sábado, 9 de junho de 2012

Roberta X Roger - Mundo Fake


  1. 1. "Prometeu, o nosso moderno Fakestein" - e foi assim que um dia abri a discussão sobre o assunto. O título é uma brincadeira sobre a mais famosa obra de Mary Shelley ( Prometeu: o nosso Frankenstein) e numa análise entre amigos, falávamos do nosso histórico virtual bem como de pessoas e personagens que faziam parte de nossa rotina. Muito se foi dito sobre perfis fakes, tudo ainda sem aprofundação científica, apenas naquela de examinar posturas alheias, tendo como régua moral, nosso próprio comportamento. A primeira questão abordada foi sobre o que, de fato, caracterizava um perfil fake.

    Com o acesso facilitado e ágil, qualquer um pode ter uma identidade virtual em redes sociais como Orkut, Twitter, Facebook, Pinterest, Flickr, Lastfm, Netlog, MySpace com o intuito de troca de ideias e conhecimentos, mas talvez por excesso de zelo ou ainda, por preservação da imagem (sigilo profissional) optam pelo perfil falso.

    A tradução literal do termo diz tratar de uma identidade falsa, porém sabemos que há várias formas de se fake, como também, inúmeras razões, que também gostaria de abordar nesse debate, porém, antes, gostaria que tentasse responder algumas questões:


    • Faz diferença, num ambiente virtual saber a identidade daquele que dá sua opinião?

    • Um perfil fake tem razão de se sentir pessoalmente ofendido? Não é essa a vantagem de não ter um perfil pessoal, a de mostrar sua opinião, sem o receio de ser pessoalmente confrontado?

    • Por outro lado, a avaliação de alguém nesses moldes pode ser considerada? - Levando em conta que a exposição de um é infinitamente maior, trazendo como resultado de um "julgamento", um tratamento desigual;

    • A interação social existe, não há como questionar, mas, é também superficial. Até que ponto, em sua opinião ela é válida?


    Ontem mais uma vez o grupo foi vítima de um elevado número de postagens de perfis não identificados, o que faz desse assunto, uma excelente oportunidade para uma reflexão coletiva. Também por essa razão agradeço o interesse de meu oponente em debater o tema: como distinguir o que é real ou falso no mundo virtual e indo um pouco mais além, tentar responder uma importante questão: será que a maneira que lidamos no plano físico difere de nossas relações virtuais?

    È um de meus temas preferidos, talvez por sempre estar em voga em ambientes virtuais, especialmente em sites relacionamento. E por fazermos parte de um dinâmico grupo de debates, nada mais coerente do que levantar as razões desse fenômeno. Por ora não abordarei implicações psicológicas, e muito menos conseqüências sociais por esperar por seus apontamentos, até para que eu faça um melhor juízo de valor sobre o caso. São questões que iniciarão nossa conversa, e que com elas respondidas, daremos o próximo passo.
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  2. Bem, Roberta, vamos lá.

    Vou primeiro responder suas perguntas e depois adentrarei nesse assunto.

    1 - Não acho que faça diferença, em um ambiente virtual, saber quem é a pessoa para avaliar sua opinião.

    2 - Não acho que um perfil fake tenha razão para se sentir pessoalmente ou moralmente ofendido, pois ele tem, justamente, a vantagem de não ser uma pessoa real e sim uma personagem. No entanto, quando isso acontece, e como vimos, uma personagem entra em colapso moral se sentindo ofendida por questões morais, então podemos deduzir que a pessoa por trás daquele perfil provavelmente leva as coisas muito a sério e para o lado pessoal mesmo.

    3 - A avaliação de alguém nesses moldes - um fake - pode sim ser considerada. Acho que essa questão da exposição é, antes de tudo, opcional. Pode haver uma série de motivos para alguém preferir usar um perfil falso. Não acho que isso desmereça a opinião ou avaliação desta pessoa em nenhuma circunstância. O que desmerece a avaliação desta pessoa, a meu ver, é quando ela faz julgamentos morais NOS OUTROS, tentando impor valores que ela não tem ou que não pode provar que tem.

    4 - A interação social, nestes casos, com certeza é superficial. Não há uma amizade real por que, até certo ponto, é impossível existir um laço de confiança. Você não pode confiar em alguém em quem não conhece, não é mesmo? Se você encontrasse alguém, fora do mundo virtual, e esta pessoa usasse uma máscara e disfarçasse a voz, e você não tivesse a mínima ideia de quem seja esta pessoa, você conseguiria confiar nela? Duvido.

    Mas, penso que obviamente a forma como lidamos no plano físico difere totalmente do plano virtual. Na internet, temos mais liberdade de expressão, podemos expor nossos pensamentos ainda que os outros discordem deles. Podemos ofender os outros de forma incisiva, que pessoalmente seria bem mais difícil de se fazer. Podemos tomar decisões com tempo, coisa que fora da internet nem sempre é possível. Podemos, também, estudar um assunto em rápidas pesquisas e fingir que entendemos profundamente sobre ele, enquanto, no plano físico, isso seria impossível, pois a relação direta nos traz o elemento surpresa de alguém que possa nos fazer perguntas que não saibamos responder na hora. Enfim, há diferenças e não são poucas. Penso que o mundo virtual é uma outra forma de viver, totalmente diferente daquela que seguimos em nossa vida normal.
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  3. O mundo fake, de fato, é difícil de ser julgado. Como você mesma sabe, eu usava um perfil real no orkut e por motivos mais do que óbvios, passei a utilizar um perfil não tão real, com fotos que não são minhas, pois a perseguição por parte de determinadas "pessoas" ultrapassou o limite daquilo que era aceitável e começou a envolver as questões pessoais. Agora, que não sou mais uma pessoa de fato, não me preocupo mais com isso e tenho um pouco mais de liberdade.

    Mesmo assim, perceba que uma certa pessoa tinha fotos minhas daquela época, ainda, de quase um ano atrás. Ou seja, há, por parte de outros fakes, um comportamento excessivamente perigoso. É preciso, de certa forma, ter cuidado com esse tipo de coisas.

    Há vários tipos de perfis. Para mim, não faz muita diferença se o perfil é fake ou real, se as fotos são reais ou não. A questão é que, um fake, por não ter uma identidade, tem mais liberdade, tanto para expor suas opiniões quanto para prejudicar o desempenho e pensamento alheio.

    Em nosso grupo, vimos não só uma vez casos como este. Havia uma ou mais pessoas, usando disfarces, e elas tinham como objetivo somente tumultuar a comunidade. Então, reside aí que o problema não é se o perfil é fake ou não. A diferença existe diretamente na pessoa que controla aquele perfil.

    Nós temos em nosso grupo vários perfis fakes que participam normalmente, contribuem, e que provavelmente optaram por isso pelos mesmos motivos que eu, ou talvez, como você disse, por questões de sigilo profissional, como era o caso do Inimigo Capital do orkut, que era advogado e trabalhava em órgão público.

    O que a meu ver faltou você ter colocado como, provavelmente, os motivos principais para se usar um perfil fake, são os dois seguintes:

    1 - Evitar perseguição, como é o meu caso.
    2 - Perseguir os outros e prejudicar o grupo, como é caso que você conhece.

    O primeiro caso é comum, por que se você não expõe muitas informações pessoais dá menos margem a comentários provocativos e maldosos. O segundo caso, que também é comum, creio ser proveniente da união entre dois fatores meramente psicológicos: Ócio mental e desequilíbrio emocional.

    "Mente vazia é oficina do Diabo", e embora eu não creia no diabo, certamente uma mente muito vazia é também uma bela oficina para invenções. Estas invenções podem ser boas, mas dificilmente serão boas quando associadas a um desequilíbrio emocional.

    A origem deste desequilíbrio pode ser variada. Em alguns casos, carência afetiva é o suficiente para desestabilizar os sentimentos de alguém. Em outros casos, complexo de inferioridade ou mesmo de superioridade podem causar esse distúrbio. Mas creio ser o primeiro o mais comum, e podemos visualizar nos exemplos próximos a nós o quanto isso é verdadeiro.

    A atitude de alguém que entra no grupo com um perfil fake e começa a trollar as pessoas, e também começa a inundar todos os tópicos com provocações e xingamentos sem qualquer fundamento, certamente é atitude de alguém que, antes de tudo, precisa de atenção e de aprovação alheia. Às vezes a coisa pode ir até mais longe e esta "pessoa" queira somente a aprovação de alguém especificamente.

    Mas, acho que estou discorrendo demais sobre o assunto sem ter te dado o devido espaço para expor seus pensamentos. Então, encerro minha introdução aqui e aguardo seus comentários.

