quinta-feira, 14 de junho de 2012

Lucas Pierre X João Cirilo - Ditadura Militar no Brasil


  1. É de conhecimento público que o Governo Militar, responsável pelo comando da Pátria brasileira de 1964 a 1985, cometeu vários equívocos, erros e atrocidades no que se diz respeito ao desenvolvimento econômico e social do país.

    Sobre a alegação de que João Goulart iria implantar um governo comunista em nosso território nacional (algo que nunca foi comprovado e esclarecido), os militares derrubaram o direito do povo de escolher os seus respectivos representantes, além de censurar os órgãos de comunicação e a população em geral, que teve o seu direito de opinião sobre o governo retirada: era falar mal do governo pra ser visto como anti-patriota e comunista, e correr risco de ser torturado pelo regime.

    Sem contar o falso "Mllagre Econômico" que trouxe um pequeno período de euforia na economia brasileira, mas que se tratava de algo enganoso por conta das dívidas externas que levaram o país ao caos econômico e o alto desemprego nos anos 80.

    Diante disso, desafio o João Cirilo, meu grande oponente, a discorrer sobre esse assunto e expôr seu ponto de vista em suas Considerações Iniciais.
    Responder
  2. João Cirilo

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    I

    Em apertadíssima síntese meu oponente critica o militarismo no Brasil por considerá-lo responsável por uma série de atrocidades “no que se diz respeito ao desenvolvimento econômico e social do país”.

    Também refuta opinião ordinária de que João Goulart implantaria um Governo comunista no Brasil; em contrapartida, diz que em nome dessa pretensa possibilidade os militares cercearam o direito do povo escolher seus representantes, ale de censurar os órgão se comunicação e a população em geral.

    II

    Vamos aos fatos. Em 1964 há duas pessoas totalmente opostas. Uma é o cearense de Macejana, o duro Chefe do Estado-Maior do Exército, o General Humberto de Alencar Castelo Branco. Do outro o político filho de fazendeiros de São Borja, um homem voltado para as massas e que tinha na reforma agrária seu maior discurso: falo do político que ajudara a eleger Getúlio Vargas pelo que foi nomeado ministro do Trabalho agitando o país com uma decisão mais do que ousada de duplicar sem base o salário mínimo e tendo que deixar o Ministério por conta disso. Falo de João Belchior Marques Goulart.

    O fato é que fora galgado ao posto de vice-presidente nos Governo Kubitschek e Jânio Quadros. Quando o político mato-grossense renunciou em agosto de 1961 a vaga seria do gaúcho, mas os militares torceram o nariz porque era visto com extrema desconfiança pelos setores conservadores da sociedade.

    A solução intermédia foi encontrada no parlamentarismo, assumindo Tancredo Neves como o primeiro ministro. João Goulart seria chefe de Estado, tal qual na Inglaterra de Elizabeth II: um cargo decorativo.

    Com o qual não suportou muito tempo. O Brasil também não se deu muito bem com a novel solução encontrada às pressas e sem história cultural e política, e através de um plebiscito em janeiro de 1963 devolveu o presidencialismo ao país com Jango como presidente.

    Ato contínuo começaram os enroscos. Numa inflação anual de 78% (que à época era um absurdo) o Governo Goulart na pessoa de seu ministro do Planejamento, Celso Furtado, baixou um plano ousado e de medidas fortes: instituído no início do ano mexia com o câmbio, orçamento da União e salários. Claro que houve reações, claro que o Governo deu seu primeiro passo em falso, abandonando as dificuldades em junho. Claro que no aspecto econômico começara muito mal.

