domingo, 3 de junho de 2012

Alonso Prado X João Cirilo - Fé





Aloprado Alonso




Cordiais saudações a todos os amantes dos debates!

Eis-me aqui novamente para debater sobre a fé.

Desta vez por uma razão diferente a qual explico: O meu atual rival manifestou em seu voto a seguinte justificativa: “Embora eu não concorde com as posições de nenhum dos debatedores, entendo que foi mais claro em suas colocações, em sua dialética, o Roger, razão pela qual voto nele”.


Desta forma, começo a desvirginá-lo no mundo dos debates questionando o seguinte: “Quorsum haec tam putida tendut”.

Primeiro ele diz que não acorda com posição de ambos os debatedores, mas vota em um destes dizendo que ele foi mais claro indicando que o outro foi mais obscuro pelo viés lógico de sua aclamação. Segundo afirma categoricamente que vota em determinado debatedor porque a sua dialética foi mais clara.

Pelo bem da lógica e da razão, isso é concordar com o que ele disse integralmente, pois se concorda com a dialética de tal debatedor é porque concorda com a tese, antítese e síntese deste e não o inverso disso. Soa mais estranho ainda se levarmos em conta que é um católico afirmando que um ateu tem razão em seus apontamentos mesmo que sem notar por sua suposta e pura “ignorantiam ad causam”.

Portanto, resta evidente que o meu atual oponente não deve ter lá muita certeza de sua fé católica e por outro lado nos parece mais um apóstata ao acordar com um ateu. Sendo assim ele equivocadamente diz não concordar com a minha tese que versa sobre ter dúvidas sejamos crentes ou ateus mesmo que de fato não venha admitir isso preferindo se esconder debaixo de citações do Catecismo da Igreja Católica e obras de teólogos católicos duvidosos como Felipe Aquino.

Fica claro com solar clareza que neste caso é um crente opositor de ateus que fica em xeque em suas posições acerca dos conceitos da fé que professa em sentido religioso e assim valida ainda mais a minha tese anterior que tanto ateus quanto crentes não sabem de fato avaliar com profundidade suas premissas e que fogem das dúvidas em nome do bem estar pessoal temendo arrumar um questionamento que os faça alterar suas concepções já formadas por anos de doutrinação seja ateísta ou religiosa.
Toda esta situação me faz recordar de Erasmo que disse que proceder de forma nova em explicações sobre a fé é tornar os fiéis mais loucos e insensatos do eles já são quanto a sua própria fé. Pois bem, é nesse terreno dificultoso em que me encontro ante o meu oponente de momento. Estou diante duma pessoa que condicionou todas as suas impressões sobre a fé aos elementos dos dogmas católicos e deu farta demonstração disso em suas colocações em diversos tópicos de nossa comunidade sempre defendendo a apologética católica como a única verdadeira e pertinente em explicar algo sobre a fé. Para qualquer ateu isso ressoa como um argumento de autoridade que deve ser combatido a todo custo na maioria das vezes, mas o que dizer se eu mesmo sendo adepto do catolicismo procedo da mesma forma em eivar de dúvidas estes mesmos ensinamentos dogmáticos? Eis que esta é a real distinção entre eu e o meu oponente: Ele procede repetindo argumentos pré-concebidos aparentemente fanaticamente, mas quando se depara com um debate sobre a fé ele adota a posição do ateu e não a de quem professa a mesma fé que ele. Da minha parte eu não apenas fiz uma proposta para se elucidarem quais as dúvidas podem ser tratadas com maior retidão intelectual para ambos os lados da moeda desta espinhosa temática que confundem com a moral religiosa. Elaborei ainda uma contrapartida que se ambos estiverem certos em suas colocações o que será realmente a fé?

Nesse dilema eu desafio o meu oponente a dizer de acordo com a sua ótica católica visando assim facilitar seja seu fanatismo ou argumentação que ele elabore provas incontestáveis de que os dogmas de fato são a “ultima ratio” em matéria de fé e com isso creio que provemos que fé é diversa de moral religiosa, como o meu anterior rival confunde, tecendo equívocos repetitivos de cunho ateísta retirados da cartilha do ateu papagaio, assim como o meu atual oponente recita o rosário repetitivo da dogmática cristã sem realmente ou aparentemente em hipótese mais benéfica a conhecê-la de fato. Caso contrário não vejo outra saída a não ser de taxar ele de apóstata ou fanático como já fiz em determinado certame extra debate.

Ante a isto a premissa chave que me valho é a seguinte: Para o meu rival segundo sua crença dogmática o ser humano possui em sua realidade humana uma dimensão constitutiva e formalmente teologal que o leva para uma fé ou crença inexorável em Deus, e o leva a dizer que a fé ilumina a razão. No meu entender isso parece mais uma camisa de forma da teologia dogmática preconcebida e mal refletida por muitos cristãos e aceita como se fosse a verdade absoluta sem fazer nenhum outro questionamento.
Conforme isso, ele parece crer num argumento retórico e não dialético, pois a razão aliada com a revelação cristã gera a teologia dogmática, a qual diz ter o cristianismo um compromisso com a racionalidade ao mesmo tempo que se vale de argumentos de pneumatologia para dizer que há também um elemento que transcende a este campo. Na conduta argumentativa do meu oponente ele versa sobre “A graça infusa em São Paulo” como pano de fundo para validar este argumento. Ao fazer isso ele demonstra que o objeto fé só poderia ser compreendido por elementos fenomenais apartados da racionalidade e joga por água abaixo o dito compromisso com a racionalidade em termos de fé católica.

Assim, se a referência do objeto está ligada com a realidade humana e não com a mera opinião racional sobre o tema o ser humano teria uma natureza transcendente uníssona apartada da razão em si mesma, a qual o meu adversário diz que é produto exclusivo da graça infusa em última análise e não da sua capacidade racional. Com isto ele acredita que os dogmas de sua religião estejam todos corretos e sejam incontestáveis sobre fé, embora acorde sem notar com ateus e sua suposta dialética, mesmo afirmando argumentos de autoridade sem pensar duas vezes vez após vez.

Em linhas gerais é dentro deste campo que se dará este debate. Espero que apesar da inexperiência do meu oponente em debates nesse formato ele mostre perícia ao elencar os motivos de seus argumentos sem descambar para o fanatismo e para erística com viés cristão.


Passo a palavra ao João para que ele faça sua exordial.



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JOÃO CIRILO


Apesar que esta é a nota introdutória: se tiver como postar por aí, desde já agradeço:

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

I

Toda estreia é difícil e certamente a minha não seria fácil, ainda mais que contendo com um adversário do talento e a verve do Alonso Prado; mas isso, longe de ser ruim é bom, porque se me sair razoavelmente bem terei atingido meus objetivos, e se não me sair a contento, sei que fui sobrepujado por alguém notável: de qualquer forma saio no lucro.