    Até mais.
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  4. Roger gostei demais de sua resposta, e a partir dela, partiremos para a próxima etapa.
    A princípio, concordamos com algumas coisas, entre elas, que não faz muita diferença saber quem é a pessoa por trás do avatar e de considerar sem fundamentos alguém “não real” se sentir ofendido quando recebe algum tipo de crítica. Temos também o mesmo ponto de vista acerca da superficialidade, mas, discordamos quando se coloca a avaliação em jogo: oras, é notório que o processo objetiva (melhor) julgar um fato, atribuir-lhe um valor, e por isso considero injusto que aquele que é julgado não conheça seu avaliador, até para que se tenha idéia do critério utilizado, além de intenções. Da mesma forma, é contraditório avaliar com propriedade aquele que pouco ou nada se conhece. Mas aqui atribuo minha visão de educadora, que é de alguém que busca em seu grupo, uma relação afetiva, compromissada, com vínculos. Essa entrega tão pertinente em minha vida profissional não condiz com a superficialidade que presencio. E isso me incomoda, e por me incomodar, abordo o assunto.

    Apesar de perceber que há uma diferenciação de posturas no mundo virtual e real, não posso concordar com essa prática. A vida virtual é uma continuação da nossa vida particular. As pessoas se adicionam observando similaridades, elas no simples “accept”, concordam em criar ao menos, vínculos de camaradagem. Um fórum de discussões é em minha opinião um encontro de pessoas que estão geograficamente separados, e nada mais. É uma substituição dos telefonemas, e claro, dos encontros às escuras. Por isso acho que quem é um filho da mãe no ambiente virtual, também o é, fora dele. E nisso algumas pesquisas comportamentais concordam com esse meu “achismo”.

    É mais cômodo não se expor, vivemos num mundo perigoso, é fato. Porém, essa aparente segurança, cobra-se um preço elevado e sinceramente não sei se compensa. Falaremos nesse nosso duelo de motivos que levam pessoas a usarem desse artifício, algo que também já fiz uso, mas, com a chegada da maturidade, e com ela, o aprendizado de filtrar melhor quem faz ou não parte de meu círculo, cansei. Psicólogos e psicopedagogos consideram normal essa prática, segundo alguns estudos, são uma representação fictícia da realidade, uma espécie de preparação para a vida adulta. Inicia-se com fantasias de universo coletivo, e depois com a repetição dessa experimentação, a elaboração se personaliza e as personagens nascem assumindo uma das três estruturas do modelo triádico, defendido pela psicanálise, e o mais comum é a opção (vazão) para o ID.
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  5. Mas isso deveria ser um processo transitório, o que de fato não é observado. Ao menos em grupos a quais participamos, não é mesmo? O anonimato e a possibilidade de burlar facilitam as más intenções, não que elas inexistem na vida dita real, mas é exponencialmente mais fácil sob a proteção de logins e Ips. Vemos entre os membros pessoas que renegam a existência a um papel secundário. Por não terem noção do fato, assumem as críticas como advogados, sempre justificando comportamentos. Sabemos que um dos aspectos que faz alguém adulto é a assumência de seus atos, mas quando esse adulto opta por esconder atrás do véu da invisibilidade, ele coloca em dúvida sua própria responsabilidade. Crescer nada mais é do que assumir o ônus de suas escolhas.

    É evidente que há vários tipos de perfis fakes. E para mim há enorme diferença quando identifico as razões do anonimato. Não posso colocar num mesmo patamar uma personagem troll e um que aparentemente só tenta resguardar assuntos particulares, como endereço e profissão. Relevo que um fake não tenha identidade, mas não aceito que sua fala tenha o mesmo peso. A liberdade, Roger, precisa vir com a responsabilidade, sem essa separação, vira uma anarquia, no sentido pejorativo da palavra.


    Foi intencional não expor na apresentação do tema os prováveis motivos para a utilização do perfil fake, e vejo com satisfação que compreendeu bem minha intenção. Concordo com grande parte do que levantou, mas acrescento ainda a timidez, a má fé puramente (estelionato emocional) e claro, a vontade de se burlar as regras sociais impostas.

    Mas, o que é aceitável nisso tudo?
    Qual é o limite saudável?
    Qual é mesmo a influência que as redes sociais têm em nossa vida? Será que internalizaremos o estilo de vida “ Second Life”?


    No aguardo de sua resposta, despeço-me.

    R.
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  6. Indo direto ao ponto.

    Quando digo que, em minha opinião, a avaliação feita por um fake não tem valor menor do que as outras avaliações, me refiro ao exercício avaliativo em si. Simplesmente, o que penso é que não tem a menor importância ou peso o fato de quem está por trás do perfil ser ou não ser a pessoa da foto. O que vale, a meu ver, são outras coisas como o comportamento antes e durante a avaliação realizada.

    Cito, por exemplo, o Leonardo Levi. Eu não sei quem ele é de verdade. Nunca o vi. Nem sei se ele se chama mesmo Leonardo. Ele usa uma foto do David Linch, que é um diretor de cinema bem conhecido. Mesmo assim, o comportamento dele valida sua opinião e seus conhecimentos. Ele é respeitoso e sarcástico quando necessário, sabe se portar, evita confusão e não incomoda ninguém. Além disso, demonstra ter conhecimento do que diz e não é do tipo que dá pitaco em assuntos alheios a não ser que lhe peçam. Em minha opinião, este comportamento valida e dá um peso maior a uma avaliação feita por ele. Mas, e se fosse o oposto? Se o Leonardo usasse a própria foto e tivesse um perfil real, com família e amigos, mas tivesse um comportamento ao estilo de um Big John, por exemplo, eu daria a qualquer coisa que ele dissesse um valor MUITO menor.

    Penso então que na verdade é inútil e desnecessário saber quem é que te avalia em alguma questão. Quando estudamos, por exemplo, muitas vezes não sabemos nada sobre os nossos professores, exceto aquilo que é pertinente. Eu, por exemplo, nunca me interessei em saber nada além do primeiro nome de algum professor que eu tive na escola. Isso, porém, não quer dizer que a avaliação dele não tivesse peso ou valor.

    Em sua réplica, no segundo parágrafo, você afirma e com razão que alguém que seja um filho da mãe na internet há de ser também em sua vida pessoal. Acho que você tem razão. Eu, por exemplo, sou autoritário sempre e não sei lidar com o fato de alguém achar que estou errado quando eu sei que estou certo. Assim como não consigo conviver com a ideia de que outros decidam as coisas por mim. Sou um maldito iconoclasta e não consigo esconder meu desprezo pela seleção brasileira de futebol. Isso tudo são traços que, mesmo se eu utilizasse mil perfis fakes, não conseguiria esconder em nenhum deles.

    Mas também penso que muitas pessoas criam personagens e inventam personalidades para eles, fazendo-os parecer mais reais do que são. E isso é patológico. Trata-se de um nível pouco elevado de dupla personalidade. A pessoa desenvolve o alter ego a tal ponto que passa a vivê-lo também, e ela sente por ele, e sofre por ele.
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  7. Assim, não sei se concordo com você e com os psicopedagogos a respeito de maturidade. Penso que a maturidade se revela no comportamento da pessoa e não em sua aparência. Se fôssemos levar em conta esta opinião, então poderíamos considerar imaturo o comportamento de alguém que não fala de sua vida pessoal para os colegas de trabalho. Além disso, na internet, é quase sempre impossível saber se o perfil é real, mesmo que ele pareça muito real e tenha várias fotos e contatos. Tudo isso é facilmente forjável, algo que qualquer um, com um pouco de paciência, é capaz de fazer. Você, por exemplo, usa fotos reais e aparentemente tem vários contatos de verdade e que você realmente conhece. Mas eu não tenho como ter certeza disso. Afinal, você pode muito bem ser uma ex-namorada que tenha criado este perfil apenas para ver o que faço nas redes sociais, ou pode ser qualquer pessoa nesse mundo se fazendo passar pela Roberta A. Aires. Como eu vou saber? Simplesmente, não há como ter certeza. E é justamente neste ponto, a meu ver principal, que a gente discorda. Você acha que em alguns casos o uso do perfil fake pode ser uma mostra de imaturidade, enquanto eu acho que a maturidade de uma pessoa é refletida naquilo que ela faz ou diz, e não em como ela "se veste".

    Daqui em diante, acho que precisamos também abordar uma questão diretamente relacionada ao assunto: a sinceridade.

    Lembrando que "sinceridade" difere de "honestidade", penso que na realidade a mentira é a pedra fundamental de uma sociedade civilizada. Dentro ou fora do mundo virtual as pessoas usam máscaras e mentem o tempo inteiro, apenas por que precisam ser socialmente aceitas e precisam interagir com gente de quem não gostam. Então a mentira não tem qualquer relação com maturidade. Hipocrisia é a atividade humana responsável pela construção de laços produtivos e relações trabalhistas, além de evitar constrangimentos desnecessários.

    Uma pessoa, para ser socialmente aceita, não pode em hipótese alguma sair na rua vestida como pirata pedindo esmolas, a não ser que ela seja comediante. Alguém que pretenda passar em uma entrevista de emprego não pode, em hipótese alguma, dizer o que realmente pensa sobre a vaga ou sobre a empresa na qual vai trabalhar.

    Quando o empregador pergunta ao candidato "Por que você escolheu esta vaga/empresa?", ele não quer que você diga a verdade. O que ele quer é ver se você é inteligente o suficiente para dizer aquilo que ele quer que você diga. Se você disser a ele que sua escolha foi por falta de opção, ou que você simplesmente quer ganhar dinheiro e pronto, então pode dar adeus a vaga.

