sexta-feira, 1 de junho de 2012

Patrick X Roger - Cotas Raciais

  1. DESMISTIFICANDO O TEMA

    1º MITO: NÃO HÁ RAÇAS NA ESPÉCIE HUMANA

    O que é raça? Segundo a biologia, quando uma população de uma mesma espécie é dividida em duas populações por uma barreira natural intransponível, de modo que a troca de genes entre cada uma das populações é interrompida, após um período de tempo suficientemente longo, caso o isolamento geográfico seja interrompido, e as populações não tenham chegado a um isolamento reprodutivo, cada uma das espécies constitui uma subespécie ou raça. É o caso da espécie humana no que tange às raças branco-europeia, negro-africana, amarelo-asiática e índio-americana; a seleção natural e a mutação genética não foram suficientes para isolar reprodutivamente as populações humanas isoladas geograficamente.

    2º MITO: O BRASIL É UM PAÍS MESTIÇO, E POR ISSO, NÃO HÁ MOTIVOS PARA A ADOÇÃO DE COTAS RACIAIS

    De fato, o Brasil é um país mestiço. Entretanto, a miscigenação não justifica a não adoção de cotas raciais. No período da escravatura, quando um senhor de escravos engravidava uma escrava, o filho que ela vinha a ter não era considerado branco ou negro, era considerado mulato, e a ele era dispensado o mesmo tratamento dado aos escravos; não raramente o tratamento era pior pois se tratava de um ser sem raça, meio branco, meio negro. Portanto, tanto pretos como pardos receberam a mesma herança de 358 anos de escravidão no Brasil: pobreza. Sim, caro duelista, a pobreza no Brasil tem cor e essa cor é a negra, a soma de pretos e pardos. Aos números: enquanto que 20% dos brancos estão abaixo da linha da pobreza, 41,7% dos negros estão nessa situação. Mais díspar ainda é a indigência entre brancos e negros: enquanto que a porcentagem de brancos indigentes é de 6,6%, a de negros é de 16,9%. Pior: dos 10% mais pobres, 74,2% são negros. Esses números são o retrato fiel de um Brasil desigual, em que brancos têm melhores e mais oportunidades que negros, uma nação que mesmo mestiça no rosto de cada brasileiro, mantém-se bicolor no olhar.

    3º MITO: O ABANDONO DE CURSO ENTRE OS COTISTAS É MAIOR
    Uma pesquisa da Uerj revelou que, entre os cotistas, o abandono de curso é 57% menor - e os índices de reprovação são menores que os dos demais alunos.

    Desde que as cotas raciais foram adotadas nos EUA, por exemplo, a porcentagem de negros na classe média passou de 13 para 51%, isto é, mais gente consumindo e tributando. No final, as cotas raciais melhoram toda a sociedade. Seja qual for a sua cor.
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  2. Certo.

    Com uma rápida pesquisa, encontrei vários sites importantes, incluindo o próprio Censo, que comprovam os dados que você colocou. Há alguma diferença entre uns e outros, mas nada muito considerável e que saia fora da margem de erro.

    Mas, por que ser contra as cotas raciais?

    Primeiramente, é hipocrisia chamar de tratamento de igualdade racial quando você está segregando as pessoas e as separando pro categorias. De fato, seria o mesmo que tentar acabar com a criminalidade prendendo as vítimas de crime.

    A cota racial cria uma barreira que separa brancos e negros ou pardos antes mesmo deles entrarem na faculdade. E sabe-se que a universidade já é um ambiente bem complexo para se frequentar no dia-a-dia.

    Contudo, levando em conta que os dados que você colocou estão corretos, então eu pergunto: Para quê cotas raciais?

    Se a maioria dos pobres é negra ou mestiça, então não é necessário ter uma cota para eles. Aliás, seria necessário ter uma cota apenas para pobres, pois então esta maioria de negros e pardos seria atingida proporcionalmente.

    Além disso, é preciso haver outros quesitos mais justos nesta questão. Um deles, é o mérito. É injusto que alguém que seja pobre e de pele clara, mas ao mesmo tempo seja esforçado nos estudos, tenha menos direitos do que um pobre negro que pode não ser tão esforçado assim. É necessário levar em conta a classe social por um motivo óbvio: pobres não tem como pagar a universidade, às vezes, nem o vestibular. Mas, e o mérito, onde é que entra?

    É uma atitude preconceituosa dar preferência pela cor, e não pelo esforço e pela classe social da pessoa. Alguém que seja negro e pobre sempre terá mais chances de entrar na universidade do que alguém que seja branco e pobre, e cá entre nós, não é justo.

    Logo, sou a favor somente da cota social. Se a maioria dos pobres é composta por negros ou pardos, então eles serão beneficiados proporcionalmente.