De fato, o Alonso colocou bem a questão. Votei no oponente dele porque achei o raciocínio do contrário mais concatenado, com a idéia mais claramente vertida para o papel, com mais ligeireza e maior facilidade de intelecção.Disse isso e em seguida observei que só por conta disso votava nele. Então, não me firo nem me acasto quando meu adversário diz que mesmo sendo católico, contraditoriamente votei num ateu, porque segundo meu ponto de vista, não estava em jogo ali um dogma de fé, mas sim a melhor dialética.

Tal pensar me parece um raciocínio consentâneo com a boa razão, do contrário um ateu sempre votaria num ateu, um sociólogo num outro sociólogo, um religioso em outro, e assim sucessivamente: não seria um grupo de acadêmicos, mas um partido político, com obrigação de fidelidade à legenda.

Mas é justo e correto votar de acordo com o que pensamos deixando ao largo o talento do esgrimista? Esta é uma consideração que faço aqui para concluir que não, dadas as razões acima.

II

Alonso afirma que não estou muito certo de minha fé católica. Escreve ele, que pareço um apóstata por concordar com um ateu. Que prefiro não pensar por mim mesmo preferindo me esconder debaixo de citações do CIC e de teólogos duvidosos.
Mais uma vez parece ser necessário repetir que ressalvei no meu voto a discordância doutrinária sobre a fé. Acho que não precisarei falar mais sobre isso.

Apóstata é aquele que abandona a fé, é aquele que deixou o campo da heresia onde a fé claudica em maior ou menor medida, para ir de vez para outros caminhos. Não obstante, ajunta ele que minha fé vem alicerçada no Catecismo Católico e em Felipe de Aquino, sabidamente um teólogo católico. Portanto, a contradição aí é solar e nem precisamos avançar mais no ponto.

Adiante, observa que condicionei todas as minhas impressões à defesa da apologética católica como única e verdadeira para explicar a fé. Se para um ateu é um argumento de autoridade que deve ser prontamente repelido, até mesmo para ele, como católico são difíceis essas teses.
Portanto, me desafia a elaborar, de acordo com meu pensamento católico ou fanatismo, “provas incontestáveis de que os dogmas de fato são a ‘ultima ratio’ em matéria de fé” Porque assim fazendo, diz ele, haver-se-á por provado que fé é diversa de moral religiosa.

E encerra sua primeira intervenção com a premissa que ele mesmo chama de chave, e que a partir dela começo a tecer minhas considerações sobre o tema: segundo meu oponente minha crença dogmática é que o homem possui em sua formação uma fé ou crença inexorável em Deus, levando-o a dizer que a fé ilumina a razão, com o que ele não concorda.


III

A fé (que só existe no sentido teologal) vai além de nossa razão, além de nossa compreensão. Com a nossa razão entendemos o mundo que está à nossa volta, rejeitamos e aceitamos determinados fatos que nosso intelecto processa, pensamos nisso ou naquilo deste ou daquele jeito, formamos nosso conceito sobre uma infinidade de coisas.

A fé está acima disso, não a entendemos por nós mesmos, e por conta disso escrevi que não é nossa, que a fé vem de Deus, é Deus quem a incute em cada um de nós.

Quando digo que não a entendemos com a razão humana não estou dizendo que a fé dispensa o uso da razão. Pelo contrário, a fé é um ato extremamente racional: só conseguirei acreditar, por exemplo, na Transubstanciação ou na Infalibilidade Papal ou ainda na Virgindade Perpétua de Maria Santíssima a partir da minha razão, a partir de deduções que possa haurir da Bíblia e das explicações da Igreja.

Uma pessoa destituída de inteligência, na mesma medida que não pode pecar também não pode ter fé, porque é privada da razão. E muitas vezes um gênio, uma pessoa cuja inteligência exceda a de todos os seus pares também não consegue acreditar porque lhe falta justamente a fé. Sua Inteligência ímpar vai até o limite da razão, mas não pode ir além porque não é atributo humano.

IV

Abraão é chamado de “Pai da fé”, porque deixou Ur na Caldeia e, atendendo a um chamamento de Deus, se dirigiu ao país ao qual Ele ordenara. Assim inicia o capítulo 12 de Gênesis:

“E Javé disse a Abrão: ‘Parte para longe de tua pátria, de teus parentes, e da casa de teu pai e dirige-te ao país que eu te indicar. Pois de ti farei uma grande nação, hei de abençoar-te e engrandecer teu nome: sejas tu uma benção”” (Gn, 12, 1-2)


Em Romanos, após dizer que Deus preferiu Jacó em lugar do primogênito Esaú, São Paulo questiona:

“Que se conclui disto? Que há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Ele disse a Moisés: Terei misericórdia de quem eu quiser e terei compaixão de quem eu desejar ter. Por isso a escolha não depende da vontade, nem dos esforços de quem quer que seja, seja, nem daquele que corre, mas da misericórdia de Deus” (Rm, 9, 14-16).

Mas então esse Deus é carrasco? Escolhe alguns predestinando-os à beatitude, encaminhando-os ao paraíso, levando-os ao Éden, enquanto condena os demais ao fogo eterno, ao choro e ranger de dentes?

Óbvio que não. A parábola dos talentos nos ajuda a meditar profundamente neste ponto e tirar algumas conclusões muito satisfatórias. Tal parábola, contada no Evangelho de São Mateus, Capítulo 25, versos, 14 e seguintes, pode ser resumida assim:

Um patrão encetou viagem; antes de partir chamou seus servos e lhes confiou seus bens: a um entregou cinco moedas de grande valor, a outro duas, e ao terceiro somente uma, cada qual segundo sua capacidade. Ao voltar pediu contas do dinheiro entregue, e o primeiro lhe entregou dez moedas porque a empregou num banco; o mesmo fez o segundo, entregando-lhe quatro. O terceiro entregou aquela mesma moeda recebida porque ao invés de aplicá-la enterrou-a. Ora, o patrão retirou-lhe aquela moeda e deu àquele que tinha dez: quanto ao servidor imprestável, foi lançado fora no meio da escuridão, onde “haverá choro e ranger de dentes”.

Cada um de nós recebe uma quantidade de talentos suficientes para a nossa salvação. Se aquele servo que recebera uma moeda tivesse entregado duas ao patrão, certamente nada mais lhe seria cobrado. Mas como nada fez com o que recebeu, até mesmo o pouco que tinha lhe foi tirado.
Quando São Pedro confessa que Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe declara que essa revelação não lhe lhe veio “da carne e do sangue, mas de meu Pai que está nos céus”(Mt, 16,17). Se veio de Deus não é humano, mas é uma virtude teologal, é uma graça sobrenatural infundida por Ele a cada um de nós.