    Por isso, não concordo com você quanto à autoridade que um perfil fake possa ter sobre quaisquer questões, se formos levar em conta o mero fato de ser um fake. Afinal, nossa conduta social é, na maioria das vezes, uma homenagem à mentira! Nosso comportamento diante das pessoas com as quais convivemos diariamente é baseado na hipocrisia e nas pequenas mentiras cotidianas.
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  8. Assim, julgo que nosso comportamento é fake o tempo inteiro, mesmo que a gente não queira. Eu procuro ser uma pessoa sincera com meus amigos, procuro ser sincero no trabalho, mas isso nem sempre é possível. Se eu dissesse tudo o que penso sobre meu chefe, então eu não teria mais um chefe.

    Agora, te pergunto: Você não acha que a segurança que temos em mentir por questões pequenas no dia-a-dia é igual a segurança proporcionada por usarmos um perfil fake na internet? Você não acha que as duas coisas sejam bem semelhantes?

    "Qual é o limite saudável?"

    É difícil definir limites para pessoas que não conhecemos. Mas, para mim é evidente que o limite é ultrapassado quando você leva seu perfil fake na internet mais a sério do que a sua vida e se dedica unicamente a usar esta identidade para prejudicar os outros e denegrir a imagem de gente que você nunca viu. A partir daí, considero que um limite no que diz respeito a saúde mental foi ultrapassado.

    "Qual é mesmo a influência que as redes sociais têm em nossa vida?"

    Penso que as redes sociais hoje funcionem como micro sociedades virtuais, mas sem o incômodo de termos que ver ou ouvir as pessoas que não gostamos. Almejo que a possibilidade de excluir e bloquear contatos um dia se torne possível também fora da internet.

    Acho que os outros questionamentos que fez foram respondidos na forma de meu texto. Então, encerro-me por aqui.

    Até mais.
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  9. Gosto de sua objetividade tanto ou mais como da maneira clara que expõe seu ponto de vista.

    Seu argumento sobre a diferença entre perfis foi absurdamente convincente: comparar as personagens Levi e BJ foi muito pertinente: como igualar posicionamentos de mentes tão distintas? Porém, exatamente por não saber quem são as pessoas sob o disfarce elas poderiam ser qualquer coisa, correto? Levi poderia ser um lobo transvertido de cordeiro, ou é possível que possa ser mesmo o controverso BJ, como poderíamos saber?

    Mas parto daquela minha primeira impressão: o desordeiro/trapaceiro/criminoso na vida virtual é alguém com o mesmo temperamento na vida real. Não vejo como dissociar personalidades. A única diferença é que com a possibilidade do reconhecimento e conseqüentemente da assumência de seus atos, torna-se mais cuidadoso, ou, numa expressão ainda mais fiel, alguém mais covarde. Por essa razão não interpreto perfis como o de Leonardo ou mesmo o seu enquanto fake, por não passarem a idéia de falsidade: fico convencida quando leio seus apontamentos. Aquilo que vocês se propõem conhecer me parece autêntico e real: demonstram interesse para o comportamento humano, versa com facilidade sobre, mas não são vistos interpelando sobre a vida íntima de ninguém. E sob esse aspecto, não encontro outro rótulo que não o da ortônima.

    O mesmo não se pode afirmar de outras tantas personagens que convivemos. Como considerar verdadeiro a fala de alguém que diz ser um cavaleiro templário na época que vivemos? Ou um militar reformado, adepto do cristianismo com tão pouca tolerância, ou ainda um professor universitário que aplica na Bolsa e que tem como hobby participar de campeonatos de golfe... Percebe a diferença? È uma construção desordenada de uma psique, uma mal arranjada colcha de retalhos, não se nota sinceridade em suas falas. Tudo remete ao falso, ao engano, a confusão. Será essa a intenção, ou o criador se perdeu na construção da personalidade?

    Por essa razão, mantenho minha opinião sobre o critério avaliativo: há de se existir uma diferença, porque existem distinções de comportamentos e intenções. Por isso não é inútil e muito menos desnecessário que conheçamos nosso avaliador. Não me refiro a nos tornarmos íntimos, confidentes, nada disso. O que bato na tecla é que como se permitir a avaliação sem conhecer os instrumentos utilizados, a intenção por trás de cada crítica? Compreendo o processo avaliativo enquanto ação pedagógica, por isso a necessidade do feedbeck, de uma recíproca troca amigável de saberes.
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  10. Sobre a patologia que levantou, acredito que isso tenha sido desenvolvido ainda na primeira infância, quando brincavam com o amiguinho imaginário, onde assumia falas que de forma internalizadas lhe pertenciam. È mais fácil falar sem a trava moral, sem a censura social, mas isso faz parte de uma etapa de construção da personalidade, e é normalmente experimentada e descartada ainda enquanto crianças. Quando essa característica que é por si compreendida enquanto processo transitório, é negada, é necessária a intervenção de profissionais da área. E é aí que entra o trabalho de psicólogos e psicopedagogos.


    È função de todos propiciarem meios para que alguém se torne independente e livre de falsos rótulos. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e individual, e é graças a essa construção que o homem tem determinado sua maneira de pensar e agir, e claro, da forma que vê e interage no mundo. Por isso, profissionais da área enxergam com preocupação a criação de mitos que não correspondem a realidade.


    Qual é a verdadeira intenção quando há a mentira num perfil? Será sua vida tão vazia de significados que para suportar, cria-se uma espécie de realidade alternativa, onde se é mais forte, rico, inteligente?

    Isso, em minha opinião é uma questão de ordem afetiva: o individuo tem problemas de autoestima, e precisa procurar ajuda, porque no mundo real ninguém conseguirá fugir de seus problemas ou frustrações. Não é assim que o mundo funciona, não é assim que se constroem vínculos sociais.


    Não discordamos sobre os termos “sinceridade” e “honestidade”, bem como naquilo que é compreendida a mentira social, mas não é sobre isso que debatemos aqui. Os comportamentos que observei não são motivados pela hipocrisia, e sim pela ausência da noção da realidade. Apesar de saber que aquilo que defendem é contraditório e falso, tenho convicção que eles acreditam naquilo que pregam. E isso me assusta.
    E por me assustar, não posso considerar a autoridade de um perfil fake.

    Não devemos supervalorizar a hipocrisia, ela é apenas parte de um todo, e nisso, Weber fala muito bem a respeito, e para que uma relação social seja efetivada, a ação (individual) social há de ser bilateral, e aqui entra a responsabilidade civil de nossos atos.


    Concluo minha replica observando que diferente de mim, considera o mundo virtual uma extensão de sua vida real, e talvez por isso tenhamos essa diferença de posicionamentos. No aguardo de sua (ágil) resposta, despeço-me.
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  11. Bem, você me elogiou, tanto pela clareza e objetividade quanto pela contribuição que dei ao debate. Eu digo o mesmo. Acho que este debate está mais interessante do que o primeiro que tivemos. E olha que eu gostei bastante daquele também.

    Então, vamos lá.

    Este trecho me chamou atenção, e por isso vou colá-lo na íntegra:

    "Seu argumento sobre a diferença entre perfis foi absurdamente convincente: comparar as personagens Levi e BJ foi muito pertinente: como igualar posicionamentos de mentes tão distintas? Porém, exatamente por não saber quem são as pessoas sob o disfarce elas poderiam ser qualquer coisa, correto? Levi poderia ser um lobo transvertido de cordeiro, ou é possível que possa ser mesmo o controverso BJ, como poderíamos saber?" (Roberta)

    O que eu penso é bem simples. Se o Leonardo é ou não é um lobo em pele de cordeiro, não podemos ter certeza. Mas devemos submeter nosso julgamento dentro daquilo que podemos saber. Para quem observa os outros, podemos definir que uma pessoa é aquilo que ela mostra ser. Não temos, nunca, como saber o que se passa dentro da cabeça dos outros ao nosso redor. Talvez muita gente que conheçamos também sejam lobos em pele de cordeiro, pois podem nos tratar bem quando estamos presentes e nos humilhar publicamente quando viramos as costas.

    Então, é neste ponto que eu considero que não há grande diferença entre ser um fake virtual ou um fake na vida real. Como você mesma disse, uma pessoa que tenha um mau comportamento na internet há de tê-lo fora também. Logo, alguém que é fake ao estilo de um BJ na internet, provavelmente deve ter um comportamento semelhante em sua vida pessoal.

    Agora, vejo que você apresentou uma diferença existente dentro dos perfis fakes, sendo que um tipo de perfil, como o meu, é um fake parcial, alguém que simplesmente não utiliza informações pessoais em seu perfil, enquanto há o outro tipo, que é alguém que usa fotos falsas e também cria uma personagem idealizada de si mesmo. É isso. Neste ponto também hei de concordar com o que diz. E poderemos, a partir de agora, nos focarmos no segundo tipo, que é o mais controverso.
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  12. Um professor universitário que aplica na bolsa e joga golfe, de fato, é uma construção desordenada de uma psiqué, e demonstra justamente o que eu mencionei na réplica: a formulação de um alter ego idealizado a partir de conceitos prévios. E ainda na introdução eu menciono que este comportamento provém, geralmente, de ócio mental e instabilidade emocional. Citei também a respeito de um caso comum de complexo de inferioridade, que neste caso específico se aplica como uma luva.