    Siga com seu raciocínio, caro colega.
    Estarei esperando atentamente.
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  3. Caro duelista, peço desculpa por não ter citado a fonte de tantos dados. Eles foram retirados da 3ª edição do estudo "Retratos das Desigualdades de Gênero e Raça" do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

    Primeiro, democracia não é tratar todos de forma igualitária. Democracia é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. Como tratar brancos e negros de forma igual sendo brancos e negros tão social e economicamente desiguais?

    De fato, as cotas raciais são um instrumento que privilegia quem é negro. Mas é justamente esse o objetivo! Mas o meu oponente se engana quando diz que as cotas raciais segregam os brasileiros. Quem segrega os brasileiros é a herança de 358 anos de escravidão no país - 358 anos o negro servindo o branco. As cotas raciais foram criadas justamente a fim de corrigir 358 anos de injustiça social: em 2001, 22% dos universitários eram negros, já em 2010, já eram 35%, segundo dados do Ministério da Educação. Você ainda vai continuar a dizer que as cotas raciais segregam alguma coisa? Não são as cotas raciais que criam barreiras, muito pelo contrário, elas derrubam barreiras: a da elitização do ensino em que só entra na universidade quem pode pagar boas escolas e bons cursinhos pré-vestibulares.

    Você ponderou uma pergunta importante: sendo os negros a maioria entre os pobres, por que não criar uma cota social ao invés de uma cota racial? Eu vou responder a essa pergunta com uma experiência pessoal. Ano passado eu estudava em uma das escolas mais caras do país cuja mensalidade era de R$ 1313 (mil, trezentos e treze reais). Certa vez, em uma discussão sobre as cotas raciais com um professor, ele me perguntou: quantos negros iguais a você estudam aqui? Foi aí que a ficha caiu: eu era o único. Foi então que aprendi que a maior distorção não é a distorção entre ricos e pobres, mas a distorção entre brancos e negros. Mais importante que a desigualdade de cunho econômico é a desigualdade de cunho racial. Não é possível passar a borracha nos 358 anos de escravidão no Brasil e cantar conforme o Hino da Proclamação da República:

    "Nós nem cremos que escravos outrora
    Tenha havido em tão nobre país..."

    Você também ponderou sobre a questão do mérito, entretanto, o mérito é um critério justo apenas entre aqueles que tiveram oportunidades semelhantes.

    É pelo branco pobre que também sou favorável às cotas sociais. Ocorre que ela sozinha não é suficiente para corrigir a injustiça-mor: a herança dos 358 anos de escravidão no Brasil.
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  4. Legal.

    Você começou a viajar quando falou em democracia, já no segundo parágrafo, dando a entender que eu havia mencionado algo a respeito. Então, entenda uma coisa: a questão das cotas raciais foge e muito ao escopo daquilo que podemos chamar de democracia. Enquanto a cota visa oferecer, de forma direta, direitos extras para determinado grupo em aparente desvantagem, a democracia versa sobre o direito de escolha e livre expressão de todos, e não só de determinadas classes oprimidas ou das elites. Pelo menos, assim é que deveria ser.

    Mas o seu argumento é totalmente vazio quando menciona a desigualdade social evidente entre negros e brancos, não por que seja errado, mas por que você interpreta a questão de uma maneira bastante obtusa. Esse pensamento de que "negros" servem os "brancos" é pífio. Obviamente isso aconteceu no passado, mas as coisas hoje são bem diferentes. E não estou dizendo que não exista racismo ou desigualdade, o que digo é que sua interpretação da realidade está simplesmente evitando a leitura do contexto no qual vivemos.

    E o ponto mais importante de meu argumento, o que você deveria ter refutado, deste você nem passou perto. Simplesmente tentou ludibriar a ti mesmo com ideias vazias que em nada contribuíram para a questão. Ou seja, você não conseguiu contrapor meu argumento inicial, que por sinal, é baseado no seu, que é:

    "Se a maioria dos pobres é negra ou mestiça, então não é necessário ter uma cota para eles. Aliás, seria necessário ter uma cota apenas para pobres, pois então esta maioria de negros e pardos seria atingida proporcionalmente." (Roger)

    E ainda por cima, você ajuda a sustentar este argumento quando diz:

    "Não são as cotas raciais que criam barreiras, muito pelo contrário, elas derrubam barreiras: a da elitização do ensino em que só entra na universidade quem pode pagar boas escolas e bons cursinhos pré-vestibulares." (Patrick)

    Quando você diz isso, fica evidente que até mesmo para você o que importa é a condição social, independente da cor. Simplesmente por que você menciona o fato de alguém não poder pagar o curso que deseja em uma escola de qualidade. A elitização do ensino sempre aconteceu por que há pessoas com muito dinheiro e pessoas com pouco dinheiro e, embora poucas, ainda assim existem pessoas negras que são bem sucedidas financeiramente, o que significa, então, que estas pessoas também seriam beneficiadas por uma cota racial mesmo tendo plenas condições de pagar pela faculdade, só por que são negras!