V
E com essas palavras encerro aqui minhas considerações iniciais. Não sei se me utilizei de palavras ou ideias podres como deu a entender meu oponente na abertura de suas considerações. Espero sinceramente que não.

Se o efeito foi contrário, pelo menos há de valer a boa intenção do escrevinhador.



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Aloprado Alonso - RÉPLICA





Nas considerações iniciais o meu oponente mais uma vez versou deleteriamente acerca da suposta dialética do adversário no debate anterior. Assim, ele tenta fugir a todo custo do viés quase apóstata de suas observações com total insucesso. Se a suposta dialética dum ateu é aceita por um fiel é porque ele concorda com toda a primazia do discurso anterior de que a fé está consubstanciada em condutas irracionais, e isso é suficientemente claro para podermos dizer que o oponente beira a apostasia e trai suas convicções de fé que diz terem conotações racionais, apesar da fé ser um elemento maioral a própria razão humana.

Talvez ele não tenha lido no debate anterior que Deus é “par excelence” intelecto e que o ser humano recebe essa capacidade para compreendê-lo em termos de fé. A visão soa como retrógrada para muitos, mas ainda hoje é algo aceito pela dogmática católica, apesar do rompimento histórico filosófico com esta corrente de pensamento de forma mais intensa na época do Iluminismo que é uma das bases do pensamento ateísta militante. A Igreja condena abertamente esta postura contrária e se ele tivesse noção aprofundada da dogmática católica notaria que desde Giuseppe Sarto na encíclica “Pascendi Domini Gregis” até as posturas atuais de Joseph Ratzsinger em seu acervo teológico a postura continua inalterada. Portanto, resta evidente que o meu oponente desconhece com clareza as posturas da Igreja e adere ao ideário ateísta porque este meramente soa mais claro, mas carece de fundamentos totalmente, pois é uma visão distorcida sobre uma realidade a qual a Igreja, a qual o meu oponente diz ser fiel adepto e professa sua fé em seus dogmas, já elucidou e tomou partido por uma opção de que a fé e razão não são elementos antagônicos, ou melhor, nunca foram para compreender o chamado “misterium fidei”.

Condicionado ou não a apologética católica seria mais digno e preciso o oponente ter acordado com a postura em que versa que Deus é supremo e que concedeu ao ser humano meios racionais de buscá-lo. Entretanto, isso passa batido aos olhos do oponente quando ele leu minhas colocações sem se recordar dos fatores retro citados sobre a postura da Igreja e esquecendo-se completamente de que ele por via sacramental também recebe esses meios 
devido coaduna-se com aquilo que ele chama de graça infusa sobrenatural para efeitos de sorteriologia. Desta forma, ele insiste nas falhas desta postura dos seus próprios silogismos e esquece-se de que isso duma forma ou outra pode ser taxado de apostasia e em melhor hipótese de heresia. De fato, ele ainda não chegou a este ponto, mas fica claro que muitos cristão acreditam nas coisas sem antes verificar os seus fundamentos mais aprofundados e por isso carecem de argumentos suficientes para versar sobre sua fé e fundamentar acerca de sua religiosidade. No debate anterior a questão lançada era além de outras esta da falta de fundamentos em defesa de suas posturas e possibilidade de dúvidas dentro das posições tomadas pelos dois partidos em suas objeções e colocações. Fica claro que dizer que o oponente carece de fundamentos e desconhece a dogmática e formação da doutrina o leva a crer apenas numa posição de sua religião e esta pode estar viciada e ser passível de dúvidas que podem até mesmo fazer ele deixar a fé em sentido religioso católico. Difícil, porém, não impossível. Do meu ponto de vista original existe uma latente percepção de que em todo cristão está adormecido um ateu que a qualquer momento pode despertar e fazer questionamentos fatais nunca feitos antes acerca da profundidade de sua fé. Assim como, para o pensamento dum ateu está latente e as mesmas perguntas fatais acerca das suas convicções.

Após isto ele passa fazer uma pregação de cunho bíblico sobre Abraão como se fosse o oponente anterior, ou como se o mesmo fosse o alvo da fé cristã. Ao fazer isto, ele coloca o real alvo da fé cristã em segundo plano como se fosse coisa menor dentro da sua sistemática de fé. Parece que o meu oponente mesmo professando fé católica esqueceu-se completamente de que Jesus não deixou uma doutrina que pudesse ser apartada de sua personalidade. Isto é, Jesus e não Abraão é ao autor da fé dos cristãos segundo eles mesmos. Assim tomar Abraão como foco da questão é fugir da maior expressão de fé católica que é Jesus.

Ante a isto Jesus não realizou, segundo a própria dogmática católica, uma obra que pudesse ser distinta da sua pessoa, Afinal de contas não seria Jesus ou não a perfeita personificação do logos e das promessas divinas?

Por tal razão é que compreendem Jesus não apenas como Jesus isoladamente, mas também como o Cristo ou Messias, isto é, o enviado para uma missão onde ele mesmo é a palavra é centro motor da fé cristã se encerrando em sua pessoa todo chamado “misterium fidei” antes referido. Dentro de tal raciocínio o meu oponente deve concordar que toda a suposta dialética do meu oponente anterior não é dialética e sim pura e simplesmente retórica ateísta sem fundamento na própria bíblia, pois ambos insistem em citar Abraão como elemento exemplar duma fé que é maior do que isso co fundindo irracionalidade com devoção piedosa e moral com fé. Mesmo assim, o meu oponente aderiu à suposta tese ao esquecer-se deste detalhe fatal que me leva crer em sua apostasia passiva.

Para finalizar esta réplica devo ponderar o seguinte sobre isto: Da mesma maneira que podemos dizer que para a fé a obra de Jesus Cristo nada mais é que um fundir-se com essa mesma obra tornando essa sua obra um evento não só de fé, mas de salvação, como é que poderia um cristão negar ao mesmo tempo a sua fé e possibilidade de salvação de forma racional aderindo um discurso que a fé e até mesmo a sua salvação está fundada num elemento irracional e carente de devoção piedosa quando a própria doutrina católica atesta e aponta o inverso diametralmente oposto disso?

Se isso não é caminhar dentro do campo da apostasia seria o que? Ignorância sobre a doutrina e sua formação ao longo dos séculos? Ou tão somente apenas enxergar a fé e aceita-la por um único viés emocional e irracional que não é passível de ser mutável por nenhuma dúvida?

Espero que o meu oponente reflita aonde amarrou seu voto e depois disso como e porque entendeu que uma posição ateísta até mesmo comum pode ser chamada de dialética ante a própria fé que ele professa de forma inalterável.