    Alguém que idealiza uma personalidade dessas é evidentemente uma pessoa que se julga inferior aos outros e, portanto, precisa criar uma personagem que, em sua cabeça, seja ou pareça ser superior em intelecto e/ou força. Ao criar essa auto-imagem projetada, esta pessoa começa a admirar a si mesma, e isso, por incrível que pareça, também causa maior instabilidade por tornar a pessoa mais arrogante. De certa forma, o complexo de inferioridade é substituído pelo complexo de superioridade, pois a pessoa começa a achar-se superior aos outros e ataca nos outros justamente os defeitos que ela mesma possui, aponta os erros que ela mesma comete, porque, no fundo, não gosta e nunca gostou de sua personalidade original. Ela se torna a própria sombra, como diria Jung.

    Em outros casos, quando a pessoa sofre de outros tipos de complexos ou distúrbios, a construção desta personalidade se dá de outras formas mas, no fim, o resultado é quase o mesmo. Inevitavelmente, como você mesma expôs, parece que estas pessoas costumam mesmo acreditar naquilo que dizem, por mais absurdo ou vergonhoso que possa parecer aquilo que afirmam. Há casos de carência afetiva, megalomania, transtorno de personalidade narcisista, etc.

    Em todos os casos, o objetivo é chamar atenção de alguém ou de várias pessoas por algum motivo, seja para conseguir apoio e admiração, para ser temido e respeitado, para simplesmente fazer com que todos o odeiem, pois afinal, o ódio também é um tipo de atenção. E você está correta, também, ao afirmar que esses comportamentos quando excessivos são motivados não pela hipocrisia, mas por influência da crença em uma realidade alternativa. No fundo esse tipo de pessoa realmente precisa de apoio especializado e profissionais da área, pois é notável que o comportamento é controverso e superficial, além de ser totalmente auto-destrutivo.

    Acredito que abordei tudo o que era necessário, então deixo com você as considerações finais!

    Até mais.
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  13. Enfim, concluímos nossa conversa e me surpreendo em como foi rápida! :)

    Chego ao fim, com a feliz sensação de que muito foi dito, e na perspectiva que o assunto trará ao grupo boas discussões. Agradeço novamente seu interesse em não me deixar no vácuo, e também por seu comportamento exemplar, tanto nesse nosso duelo, como no anterior.


    Quando levantei o assunto houve a preocupação em não se utilizar exemplos conhecidos, para que não houvesse uma associação equivocada sobre o tema. Creio que ficou claro que o enfoque abordado não era em pessoas, e sim, em comportamentos. Três personagens foram citadas em nosso debate, o que em tese poderia considerar como uma falha daquilo que foi proposto, porém, como anteriormente dito, não são reais, portanto, avalio que obtivemos êxito nessa empreitada.


    Avaliar nada mais é do que julgar, portanto as impressões que colhemos de nossos avaliadores podem sim, definir a forma que respondemos a provocação. Da mesma forma, entendo que ao avaliar condutas, temos que ter em mente as motivações de nosso objeto de estudo. Para isso há a busca de qualquer tipo de padronização de comportamentos, e por essa razão considero importante entender a forma que todos aqueles envolvidos no processo avaliativo pensam. Por não acreditar em nenhuma relação unilateral, reafirmo esse ponto.


    Tem razão, não há como saber o que se passa no íntimo das pessoas, mas podemos fazer uma idéia aproximada, relembrando atitudes semelhantes. Por isso que não é tão difícil identificar lobos em pele de cordeiro, isso nos dois ambientes aqui retratados. Através de observações pessoais, percebi algumas diferenças, que quando expostas, teve de você, instantânea compreensão. Daí imagino que deve ter se perguntado: “ se ela já tem isso em mente, qual é a razão de abordar o assunto?”


    Meu objetivo foi ambicioso: muito mais do que tentar entender as razões de comportamentos, desejei expor algumas conseqüências para que pessoas reconheçam os sintomas e procurem rever posturas. Somos a todo instante avaliados, e nada mais injusto que fazerem um mau juízo de tudo aquilo que defendemos e acreditamos.


    Portanto, mesmo que as causas sejam ócio mental, instabilidade emocional, baixa autoestima, acredito que é preciso uma reavaliação de atitudes, de todos nós, e o tempo todo. Parece desagradável o tema, mas às vezes é preciso dar a cara a bater, e ser a pedra, mesmo sabendo que é essa a parte fácil da história.


    Aparentemente falamos de terceiros nesse duelo. Mencionamos personagem A, B e C, mas no fundo, falávamos de nós mesmos, e sei que percebeu esse meu inocente ardil: julgar uma pessoa não define quem essa pessoa é, e sim, como nos somos. Ou seja, é pura projeção!


    Tenho total consciência das implicações pessoais que esse duelo trará, sendo minha única vontade é que todos consigam tratar o tema com racionalidade e com uma saudável distância, tal qual tivemos por aqui.


    No aguardo de suas considerações finais, me despeço.

    R.
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  14. Pois é, Roberta. De fato acho que isso tudo foi bem produtivo. Eis, aqui, um verdadeiro exercício dialético, onde não ficamos nos prendendo ao método retórico de atacar o argumento alheio mostrando suas falhas, o que não nos serve de nada no final.

    Acho até uma pena que os debates sejam tão curtos, pois ainda poderíamos estender essa discussão muito além do que foi exposto. E sugiro que façamos assim que as votações acabarem, se você quiser.

    O fato é que o comportamento humano é complexo, e como você mesma observou, ao julgarmos os outros estamos, de certo modo, nos expondo. Então quando fazemos uma avaliação sobre algo que outra pessoa diz ou faz estamos também avaliando o que nós pensamos sobre o assunto. Mas discordo deste pensamento que você colocou, no qual você afirma que todo julgamento é pura projeção. Não acho que isso se aplique a todos os casos. Se assim fosse, nem mesmo os profissionais em psicanálise seriam confiáveis em suas avaliações.

    Quando julgamos alguém, de fato, é impossível ser imparcial. Nisso concordamos plenamente. Mas penso que é possível ser justo, ao menos dentro de nosso conceito de justiça. E obviamente era impossível não citar os exemplos que nos rodeiam, ainda mais nesse assunto, que envolveu a maioria das grandes discussões e picuinhas do grupo ao longo desse último ano.

    Na internet, acredito que possa mesmo haver uma relação unilateral. Diferente de nossa vida real, onde precisamos lidar com gente de todo tipo e nos adequar a comportamentos socialmente aceitos, no mundo virtual temos a liberdade de contar apenas aquilo que queiramos que os outros saibam, mesmo com um perfil real. Podemos manter um laço unicamente "profissional", sem qualquer tipo de amizade ou apreço pela outra pessoa. Na internet, isso é possível, sim.
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  15. Mas a questão mais importante a meu ver é a seguinte:

    - O comportamento humano foi, ao longo da história, padronizado sempre de acordo com local, época e crenças religiosas. Esses moldes são, no fundo, definidos por convenção entre uma maioria, e podemos chamar de comportamento inadequado qualquer coisa que fuja destes padrões. Se fosse comum a maioria das pessoas ter uma dupla personalidade e conversar com elas mesmas como se houvesse mesmo outra pessoa ali, então chamaríamos de patologia o comportamento mais comum hoje, das pessoas que realmente acham que não são duas pessoas em uma só. Tudo o que é socialmente aceito, é assim por algum motivo. Na maior parte das vezes, tudo o que é considerado normal assim é por que os valores morais e os princípios éticos da maioria definiram que assim seria. E aqui reside a grande dúvida de vários antropólogos e filósofos. Afinal, o homem molda a sociedade ou a sociedade é que molda o homem? A princípio parece até uma pergunta óbvia e fácil, mas se você refletir, verá que há um círculo vicioso envolvendo a questão e tornando a compreensão da mesma muito mais difícil.

    De fato eu não gosto de julgar pessoas e impor aos outros aquilo que eu acho correto, embora eu seja autoritário. Mas é inevitável que façamos isso em algum momento, por que é natural do ser humano estranhar aquilo que ele não entende ou não concorda. Estes comportamentos que foram exemplificados são pouco, pois existem muitos outros por aí. O fato é que ninguém é sincero o tempo inteiro e as pessoas jamais expõe aquilo que realmente pensam sobre qualquer assunto. O ser humano tem muito mais segredos do que é capaz de supor. Se você se pensar em uma reflexão bem profunda sobre si mesma, vai descobrir segredos que nem mesmo você se lembrava. No fundo, escondemos muita coisa sobre o que somos ou pensamos, ou sobre o que desejamos.

    Considero então que nossa discussão aqui foi a mais produtiva que eu tive em muito tempo. Acho que abordei tudo o que era necessário para o debate neste contexto e julgo que sua contribuição foi esplêndida.

    E repito: quero continuar nossa discussão assim que as votações se encerrarem.