    E, por fim, seu último suspiro:

    "Você também ponderou sobre a questão do mérito, entretanto, o mérito é um critério justo apenas entre aqueles que tiveram oportunidades semelhantes." (Patrick)

    Pois é, meu caro. Aí é que está. Negros e brancos ricos teriam oportunidades iguais, assim como os negros e brancos pobres teriam oportunidades iguais também. Isto, é claro, se fossem aplicadas somente as cotas sociais, e não raciais, como você está querendo dizer. Aí, neste caso, pode e deve ser aplicado também a questão do mérito.

    E tem outro ponto negativo sobre as cotas raciais que eu devo mencionar na tréplica, caso você ainda queira insistir.

    Até mais.
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  5. Caro duelista,

    Democracia, em um sentido restrito, de fato, versa sobre os direitos de escolha de cada indivíduo. Todavia, em um sentido geral, democracia diz respeito à situação de igualdade entre os diferentes grupos que compõem um povo: igualdade que não existe entre brancos e negros em nosso país.

    É pela democracia que deficientes físicos têm mais direitos que pessoas sem deficiência física, por exemplo, a fim de que todos possam ir e vir livremente e com dignidade. Se para você democracia é tratar todo mundo da mesma maneira, desconsiderando as particularidades e deficiências de cada um, então você desconhece o real significado da palavra democracia.

    É inegável pelos números citados em minhas considerações iniciais que o negro está a anos-luz de distância do padrão de vida e consumo da elite branca desse país. Foram 358 longos anos de trabalho gratuito ao branco e muitos açoites em caso de desobediência ao senhor branco escravocrata.

    Os segundos transcorridos na assinatura da Lei Áurea não puderam apagar os três séculos de injustiças contra um mesmo povo: o povo negro, cujos braços fortes construíram os alicerces que sustentam esse país até hoje e cujo brado resistiu com orgulho e serenidade à violência dos açoites.

    Não posso concordar com a ideia de que o negro não mais serve o branco. Isso ainda ocorre. Quase sempre o que mais vejo é um negro servindo um branco. Até pouco tempo atrás nas telenovelas os empregados domésticos eram todos negros. A primeira protagonista negra de uma novela somente ocorreu em 2010 na novela Viver a Vida. É claro que nesse caso a atriz não precisou de cota nenhuma. Na Globo somente há espaço para o mérito. Eu gostaria que na educação também fosse assim. Se o Estado garantisse educação de qualidade para todos, independente de classe social, sexo, raça, não necessitaríamos de cota nenhuma: todos poderiam competir por uma vaga na universidade em situação de igualdade de modo que apenas o mérito fosse importante. Mas analisando a realidade da rede pública de ensino fundamental e médio no Brasil, melhorar a qualidade da educação oferecida aos alunos tem se tornado uma utopia - essa que é a verdade.

    Você me colocou diante de um argumento importante (se também não fosse o único argumento que tem): sendo a maioria dos negros pobres, por que então não criar uma cota social ao invés de uma cota racial? Não seria o mais coerente visto o número relativamente grande de brancos pobres?

    Eu concordaria com você caso a prática seguisse a teoria. Acontece que com as cotas sociais, mesmo os negros sendo a maioria entre os pobres, o maior beneficiado continua sendo o branco. Na USP, por exemplo, em 6 anos, somente 0,8% dos estudantes matriculados em cursos de ponta eram negros, mesmo a universidade possuindo um programa de inclusão social, o Inclusp, que apenas em 2012 foi responsável pela matrícula de 28% de alunos de escolas públicas, ou seja, mesmo entre pessoas com uma mesma faixa de renda per capita, os mais carentes continuam sendo os negros. Em 2010 e 2011, nenhum preto passou na FUVEST. Em 2011 os pardos foram 6,7% dos alunos matriculados. Uma vergonha para o estado que tem 34,6% da população composta por pretos e pardos. Uma vergonha para o Brasil, que tem 50,7% da população composta por pretos e pardos, o povo negro.

    E essa foi a tréplica. Espero que você não fique com o mesmo argumento do branco pobre - das cotas sociais. Já lhe disse que sou favorável às cotas sociais. Mas lhe disse também que elas sozinhas não solucionam o problema das desigualdades em todas as esferas entre brancos e negros.
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  6. Você simplesmente repetiu o argumento de antes, sem refutar o meu. E ainda usou falácias para sustentar estas mesmas considerações.

    Mas, vamos lá:

    Democracia é liberdade, não é igualdade. O que diferencia a liberdade da igualdade é que a primeira te dá direitos iguais aos de todos, dentro de suas possibilidades. A outra, por querer igualar todos de forma além ou aquém daquilo que é merital, acaba minando liberdades. O que vemos hoje no Brasil é uma tentativa falha de igualar as pessoas dentro de uma sociedade culturalmente divergente. Nem mesmo nos países mais "puros" no sentido de raça ou credo há igualdade. E, diga-se de passagem, nos países mais livres e menos igualitários é onde os melhores índices de educação. São países estes como a Suíça, a Suécia, entre outros tantos.

