos fazer em qualquer cálculo financeiro posterior. Como você citou, a metodologia deve ser diferente ao lidarmos com crianças. Mas a questão que eu quero resaltar é que isso deve ser retomado no Ensino Médio, pois é nele que estamos mais próximos da realidade adulta e de todas as suas responsabilidades.

    -- Repare que em parte alguma eu digo que a “culpa” de nossa educação deficiente está apenas no currículo das escolas. É claro que há problemas com relação à família, com a formação dos professores e com o ambiente social em que o estudante vive. Eu me concentrei na questão curricular porque, enfim, este é o tema do debate e também porque a mudança positiva tem que começar, seja por onde for.

    -- Quanto à disciplina de OSPB ter um caráter doutrinário, concordo que isso deveria ser firmemente combatido, mas sem jamais suprimir a disciplina inteira e deixar este vácuo político que agora vemos em nossas escolas. Não é “doutrinário” ensinar aos estudantes quais são as atribuições de um ministro de estado ou de um senador, como se aprova um projeto de lei, como se estrutura o Poder Judiciário ou quais os assuntos de competência da união, dos estados e dos municípios. Como eu disse, basta a informação. Não há lugar para proselitismo partidário aqui. Por isso eu sustento que a supressão total do conteúdo foi um enorme desserviço que nos fizeram nossos governantes após a redemocratização. Eu compreendo o receio que eles tinham de deixar no currículo um assunto como este. Toda a onda reformista que se seguiu à saída dos militares acabou levando consigo muito do que eles fizeram de bom pela educação nacional. O problema é que no Brasil basta reconhecer algum mérito do governo militar para que o sujeito seja chamado de reacionário, nazista etc. Nós argumentadores, que temos o enorme poder da palavra, não devemos ter este receio. Devemos expor nossas opiniões por contraversas que sejam. Por isso eu digo: a disciplina de OSPB foi um aspecto positivo da educação prestada durante o regime militar e deveria ter sido mantida e reformada, jamais suprimida.

    -- A questão que você levantou sobre dar ao Ensino Médio um caráter técnico é interessante. Não tenho conhecimento de nenhum projeto que vise modificar todo o ensino neste sentido. Sei que hoje existem as Escolas Técnicas, em que o estudante vê, paralelamente ao currículo tradicional, o conteúdo relativo ao curso que escolheu. Para mim isso é positivo, pois qualifica o estudante para o trabalho assim que ele entra na idade legal para trabalhar. O que eu acho é que o ensino técnico deveria permanecer exatamente como é: opcional.

    ResponderExcluir
  22. 3) Despedidas.

    Agradeço a todos os leitores que acompanharam esta final de campeonato, pois o assunto aqui tratado é de importância capital para nosso país, além de me ser muito caro. Este debate lembrou-me o que tive com o Raoni sobre o tema “Moral Cristã versus Moral Ateia”. Ambos foram muito agregadores para mim por não serem nem um pouco parecidos com os que costumo ter. A diferença é que, com o Raoni, houve discordância o tempo inteiro e aqui as divergências ficaram em segundo plano em prol da troca e exposição de ideias. Só tenho a agradecer à Roberta por mais esta experiência. Minha oponente foi leal, cortês e sempre me fez ganhar alguma coisa nas participações que fez até aqui, seja trazendo perspectivas novas seja obrigando-me a pensar em questões que eu não julgava problemáticas nos pontos que defendi. É por isso que excepcionalmente, diante desta verdadeira lady, eu me despeço dos meus nobres colegas assinando apenas como o grato

    Alex Cruz

    ResponderExcluir
  23. CFs.:


    Olá, Alex...


    Então, chegamos ao fim dessa proveitosa e agradável conversa. Chego com a feliz sensação de que muito foi dito, e na perspectiva que o assunto trará ao grupo boas discussões.


    Enquanto leitora (avaliadora) de debates, tomo a seguinte atitude: primeiro, leio todas as considerações do desafiante, em seguida, faço o mesmo com o desafiado, e só depois dessa leitura prévia, é que releio com as intercalações. È aparentemente demorado, quase metódico, mas com esse comportamento, tenho a impressão que é mais fácil avaliar unidade e coerência de raciocínio, e nesse aspecto, concluo que não há em nossa fala, grandes discordâncias.