Afinal de contas se a posição do anterior rival foi altamente clara, e se foi clara, foi clara dentro das posturas do ateísmo o qual o meu oponente de momento concorda, e se concorda, adere e corrobora com isto, e ainda ousou chamar de dialética quando é, nada mais nada menos, que retórica ateísta.

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JOÃO CIRILO


RÉPLICA:
Em sua última manifestação meu oponente teima em girar em falso tentando vincular meus posicionamentos doutrinários aos de um ateu, só e somente só porque votei num ateu e não nele em outro debate, como se isso pudesse nos levar a alguma conclusão positiva.

Imbuído dessa tentativa frustrada, diz que aceito o discurso “anterior de que a fé está consubstanciada em condutas irracionais”. Ora, pelo jeito não avançou nas minhas considerações introdutórias onde digo claramente que a fé não prescinde da razão. Nem poderia ser diferente, pois o beato João Paulo II na encíclica “Fides et Ratio” comparou a fé e a razão como as duas asas que nos levam a planos mais intangíveis. Portanto, repilo essa acusação mendaz.

Não entendi muito bem o sentido das vertentes Iluministas no debate, embora realmente o Iluminismo seja básico no pensamento ateísta militante; em seguida diz que “desde Giuseppe Sarto na encíclica ‘Pascendi Domini Gregis’ até as posturas atuais de Joseph Ratzinger em seu acervo teológico a postura continua inalterada”.

É verdade, pois ao contrário do homem, Deus não muda. Portanto, não vem de Pio X (Giuseppe Sarto) ou Bento XVI (Joseph Ratzinger) qualquer mudança: apenas repetem o que diz a Bíblia.

Penso ter entendido muito bem – ao contrário do que diz meu oponente – a natureza da fé, e não foi por outra razão que abri minhas assertivas doutrinais citando Abraão, que ao contrário do que ele pensa, não foi citação esparsa, perdida no ar, mas sim porque o patriarca é lembrado em São Paulo na Carta aos Romanos, cujo mote principal é a fé.

Distorcida a seguinte passagem do meu oponente: [A Igreja] “a qual o meu oponente se diz fiel adepto e professa sua fé em seus dogmas, já elucidou e tomou partido por uma opção de que a fé e razão não são elementos antagônicos ou melhor, nunca foram para compreender o chamado ‘misterium fidei’”.

Distorcida pois é exatamente isso que digo desde minha primeira fala não só aqui como também no grupo: a fé é produto da razão; e que ninguém, sem o uso perfeito de suas faculdades mentais, pode ter fé.

Também falei aqui e alhures que se pode perder a fé quando se perde a graça. Citei o exemplo da parábola dos talentos e disse que a salvação não é para todos porque como “ultima ratio” o homem é senhor de si. Se falasse coisa diversa, contrariaria os dogmas 12 e 13 sobre “Deus o Santificador”:

12. Deus, pela sua eterna resolução da Vontade, tem determinado certos homens para a bem-aventurança eterna. (Deus, ao criá-los já sabe que livremente se salvarão).

13. Deus, por uma resolução eterna de Sua Vontade, predestina certos homens, por conta de seus pecados previstos, para a rejeição eterna. (Deus, ao criá-los, já sabe que livremente irão se perder no inferno. Deus não interfere no seu livre desejo, côo não interferiu com os anjos caídos. Estes homens recebem, como todos os outros, infinitas chances de salvação e rejeitam todas, por absoluta teimosia. Ao invés de amarem a Deus, eles decidem amar ao pecado, e morrem nele).

Diz o Alonso: “Condicionado ou não a apologética católica seria mais digno e preciso o oponente ter acordado com a postura em que versa que Deus é supremo e que concedeu ao ser humano meios racionais de buscá-lo”.

Não que em outros lugares não tenha ocorrido isto, mas provavelmente aqui é onde me dá maior razão com palavras mais claras: faz tempo que acordei para isso e faz tempo que eu digo que todos os homens recebem fé suficiente à sua salvação (e até exemplifiquei com a parábola dos talentos!).

Diz meu oponente que “por via sacramental também se recebe esses meios”. Isso é absolutamente verdadeiro e só não toquei no ponto temendo derivar o debate.

Embora tenha aparecido a cita “en passant” nesta quadra, aplaudo a conclusão do Alonso e aproveito para dizer que o Sacramento por excelência onde fé e graça nos são profusamente ministradas, é a Eucaristia.

Pinço das assertivas dele uma passagem que cito, e em o fazendo especulo suas reais intenções: “Fica claro que dizer que o oponente carece de fundamentos e desconhece a dogmática e formação da doutrina o leva a crer apenas numa posição de sua religião e esta pode estar viciada e ser passível de dúvidas que podem até mesmo fazer ele deixar a fé em sentido religioso católico”.

Parece que quem já deixou a fé em sentido religioso católico é o Alonso, e há muito tempo. Deveras, como pode um católico – que cita dois Papas justamente para dizer que a Igreja nunca muda – dizer que a posição da Igreja (que é a “coluna e sustentáculo da verdade”, como nos lembra São Paulo na IITm) pode estar viciada?

Percebendo o erro material do Alonso ao dizer “religião” onde quis obviamente dizer “Igreja” fiz a ressalva no meu texto, porque se já é alarmante um católico praticante desconhecer a máxima “Extra Ecclesia nulla sallus”, excede a toda imaginação um católico dizer que a “Religião” e não simplesmente a “Igreja” pode estar viciada.

Concordo com ele quando diz que um católico praticante pode ser um ateu em potencial, até porque o contrário também é verdadeiro. De toda a sorte, tentando não perder a fé e a graça procuro fazer semanalmente o que ele próprio aconselha ao cristão: comparecer ao sacrifício da Santa Missa e sempre que possível receber o Sacramento da Comunhão.

Evidentemente que as citações sobre Abraão tiradas de Gênesis, as de São Paulo colhidas da Carta aos Romanos, a da parábola dos talentos e justificação de São Pedro buscadas no Evangelho de São Mateus são a própria essência de meus comentários, e nada têm de “pregação de cunho bíblico sobre Abraão como se ele fosse o oponente anterior, ou como se o mesmo fosse o alvo da fé cristã”.

Tendo o oponente anterior do Alonso citado Abraão já mostra que todo debate sobre fé não prescinde deste patriarca, pelas razões já demonstradas. É elementar, cristalino e óbvio que mencionando Abraão, tido pela tradição como o “pai da fé” não se vai desautorizar nem colocar à margem a figura de Jesus Cristo, como articula de maneira desajeitada meu oponente, dizendo que fujo do Divino Mestre! Pois sim, senhor Alonso!