    E, que vença o melhor.

    Fim.

15 comentários:

  1. 1. "Prometeu, o nosso moderno Fakestein" - e foi assim que um dia abri a discussão sobre o assunto. O título é uma brincadeira sobre a mais famosa obra de Mary Shelley ( Prometeu: o nosso Frankenstein) e numa análise entre amigos, falávamos do nosso histórico virtual bem como de pessoas e personagens que faziam parte de nossa rotina. Muito se foi dito sobre perfis fakes, tudo ainda sem aprofundação científica, apenas naquela de examinar posturas alheias, tendo como régua moral, nosso próprio comportamento. A primeira questão abordada foi sobre o que, de fato, caracterizava um perfil fake.

    Com o acesso facilitado e ágil, qualquer um pode ter uma identidade virtual em redes sociais como Orkut, Twitter, Facebook, Pinterest, Flickr, Lastfm, Netlog, MySpace com o intuito de troca de ideias e conhecimentos, mas talvez por excesso de zelo ou ainda, por preservação da imagem (sigilo profissional) optam pelo perfil falso.

    A tradução literal do termo diz tratar de uma identidade falsa, porém sabemos que há várias formas de se fake, como também, inúmeras razões, que também gostaria de abordar nesse debate, porém, antes, gostaria que tentasse responder algumas questões:


    • Faz diferença, num ambiente virtual saber a identidade daquele que dá sua opinião?

    • Um perfil fake tem razão de se sentir pessoalmente ofendido? Não é essa a vantagem de não ter um perfil pessoal, a de mostrar sua opinião, sem o receio de ser pessoalmente confrontado?

    • Por outro lado, a avaliação de alguém nesses moldes pode ser considerada? - Levando em conta que a exposição de um é infinitamente maior, trazendo como resultado de um "julgamento", um tratamento desigual;

    • A interação social existe, não há como questionar, mas, é também superficial. Até que ponto, em sua opinião ela é válida?


    Ontem mais uma vez o grupo foi vítima de um elevado número de postagens de perfis não identificados, o que faz desse assunto, uma excelente oportunidade para uma reflexão coletiva. Também por essa razão agradeço o interesse de meu oponente em debater o tema: como distinguir o que é real ou falso no mundo virtual e indo um pouco mais além, tentar responder uma importante questão: será que a maneira que lidamos no plano físico difere de nossas relações virtuais?

    È um de meus temas preferidos, talvez por sempre estar em voga em ambientes virtuais, especialmente em sites relacionamento. E por fazermos parte de um dinâmico grupo de debates, nada mais coerente do que levantar as razões desse fenômeno. Por ora não abordarei implicações psicológicas, e muito menos conseqüências sociais por esperar por seus apontamentos, até para que eu faça um melhor juízo de valor sobre o caso. São questões que iniciarão nossa conversa, e que com elas respondidas, daremos o próximo passo.

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  2. Bem, Roberta, vamos lá.

    Vou primeiro responder suas perguntas e depois adentrarei nesse assunto.

    1 - Não acho que faça diferença, em um ambiente virtual, saber quem é a pessoa para avaliar sua opinião.

    2 - Não acho que um perfil fake tenha razão para se sentir pessoalmente ou moralmente ofendido, pois ele tem, justamente, a vantagem de não ser uma pessoa real e sim uma personagem. No entanto, quando isso acontece, e como vimos, uma personagem entra em colapso moral se sentindo ofendida por questões morais, então podemos deduzir que a pessoa por trás daquele perfil provavelmente leva as coisas muito a sério e para o lado pessoal mesmo.

    3 - A avaliação de alguém nesses moldes - um fake - pode sim ser considerada. Acho que essa questão da exposição é, antes de tudo, opcional. Pode haver uma série de motivos para alguém preferir usar um perfil falso. Não acho que isso desmereça a opinião ou avaliação desta pessoa em nenhuma circunstância. O que desmerece a avaliação desta pessoa, a meu ver, é quando ela faz julgamentos morais NOS OUTROS, tentando impor valores que ela não tem ou que não pode provar que tem.

    4 - A interação social, nestes casos, com certeza é superficial. Não há uma amizade real por que, até certo ponto, é impossível existir um laço de confiança. Você não pode confiar em alguém em quem não conhece, não é mesmo? Se você encontrasse alguém, fora do mundo virtual, e esta pessoa usasse uma máscara e disfarçasse a voz, e você não tivesse a mínima ideia de quem seja esta pessoa, você conseguiria confiar nela? Duvido.

    Mas, penso que obviamente a forma como lidamos no plano físico difere totalmente do plano virtual. Na internet, temos mais liberdade de expressão, podemos expor nossos pensamentos ainda que os outros discordem deles. Podemos ofender os outros de forma incisiva, que pessoalmente seria bem mais difícil de se fazer. Podemos tomar decisões com tempo, coisa que fora da internet nem sempre é possível. Podemos, também, estudar um assunto em rápidas pesquisas e fingir que entendemos profundamente sobre ele, enquanto, no plano físico, isso seria impossível, pois a relação direta nos traz o elemento surpresa de alguém que possa nos fazer perguntas que não saibamos responder na hora. Enfim, há diferenças e não são poucas. Penso que o mundo virtual é uma outra forma de viver, totalmente diferente daquela que seguimos em nossa vida normal.

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  3. O mundo fake, de fato, é difícil de ser julgado. Como você mesma sabe, eu usava um perfil real no orkut e por motivos mais do que óbvios, passei a utilizar um perfil não tão real, com fotos que não são minhas, pois a perseguição por parte de determinadas "pessoas" ultrapassou o limite daquilo que era aceitável e começou a envolver as questões pessoais. Agora, que não sou mais uma pessoa de fato, não me preocupo mais com isso e tenho um pouco mais de liberdade.

    Mesmo assim, perceba que uma certa pessoa tinha fotos minhas daquela época, ainda, de quase um ano atrás. Ou seja, há, por parte de outros fakes, um comportamento excessivamente perigoso. É preciso, de certa forma, ter cuidado com esse tipo de coisas.

    Há vários tipos de perfis. Para mim, não faz muita diferença se o perfil é fake ou real, se as fotos são reais ou não. A questão é que, um fake, por não ter uma identidade, tem mais liberdade, tanto para expor suas opiniões quanto para prejudicar o desempenho e pensamento alheio.

    Em nosso grupo, vimos não só uma vez casos como este. Havia uma ou mais pessoas, usando disfarces, e elas tinham como objetivo somente tumultuar a comunidade. Então, reside aí que o problema não é se o perfil é fake ou não. A diferença existe diretamente na pessoa que controla aquele perfil.

    Nós temos em nosso grupo vários perfis fakes que participam normalmente, contribuem, e que provavelmente optaram por isso pelos mesmos motivos que eu, ou talvez, como você disse, por questões de sigilo profissional, como era o caso do Inimigo Capital do orkut, que era advogado e trabalhava em órgão público.

    O que a meu ver faltou você ter colocado como, provavelmente, os motivos principais para se usar um perfil fake, são os dois seguintes:

    1 - Evitar perseguição, como é o meu caso.
    2 - Perseguir os outros e prejudicar o grupo, como é caso que você conhece.

    O primeiro caso é comum, por que se você não expõe muitas informações pessoais dá menos margem a comentários provocativos e maldosos. O segundo caso, que também é comum, creio ser proveniente da união entre dois fatores meramente psicológicos: Ócio mental e desequilíbrio emocional.

    "Mente vazia é oficina do Diabo", e embora eu não creia no diabo, certamente uma mente muito vazia é também uma bela oficina para invenções. Estas invenções podem ser boas, mas dificilmente serão boas quando associadas a um desequilíbrio emocional.

    A origem deste desequilíbrio pode ser variada. Em alguns casos, carência afetiva é o suficiente para desestabilizar os sentimentos de alguém. Em outros casos, complexo de inferioridade ou mesmo de superioridade podem causar esse distúrbio. Mas creio ser o primeiro o mais comum, e podemos visualizar nos exemplos próximos a nós o quanto isso é verdadeiro.

    A atitude de alguém que entra no grupo com um perfil fake e começa a trollar as pessoas, e também começa a inundar todos os tópicos com provocações e xingamentos sem qualquer fundamento, certamente é atitude de alguém que, antes de tudo, precisa de atenção e de aprovação alheia. Às vezes a coisa pode ir até mais longe e esta "pessoa" queira somente a aprovação de alguém especificamente.

    Mas, acho que estou discorrendo demais sobre o assunto sem ter te dado o devido espaço para expor seus pensamentos. Então, encerro minha introdução aqui e aguardo seus comentários.

    Até mais.