    No aspecto político não fez nada melhor, se é que não fez pior. Com o apoio delirante das massas de esquerda, no dia 13 de março de 1964 sobe num palanque montado na Central do Brasil – defronte ao Ministério da Guerra – discursa febrilmente num comício organizado e sustentado por organizações sindicais, onde cerca de 100 mil pessoas se aglomeram para escutá-lo.
    Responder
  3. Ouçamos Emília Viotti da Costa que no livro “O STF e a Construção da Cidadania”, 2ª Ed, Ed. da Unesp, pág.155 resume o que lá foi dito:

    “Em um comício de 13 de março de 1964, visto por cerca de duzentas mil pessoas, anunciou que acabara de assinar o decreto da Supra, o primeiro passo para a reforma agrária, com a desapropriação de faixas de terras ao longo das estradas. A reforma agrária propriamente dita só poderia ser feita, dizia ele, com uma reforma constitucional. Citava o exemplo de outros países, como o Japão, onde a reforma agrária fora implantada depois da vitória dos Estados Unidos pelo general McArthur. Mencionava ainda os exemplos da Itália, do México e da índia, países que tinham realizado a reforma agrária com sucesso. Argumentava que ela interessava não apenas ao homem que trabalhava a terra, mas a todos os brasileiros. "A reforma agrária", dizia, "é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às indústrias e melhor remuneração ao trabalhador rural". Anunciou a seguir a encampação de todas as refinarias de petróleo, aproveitando a ocasião para fazer uma menção elogiosa a Getúlio Vargas. Finalmente, anunciou que encaminharia, em mensagem ao Congresso, a reforma eleitoral, permitindo a todos os brasileiros com mais de dezoito anos o direito de votar, e a reforma universitária, reclamada pelos estudantes. Divulgava, ainda, um decreto regulamentando os aluguéis. Ao terminar seu discurso afirmou contar com a compreensão e o patriotismo das Forças Armadas e reiterou seus propósitos de lutar por reforma agrária, tributária, eleitoral, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos, pela emancipação econômica, por justiça social e pelo progresso do país”.

    No dia 25 de março daquele mesmo mês os praças da Marinha se encontraram no “Sindicato dos Metalúrgicos”, o Almirante Sílvio Mota considerou a atitude subversiva e mandou tropas para prendê-los. Vários foram detidos, mas o presidente interveio imediatamente, mandou liberar todos eles e motivando a saída de Silvio Mota, substituído pelo almirante Paulo Rodrigues.

    No dia 30 fala na “Associação Beneficente de Sargentos da Polícia Militar”. Os militares veem nisso uma evidente quebra de hierarquia e os governos de São Paulo, Minas Gerais e do então Estado da Guanabara articulam-se contra o Governo Central.

    Estes, os políticos locais, não estão diretamente preocupados com a ostensiva quebra da hierarquia militar, mas sim com a famosa “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que levou cerca de quinhentas mil pessoas às ruas da cidade de São Paulo.

    Em 31 de março de 1964 as forças armadas depõem João Goulart assumindo a Presidência da República o General Humberto de Alencar Castello Branco, o militar cearense.
    Responder
  4. III

    Este o pano de fundo histórico quebrando a alegação do meu contendor que diz inexistir qualquer prova das intenções marxistas de João Goulart. Não só os dizeres dele durante o discurso, mas as decisões voltadas para a plateia como o aumento do salário mínimo de maneira espetacular, sua aversão a medidas econômicas drásticas como propostas pelo seu Ministro do Planejamento e sua fixação pela reforma agrária, provam justamente o contrário.

    E tanto provam que os civis – e não só os militares - se movimentaram em velocidade alarmante justamente como oposição às medidas populistas e esquerdistas do então presidente na tal Marcha paulistana.

    Tive que me alongar neste segmento por julgá-lo de capital importância. De qualquer forma, é imperioso registrar que o “Ato Institucional” baixado pelos militares fortaleceu em demasia o poder do Executivo, e que na época a inflação beirava os 90% anuais, então uma monstruosidade. No mais, observo que Eugênio Staub neste mesmo ano de 1964 fundava a Gradiente.

    Com isso digo que começavam a viabilizar tanto os televisores como se iniciava a indústria ainda muito primária de computadores.

    Ou seja, o povo não se encerrara numa camisa de força, o país não parara, tanto que no mesmo ano de 1964 as indústrias registram mais de um milhão de veículos fabricados. Um plano econômico para viger no biênio 64/66 visa restringir a inflação com cortes no gasto público a par do aumento da carga tributária, contenção de crédito e arrocho salarial (que exceto o corte nos gastos públicos indecentes, são utilizados até hoje com maior ou menor frequência ou intensidade).