    A questão da reformulação do currículo escolar é em minha opinião uma excelente reflexão; já que se faz necessário constante avaliação, afinal de contas, não existe nada mais dinâmico que a Escola, só não considero apropriada (necessária) na área da Matemática, sendo que o mesmo pode não ser verdade nas outras áreas de ensino. De forma sincera, afirmo que gostaria de ser mais enfática nesse ponto, mas, como anteriormente disse, não tenho com o Ensino Médio maior intimidade, creditando em você maior domínio da razão.


    Em sua defesa, colocou aspectos que ninguém em sã consciência questionaria que são as finalidades da Educação: a preparação para o amplo exercício da cidadania, além de propiciar que o indivíduo faça uso da consciência coletiva, difundindo o ideal da democracia. São valores que devem ser constantemente trabalhados, já que contamos com um problema já diagnosticado, onde num texto (apócrifo) atribuído a João Ubaldo Ribeiro é amplamente propagado pela internet: “Precisa-se de mão de obra para construir um País”, de Pablo Teach, não sei se conhece, mas, é quase um lugar comum quando em discussões pedagógicas, elencamos problemas e soluções para uma melhoria na Educação, que é na verdade, uma melhoria em toda sociedade, já que entendemos que a escola, enquanto instituição de ensino nada mais é que a continuação dos outros grupos sociais que todos nos fazemos parte. Se há problema na Escola, é porque antes, há na família. Por isso, o tal jeitinho brasileiro é tão emblemático, e sua menção ao “Raízes do Brasil”, tão feliz...


    Ainda que não seja possível uma mudança no currículo, penso que muito do que foi abordado aqui dependa mais do educador do que, propriamente do que diz a lei. Gosto do poder transformador que individualmente somos capazes de realizar. Porém, há de se preocupar que, há casos numerosos que nossos professores já não sabem o que fazer na sala de aula, graças a falta de capacitação continuada, ausência de motivação pessoal, além da falta de estrutura tão característica dessa profissão.


    E respondendo sua pergunta, manteria o currículo da Matemática praticamente intacto, mantendo os conteúdos só reorganizando o cronograma, ou seja, seria mais uma questão metodológica. Sobre as outras áreas, creio que não seriam setes novas disciplinas, já que consigo visualizar a transdisciplinaridade dos temas, fazendo a seguinte adaptação do que foi apresentado:


    a) Noções de Direito Constitucional e Tributário;
    b) Matemática Financeira & Noções de Economia;
    c) Filosofia;
    d) Sociologia & Educação Política.

    ResponderExcluir
  24. Ainda assim, pareceria um exagero de disciplinas, frente a todos as outras, mas eu diluiria entre os anos, por exemplo, Filosofia, Sociologia & Educação Política, deixaria para os dois últimos anos do Ensino Médio, já Noções de Direito Constitucional e Tributário, a partir do 9° ano de escolarização, Matemática Financeira & Noções de Economia, desde a Educação Infantil.

    E fiquei feliz por minha fala ser amplamente entendida no que diz respeito à Matemática, é sobre tudo que foi apresentado, meu único ‘talento’...rs

    Sobre a ausência de assuntos chaves, acredito que em muitos casos, a causa do fracasso é por ter no educador alguém pouco apto a ensinar determinados conteúdos. Muitos que estão em sala de aula, são resultados de uma formação deficitária, e por isso, não saberiam explicar com propriedade a funcionalidade de um conteúdo como Matrizes e Determinantes, fazendo parecer ao grande público que é um conceito abstrato e pouco útil a vida diária.

    Finalizando...


    Sim, eu mantenho a opinião que o conteúdo “Educação Financeira” é desde cedo trabalhado na escola. E entendendo que a Matemática parte daquilo que já se sabe para conhecimentos mais complexos, vejo que essa transição é bastante tranqüila, observando, claro, a metodologia de ensino.