Desdizendo o começo de suas considerações (fé racional) descamba para um exercício de linguagem difícil de ser penetrado e mais difícil ainda de ser escoimado e devidamente entendido.

Em síntese muito apertada diz ele que se a fé e a obra de Jesus Cristo são elementos que se fundem para algo mais alto, que é a salvação, como um cristão pode negar ao mesmo tempo sua fé e a possibilidade de salvação de forma racional se a salvação está fundada num elemento irracional quando a própria doutrina atesta e aponta o inverso disso?
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Daí a gente não sabe se para ele a fé é racional, se a salvação pressupõe um elemento irracional, se a salvação é racional ou se a fé é irracional.

Por via das dúvidas, vou pelo lado inverso dizendo o que não é fé. Um cientista enquanto tal não é um crente, não tem fé. Parte do que conhece com elementos sabidos para chegar a uma conclusão palpável e provada. Não há campo para o sobrenatural: seu espectro de ação vai somente até onde o raciocínio humano alcança.

Um paleontólogo esgaravata sítios enormes, procura um fóssil, limpa-o, livra-o de impurezas, tudo porque pretende encontrar o elo entre um símio e a espécie humana, com o que provará a origem e a evolução das espécies (ou pelo menos esta última).

Um físico se atém na procura incessante da partícula que geraria todo o Universo, e se esfalfa no “Colisor de Hádrons”. Entram em causa o bóson de Higgins, a teoria das cordas, a origem da massa das partículas elementares, entre tantos itens de alta indagação científica: mas trabalha sempre com cálculos e a partir de dados que possui incontestavelmente. Como os átomos, por exemplo.

Isso não é fé, isso é razão pura. Isso é raciocínio lógico, isso é ciência. Num caso ou noutro, embora possa haver um cientista extremamente religioso, sua fé propriamente dita não entra na equação.

Em segundo lugar é preciso ter em mente que o sujeito que aposta na loteria, o que acredita que seu time será campeão, e ainda um outro que compra e vende ações na bolsa, não têm necessariamente fé: um acredita ganhar porque haverá uma série de números sorteados e pode muito bem ser a dele; o outro porque o time vai bem no campeonato e os adversários estão em produção descendente; o terceiro porque trabalha com dados fornecidos pelo mercado e sua experiência como investidor lhe indica este ou aquele caminho.

Como se nota, todas as questões passam por probabilidades, opiniões e estatísticas, todas no campo da razão e da lógica.

Finalmente, a fé que temos na palavra de outrem e que chamamos de “fé humana”. Nunca fui à China, mas quem foi pode me assegurar que o país existe. Então creio no que me é falado por outrem, e isto também não é fé.
Portanto, e encerrando, digo mais uma vez que fé extrapola todo o conhecimento humano e é insuflada na alma do homem por Deus: Ele é o autor da fé e é Ele quem nos dá em maior ou menor medida, não é atributo humano e neste sentido um gênio pode ter fé nenhuma enquanto um homem do campo rude e não raro analfabeto, pode ter fé plena. 


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ALONSO - TRÉPLICA




O meu atual adversário está mais confuso que o anterior e mais indeciso ainda em ter uma linha de raciocínio uniforme: Em certo momento cita a bíblia repetitivamente para fugir dos questionamentos de cunho dogmático sobre a fé ser exclusivamente um elemento teologal não dentro da religião, pois pela lógica é um elemento de fundamentação da religião, mas sim dentro da suposta relação humana homem Deus baseada na potencialidade divina em conceder-lhe a chamada “Christofideles ratio” de forma teologal ao fiel que de outro modo não haveria de ser fiel e sim um infiel em termos racionais de fé.

Entretanto, quando falha a pregação bíblica, pois não se vê a figura de Jesus Cristo alçada ao centro como ordena a cristologia e até mesmo mariologia mais básica, ele volta para os braços da Igreja e cita toda sorte de máximas que dão a uma instituição intermediária toda credibilidade para explicar sobre a fé e lança novamente a figura de Jesus ao acaso como se fosse a Igreja o centro da fé e não o seu suposto fundador em termos de religião “lato sensu”. Certamente pela ótica dele a Igreja é a única que detém toda autoridade de Jesus ao ponto de ser chamada do corpo místico de Cristo, mas se na obra de Jesus vemos como afirma a própria liturgia Jesus retirando o pecado do mundo e salvando a humanidade do seu pior fardo porque a dogmática insiste que o pecado ainda é hodiernamente servil em condenar a humanidade de forma tão cruel? Porque a Igreja se passa por detentora da salvação e insiste gradualmente que mesmo sendo transmissora dos ensinos de Jesus estamos sujeitos ao pecado e aos preceitos religiosos quando em última análise Jesus agiu como um libertador das leis e preceitos do antigo judaísmo e devido essa revolução conceitual instaurou-se o cristianismo?

Parece salutar lançar a dúvida que há um Cristo maquiado pela Igreja que serve como ponto de apoio de sua liturgia, mas que pelo viés dogmático numa análise radical não é o mesmo suposto Jesus bíblico que menciona: “Eu sou o caminho a verdade e a vida”. Portanto, sendo ele mesmo o caminho e a verdade porque não é permitido a qualquer ser humano pela ótica da Igreja depositar fé nele independente de seus dogmas, mesmo que as potencialidades do Cristo ultrapassem a validade dos conceitos e possam ir de encontro a qualquer pessoa independente do pecado que esta pessoa supostamente tenha por suas ações de cunho moral e ainda assim ser salvo pelo próprio Jesus? Em resumo: Jesus de fato salva ou é a Igreja que salva? Qual catequese barata o meu oponente vai usar para elucidar isso?

Se a virtude é teologal, isto é, um “discurso de Deus” ao homem porque esse discurso não pode ser emanado de forma clara e concisa diretamente entre Deus e o homem segundo a dogmática e necessita da chancela eclesial sempre e irremediavelmente? Fora da Igreja não residiria esse dom sobrenatural ou ela detém alguma fórmula exclusiva sacramental para que isso ocorra de imediato como aconteceu com Paulo em Damasco aprisionando assim a graça sobrenatural num rito litúrgico? Porque apenas um alto clérigo do escalão do Vaticano detém o poder de unir a terra aos céus quando isso na realidade é possibilitado a qualquer um através da sua fé de acordo com a sua relação “homine Dei”? Muitas são as questões e muitas são as explicações do protecionismo eclesial não para defender a fé em suma, mas a validade do discurso temporal eclesial e sua permanência como instituição intermediária entre Deus e os homens formatando a fé em uma série de mecanismos regidos e mantidos por liturgia e demagogia como vemos nos últimos tempos.