    Mesmo as restrições às liberdades individuais têm que ser relativizadas pelo contexto histórico que então se vivia há 50 anos a par do fator determinante da própria Revolução, que é o avanço desassombrado dos ideais esquerdistas com apoio na figura do primeiro mandatário.

    Paro aqui minhas considerações iniciais por absoluta falta de espaço. À medida do possível tratarei do desenvolvimento econômico e da restrição às liberdades individuais, a par de tecer as considerações que se fizerem mister aos comentários do meu oponente.

    À réplica.
    Responder
  5. Os discursos proferidos por João Goulart não querem dizer que ele implantaria, de fato, um governo de caráter comunista no BRasil.

    Pelo contrário: Goulart permitiu abertura às organizações sociais, a questão importantíssima da reforma agrária e, com isso, colocou em estado de alerta toda a classe conservadora e elitista do Brasil.

    Caro duelista, apenas o fato do governo militar promover ATOS INSTITUCIONAIS já demonstra o seu caráter sujo e que não promovia a liberdade do indivíduo enquanto cidadão dentro da sociedade.

    Pior ainda: aquele indivíduo que não concordasse com a ideologia pregada pela ditadura era morto e torturado. O que acha disso, caro amigo e duelista? Acha justo alguem simplesmente ser torturado por não concordar com o governo? Penso eu que não.

    Quanto à economia, foi um completo desastre: as dívidas externas geradas por meio de empréstimos junto ao mercado estrangeiro enfiaram o Brasil em uma situação que, à princípio, parecia agradável. Mas era uma agradabilidade falsa.

    O que prova essa minha afirmação? Ora pois, os últimos anos de governo militar, no qual a inflação era altíssima, a recessão idem. DIante disso, a campanha contra a ditadura ganhou ainda mais força.

    Por hora, é só.
    Responder
  6. RESPOSTA À RÉPLICA:

    I

    Caro duelista, "pelos dedos se conhece um gigante". Além dos discursos óbvios neste sentido, Jango ainda tratou de vestir-lhes com atos, como vemos de sua ligação estreita com comunistas, o aumento desmedido do salário mínimo sem lastro algum e o abandono completo de um plano econômico que era contrário à massa.

    Ato institucional, medida provisória, lei complementar, decretos legislativos, são nomes que apomos às coisas. AI foi o nome que se deu às normas que se implantaram.

    Claro que não promovia a liberdade do indivíduo, mas por uma razão política muito simples: não se queria - como nunca se quis - as pressões advindas das massas esquerdistas, se podemos nos expressar assim, principalmente tendo recentes as lembranças da "Primavera de Praga" em 1956 e o "Muro de Berlim" de 1961, atos mais do que concretos da escalada do comunismo no mundo, com grande campo para se disseminar aqui se tudo corresse à tripa forra. Então era mais do que natural que houvesse tal repressão.

    Sim, poderia ter havido - como houve - alguma tortura. E com isso realmente não concordamos. Mas, e hoje, é muito diferente? Se não temos a tortura física, pelo menos em níveis mais ou menos institucionais, estamos diariamente cercados de tortura psicológica, de maior ou menor envergadura.

    Hoje mesmo veiculou-se a notícia de que o juiz Tourinho Neto, responsável pelas investigações do caso “Cachoeira”, pretende deixar o país à vista das pressões que vem recebendo. Mês passado correu à larga a informação de que o ex-presidente Lula teria oferecido uma espécie de “achego” ao Ministro Gilmar Mendes, do STF, no “Caso Mensalão”, tudo na base do me favoreça de um lado que eu não forço a sua barra do outro.

    Se não queremos ficar nessas altas esferas, fiquemos no nosso dia-a-dia. Hoje vc não pode ter opinião diferente da dos outros, não pode contar uma piada envolvendo negros, judeus, homossexuais ou prostitutas porque tudo é racismo, tudo é intolerância, tudo é rotulado, mesmo que vc seja o sujeito mais ameno e boa praça do mundo.