    A liberdade, de modo geral, é a grande responsável, no fim das contas, pro igualar as oportunidades.

    Enfim, para sustentar o que digo, sugiro a leitura de "Liberdade vs. Igualdade", de Demétrio Magnoli. Ele é sociólogo e explica bastante esta divergência no sentido histórico, apesar de não tratar de questões tão contemporâneas.

    Agora, a repetição de seu argumento sobre a escravidão ser uma dívida dos brancos com os negros é totalmente despropositada. A abolição já se foi há muito tempo e a situação, hoje, é muito diferente no que diz respeito a isso. Se você fosse analisar desta forma, então teríamos uma dívida com todo mundo, por que também foram trazidos imigrantes orientais ou italianos para cá, por exemplo, no sul, que trabalharam nas terras de maneira forçada. Se fosse assim, teríamos uma dívida ainda maior com os índios do que com os negros, tendo em vista que além da escravidão indígena, os índios foram usurpados de terras que eram deles. E assim vai. Toda injustiça histórica teria que ser cobrada, hoje. Já pensou?

    O fato é que seu argumento esvazia totalmente quando menciona essas falácias. A cota racial continua sendo desnecessária sob qualquer aspecto, pois, como já disse, proporcionalmente havendo mais negros do que brancos entre os pobres, então mais negros do que brancos seriam beneficiados.
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  7. Fora isso, há ainda outros dois fatores importantíssimos que batem de frente com o que você diz.

    1 - A cota para negros sendo prevista em lei, obrigaria, naturalmente, as universidades a preencherem estas cotas. Ocorre que, dentre os candidatos a uma vaga, existem os bons, os regulares e os ruins. Então, supondo que não houvesse um número tão grande de negros participando do processo, a universidade teria que escolher entre seus candidatos até mesmo aqueles que não fossem bons, apenas por que seria a única forma de preencher a cota.

    2 - Depois, você não refutou meu argumento sobre o negro que possua situação financeira favorável. Quer dizer que alguém que tenha dinheiro para pagar a faculdade teria mais chances de entrar na vaga por uma bolsa, somente por ser de cor negra? Você não mencionou isso em sua tréplica. Estranho!

    Mas a afirmação mais falaciosa e talvez até desonesta de sua parte foi a seguinte:

    "A primeira protagonista negra de uma novela somente ocorreu em 2010 na novela Viver a Vida." (Patrick)

    Esta afirmação beira o ridículo. Existem atrizes negras ou "pardas" em novelas desde a década de 90 e com certa frequência. A questão é que, na realidade, não existem tantas atrizes negras, o que pode sr devido a "n" fatores que vão além de nossa compreensão.

    E para derrubar sua afirmação, eu cito o caso da novela "Da cor do Pecado", de 2004. Nela, Taís Araújo fazia o papel principal. E há ainda muitas outras novelas, mas eu não acho que você seja tão obtuso que não possa pesquisar sozinho, não é? Não vou dar a você tudo mastigado como tenho feito.

    E, vamos lá.

    O que me chamou atenção e que, em parte você tem razão, é com relação ao problema corrente na educação de rede pública. Acontece que você erra no seguinte ponto:

    "Eu gostaria que na educação também fosse assim. Se o Estado garantisse educação de qualidade para todos, independente de classe social, sexo, raça, não necessitaríamos de cota nenhuma: todos poderiam competir por uma vaga na universidade em situação de igualdade de modo que apenas o mérito fosse importante."

    Então, é nisso que você baseia sua argumentação? Quer dizer: Para resolver os problemas da educação, cota é a solução? Se é assim que você pensa, então eu afirmo que sua visão é extremamente simplista e limitada.
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  8. Com cotas ou sem cotas, se há problemas na educação do país, os negros vão continuar tendo uma educação de má qualidade, assim como os brancos. Cotas não são solução para problemas de educação como os que nós temos. Mas, pior do que isso é que você simplesmente aceita esta situação, como se as cotas fossem algum tipo de band-aid para uma ferida aberta que continuará infeccionada.

    Ocorre que há muitos, muitos motivos para haver menos pobres e, consequentemente, negros nas universidades. O racismo não é a questão. Não é a única questão, pelo menos.

    Muito além de questões raciais, temos os problemas mais fundamentais no que diz respeito a infra-estrutura do ensino, desde o ensino fundamental. Como a maioria dos negros é pobre e a maioria dos pobres é negra, então o problema desta situação está na educação básica, que não tem qualidade e não consegue dar fundamentos para alavancar a situação destas pessoas, sejam brancas ou negras. Simplesmente, o ensino médio e fundamental no país sofre com um déficit de qualidade, deixando a desejar e dificultando a entrada de pessoas no mercado de trabalho.