Diante disso, o meu adversário faz considerações sempre curtas sem profundidade alguma sobre loteria, arqueologia, existência ou não da República da China, sempre fugindo através do senso comum da questão chave deste debate comprovando assim minhas assertivas sobre este tema: O fiel religioso teme colocar em dúvida seus dogmas. O fiel religioso desconhece com profundidade a doutrina que professa e por isto faltam-lhe contra-argumentos sólidos quando os dogmas são postos contra a parede. No máximo repete a cartilha de máximas eclesiais e textos bíblicos previamente decorados fora do contexto chave da cena do debate. O fiel religioso é capaz de dar razão para um ateu e dizer ainda que professa a mesma fé de antes sem ser apostata.

Todavia, o meu oponente acusa as inúmeras dificuldades de compreensão do meu texto e das minhas posições, como motivo de sua banalidade itelectual e faz isso calcado em por dois motivos clássicos: O primeiro é a falta de trato habitual com a leitura de livros com linguagem mais complexa ou de teologia e a segunda é que isso é a desculpa mais habitual dada para quem não compreende os parâmetros do debate. Consoante a isso ele não será capaz de explicar o seguinte de próprio punho - não porque não compreende as premissas do debate com a velha desculpa da muleta da dificuldade textual, mas sim pura e simplesmente porque desconhece a seguinte explicação contida na doutrina católica a qual eu mesmo explico em linhas breves: Nesse debate fica claro que as perguntas por mim lançadas são as mesmas que abalaram a estrutura modal da Igreja e da sua validade como religião nos diversos séculos de sua existência. Entretanto, o meu oponente desconhece de cabo a rabo que é justamente ao decorrer dessa existência conturbada que se cria a sistematização da fé cristológica através de inúmeros concílios que constituíram o conteúdo de a forma definitiva do dogma cristológico e foi exposto numa suma teológica chamada pela Igreja de Credo Apostólico. Em outros termos: Este elemento teológico indica claramente que o enunciado se adéqua perfeitamente ao logos divino, isto é, “discurso de Deus” ou a condição de que Jesus de serviu como o mais humano dos homens a uma causa divina onde fé era o imperativo categórico da ação e por isso mesmo ele e sua obra consolida que é permitido ao ser humano uma compreensão direta e pessoal humana disso sem elementos dispares de sua natureza humana ou intermediações banais como as que o meu adversário aponta ao crer mais numa fé em sentido emocionalista e demagogo na Igreja obtusa do que numa fé livre e ao mesmo tempo radical na figura de Jesus.

Para fechar esse linear será que a natureza e a história de Deus pode ser exposta pelo ser humano em módulos filosóficos concisos meu caro oponente apologeta, ou a Igreja já fechou a questão e estamos todos condicionados a sua visão de que onde há a suposta fé racional há a mesma fé eclesiástica moldada previamente por um teologia sistemática? Deixo esta pergunta para que ele verse sobre ela e não fuja para os elementos do senso comum das citações descabidas sobre loteria, física supostamente quântica, e recomendações de comparecimento semanal na Missa.

Passo a palavra ao João Cirilo para sua tréplica.


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JOÃO CIRILO



TRÉPLICA:

O meu oponente tenta de maneira totalmente insatisfatória e cheia de voltas como uma rosca, passar a impressão de que sou eu e não ele que está totalmente confusão neste debate, que não sabe o que falar e talvez à conta disso fale tanto.

Justamente porque encerrara réplica de maneira absolutamente confusa, impenetrável como um cipoal, sem oferecer a qualquer leitor, ainda o mais atilado e percuciente, qualquer pista sobre o que eventualmente pudesse entender sobre a fé, encerrei minhas linhas dizendo o que não é fé.

Portanto, escrevi sobre o torcedor de futebol, do aplicador na bolsa de valores, do jogador na loteria, sobre os cientistas e ainda sobre a fé que usualmente temos quando alguém nos afiança algo, a chamada “fé humana”.

Por estas razões, mais em atenção a aparente curteza dele em apreender é que citei tais exemplos de forma curta, para haver uma sinonímia de costumes. Mas, se foram curtas minhas abordagens, refresco com outra, bem recente, de todos sabida e, mais que todos, sabida por meu oponente.

Todas as postagens dele deste debate foram misteriosamente apagadas do blog. Por que? Não soube, não fui informado, não teve ele nenhuma educação e fineza em me dizer qualquer coisa neste sentido, o que é algo totalmente fora do comum, para não dizer que é absolutamente sem educação.

Pois bem, pelas leituras e comentários ao pé do “duelo” ficamos sabendo que ele teria informado a um membro do grupo que alguém invadira seu computador e apagara todos os seus comentários. Uma coisa certamente tão lamentável quanto não usual, que foi sanada porque o mediador tem gravados os debates.

“En passant” o comentário de um terceiro porque meu oponente não se dignou a dizê-lo. E um comentário fora do assunto debatido, o não é de admirar porque os participantes, afora intrigas, maledicências, diz-que-me-diz e churumelas, pouco se importam com o que os outros estão a escrever ou a debater.

Pois bem! Será verdade essa fala do Alonso de que todo seu arquivo se perdeu? Não sei, mas por que não? Todos temos a “fé humana” na palavra dele de que é verdade, afinal, se ele disse que perdeu seu arquivo porque bisbilhoteiros foram lá bisbilhotar, todos nós acreditaremos.

Então, juntamos outro exemplo àqueles que já dera e que meu adversário chamou de curtos e superficiais. Agora, fornecendo ele mesmo um exemplo é bem provável que entenda a colocação como profunda e perfeitamente explicável por si mesma.

II

Pinço aqui e ali comentários relevantes sobre a réplica, aos quais farei o devido apontamento:

A)“Porque a Igreja se passa por detentora da salvação e insiste gradualmente que mesmo sendo transmissora dos ensinos de Jesus estamos sujeitos ao pecado e aos preceitos religiosos quando em última análise Jesus agiu como um libertador das leis e preceitos do antigo judaísmo e devido essa revolução conceitual instaurou-se o cristianismo?”
Sim, o cristianismo substituiu o judaísmo para os que são cristãos da mesma forma que não substituiu para quem é judeu. A Igreja é detentora da Salvação não por si, mas por ser depositária dos ensinamentos de Cristo, por ser o Corpo místico Dele, por ser a congregação da igreja militante que somos todos nós, os cristãos que estamos na Terra, os que estão no Paraíso (gloriosa) e os que estão no Purgatório (padecente).