    E o mais triste: naqueles tempos você só teria um problema mais sério se procurasse contrariar a ordem estabelecida. No mais tinha ampla liberdade.

    Mas hoje, não. Hoje essa tortura psicológica atinge até uma criança de 5 anos que, de uma maneira esquisita que tira até a liberdade do infante, qualquer incidente, qualquer fato ainda que extremamente natural da criançada na escola, vira “bullyng”, sendo certo que vc, meu caro, já praticou e sofreu muito disso, e tenho certeza que não cresceu um bocó como essa molecada de hoje fatalmente crescerá. Bocó e complexada.
    Responder
  7. II

    No segmento econômico, é de se observar que realmente estávamos às portas de um milagre e que o “slogan” “ninguém segura este país” era mais do que cabível:

    1968: Crescimento bruto, 11,2%, crescimento industrial, 13,3% crescimento da construção civil 19%, dívida externa de US$ 3,8 bilhões e inflação estabilizada em 25,4%.

    1969: PIB cresceu 10%, indústria 12,1% (sendo que só a automobilística cresceu 34,5%), exportação de US$ 300 milhões acima das importações, inflação caiu para 20,1%. Mas um pequeno problema: reservas de divisas baixas, de US$ 700 milhões, divida externa de US$ 4,4 bilhões.

    Tais êxitos alavancaram o lançamento do I Plano Nacional de Desenvolvimento, PND, conduzido por Delfim Netto e João Paullo dos Reis Veloso. Metas ambiciosas.

    E o Brasil cresceu muito, mas tinha alguns problemas que as autoridades não se deram conta: salários muito baixos (quem consumiria os produtos fabricados?), e dependência total do petróleo, sem levar em conta a instabilidade política extrema no Oriente Médio, bolsas invadidas por papéis sem nenhum lastro, estatais monstruosas (e já) deficitárias, funcionando (ou fingindo que funcionavam) a todo vapor.

    Em 1973, no dia 7 de outubro, 400 tanques do Egito cruzaram o Canal de Suez e avançaram no deserto contra as tropas de ocupação de Israel. Pronto, foi o bastante para que os países árabes iniciassem mais uma de suas intermináveis guerras e o barril de petróleo, que então custava US$ 2,5 literalmente da noite para o dia passou para US$ 10.

    De roldão foram levados e elevados todos os produtos derivados do petróleo, que a custo baixo, porém único, alavancava praticamente toda a indústria nacional.

    Em 73/74 o quadro mudou totalmente. A produção industrial brasileira desabou de 16% para 9,2%, o PIB de 14% para 9,5%. Nos anos seguintes, o investimento industrial que era em média de 25,%, nos seis anos seguintes não passou de 0,1%.

    Ora, notamos que além de problemas internos o Brasil ancorou sua economia basicamente no petróleo, portanto, em fatores externos, dos quais não poderia controlar.

    Mas não podemos negar que mesmo fortes numa bolha e em num erro estratégico enorme que foi o achatamento salarial – povo que não ganha não consome – houve um desenvolvimento notável no tempo das mordaças.

    Hoje há liberdade total, o Brasil não se baseia num único produto ou commoditie externos, tem tudo a favor e poderia crescer muito. Não precisamos entrar em grandes informações econômicas para ver que se o endividamento externo era de 800 bilhões em 2002, hoje beira os 2 trilhões, uma dívida impagável e sem parar de crescer.

    Não há investimentos na educação, o país, em que pese o alavancar do salário mínimo ainda é um dos que menos paga “per capita” entre os países em desenvolvimento, não há qualquer corte nas despesas públicas que crescem ano a ano, não há poupança interna, o crescimento industrial é pífio e o PIB cresce em níveis abaixo da crítica.

    Então, se na época da ditadura tivemos um “boom” excepcional escorado em quase nada, nestes tempos de plena democracia, de direitos iguais, de igualdade, de pujança e de modernidade, não temos crescimento ainda que escorado em cosia alguma.