    E eu não trabalho com a idéia de culpa, Alex, e sim, da co-responsabilidade. E sabendo da minha função enquanto cidadã e educadora assumo sim, alguns aspectos do fracasso escolar devido a minha prática, ou pior, omissão. Como também, aceito como natural, resultados positivos, que são também bastante observados. Há aqui uma única correção: a mudança vem de dentro para fora, por isso ela não nascerá na escola, ou melhor, no currículo, e sim, na sociedade, através da cobrança política, com uso de manifestações populares. E aqui, o poder está em outros grupos sociais, sendo o mais importante, a família. A escola, portanto, como reflexo da sociedade, absorverá essa mudança. È nisso que acredito, bastante utópico, não? =)

    ResponderExcluir
  25. Quando mencionou a disciplina de OSPB em sua penúltima participação, tive um ataque de riso: “céus, como estou velha!”, e é assim que vejo a disciplina. È um conteúdo atrasado que teve as devidas melhorias, onde considero a adoção de Filosofia e Sociologia de um ganho maior para os estudantes. Na minha época de estudante ( aqui de novo a idade denunciando...rs), a professora responsável pela disciplina tentava fazer de sua aula, uma doutrinação, era quase uma visão religiosa sobre vultos e símbolos da Pátria. Mas penso que se a professora não fosse alguém sisuda e religiosa, provavelmente teria por essa disciplina algum apreço. E aqui entra de novo aquela minha fala: muito do que é realizado na sala de aula depende mais da ação eficiente de um mestre do que diz uma cadeira: essa pobre infeliz seria fracassada se ensinasse Filosofia, Sociologia, ou Educação para o Trânsito por exemplo.



    Sobre a questão de dar ao Ensino Médio um caráter técnico é uma das discussões levantadas pela Bancada da Educação, como também a de se extinguir o Ensino Noturno para adolescentes. Espero que esse tipo de ‘solução’ não passe, pois vejo mais prejuízos do que avanços. Darei um exemplo prático: o meu ensino médio foi técnico, e quando prestei meu primeiro vestibular, ainda na fila de inscrição, fiquei apavorada com os conteúdos normativos que meu curso não contemplava. As áreas de exatas foram as mais negligenciadas, onde tive enorme trabalho em sanar esse déficit educacional. È evidente que minha posição é parcial, uma vez que sou originária da educação pública. No meu estado, os ensinos técnicos não são opcionais. Mas contamos com Escolas de Educação Superior com enfoque ao tecnicismo, que é, na minha opinião, na falta de coisa melhor, uma boa solução.



    E então, concluo minha participação mais uma vez agradecendo ao nobre oponente por ter me propiciado um novo olhar sobre um tema que me é tão caro, torcendo inclusive que esse debate traga importantes contribuições.


    Grata pelo exercício,

    R.

    ResponderExcluir
  26. Concordo comAlex Cruz em sua considerações, acho que a matemática poderia dar um maior enfoque na matemática financeira. Acrescento também a importância de inserir a matemática em contextos que estimulem a imaginação dos jovens já que o universo de possibilidades de aplicá-la é enorme. Isso se aplica a todas as matérias, jovens adora sonhar e conquistar a independência, por isso é fundamental que a escola aproveite para, através das matérias ensinadas, alimentar sonhos e ensinar os caminhos possíveis para realização profissional.

    "È preciso entender que a avaliação é apenas parte de contexto, a qual considero bastante bur(r )ocrático: o que realmente deveria importar é se houve
    interesse pelo assunto, pesquisa individual e autônoma e reflexão sobre o “erro”..."Roberta A. Aires

    A avaliação é um reflexo disso tudo e ela tem que ser o enfoque principal. Interesse sobre o assunto é uma questão individual e cabe ao educador verificar se esse é o problema do aluno e o que fazer a respeito. Mas é objetivando a avaliação que o aluno gostando ou não, se esforçará para aprender a matéria.
    A Roberta reitera exatamente o que eu comentei no 1° parágrafo sobre a abrangência da matemática na nossa realidade.

    Replica
    Alex matou na deixa da Roberta sobre o vídeo, e ainda mostrou que a ignorância econômica do povo estimula a acreditar em conspirações ou em loucuras, como a matemática socialista.

    Quanto ao criacionismo, se existir provas suficientes para invalidá-las e a teoria da evolução for comprovada 100%, aí concordarei com você. Mas se há dúvidas, acho que ela pode ser ensinada ou citada como um modelo paralelo que estimulará a reflexão do aluno, mas obviamente sem cunho ideológico.