Então, não é a Igreja que salva por si, mas Jesus que salva por intermédio da Sua Igreja, que é algo totalmente diferente.


http://static.ak.fbcdn.net/images/blank.gif “O fiel religioso teme colocar em dúvida seus dogmas. O fiel religioso desconhece com profundidade a doutrina que professa e por isto faltam-lhe contra-argumentos sólidos quando os dogmas são postos contra a parede. No máximo repete a cartilha de máximas eclesiais e textos bíblicos previamente decorados fora do contexto chave da cena do debate. O fiel religioso é capaz de dar razão para um ateu e dizer ainda que professa a mesma fé de antes sem ser apostata”.

Até agora não sei o que é o tal “contexto chave da cena do debate”. Também pouco me importa até porque não importa a ninguém. É verdadeiro que o crente repete a cartilha de máximas eclesiais, mas não porque ele não tenha argumentos, mas porque os têm em abundância. E terá, sendo católico, não herege e menos ainda apóstata, que se filiar àquilo que a Igreja dispõe, não só porque é a coluna e sustentáculo da Verdade, como disse São Paulo, não só porque tem o poder de “ligar e desligar”, como Jesus deixou claro, mas principalmente porque esses textos “bíblicos previamente decorados” entram pela cabeça e inteligência do crente com a razão banhada pela fé: o difícil não é tergiversar, inventar e especular, o difícil é compreender e mais difícil ainda é seguir tudo (ou quase tudo) que a Bíblia e sua guardiã, a Igreja, professam.

C) “Certamente pela ótica dele a Igreja é a única que detém toda autoridade de Jesus ao ponto de ser chamada do corpo místico de Cristo, mas se na obra de Jesus vemos como afirma a própria liturgia Jesus retirando o pecado do mundo e salvando a humanidade do seu pior fardo porque a dogmática insiste que o pecado ainda é hodiernamente servil em condenar a humanidade de forma tão cruel?”

Jesus tirou o pecado do mundo substituindo os sacrifícios antigos onde o sacerdote entrava no santuário oferecendo sangue alheio pelo seu próprio Sangue na cruz uma única vez e definitivamente, onde a um tempo foi Sacerdote, Altar e Vítima. Para uma boa exegese desse importantíssimo ponto de fé que escapará a este debate, sugiro que se leia a Carta aos Hebreus, principalmente o capítulo 9.

Mas isso não tira nossos próprios pecados, da mesma forma que não tiravam os pecados dos hebreus os sacrifícios que comumente se faziam pelos sacerdotes em favor de todo o povo. Nossos pecados particulares são tirados através do Sacramento da confissão, como sabemos todos, da mesma forma que o original é tirado pelo Sacramento batismal.

Ao meu oponente à disposição suas considerações finais.







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ALONSO

FINAL

“Segundo a teologia dogmática católica as chamadas virtudes teologias que o meu oponente tanto defende mesmo sem versar nada sobre elas estratifica e subordina as faculdades cognitivas e volitivas humanas para que ele seja partícipe da natureza divina devido estas virtudes se referirem diretamente à existência de Deus. Nesse mesmo parâmetro as chamadas virtudes teologais serviriam em tese para tornar toda conduta humana seja moral ou racional algo semelhante e meio acessível ao próprio Deus. No entanto, se essa virtude existe de fato, porque o ser humano é falho em compreender racionalmente e peca em atos morais contra a esta mesma natureza divina da qual seria partícipe? (Isso de acordo com a própria dogmática que o meu oponente defende)

Citar que a fé, esperança e caridade tornam o ser humano capacitado de achegar-se e compreender a existência de Deus através daquilo que a Igreja sistematiza não é de forma alguma crer livremente em Deus, mas sim crer em Deus desde que se acredite na Igreja e aja de acordo com seus dogmas e preceitos morais e não livremente de acordo com uma razão que supostamente já teria acesso cognitivo direito ao próprio Deus. Fora disto, qualquer outro modelo de crença e atitudes não é aceito como fé legítima que torne o ser humano “filho de Deus” segundo a própria dogmática em questão.

Todos devem concordar, mesmo que minimamente, que a experiência do próprio ser humano nos remete para a realidade de um ser que está “se formando” continuamente através de si mesmo e daquilo que absorve do habitat social e relações humanase e inter humanas em certos casos como a transcendência por exemplo. É com fulcro nessa experiência originária que notamos que não nascemos com nada pronto, isto é, somos seres que nos construímos na medida de nossas experiências humanas mais complexas. Isso contraria a tese que a virtude teologal seria como um dom sobrenatural que pode alterar todo esse espectro de experiências e remetê-la a uma única experiência que seria a base e explicação de todas nossas outras experiências humanas e com isto conheceríamos verdadeiramente a Deus.

Com fundo nisso é com base nessa experiência de romper com o que é dado como correto e experimentar o que além de nossas limitações racionais é que a dimensão da transcendência nasce e se torna realidade concreta e não um conceito abstrato ritualizado pela dogmática como forma de dever ser. Esse modelo de transcendência não tem nada a ver com aquilo que os sistemas religiosos definem como correto, pois antes de tudo, as entidades religiosas sistematizam regras de condutas e monopolizam isso induzindo a liberdade humana para uma prisão conceitual onde virtude do “logos divino” só existe de acordo com seus paradigmas predefinidos.

Isso amputa qualquer inovação e tranca a possibilidade do ser humano em compreender algo sobre fé por vias racionais, pois a dogmática é uma amarra racional eficaz em predefinir e impor conceitos que podem ser reproduzidos em ações de massa que permitem que a mentalidade humana aceite que aquilo é verdadeiro e correto sem que isso seja transcendência de forma concreta. Alinhado com esse teor podemos notar que na história da natureza de Deus segundo a sua narrativa histórica bíblica é desde início voltada para conceder ao ser humano liberdade para que possa por si mesmo através de seus dotes humanos específicos experimentar e compreender tudo que lhe seja tangível de acordo com meios que lhe possibilitem uma certeza factível da realidade comunicada pela natureza a qual seria um última instância criada pelo próprio Deus.

Nesse escopo, dizer que somente em um único centro detentor e sistematizador da fé se encontra tal verdade e que é através desta mesma entidade que o ser humano salva-se por crer que isso é real é na verdade apenas levar o crente nessa formula a viver no engodo da sistemática filosófica onde a idéia e conceito definidos valem mais do que a experiência concreta fundada na liberdade humana de pensar, pois o tangível nesse caso é apenas o conceito dogmático e não a fé como experiência de vida que possa ser racionalizada naturalmente por outro meio. Conforme isto, a maioria dos fiéis religiosos vivem em maior parte uma fé racional, mas racional no sentido de aceitação de fórmulas e dogmas, e não uma fé racional que foi experimentada fora dos esquemas litúrgicos e dogmáticos. Nesse parâmetro podemos afirmar que a experiência de fé pode ser dar fora de qualquer religião de forma fecunda, pois estaria livre dos vícios de induções de conceitos predefinidos por religiões.