7 comentários:

  1. É de conhecimento público que o Governo Militar, responsável pelo comando da Pátria brasileira de 1964 a 1985, cometeu vários equívocos, erros e atrocidades no que se diz respeito ao desenvolvimento econômico e social do país.

    Sobre a alegação de que João Goulart iria implantar um governo comunista em nosso território nacional (algo que nunca foi comprovado e esclarecido), os militares derrubaram o direito do povo de escolher os seus respectivos representantes, além de censurar os órgãos de comunicação e a população em geral, que teve o seu direito de opinião sobre o governo retirada: era falar mal do governo pra ser visto como anti-patriota e comunista, e correr risco de ser torturado pelo regime.

    Sem contar o falso "Mllagre Econômico" que trouxe um pequeno período de euforia na economia brasileira, mas que se tratava de algo enganoso por conta das dívidas externas que levaram o país ao caos econômico e o alto desemprego nos anos 80.

    Diante disso, desafio o João Cirilo, meu grande oponente, a discorrer sobre esse assunto e expôr seu ponto de vista em suas Considerações Iniciais.

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  2. João Cirilo

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    I

    Em apertadíssima síntese meu oponente critica o militarismo no Brasil por considerá-lo responsável por uma série de atrocidades “no que se diz respeito ao desenvolvimento econômico e social do país”.

    Também refuta opinião ordinária de que João Goulart implantaria um Governo comunista no Brasil; em contrapartida, diz que em nome dessa pretensa possibilidade os militares cercearam o direito do povo escolher seus representantes, ale de censurar os órgão se comunicação e a população em geral.

    II

    Vamos aos fatos. Em 1964 há duas pessoas totalmente opostas. Uma é o cearense de Macejana, o duro Chefe do Estado-Maior do Exército, o General Humberto de Alencar Castelo Branco. Do outro o político filho de fazendeiros de São Borja, um homem voltado para as massas e que tinha na reforma agrária seu maior discurso: falo do político que ajudara a eleger Getúlio Vargas pelo que foi nomeado ministro do Trabalho agitando o país com uma decisão mais do que ousada de duplicar sem base o salário mínimo e tendo que deixar o Ministério por conta disso. Falo de João Belchior Marques Goulart.

    O fato é que fora galgado ao posto de vice-presidente nos Governo Kubitschek e Jânio Quadros. Quando o político mato-grossense renunciou em agosto de 1961 a vaga seria do gaúcho, mas os militares torceram o nariz porque era visto com extrema desconfiança pelos setores conservadores da sociedade.

    A solução intermédia foi encontrada no parlamentarismo, assumindo Tancredo Neves como o primeiro ministro. João Goulart seria chefe de Estado, tal qual na Inglaterra de Elizabeth II: um cargo decorativo.

    Com o qual não suportou muito tempo. O Brasil também não se deu muito bem com a novel solução encontrada às pressas e sem história cultural e política, e através de um plebiscito em janeiro de 1963 devolveu o presidencialismo ao país com Jango como presidente.

    Ato contínuo começaram os enroscos. Numa inflação anual de 78% (que à época era um absurdo) o Governo Goulart na pessoa de seu ministro do Planejamento, Celso Furtado, baixou um plano ousado e de medidas fortes: instituído no início do ano mexia com o câmbio, orçamento da União e salários. Claro que houve reações, claro que o Governo deu seu primeiro passo em falso, abandonando as dificuldades em junho. Claro que no aspecto econômico começara muito mal.

    No aspecto político não fez nada melhor, se é que não fez pior. Com o apoio delirante das massas de esquerda, no dia 13 de março de 1964 sobe num palanque montado na Central do Brasil – defronte ao Ministério da Guerra – discursa febrilmente num comício organizado e sustentado por organizações sindicais, onde cerca de 100 mil pessoas se aglomeram para escutá-lo.