    No final o Alex tenta instigar a Roberta a falar sobre o filme, pra ver se ele ganha vantagem sobre ela, hahahaha, boa!
    Na batalha das matrizes a Roberta venceu, rsrs

    “poucos são os alunos que saem do ensino médio com alguma consciência política, mas (...)não pode ser atribuída apenas ao currículo. Infelizmente nossos alunos são reflexos de nossa sociedade(...)é improvável aprender algo se o mesmo não for colocado em prática. Por que digo isso? Antes de o professor ser o orientador de muitos, é alguém participante da sociedade, que tem família e participa de outros grupos sociais. Muitos educadores estão endividados, então, como correlacionar, com propriedade, teoria e prática... (Roberta)

    Isso não tem relação quanto a ensinar ou não essas matérias na escola, ainda fica a questão levantada pelo Alex da importância dessas matérias na escola.
    Sem mais o que declarar pois concordo as considerações restantes dos dois.

    Concluo que o Alex revolucionou mais o tema instigando a reflexão sobre a questão do ensino no país, além de acrescentar informações adicionais como o vídeo exposto pela Roberta e a disciplina OSPB. A Roberta, apesar de uma impecável participação, fez mais um papel de concordância com o Alex tendo uma atuação mais passiva. Neste caso usarei a participação dominadora do Alex como critério de desempate.

    Meu voto vai para o Alex.

    ResponderExcluir
  27. Este foi um debate extremamente enriquecedor. De fato, ambos esforçaram-se bastante para ser claros e suas mensagens são de fácil compreensão. Eles tocaram em pontos bastante delicados e acredito que o que vai decidir o duelo serão os pontos de divergência.

    O Roberta A. Aires acredita que o atual curriculum do ensino médio é bem estruturado (principalmente em matemática) e que não deveria ter diminuição do número de conteúdos. O exemplo do ensino de matrizes foi o que causou as maiores divergências no debate. Conhecer Matrizes e Determinantes é um tipo de conhecimento que deveria ser considerado obrigatório para todo cidadão? Ele é mais importante que o ensino de religião, que ambos concordaram que deve existir como caráter facultativo.

    Infelizmente, pela falta de espaço e para não fugir do tema, vocês não se aprofundaram nesta parte do tema, que também já foi discutido pela Roberta em outro duelo do grupo, ainda da época do orkut, contra o Gabriel, sobre ensino religioso. Se o ensino religioso é facultativo e deve respeitar a liberdade religiosa, então se um número de pessoas quiser fazer aulas de umbanda, ou de espiritismo, seria legítimo que o estado pagasse o salário desses professores? O que será que acham os religiosos do grupo a respeito disso?

    O Alex Cruz tem uma mentalidade mais reformadora. Acredita que a maior parte da população não está bem instruída no que se diz respeito a educação política e financeira. Discordando desta visão, a Roberta acredita que todos somos co-responsáveis pelo que ocorre com a escola, portanto, talvez se os professores mudassem suas abordagens, mesmo utilizando o atual grade curricular do ensino médio esses conteúdos poderiam ser ministrados. Disse ainda que este tipo de coisa já acontece no ensino fundamental, dando o exemplo de como crianças aprendem a lidar com dinheiro em diferentes épocas de suas vidas.

    Colocando desta forma, acredito que o Alex seja mais favorável a mudanças drásticas na estrutura curricular do ensino médio, colocando novas disciplinas e diminuindo o conteúdo de outras que já existem.

    A Roberta acredita que novo conteúdo pode ser adicionado sem que seja reduzido o conteúdo, por que acredita que a função do professor é "inspirar" o aluno a ir atrás de se aprofundar no conteúdo, mesmo que ele não entenda a aplicação imediata daquele tipo de conhecimento.

    O Alex é enfático em dizer que isso não é possível. Fala também a respeito das atuais deficiências do atual modelo e a Roberta responde dizendo que a causa não é a estrutura curricular e sim a forma como o conteúdo é abordado. Discordaram também com relação ao ensino de OSPB, que a Roberta acha que era uma disciplina proselitista que fez bem em sair da grade curricular, quando o Alex, ao contrário do que esperavam os conservadores, afirma que acha que a OSPB tinha sido uma boa ideia do regime militar e tirar essa disciplina do currículo não foi uma boa ideia e talvez seja uma das possíveis causas da expansão do analfabetismo político na população.