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  4. Roger gostei demais de sua resposta, e a partir dela, partiremos para a próxima etapa.
    A princípio, concordamos com algumas coisas, entre elas, que não faz muita diferença saber quem é a pessoa por trás do avatar e de considerar sem fundamentos alguém “não real” se sentir ofendido quando recebe algum tipo de crítica. Temos também o mesmo ponto de vista acerca da superficialidade, mas, discordamos quando se coloca a avaliação em jogo: oras, é notório que o processo objetiva (melhor) julgar um fato, atribuir-lhe um valor, e por isso considero injusto que aquele que é julgado não conheça seu avaliador, até para que se tenha idéia do critério utilizado, além de intenções. Da mesma forma, é contraditório avaliar com propriedade aquele que pouco ou nada se conhece. Mas aqui atribuo minha visão de educadora, que é de alguém que busca em seu grupo, uma relação afetiva, compromissada, com vínculos. Essa entrega tão pertinente em minha vida profissional não condiz com a superficialidade que presencio. E isso me incomoda, e por me incomodar, abordo o assunto.

    Apesar de perceber que há uma diferenciação de posturas no mundo virtual e real, não posso concordar com essa prática. A vida virtual é uma continuação da nossa vida particular. As pessoas se adicionam observando similaridades, elas no simples “accept”, concordam em criar ao menos, vínculos de camaradagem. Um fórum de discussões é em minha opinião um encontro de pessoas que estão geograficamente separados, e nada mais. É uma substituição dos telefonemas, e claro, dos encontros às escuras. Por isso acho que quem é um filho da mãe no ambiente virtual, também o é, fora dele. E nisso algumas pesquisas comportamentais concordam com esse meu “achismo”.

    É mais cômodo não se expor, vivemos num mundo perigoso, é fato. Porém, essa aparente segurança, cobra-se um preço elevado e sinceramente não sei se compensa. Falaremos nesse nosso duelo de motivos que levam pessoas a usarem desse artifício, algo que também já fiz uso, mas, com a chegada da maturidade, e com ela, o aprendizado de filtrar melhor quem faz ou não parte de meu círculo, cansei. Psicólogos e psicopedagogos consideram normal essa prática, segundo alguns estudos, são uma representação fictícia da realidade, uma espécie de preparação para a vida adulta. Inicia-se com fantasias de universo coletivo, e depois com a repetição dessa experimentação, a elaboração se personaliza e as personagens nascem assumindo uma das três estruturas do modelo triádico, defendido pela psicanálise, e o mais comum é a opção (vazão) para o ID.

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  5. Mas isso deveria ser um processo transitório, o que de fato não é observado. Ao menos em grupos a quais participamos, não é mesmo? O anonimato e a possibilidade de burlar facilitam as más intenções, não que elas inexistem na vida dita real, mas é exponencialmente mais fácil sob a proteção de logins e Ips. Vemos entre os membros pessoas que renegam a existência a um papel secundário. Por não terem noção do fato, assumem as críticas como advogados, sempre justificando comportamentos. Sabemos que um dos aspectos que faz alguém adulto é a assumência de seus atos, mas quando esse adulto opta por esconder atrás do véu da invisibilidade, ele coloca em dúvida sua própria responsabilidade. Crescer nada mais é do que assumir o ônus de suas escolhas.

    É evidente que há vários tipos de perfis fakes. E para mim há enorme diferença quando identifico as razões do anonimato. Não posso colocar num mesmo patamar uma personagem troll e um que aparentemente só tenta resguardar assuntos particulares, como endereço e profissão. Relevo que um fake não tenha identidade, mas não aceito que sua fala tenha o mesmo peso. A liberdade, Roger, precisa vir com a responsabilidade, sem essa separação, vira uma anarquia, no sentido pejorativo da palavra.


    Foi intencional não expor na apresentação do tema os prováveis motivos para a utilização do perfil fake, e vejo com satisfação que compreendeu bem minha intenção. Concordo com grande parte do que levantou, mas acrescento ainda a timidez, a má fé puramente (estelionato emocional) e claro, a vontade de se burlar as regras sociais impostas.

    Mas, o que é aceitável nisso tudo?
    Qual é o limite saudável?
    Qual é mesmo a influência que as redes sociais têm em nossa vida? Será que internalizaremos o estilo de vida “ Second Life”?


    No aguardo de sua resposta, despeço-me.

    R.

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  6. Indo direto ao ponto.

    Quando digo que, em minha opinião, a avaliação feita por um fake não tem valor menor do que as outras avaliações, me refiro ao exercício avaliativo em si. Simplesmente, o que penso é que não tem a menor importância ou peso o fato de quem está por trás do perfil ser ou não ser a pessoa da foto. O que vale, a meu ver, são outras coisas como o comportamento antes e durante a avaliação realizada.

    Cito, por exemplo, o Leonardo Levi. Eu não sei quem ele é de verdade. Nunca o vi. Nem sei se ele se chama mesmo Leonardo. Ele usa uma foto do David Linch, que é um diretor de cinema bem conhecido. Mesmo assim, o comportamento dele valida sua opinião e seus conhecimentos. Ele é respeitoso e sarcástico quando necessário, sabe se portar, evita confusão e não incomoda ninguém. Além disso, demonstra ter conhecimento do que diz e não é do tipo que dá pitaco em assuntos alheios a não ser que lhe peçam. Em minha opinião, este comportamento valida e dá um peso maior a uma avaliação feita por ele. Mas, e se fosse o oposto? Se o Leonardo usasse a própria foto e tivesse um perfil real, com família e amigos, mas tivesse um comportamento ao estilo de um Big John, por exemplo, eu daria a qualquer coisa que ele dissesse um valor MUITO menor.

    Penso então que na verdade é inútil e desnecessário saber quem é que te avalia em alguma questão. Quando estudamos, por exemplo, muitas vezes não sabemos nada sobre os nossos professores, exceto aquilo que é pertinente. Eu, por exemplo, nunca me interessei em saber nada além do primeiro nome de algum professor que eu tive na escola. Isso, porém, não quer dizer que a avaliação dele não tivesse peso ou valor.

    Em sua réplica, no segundo parágrafo, você afirma e com razão que alguém que seja um filho da mãe na internet há de ser também em sua vida pessoal. Acho que você tem razão. Eu, por exemplo, sou autoritário sempre e não sei lidar com o fato de alguém achar que estou errado quando eu sei que estou certo. Assim como não consigo conviver com a ideia de que outros decidam as coisas por mim. Sou um maldito iconoclasta e não consigo esconder meu desprezo pela seleção brasileira de futebol. Isso tudo são traços que, mesmo se eu utilizasse mil perfis fakes, não conseguiria esconder em nenhum deles.

    Mas também penso que muitas pessoas criam personagens e inventam personalidades para eles, fazendo-os parecer mais reais do que são. E isso é patológico. Trata-se de um nível pouco elevado de dupla personalidade. A pessoa desenvolve o alter ego a tal ponto que passa a vivê-lo também, e ela sente por ele, e sofre por ele.

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  7. Assim, não sei se concordo com você e com os psicopedagogos a respeito de maturidade. Penso que a maturidade se revela no comportamento da pessoa e não em sua aparência. Se fôssemos levar em conta esta opinião, então poderíamos considerar imaturo o comportamento de alguém que não fala de sua vida pessoal para os colegas de trabalho. Além disso, na internet, é quase sempre impossível saber se o perfil é real, mesmo que ele pareça muito real e tenha várias fotos e contatos. Tudo isso é facilmente forjável, algo que qualquer um, com um pouco de paciência, é capaz de fazer. Você, por exemplo, usa fotos reais e aparentemente tem vários contatos de verdade e que você realmente conhece. Mas eu não tenho como ter certeza disso. Afinal, você pode muito bem ser uma ex-namorada que tenha criado este perfil apenas para ver o que faço nas redes sociais, ou pode ser qualquer pessoa nesse mundo se fazendo passar pela Roberta A. Aires. Como eu vou saber? Simplesmente, não há como ter certeza. E é justamente neste ponto, a meu ver principal, que a gente discorda. Você acha que em alguns casos o uso do perfil fake pode ser uma mostra de imaturidade, enquanto eu acho que a maturidade de uma pessoa é refletida naquilo que ela faz ou diz, e não em como ela "se veste".

    Daqui em diante, acho que precisamos também abordar uma questão diretamente relacionada ao assunto: a sinceridade.

    Lembrando que "sinceridade" difere de "honestidade", penso que na realidade a mentira é a pedra fundamental de uma sociedade civilizada. Dentro ou fora do mundo virtual as pessoas usam máscaras e mentem o tempo inteiro, apenas por que precisam ser socialmente aceitas e precisam interagir com gente de quem não gostam. Então a mentira não tem qualquer relação com maturidade. Hipocrisia é a atividade humana responsável pela construção de laços produtivos e relações trabalhistas, além de evitar constrangimentos desnecessários.

    Uma pessoa, para ser socialmente aceita, não pode em hipótese alguma sair na rua vestida como pirata pedindo esmolas, a não ser que ela seja comediante. Alguém que pretenda passar em uma entrevista de emprego não pode, em hipótese alguma, dizer o que realmente pensa sobre a vaga ou sobre a empresa na qual vai trabalhar.

    Quando o empregador pergunta ao candidato "Por que você escolheu esta vaga/empresa?", ele não quer que você diga a verdade. O que ele quer é ver se você é inteligente o suficiente para dizer aquilo que ele quer que você diga. Se você disser a ele que sua escolha foi por falta de opção, ou que você simplesmente quer ganhar dinheiro e pronto, então pode dar adeus a vaga.