    Ainda temos, fora isso, a questão moral e da educação que vem de casa. O problema é antigo. Trata-se de pais que também tiveram uma má educação no passado e que não conseguem, simplesmente, criar seus filhos pelos caminhos mais promissores, por que eles próprios não foram promissores.

    Enfim, a cota racial é placebo. Com ou sem ela, negros continuarão a ter uma educação de baixíssima qualidade, igual aos brancos. Por isso, sou a favor somente da cota social, que ajudaria proporcionalmente mais os negros do que os brancos e que serviria para resolver somente as questões relacionadas ao financeiro das pessoas.


    Para mim, é isso.
    Faça suas considerações finais e vamos embora.
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  9. Eu confesso que fiquei impressionado com a evolução argumentativa do meu adversário, mas ainda está distante do ideal. Eu acredito que o problema seja a necessidade que ele tem em depreciar os argumentos do outro, como se os argumentos dele não fossem suficientes para convencer quem os leem.

    Eu não vou entrar no mérito do significado da palavra democracia - mesmo porque não é esse o tema do debate. Mas pelo visto, você não discorda só de mim quanto ao significado de democracia, mas de todos os ministros do STF (Superior Tribunal Federal), visto que o significado que defendi foi o mesmo defendido pelos ministros do STF no julgamento das cotas raciais. Mas você com certeza entende mais do termo que os ministros da mais alta corte desse país. E para sustentar o que diz você me sugere a leitura de um livro que, apesar de não mencionar, discorre sobre as conjunturas que levaram a Europa, não o Brasil, cujo realidade é completamente diferente, à primeira e à segunda guerras mundiais.

    Mas o pior estava por vir. O meu oponente compara as condições precárias de trabalho dos imigrantes que vieram trabalhar na colheita do café após a abolição com os três séculos de escravidão no Brasil, para, em seguida, concluir que ambos são a mesma coisa. De fato três séculos de escravidão e castigos físicos se equiparam às reivindicações por melhores condições de trabalho; a saber, mesmo sendo esse trabalho livre e remunerado, como no caso dos imigrantes.

    O meu adversário parece que não leu a minha tréplica, visto que eu havia argumentado que a cota social não garante a entrada do número necessário de negros na universidade. E não garante mesmo! Até dei o exemplo da USP, que mesmo com o Inclusp, o programa de inclusão social da USP, tem ainda um número desprezível de negros na universidade; em 2010 e 2011 um preto sequer entrou na USP, mesmo com o programa de cota social da instituição.

    Você me colocou uma situação que na realidade é bastante improvável. Mas analisemos. Mesmo que em um processo seletivo entre cotistas houvesse um número reduzido de bons candidatos de modo que a instituição tivesse que escolher alguns candidatos ruins, digo que o mesmo vale para um processo seletivo convencional, tanto é que em alguns cursos o índice de abandono de curso é bastante elevado. Mas para a surpresa de todos, o abandono de curso, entre os cotistas, é 57% menor quando comparado aos não-cotistas; a saber, as notas deles são mais altas que as dos demais alunos, revelou uma pesquisa da Uerj.
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  10. Sobre os negros com uma situação econômica favorável, concordo com você. Mas isso não significa que não se deve adotar o sistema de cotas raciais como um instrumento de justiça social. É por isso que hoje a maioria das universidades que usa o sistema tem buscado um aprimoramento do processo de seleção, como a UnB. Foi devido aos problemas que citou que o sistema de cotas raciais adotado pela UnB foi julgado pelo STF, que o considerou legal. Esse é um sistema que está em fase de experimentação, portanto, é normal que surjam distorções. Fica a cargo da universidade aperfeiçoar o sistema de modo a corrigir as distorções e adaptá-lo às particularidades da instituição.

    O desinformado é o meu oponente. Taís Araújo foi a primeira protagonista negra de uma novela quando interpretou a personagem Helena, do novelista Manoel Carlos. Ao final do texto posto uma notícia de um site da própria Globo. Mas isso foi um termo acessório. Pergunto-me se com toda retórica que você diz ter, você não tivesse nada mais importante para ser dito em relação ao tema.

    Eu não disse que as cotas são a solução dos problemas da educação pública brasileira. Mas convenhamos, na sua opinião, levando em conta que estamos no Brasil, quantos anos levaríamos para melhorar a rede pública de ensino fundamental e médio? Nas previsões mais otimistas, cinquenta anos, talvez.