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  3. Ouçamos Emília Viotti da Costa que no livro “O STF e a Construção da Cidadania”, 2ª Ed, Ed. da Unesp, pág.155 resume o que lá foi dito:

    “Em um comício de 13 de março de 1964, visto por cerca de duzentas mil pessoas, anunciou que acabara de assinar o decreto da Supra, o primeiro passo para a reforma agrária, com a desapropriação de faixas de terras ao longo das estradas. A reforma agrária propriamente dita só poderia ser feita, dizia ele, com uma reforma constitucional. Citava o exemplo de outros países, como o Japão, onde a reforma agrária fora implantada depois da vitória dos Estados Unidos pelo general McArthur. Mencionava ainda os exemplos da Itália, do México e da índia, países que tinham realizado a reforma agrária com sucesso. Argumentava que ela interessava não apenas ao homem que trabalhava a terra, mas a todos os brasileiros. "A reforma agrária", dizia, "é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às indústrias e melhor remuneração ao trabalhador rural". Anunciou a seguir a encampação de todas as refinarias de petróleo, aproveitando a ocasião para fazer uma menção elogiosa a Getúlio Vargas. Finalmente, anunciou que encaminharia, em mensagem ao Congresso, a reforma eleitoral, permitindo a todos os brasileiros com mais de dezoito anos o direito de votar, e a reforma universitária, reclamada pelos estudantes. Divulgava, ainda, um decreto regulamentando os aluguéis. Ao terminar seu discurso afirmou contar com a compreensão e o patriotismo das Forças Armadas e reiterou seus propósitos de lutar por reforma agrária, tributária, eleitoral, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos, pela emancipação econômica, por justiça social e pelo progresso do país”.

    No dia 25 de março daquele mesmo mês os praças da Marinha se encontraram no “Sindicato dos Metalúrgicos”, o Almirante Sílvio Mota considerou a atitude subversiva e mandou tropas para prendê-los. Vários foram detidos, mas o presidente interveio imediatamente, mandou liberar todos eles e motivando a saída de Silvio Mota, substituído pelo almirante Paulo Rodrigues.

    No dia 30 fala na “Associação Beneficente de Sargentos da Polícia Militar”. Os militares veem nisso uma evidente quebra de hierarquia e os governos de São Paulo, Minas Gerais e do então Estado da Guanabara articulam-se contra o Governo Central.

    Estes, os políticos locais, não estão diretamente preocupados com a ostensiva quebra da hierarquia militar, mas sim com a famosa “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que levou cerca de quinhentas mil pessoas às ruas da cidade de São Paulo.

    Em 31 de março de 1964 as forças armadas depõem João Goulart assumindo a Presidência da República o General Humberto de Alencar Castello Branco, o militar cearense.

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  4. III

    Este o pano de fundo histórico quebrando a alegação do meu contendor que diz inexistir qualquer prova das intenções marxistas de João Goulart. Não só os dizeres dele durante o discurso, mas as decisões voltadas para a plateia como o aumento do salário mínimo de maneira espetacular, sua aversão a medidas econômicas drásticas como propostas pelo seu Ministro do Planejamento e sua fixação pela reforma agrária, provam justamente o contrário.

    E tanto provam que os civis – e não só os militares - se movimentaram em velocidade alarmante justamente como oposição às medidas populistas e esquerdistas do então presidente na tal Marcha paulistana.

    Tive que me alongar neste segmento por julgá-lo de capital importância. De qualquer forma, é imperioso registrar que o “Ato Institucional” baixado pelos militares fortaleceu em demasia o poder do Executivo, e que na época a inflação beirava os 90% anuais, então uma monstruosidade. No mais, observo que Eugênio Staub neste mesmo ano de 1964 fundava a Gradiente.

    Com isso digo que começavam a viabilizar tanto os televisores como se iniciava a indústria ainda muito primária de computadores.

    Ou seja, o povo não se encerrara numa camisa de força, o país não parara, tanto que no mesmo ano de 1964 as indústrias registram mais de um milhão de veículos fabricados. Um plano econômico para viger no biênio 64/66 visa restringir a inflação com cortes no gasto público a par do aumento da carga tributária, contenção de crédito e arrocho salarial (que exceto o corte nos gastos públicos indecentes, são utilizados até hoje com maior ou menor frequência ou intensidade).