    Por isso, não concordo com você quanto à autoridade que um perfil fake possa ter sobre quaisquer questões, se formos levar em conta o mero fato de ser um fake. Afinal, nossa conduta social é, na maioria das vezes, uma homenagem à mentira! Nosso comportamento diante das pessoas com as quais convivemos diariamente é baseado na hipocrisia e nas pequenas mentiras cotidianas.

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  8. Assim, julgo que nosso comportamento é fake o tempo inteiro, mesmo que a gente não queira. Eu procuro ser uma pessoa sincera com meus amigos, procuro ser sincero no trabalho, mas isso nem sempre é possível. Se eu dissesse tudo o que penso sobre meu chefe, então eu não teria mais um chefe.

    Agora, te pergunto: Você não acha que a segurança que temos em mentir por questões pequenas no dia-a-dia é igual a segurança proporcionada por usarmos um perfil fake na internet? Você não acha que as duas coisas sejam bem semelhantes?

    "Qual é o limite saudável?"

    É difícil definir limites para pessoas que não conhecemos. Mas, para mim é evidente que o limite é ultrapassado quando você leva seu perfil fake na internet mais a sério do que a sua vida e se dedica unicamente a usar esta identidade para prejudicar os outros e denegrir a imagem de gente que você nunca viu. A partir daí, considero que um limite no que diz respeito a saúde mental foi ultrapassado.

    "Qual é mesmo a influência que as redes sociais têm em nossa vida?"

    Penso que as redes sociais hoje funcionem como micro sociedades virtuais, mas sem o incômodo de termos que ver ou ouvir as pessoas que não gostamos. Almejo que a possibilidade de excluir e bloquear contatos um dia se torne possível também fora da internet.

    Acho que os outros questionamentos que fez foram respondidos na forma de meu texto. Então, encerro-me por aqui.

    Até mais.

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  9. Gosto de sua objetividade tanto ou mais como da maneira clara que expõe seu ponto de vista.

    Seu argumento sobre a diferença entre perfis foi absurdamente convincente: comparar as personagens Levi e BJ foi muito pertinente: como igualar posicionamentos de mentes tão distintas? Porém, exatamente por não saber quem são as pessoas sob o disfarce elas poderiam ser qualquer coisa, correto? Levi poderia ser um lobo transvertido de cordeiro, ou é possível que possa ser mesmo o controverso BJ, como poderíamos saber?

    Mas parto daquela minha primeira impressão: o desordeiro/trapaceiro/criminoso na vida virtual é alguém com o mesmo temperamento na vida real. Não vejo como dissociar personalidades. A única diferença é que com a possibilidade do reconhecimento e conseqüentemente da assumência de seus atos, torna-se mais cuidadoso, ou, numa expressão ainda mais fiel, alguém mais covarde. Por essa razão não interpreto perfis como o de Leonardo ou mesmo o seu enquanto fake, por não passarem a idéia de falsidade: fico convencida quando leio seus apontamentos. Aquilo que vocês se propõem conhecer me parece autêntico e real: demonstram interesse para o comportamento humano, versa com facilidade sobre, mas não são vistos interpelando sobre a vida íntima de ninguém. E sob esse aspecto, não encontro outro rótulo que não o da ortônima.

    O mesmo não se pode afirmar de outras tantas personagens que convivemos. Como considerar verdadeiro a fala de alguém que diz ser um cavaleiro templário na época que vivemos? Ou um militar reformado, adepto do cristianismo com tão pouca tolerância, ou ainda um professor universitário que aplica na Bolsa e que tem como hobby participar de campeonatos de golfe... Percebe a diferença? È uma construção desordenada de uma psique, uma mal arranjada colcha de retalhos, não se nota sinceridade em suas falas. Tudo remete ao falso, ao engano, a confusão. Será essa a intenção, ou o criador se perdeu na construção da personalidade?

    Por essa razão, mantenho minha opinião sobre o critério avaliativo: há de se existir uma diferença, porque existem distinções de comportamentos e intenções. Por isso não é inútil e muito menos desnecessário que conheçamos nosso avaliador. Não me refiro a nos tornarmos íntimos, confidentes, nada disso. O que bato na tecla é que como se permitir a avaliação sem conhecer os instrumentos utilizados, a intenção por trás de cada crítica? Compreendo o processo avaliativo enquanto ação pedagógica, por isso a necessidade do feedbeck, de uma recíproca troca amigável de saberes.

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  10. Sobre a patologia que levantou, acredito que isso tenha sido desenvolvido ainda na primeira infância, quando brincavam com o amiguinho imaginário, onde assumia falas que de forma internalizadas lhe pertenciam. È mais fácil falar sem a trava moral, sem a censura social, mas isso faz parte de uma etapa de construção da personalidade, e é normalmente experimentada e descartada ainda enquanto crianças. Quando essa característica que é por si compreendida enquanto processo transitório, é negada, é necessária a intervenção de profissionais da área. E é aí que entra o trabalho de psicólogos e psicopedagogos.


    È função de todos propiciarem meios para que alguém se torne independente e livre de falsos rótulos. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e individual, e é graças a essa construção que o homem tem determinado sua maneira de pensar e agir, e claro, da forma que vê e interage no mundo. Por isso, profissionais da área enxergam com preocupação a criação de mitos que não correspondem a realidade.


    Qual é a verdadeira intenção quando há a mentira num perfil? Será sua vida tão vazia de significados que para suportar, cria-se uma espécie de realidade alternativa, onde se é mais forte, rico, inteligente?

    Isso, em minha opinião é uma questão de ordem afetiva: o individuo tem problemas de autoestima, e precisa procurar ajuda, porque no mundo real ninguém conseguirá fugir de seus problemas ou frustrações. Não é assim que o mundo funciona, não é assim que se constroem vínculos sociais.


    Não discordamos sobre os termos “sinceridade” e “honestidade”, bem como naquilo que é compreendida a mentira social, mas não é sobre isso que debatemos aqui. Os comportamentos que observei não são motivados pela hipocrisia, e sim pela ausência da noção da realidade. Apesar de saber que aquilo que defendem é contraditório e falso, tenho convicção que eles acreditam naquilo que pregam. E isso me assusta.
    E por me assustar, não posso considerar a autoridade de um perfil fake.

    Não devemos supervalorizar a hipocrisia, ela é apenas parte de um todo, e nisso, Weber fala muito bem a respeito, e para que uma relação social seja efetivada, a ação (individual) social há de ser bilateral, e aqui entra a responsabilidade civil de nossos atos.


    Concluo minha replica observando que diferente de mim, considera o mundo virtual uma extensão de sua vida real, e talvez por isso tenhamos essa diferença de posicionamentos. No aguardo de sua (ágil) resposta, despeço-me.

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  11. Bem, você me elogiou, tanto pela clareza e objetividade quanto pela contribuição que dei ao debate. Eu digo o mesmo. Acho que este debate está mais interessante do que o primeiro que tivemos. E olha que eu gostei bastante daquele também.

    Então, vamos lá.

    Este trecho me chamou atenção, e por isso vou colá-lo na íntegra:

    "Seu argumento sobre a diferença entre perfis foi absurdamente convincente: comparar as personagens Levi e BJ foi muito pertinente: como igualar posicionamentos de mentes tão distintas? Porém, exatamente por não saber quem são as pessoas sob o disfarce elas poderiam ser qualquer coisa, correto? Levi poderia ser um lobo transvertido de cordeiro, ou é possível que possa ser mesmo o controverso BJ, como poderíamos saber?" (Roberta)

    O que eu penso é bem simples. Se o Leonardo é ou não é um lobo em pele de cordeiro, não podemos ter certeza. Mas devemos submeter nosso julgamento dentro daquilo que podemos saber. Para quem observa os outros, podemos definir que uma pessoa é aquilo que ela mostra ser. Não temos, nunca, como saber o que se passa dentro da cabeça dos outros ao nosso redor. Talvez muita gente que conheçamos também sejam lobos em pele de cordeiro, pois podem nos tratar bem quando estamos presentes e nos humilhar publicamente quando viramos as costas.

    Então, é neste ponto que eu considero que não há grande diferença entre ser um fake virtual ou um fake na vida real. Como você mesma disse, uma pessoa que tenha um mau comportamento na internet há de tê-lo fora também. Logo, alguém que é fake ao estilo de um BJ na internet, provavelmente deve ter um comportamento semelhante em sua vida pessoal.

    Agora, vejo que você apresentou uma diferença existente dentro dos perfis fakes, sendo que um tipo de perfil, como o meu, é um fake parcial, alguém que simplesmente não utiliza informações pessoais em seu perfil, enquanto há o outro tipo, que é alguém que usa fotos falsas e também cria uma personagem idealizada de si mesmo. É isso. Neste ponto também hei de concordar com o que diz. E poderemos, a partir de agora, nos focarmos no segundo tipo, que é o mais controverso.

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  12. Um professor universitário que aplica na bolsa e joga golfe, de fato, é uma construção desordenada de uma psiqué, e demonstra justamente o que eu mencionei na réplica: a formulação de um alter ego idealizado a partir de conceitos prévios. E ainda na introdução eu menciono que este comportamento provém, geralmente, de ócio mental e instabilidade emocional. Citei também a respeito de um caso comum de complexo de inferioridade, que neste caso específico se aplica como uma luva.