    E o que iremos dizer aos estudantes das escolas públicas? Que esperem uns cinquenta anos até melhorarmos a educação para que então possam entrar na universidade? Levando em conta que uma parcela morreria nesse ínterim, os que sobrassem não entrariam na universidade com menos de 70 anos, o que é absurdo! Antes um ensino ruim com gente passando na universidade com cota do que um ensino ruim com uma massa fora da universidade e sem meio algum de se sustentar e sustentar o Estado, pois quando a pessoa se forma, pode consumir e tributar. As cotas teriam efeito placebo só se não resolvessem o problema da falta de mão-de-obra qualificada. Mas resolvem! Os cotistas abandonam menos os cursos, tendem a valorizar mais a vaga e a se esforçar de modo que têm notas maiores que os não-cotistas. Nos EUA mesmo, segundo a Comissão de Direitos Civis Americana, desde que foram adotadas as cotas raciais, a porcentagem de negros na classe média aumentou de 13 para 51%, isto é, mais gente consumindo e pagando impostos - menos gente dependente do Estado.
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  11. Sobre a Taís Araújo, a primeira protagonista negra de uma novela das oito:

    http://colunas.revistaepoca.globo.com/60anosdetv/2010/09/20/entrevista-tais-araujo/
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  12. Não estou certo de que seria necessário eu postar essas considerações finais, visto que não há mais nada a ser dito.

    Como pode ver, você repetiu o argumento sobre a novela da globo, ignorando o que eu disse. De fato, me perguntou se eu não teria nada a dizer sobre o assunto além do que disse, e eu te respondo: Não. Não tenho mais nada a dizer sobre o assunto. Eu te apresentei UM fato que desmente sua afirmação. Você disse que a primeira novela brasileira a ter uma protagonista negra foi em 2010, e eu te disse e mostrei que não. Aliás, a MESMA atriz, Taís Araújo, é que foi protagonista na novela que eu lhe informei, "Da cor do pecado", de 2004. Ainda temos outras atrizes e atores de cor que aparecem na tela da TV há muitos anos, como Camila Pitanga, por exemplo, que já foi protagonista em muitas novelas.

    Enfim, este não é o tema do debate e sua citação a ele só me faz pensar que seus argumentos sobre a cota se esvaíram já na réplica. Você recorreu, novamente, a um argumento fora de contexto.

    Mas, como pode ver, em momento algum eu desmenti os dados que você apresentou sobre as cotas, nem sobre o índice de pobreza entre os negros, nem sobre o fato de cotistas terem melhores notas. E por que eu não desmenti esses argumentos? Por que, diferente de você, sou honesto em reconhecer argumentos que são fatuais. Seria ridículo eu fazer como você e tentar desmentir dados verídicos. Simplesmente, é desonesto. O fato é que você tem razão quanto aos índices de pobreza entre os negros, e isso tem mesmo um viés histórico relacionado ao fim da escravidão. Então, só posso dizer que até aí você tem toda razão. Mas a questão é que a escravidão acabou faz tempo e dizer que hoje em dia o negro ainda serve ao branco como escravo me parece um argumento bem falacioso.

    Você ainda usou bem no início deste debate o argumento pessoal a respeito de você ser o único negro na instituição em que estuda. Eu sou mestiço, filho de pai negro e mãe branca, de origem portuguesa, diga-se de passagem. Se eu tivesse o mesmo pensamento que você a respeito de escravidão, talvez também tivesse o mesmo comportamento. Mas não é bem o que acontece.

    Mas, ridículo mesmo é seu primeiro parágrafo, o do "ad populum". Para alguém que, justo neste parágrafo, me critica por "depreciar os argumentos do adversário", pareceu algo bastante suspeito. Além disso, não depreciei os seus argumentos em momento algum antes da tréplica, apenas discordei deles, o que é muito diferente.
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  13. Novamente, devo dizer que você não conseguiu contrapor meus principais argumentos. São eles os seguintes:

    1 - Se a maioria dos pobres é negra, então os mais beneficiados por um cota social seriam proporcionalmente negros.
    Sobre isso, você colocou diversos pensamentos que ainda sustentam minha afirmação.

    2 - Se há negros com capacidade financeira de pagar uma faculdade, eles também poderiam usar uma cota racial para conseguir bolsa, mesmo sem necessidade.
    Quanto a isso você diz que cada universidade pode adotar um modelo diferente e modificar o processo. Mas a questão é que se só impedirem de alguma forma que um negro rico consiga uma bolsa de estudos, então a conta deixa de ser racial, e passa ser social. Simples.

    Quanto ao trabalho dos imigrantes, em momento algum eu comparei com a escravidão. O que disse é que muitos deles ganhavam pouco em condições péssimas de trabalho, por que foram iludidos com falsas promessas antes de largar sua terra natal e vir para cá. Logo, também teríamos uma dívida com eles, se fosse ver por esse lado.

    Agora, se o seu argumento em prol das cotas raciais é o mesmo defendido pelo STF eu não sei. O que sei é que se isso for verdade, não torna o argumento mais ou menos verdadeiro, ainda mais se levarmos em conta que o STF, embora não devesse, costuma tomar decisões muito mais populistas do que propriamente jurídicas. E também não acho que preciso mencionar algumas condutas questionáveis dos ministros, não é? Ademais, o que estamos discutindo não é sequer uma questão jurídica, e sim uma questão moral, histórica. Não se trata de discutir se os negros têm ou não direito de entrar na universidade, por que isso obviamente eles têm.