Enquanto o meu oponente defende que apenas dentro da Igreja existe uma realidade chamada fé, a minha premissa sugere que a fé é possível fora de qualquer esquema dogmático aprisionador da racionalidade humana. Nesse caso um crente ou ateu duvidar dos seus conceitos predefinidos por qualquer sistemática dogmática pode ser uma luz à sua razão e um meio de compreensão da fé de forma gradual e de acordo com a sua natureza humana.

Para fechar deixo a síntese com base nos dizeres dum famoso teólogo: “Enquanto as religiões afirmam: “Deus está na transcendência e que habita numa luz inacessível, e nós (religião Igreja) temos sua revelação, a chave para falarmos Dele”. Isso é pura metafísica, uma tradução da experiência originária, mas não é a experiência originária”.





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João Cirilo

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Das bem embasadas considerações finais de meu oponente, tomo uma passagem que achei mais relevante entre as demais igualmente relevantes, e a partir dela pretendo encerrar meu arrazoado, desde já pedindo desculpas aos leitores se me fiz extremamente cansativo ao longo deste debate. Eis a citação do Alonso:

“Enquanto o meu oponente defende que apensas dentro da Igreja existe uma realidade chamada fé, a minha premissa sugere que a fé é possível fora de qualquer esquema dogmático aprisionador da racionalidade humana. Nesse caso um crente ou ateu duvidar dos seus conceitos predefinidos por qualquer sistemática dogmática pode ser uma luz à sua razão e um meio de compreensão da fé de forma gradual e de acordo com a sua natureza humana”.

Nota-se então que estamos, eu e o Alonso, em posições doutrinárias antagônicas, o que melhor ainda aclara e dá brilho ao debate. Porque de fato eu entendo que não é possível a fé fora da Igreja.

Se Jesus disse a São Pedro que haveria de erigir Sua igreja na autoridade dele (“Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”). E se mais além lhe disse que lhe dava o poder de ligar e desligar (“eu te darei as chaves do Reino, tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”), e se foi Ele quem escolheu os apóstolos (“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que escolhi a vós”), e se estes apóstolos são os continuadores da obra dele (“Apascenta minhas ovelhas”), é natural que Cristo Viva e Reine através da sua Igreja.

A Igreja é o que a doutrina chama de “Corpo Místico de Cristo”, do qual ele é a cabeça e cada um de nós os membros: e é esta Igreja dos vivos a qual pertencemos os que aqui estamos na Terra (a Igreja militante), os que já morreram e se encontram no Purgatório (a Igreja padecente) e os que já penetraram na Glória (a Igreja gloriosa, ou triunfante), ou seja, uma cadeia, uma “internet” que liga todos nós, um elo perene que congrega os vivos e os mortos.

Verdadeiramente Jesus nos recomenda: “Permanecei em mim, como eu em vós. Como um ramo, se não permanecer na videira, não poderá dar fruto por si mesmo, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece e mim, será lançado fora como o ramo e secará. Será como os ramos secos que são juntados, atirados ao fogo e queimados” (Jo, 15,4-6).

E possível um ramo de videira sobreviver cortado da planta? Não. E um ramo bem nutrido, bem podado bem adubado e regado, ao contrário, não é correto que dará fruto, e fruto em abundância? Sim; é o mesmo raciocínio e a mesma conclusão: daí que a Igreja (a reunião de todos os fiéis sob uma mesma liderança e os mesmos artigos de fé e não obviamente uma edificação, ainda a mais opulenta) é esses ramos que formam a videira, que formam o Corpo Místico de Cristo.

E é só uma videira, não são várias, não é uma infinidade, um parreiral. Na Última Ceia Jesus prometeu o Paráclito, isto é, o Espírito Santo aos seus apóstolos: “Rogarei ao Pai e ele vos dará um outro Paráclito que fique para sempre convosco: é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis porque permanece junto de vós e está em vós. Não vos deixarei órfãos. Hei de voltar a vós. Ainda um pouco e o mundo não me verá. Mas vós me tornareis a ver porque eu vivo e vós também vivereis. Nesse dia, compreenderei que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós”. (Jo, 14, 16-20).

Essa promessa se cumpriu cinquenta dias depois da Ressurreição, conforme é narrado no Livro dos Atos dos Apóstolos: “Chegou o dia de Pentecostes e estavam todos reunidos naquele mesmo lugar. De repente veio do céu um barulho que parecia o de um furacão: invadiu toda a casa onde estavam reunidos. Então, lhe apareceram línguas como se fossem de fogo, que se dividiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito os impelia a que se exprimissem” (At, 2, 1-4).

Conforme bem lembrou o Alonso, de fato a fé, a esperança e a caridade são virtudes teologais. E são teologais é porque vêm de Deus, não dependem de nossa força e nem de nossos méritos próprios.

“As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais, que adaptam as faculdades do homem para participarem da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus. Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trio por origem, motivo e objeto. Fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para serem capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade” (CIC, §§ 1812 e 1813).

Ora, então é inequívoco que:

a)Sendo a fé um dom de Deus é Ele quem a insufla em nossos corações e não podemos cada um de nós, por nossos próprios meios, obtê-la, embora seja certo que a podemos perder, porque afinal de contas temos o livre arbítrio e a capacidade de rejeitá-Lo;

b) Mas a fé é perfeitamente percebida, é alcançada pelo uso da razão, que muito nos facilita a entendê-la; não significa que uma pessoa sem grandes dotes intelectuais não possa ter fé mesmo sem compreendê-la exatamente, porque Deus a dá a todos, basta-nos cultivá-la segundo nossas capacidades;

c) Se Ele deixou aqui uma Igreja e se o Espírito Santo a insuflou com seus dons, parece igualmente certo que esses dons serão derramados àqueles que fizerem parte dela;

d) E fazem parte da Igreja todos os que, chamados à Graça, não a repelirem, mas trataram de se alimentar dela principalmente pelo Sacramento da Eucaristia;

e) Se o ramo não consegue viver apartado da videira, um membro não consegue sobreviver fora da Igreja, porque ela, que é o Corpo Místico de Cristo, é quem tem autoridade para ligar ou religar o Reino dos Céus na terra, coforme expressa promessa de Jesus a São Pedro.

Aqui encerro minha participação neste debate agradecendo a oportunidade que me foi conferida pelo Alonso que muito gentilmente me convidou a participar dele.

Agradecendo também ao Levi que muito gentilmente me ajudou a efetuar as postagens, que por minha conta ainda não consegui.

E agradeço ainda mais a atenção de algum leitor que porventura tenha tido a paciência de vencer essas mal traçadas linhas.

Muito obrigado.

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