    Mesmo as restrições às liberdades individuais têm que ser relativizadas pelo contexto histórico que então se vivia há 50 anos a par do fator determinante da própria Revolução, que é o avanço desassombrado dos ideais esquerdistas com apoio na figura do primeiro mandatário.

    Paro aqui minhas considerações iniciais por absoluta falta de espaço. À medida do possível tratarei do desenvolvimento econômico e da restrição às liberdades individuais, a par de tecer as considerações que se fizerem mister aos comentários do meu oponente.

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  5. Os discursos proferidos por João Goulart não querem dizer que ele implantaria, de fato, um governo de caráter comunista no BRasil.

    Pelo contrário: Goulart permitiu abertura às organizações sociais, a questão importantíssima da reforma agrária e, com isso, colocou em estado de alerta toda a classe conservadora e elitista do Brasil.

    Caro duelista, apenas o fato do governo militar promover ATOS INSTITUCIONAIS já demonstra o seu caráter sujo e que não promovia a liberdade do indivíduo enquanto cidadão dentro da sociedade.

    Pior ainda: aquele indivíduo que não concordasse com a ideologia pregada pela ditadura era morto e torturado. O que acha disso, caro amigo e duelista? Acha justo alguem simplesmente ser torturado por não concordar com o governo? Penso eu que não.

    Quanto à economia, foi um completo desastre: as dívidas externas geradas por meio de empréstimos junto ao mercado estrangeiro enfiaram o Brasil em uma situação que, à princípio, parecia agradável. Mas era uma agradabilidade falsa.

    O que prova essa minha afirmação? Ora pois, os últimos anos de governo militar, no qual a inflação era altíssima, a recessão idem. DIante disso, a campanha contra a ditadura ganhou ainda mais força.

    Por hora, é só.

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  6. RESPOSTA À RÉPLICA:

    I

    Caro duelista, "pelos dedos se conhece um gigante". Além dos discursos óbvios neste sentido, Jango ainda tratou de vestir-lhes com atos, como vemos de sua ligação estreita com comunistas, o aumento desmedido do salário mínimo sem lastro algum e o abandono completo de um plano econômico que era contrário à massa.

    Ato institucional, medida provisória, lei complementar, decretos legislativos, são nomes que apomos às coisas. AI foi o nome que se deu às normas que se implantaram.

    Claro que não promovia a liberdade do indivíduo, mas por uma razão política muito simples: não se queria - como nunca se quis - as pressões advindas das massas esquerdistas, se podemos nos expressar assim, principalmente tendo recentes as lembranças da "Primavera de Praga" em 1956 e o "Muro de Berlim" de 1961, atos mais do que concretos da escalada do comunismo no mundo, com grande campo para se disseminar aqui se tudo corresse à tripa forra. Então era mais do que natural que houvesse tal repressão.

    Sim, poderia ter havido - como houve - alguma tortura. E com isso realmente não concordamos. Mas, e hoje, é muito diferente? Se não temos a tortura física, pelo menos em níveis mais ou menos institucionais, estamos diariamente cercados de tortura psicológica, de maior ou menor envergadura.

    Hoje mesmo veiculou-se a notícia de que o juiz Tourinho Neto, responsável pelas investigações do caso “Cachoeira”, pretende deixar o país à vista das pressões que vem recebendo. Mês passado correu à larga a informação de que o ex-presidente Lula teria oferecido uma espécie de “achego” ao Ministro Gilmar Mendes, do STF, no “Caso Mensalão”, tudo na base do me favoreça de um lado que eu não forço a sua barra do outro.

    Se não queremos ficar nessas altas esferas, fiquemos no nosso dia-a-dia. Hoje vc não pode ter opinião diferente da dos outros, não pode contar uma piada envolvendo negros, judeus, homossexuais ou prostitutas porque tudo é racismo, tudo é intolerância, tudo é rotulado, mesmo que vc seja o sujeito mais ameno e boa praça do mundo.