    E francamente, seu argumento em prol da cota que apresenta o fato de haver menos desistentes e também notas melhores entre os cotistas mais uma vez ajuda a reforçar tudo o que disse. O que importa, mesmo, é a questão social. As pessoas mais pobres, por terem menos, valorizam muito mais o que têm. Claro que isso não se aplica para todos, mas para a maioria. Então, a não ser que você tenha algum dado apresentando uma desistência menor entre os cotistas negros do que entre os cotistas brancos, ou um dado que mostre notas melhores entre os cotistas negros do que entre os brancos, só posso dizer que seu argumento não serva para nada e não sustenta sua tese em defesa da cota racial.


    No fim, toda sua argumentação é baseada em sofismas. Você apresenta uma porção de dados que são factuais mas os utiliza para defender uma tese totalmente falsa. Simplesmente isso. O que sugiro, então, é que no futuro você use estes dados contra alguém para defender a cota social, por que para isso eles servem plenamente. Mas é uma pena que eles não sirvam agora para defender a cota racial. Isso não te ajuda neste debate, mas pode te ajudar no futuro.

    Contudo, vejo que teve uma evolução considerável neste debate. Sua argumentação, embora repleta de sofismas, teve muito mais coesão e você conseguiu discutir o assunto do debate, o que é um avanço bem grande pra você.

    No mais, desejo boa sorte daqui pra frente.
    Até.

14 comentários:

  1. DESMISTIFICANDO O TEMA

    1º MITO: NÃO HÁ RAÇAS NA ESPÉCIE HUMANA

    O que é raça? Segundo a biologia, quando uma população de uma mesma espécie é dividida em duas populações por uma barreira natural intransponível, de modo que a troca de genes entre cada uma das populações é interrompida, após um período de tempo suficientemente longo, caso o isolamento geográfico seja interrompido, e as populações não tenham chegado a um isolamento reprodutivo, cada uma das espécies constitui uma subespécie ou raça. É o caso da espécie humana no que tange às raças branco-europeia, negro-africana, amarelo-asiática e índio-americana; a seleção natural e a mutação genética não foram suficientes para isolar reprodutivamente as populações humanas isoladas geograficamente.

    2º MITO: O BRASIL É UM PAÍS MESTIÇO, E POR ISSO, NÃO HÁ MOTIVOS PARA A ADOÇÃO DE COTAS RACIAIS

    De fato, o Brasil é um país mestiço. Entretanto, a miscigenação não justifica a não adoção de cotas raciais. No período da escravatura, quando um senhor de escravos engravidava uma escrava, o filho que ela vinha a ter não era considerado branco ou negro, era considerado mulato, e a ele era dispensado o mesmo tratamento dado aos escravos; não raramente o tratamento era pior pois se tratava de um ser sem raça, meio branco, meio negro. Portanto, tanto pretos como pardos receberam a mesma herança de 358 anos de escravidão no Brasil: pobreza. Sim, caro duelista, a pobreza no Brasil tem cor e essa cor é a negra, a soma de pretos e pardos. Aos números: enquanto que 20% dos brancos estão abaixo da linha da pobreza, 41,7% dos negros estão nessa situação. Mais díspar ainda é a indigência entre brancos e negros: enquanto que a porcentagem de brancos indigentes é de 6,6%, a de negros é de 16,9%. Pior: dos 10% mais pobres, 74,2% são negros. Esses números são o retrato fiel de um Brasil desigual, em que brancos têm melhores e mais oportunidades que negros, uma nação que mesmo mestiça no rosto de cada brasileiro, mantém-se bicolor no olhar.

    3º MITO: O ABANDONO DE CURSO ENTRE OS COTISTAS É MAIOR
    Uma pesquisa da Uerj revelou que, entre os cotistas, o abandono de curso é 57% menor - e os índices de reprovação são menores que os dos demais alunos.

    Desde que as cotas raciais foram adotadas nos EUA, por exemplo, a porcentagem de negros na classe média passou de 13 para 51%, isto é, mais gente consumindo e tributando. No final, as cotas raciais melhoram toda a sociedade. Seja qual for a sua cor.

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  2. Certo.

    Com uma rápida pesquisa, encontrei vários sites importantes, incluindo o próprio Censo, que comprovam os dados que você colocou. Há alguma diferença entre uns e outros, mas nada muito considerável e que saia fora da margem de erro.

    Mas, por que ser contra as cotas raciais?

    Primeiramente, é hipocrisia chamar de tratamento de igualdade racial quando você está segregando as pessoas e as separando pro categorias. De fato, seria o mesmo que tentar acabar com a criminalidade prendendo as vítimas de crime.

    A cota racial cria uma barreira que separa brancos e negros ou pardos antes mesmo deles entrarem na faculdade. E sabe-se que a universidade já é um ambiente bem complexo para se frequentar no dia-a-dia.