    Ambos foram muito bem retoricamente e pareciam estar lendo a mente de seus possíveis leitores, prevendo como é que eles poderiam estar pensando, tanto na citação dos seus exemplos (o documentário sobre teorias da conspiração e a lembrança do Raoni Latalisa Cozzi) como na forma como imaginavam que seus textos seriam recebidos, o que revela uma grande maturidade retórica de ambos os participantes.

    Não é um duelo simples de se votar, por que ambos os lados apresentaram uma lógica interna consistente. Ainda restam algumas dúvidas.

    -O conteúdo de Matemática deveria ser reduzido? (aprender sobre matrizes é importante?)

    -OSPB foi uma boa ideia do regime militar?

    -Qualquer tipo de ensino religioso deve ser permitido?

    Seria muito interessante se o grupo pudesse discutir mais essas questões.

    Parabéns aos debatedores pelo excelente debate!

    Clássico da Arena Jedi.

    ResponderExcluir
  28. Em todo debate, considero de maior importância as discussões paralelas, que, por algum motivo, pouco pude presenciar, mas, considerando apenas aquilo que aprendi interagindo com meu oponente, percebo que ele foi superior em abordar aspectos que, em minha ‘miopia idealista’, deixei passar: é evidente que Alex tem maior conhecimento NO TODO , enquanto eu, só posso opinar privilegiado minha área de atuação, o que percebo que é um erro, por essa razão, meu voto é dele.

    ResponderExcluir
  29. A queda do galináceo Alex Cruz

    Em primeiro lugar, é lamentável que esse tenha sido e propagado o "debate dos debates".

    Como eu já havia dito ANTES desse debate, Alex Cruz (Luthor) iria perder. E porque perderia ? Enumero uma séria de razões, conforme declinarei a seguir. Todos os antigos sabem que não morro de amores por Roberta Ayres, havendo-a expulso junto com o gnu, por meterem-se em assuntos não pertinentes, no caso Carla, problema meu, Big John e Alonso, exclusivamente)

    Ora, Roberta se conhece, e conhece ao Alex, conhece também ao assunto, já o galináceo começou o debate dizendo que aquela era a praia "dela". Mesmo assim, petulante e com a crista caindo com um playboy dos anos 60, resolveu enfrenta-la utilizando o seu arsenal de " enchedor de linguiça" (Lança mão de escritores obscuros e outros obtusos, elevando a tese desses à condição de tratados, cai quem quiser cair. Não deu certo, partiu para a bajulação, dizendo-se "perdido" diante de uma "dama" sendo cavalheiro acostumado as "artes da rinha" com ogros e selvagens.

    Querendo dizer estar desarmado das ofensas, sofismas, falácias, mentiras entre muitas desvirtudes, com as quais, orgulhosamente, utiliza-se como assinatura. falhou de novo.

    Como uma aranha-fêmea, Roberta Ayres foi envolvendo-o em uma teia mortal, e, entre seus suspiros e moribundez, foi transformado em caldo, alimentando a falsa modéstia, que tomou a metade final do debate por parte da Roberta.

    Alex Cruz já estava caído, entregue e a mercê, nada mais restava-lhe além de tentar sucintar clemência, fazendo constantes elogios as respostas recebidas e a sua pífia capacidade de argumentar aquilo que recebia em doses cavalares, ou seja, uma explanação de sua fraca, inexistente posição a respeito do assunto, tão comum quanto a de qualquer outro debatedor que se prestasse a ler pai Google.

    Assumia sua derrota antes da tréplica covardemente naquele que "deveria" ser o debate dos debates. Um fiasco encomendando exercido com maestria de um lado e com incompetência infantil de outro. Alex Cruz Luthor foi uma vergonha nesse debate, e quanto mais elogios se ouvia de ambas partes, e, certamente ainda se ouvirão, maior a certeza que a todos nos acerca, a falsidade como um todo e um resultado que questiono.

    Quero discutir sobre cartas e pôquer com Alex Cruz, quero discutir sobre ENEM contra Roberta, mas quero que discutam comigo sobre o governo Geisel.Assim como eu nunca peguei num baralho de pôquer, não conheço o ENEM, nenhum deles viveu MAIS que eu TODOS os reflexos dos Atos Institucionais.

    Ficará fácil determinar QUEM ganhará. Sun Tzu continua coma a razão.

    ResponderExcluir