    E o mais triste: naqueles tempos você só teria um problema mais sério se procurasse contrariar a ordem estabelecida. No mais tinha ampla liberdade.

    Mas hoje, não. Hoje essa tortura psicológica atinge até uma criança de 5 anos que, de uma maneira esquisita que tira até a liberdade do infante, qualquer incidente, qualquer fato ainda que extremamente natural da criançada na escola, vira “bullyng”, sendo certo que vc, meu caro, já praticou e sofreu muito disso, e tenho certeza que não cresceu um bocó como essa molecada de hoje fatalmente crescerá. Bocó e complexada.

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  7. II

    No segmento econômico, é de se observar que realmente estávamos às portas de um milagre e que o “slogan” “ninguém segura este país” era mais do que cabível:

    1968: Crescimento bruto, 11,2%, crescimento industrial, 13,3% crescimento da construção civil 19%, dívida externa de US$ 3,8 bilhões e inflação estabilizada em 25,4%.

    1969: PIB cresceu 10%, indústria 12,1% (sendo que só a automobilística cresceu 34,5%), exportação de US$ 300 milhões acima das importações, inflação caiu para 20,1%. Mas um pequeno problema: reservas de divisas baixas, de US$ 700 milhões, divida externa de US$ 4,4 bilhões.

    Tais êxitos alavancaram o lançamento do I Plano Nacional de Desenvolvimento, PND, conduzido por Delfim Netto e João Paullo dos Reis Veloso. Metas ambiciosas.

    E o Brasil cresceu muito, mas tinha alguns problemas que as autoridades não se deram conta: salários muito baixos (quem consumiria os produtos fabricados?), e dependência total do petróleo, sem levar em conta a instabilidade política extrema no Oriente Médio, bolsas invadidas por papéis sem nenhum lastro, estatais monstruosas (e já) deficitárias, funcionando (ou fingindo que funcionavam) a todo vapor.

    Em 1973, no dia 7 de outubro, 400 tanques do Egito cruzaram o Canal de Suez e avançaram no deserto contra as tropas de ocupação de Israel. Pronto, foi o bastante para que os países árabes iniciassem mais uma de suas intermináveis guerras e o barril de petróleo, que então custava US$ 2,5 literalmente da noite para o dia passou para US$ 10.

    De roldão foram levados e elevados todos os produtos derivados do petróleo, que a custo baixo, porém único, alavancava praticamente toda a indústria nacional.

    Em 73/74 o quadro mudou totalmente. A produção industrial brasileira desabou de 16% para 9,2%, o PIB de 14% para 9,5%. Nos anos seguintes, o investimento industrial que era em média de 25,%, nos seis anos seguintes não passou de 0,1%.

    Ora, notamos que além de problemas internos o Brasil ancorou sua economia basicamente no petróleo, portanto, em fatores externos, dos quais não poderia controlar.

    Mas não podemos negar que mesmo fortes numa bolha e em num erro estratégico enorme que foi o achatamento salarial – povo que não ganha não consome – houve um desenvolvimento notável no tempo das mordaças.

    Hoje há liberdade total, o Brasil não se baseia num único produto ou commoditie externos, tem tudo a favor e poderia crescer muito. Não precisamos entrar em grandes informações econômicas para ver que se o endividamento externo era de 800 bilhões em 2002, hoje beira os 2 trilhões, uma dívida impagável e sem parar de crescer.

    Não há investimentos na educação, o país, em que pese o alavancar do salário mínimo ainda é um dos que menos paga “per capita” entre os países em desenvolvimento, não há qualquer corte nas despesas públicas que crescem ano a ano, não há poupança interna, o crescimento industrial é pífio e o PIB cresce em níveis abaixo da crítica.

    Então, se na época da ditadura tivemos um “boom” excepcional escorado em quase nada, nestes tempos de plena democracia, de direitos iguais, de igualdade, de pujança e de modernidade, não temos crescimento ainda que escorado em cosia alguma.

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