    Alguém que idealiza uma personalidade dessas é evidentemente uma pessoa que se julga inferior aos outros e, portanto, precisa criar uma personagem que, em sua cabeça, seja ou pareça ser superior em intelecto e/ou força. Ao criar essa auto-imagem projetada, esta pessoa começa a admirar a si mesma, e isso, por incrível que pareça, também causa maior instabilidade por tornar a pessoa mais arrogante. De certa forma, o complexo de inferioridade é substituído pelo complexo de superioridade, pois a pessoa começa a achar-se superior aos outros e ataca nos outros justamente os defeitos que ela mesma possui, aponta os erros que ela mesma comete, porque, no fundo, não gosta e nunca gostou de sua personalidade original. Ela se torna a própria sombra, como diria Jung.

    Em outros casos, quando a pessoa sofre de outros tipos de complexos ou distúrbios, a construção desta personalidade se dá de outras formas mas, no fim, o resultado é quase o mesmo. Inevitavelmente, como você mesma expôs, parece que estas pessoas costumam mesmo acreditar naquilo que dizem, por mais absurdo ou vergonhoso que possa parecer aquilo que afirmam. Há casos de carência afetiva, megalomania, transtorno de personalidade narcisista, etc.

    Em todos os casos, o objetivo é chamar atenção de alguém ou de várias pessoas por algum motivo, seja para conseguir apoio e admiração, para ser temido e respeitado, para simplesmente fazer com que todos o odeiem, pois afinal, o ódio também é um tipo de atenção. E você está correta, também, ao afirmar que esses comportamentos quando excessivos são motivados não pela hipocrisia, mas por influência da crença em uma realidade alternativa. No fundo esse tipo de pessoa realmente precisa de apoio especializado e profissionais da área, pois é notável que o comportamento é controverso e superficial, além de ser totalmente auto-destrutivo.

    Acredito que abordei tudo o que era necessário, então deixo com você as considerações finais!

    Até mais.

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  13. Enfim, concluímos nossa conversa e me surpreendo em como foi rápida! :)

    Chego ao fim, com a feliz sensação de que muito foi dito, e na perspectiva que o assunto trará ao grupo boas discussões. Agradeço novamente seu interesse em não me deixar no vácuo, e também por seu comportamento exemplar, tanto nesse nosso duelo, como no anterior.


    Quando levantei o assunto houve a preocupação em não se utilizar exemplos conhecidos, para que não houvesse uma associação equivocada sobre o tema. Creio que ficou claro que o enfoque abordado não era em pessoas, e sim, em comportamentos. Três personagens foram citadas em nosso debate, o que em tese poderia considerar como uma falha daquilo que foi proposto, porém, como anteriormente dito, não são reais, portanto, avalio que obtivemos êxito nessa empreitada.


    Avaliar nada mais é do que julgar, portanto as impressões que colhemos de nossos avaliadores podem sim, definir a forma que respondemos a provocação. Da mesma forma, entendo que ao avaliar condutas, temos que ter em mente as motivações de nosso objeto de estudo. Para isso há a busca de qualquer tipo de padronização de comportamentos, e por essa razão considero importante entender a forma que todos aqueles envolvidos no processo avaliativo pensam. Por não acreditar em nenhuma relação unilateral, reafirmo esse ponto.


    Tem razão, não há como saber o que se passa no íntimo das pessoas, mas podemos fazer uma idéia aproximada, relembrando atitudes semelhantes. Por isso que não é tão difícil identificar lobos em pele de cordeiro, isso nos dois ambientes aqui retratados. Através de observações pessoais, percebi algumas diferenças, que quando expostas, teve de você, instantânea compreensão. Daí imagino que deve ter se perguntado: “ se ela já tem isso em mente, qual é a razão de abordar o assunto?”


    Meu objetivo foi ambicioso: muito mais do que tentar entender as razões de comportamentos, desejei expor algumas conseqüências para que pessoas reconheçam os sintomas e procurem rever posturas. Somos a todo instante avaliados, e nada mais injusto que fazerem um mau juízo de tudo aquilo que defendemos e acreditamos.


    Portanto, mesmo que as causas sejam ócio mental, instabilidade emocional, baixa autoestima, acredito que é preciso uma reavaliação de atitudes, de todos nós, e o tempo todo. Parece desagradável o tema, mas às vezes é preciso dar a cara a bater, e ser a pedra, mesmo sabendo que é essa a parte fácil da história.


    Aparentemente falamos de terceiros nesse duelo. Mencionamos personagem A, B e C, mas no fundo, falávamos de nós mesmos, e sei que percebeu esse meu inocente ardil: julgar uma pessoa não define quem essa pessoa é, e sim, como nos somos. Ou seja, é pura projeção!


    Tenho total consciência das implicações pessoais que esse duelo trará, sendo minha única vontade é que todos consigam tratar o tema com racionalidade e com uma saudável distância, tal qual tivemos por aqui.


    No aguardo de suas considerações finais, me despeço.

    R.

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  14. Pois é, Roberta. De fato acho que isso tudo foi bem produtivo. Eis, aqui, um verdadeiro exercício dialético, onde não ficamos nos prendendo ao método retórico de atacar o argumento alheio mostrando suas falhas, o que não nos serve de nada no final.

    Acho até uma pena que os debates sejam tão curtos, pois ainda poderíamos estender essa discussão muito além do que foi exposto. E sugiro que façamos assim que as votações acabarem, se você quiser.

    O fato é que o comportamento humano é complexo, e como você mesma observou, ao julgarmos os outros estamos, de certo modo, nos expondo. Então quando fazemos uma avaliação sobre algo que outra pessoa diz ou faz estamos também avaliando o que nós pensamos sobre o assunto. Mas discordo deste pensamento que você colocou, no qual você afirma que todo julgamento é pura projeção. Não acho que isso se aplique a todos os casos. Se assim fosse, nem mesmo os profissionais em psicanálise seriam confiáveis em suas avaliações.

    Quando julgamos alguém, de fato, é impossível ser imparcial. Nisso concordamos plenamente. Mas penso que é possível ser justo, ao menos dentro de nosso conceito de justiça. E obviamente era impossível não citar os exemplos que nos rodeiam, ainda mais nesse assunto, que envolveu a maioria das grandes discussões e picuinhas do grupo ao longo desse último ano.

    Na internet, acredito que possa mesmo haver uma relação unilateral. Diferente de nossa vida real, onde precisamos lidar com gente de todo tipo e nos adequar a comportamentos socialmente aceitos, no mundo virtual temos a liberdade de contar apenas aquilo que queiramos que os outros saibam, mesmo com um perfil real. Podemos manter um laço unicamente "profissional", sem qualquer tipo de amizade ou apreço pela outra pessoa. Na internet, isso é possível, sim.

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  15. Mas a questão mais importante a meu ver é a seguinte:

    - O comportamento humano foi, ao longo da história, padronizado sempre de acordo com local, época e crenças religiosas. Esses moldes são, no fundo, definidos por convenção entre uma maioria, e podemos chamar de comportamento inadequado qualquer coisa que fuja destes padrões. Se fosse comum a maioria das pessoas ter uma dupla personalidade e conversar com elas mesmas como se houvesse mesmo outra pessoa ali, então chamaríamos de patologia o comportamento mais comum hoje, das pessoas que realmente acham que não são duas pessoas em uma só. Tudo o que é socialmente aceito, é assim por algum motivo. Na maior parte das vezes, tudo o que é considerado normal assim é por que os valores morais e os princípios éticos da maioria definiram que assim seria. E aqui reside a grande dúvida de vários antropólogos e filósofos. Afinal, o homem molda a sociedade ou a sociedade é que molda o homem? A princípio parece até uma pergunta óbvia e fácil, mas se você refletir, verá que há um círculo vicioso envolvendo a questão e tornando a compreensão da mesma muito mais difícil.

    De fato eu não gosto de julgar pessoas e impor aos outros aquilo que eu acho correto, embora eu seja autoritário. Mas é inevitável que façamos isso em algum momento, por que é natural do ser humano estranhar aquilo que ele não entende ou não concorda. Estes comportamentos que foram exemplificados são pouco, pois existem muitos outros por aí. O fato é que ninguém é sincero o tempo inteiro e as pessoas jamais expõe aquilo que realmente pensam sobre qualquer assunto. O ser humano tem muito mais segredos do que é capaz de supor. Se você se pensar em uma reflexão bem profunda sobre si mesma, vai descobrir segredos que nem mesmo você se lembrava. No fundo, escondemos muita coisa sobre o que somos ou pensamos, ou sobre o que desejamos.

    Considero então que nossa discussão aqui foi a mais produtiva que eu tive em muito tempo. Acho que abordei tudo o que era necessário para o debate neste contexto e julgo que sua contribuição foi esplêndida.

    E repito: quero continuar nossa discussão assim que as votações se encerrarem.

    E, que vença o melhor.

    Fim.

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