    Contudo, levando em conta que os dados que você colocou estão corretos, então eu pergunto: Para quê cotas raciais?

    Se a maioria dos pobres é negra ou mestiça, então não é necessário ter uma cota para eles. Aliás, seria necessário ter uma cota apenas para pobres, pois então esta maioria de negros e pardos seria atingida proporcionalmente.

    Além disso, é preciso haver outros quesitos mais justos nesta questão. Um deles, é o mérito. É injusto que alguém que seja pobre e de pele clara, mas ao mesmo tempo seja esforçado nos estudos, tenha menos direitos do que um pobre negro que pode não ser tão esforçado assim. É necessário levar em conta a classe social por um motivo óbvio: pobres não tem como pagar a universidade, às vezes, nem o vestibular. Mas, e o mérito, onde é que entra?

    É uma atitude preconceituosa dar preferência pela cor, e não pelo esforço e pela classe social da pessoa. Alguém que seja negro e pobre sempre terá mais chances de entrar na universidade do que alguém que seja branco e pobre, e cá entre nós, não é justo.

    Logo, sou a favor somente da cota social. Se a maioria dos pobres é composta por negros ou pardos, então eles serão beneficiados proporcionalmente.

    Siga com seu raciocínio, caro colega.
    Estarei esperando atentamente.

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  3. Caro duelista, peço desculpa por não ter citado a fonte de tantos dados. Eles foram retirados da 3ª edição do estudo "Retratos das Desigualdades de Gênero e Raça" do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

    Primeiro, democracia não é tratar todos de forma igualitária. Democracia é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. Como tratar brancos e negros de forma igual sendo brancos e negros tão social e economicamente desiguais?

    De fato, as cotas raciais são um instrumento que privilegia quem é negro. Mas é justamente esse o objetivo! Mas o meu oponente se engana quando diz que as cotas raciais segregam os brasileiros. Quem segrega os brasileiros é a herança de 358 anos de escravidão no país - 358 anos o negro servindo o branco. As cotas raciais foram criadas justamente a fim de corrigir 358 anos de injustiça social: em 2001, 22% dos universitários eram negros, já em 2010, já eram 35%, segundo dados do Ministério da Educação. Você ainda vai continuar a dizer que as cotas raciais segregam alguma coisa? Não são as cotas raciais que criam barreiras, muito pelo contrário, elas derrubam barreiras: a da elitização do ensino em que só entra na universidade quem pode pagar boas escolas e bons cursinhos pré-vestibulares.

    Você ponderou uma pergunta importante: sendo os negros a maioria entre os pobres, por que não criar uma cota social ao invés de uma cota racial? Eu vou responder a essa pergunta com uma experiência pessoal. Ano passado eu estudava em uma das escolas mais caras do país cuja mensalidade era de R$ 1313 (mil, trezentos e treze reais). Certa vez, em uma discussão sobre as cotas raciais com um professor, ele me perguntou: quantos negros iguais a você estudam aqui? Foi aí que a ficha caiu: eu era o único. Foi então que aprendi que a maior distorção não é a distorção entre ricos e pobres, mas a distorção entre brancos e negros. Mais importante que a desigualdade de cunho econômico é a desigualdade de cunho racial. Não é possível passar a borracha nos 358 anos de escravidão no Brasil e cantar conforme o Hino da Proclamação da República:

    "Nós nem cremos que escravos outrora
    Tenha havido em tão nobre país..."

    Você também ponderou sobre a questão do mérito, entretanto, o mérito é um critério justo apenas entre aqueles que tiveram oportunidades semelhantes.

    É pelo branco pobre que também sou favorável às cotas sociais. Ocorre que ela sozinha não é suficiente para corrigir a injustiça-mor: a herança dos 358 anos de escravidão no Brasil.

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  4. Legal.

    Você começou a viajar quando falou em democracia, já no segundo parágrafo, dando a entender que eu havia mencionado algo a respeito. Então, entenda uma coisa: a questão das cotas raciais foge e muito ao escopo daquilo que podemos chamar de democracia. Enquanto a cota visa oferecer, de forma direta, direitos extras para determinado grupo em aparente desvantagem, a democracia versa sobre o direito de escolha e livre expressão de todos, e não só de determinadas classes oprimidas ou das elites. Pelo menos, assim é que deveria ser.

    Mas o seu argumento é totalmente vazio quando menciona a desigualdade social evidente entre negros e brancos, não por que seja errado, mas por que você interpreta a questão de uma maneira bastante obtusa. Esse pensamento de que "negros" servem os "brancos" é pífio. Obviamente isso aconteceu no passado, mas as coisas hoje são bem diferentes. E não estou dizendo que não exista racismo ou desigualdade, o que digo é que sua interpretação da realidade está simplesmente evitando a leitura do contexto no qual vivemos.

    E o ponto mais importante de meu argumento, o que você deveria ter refutado, deste você nem passou perto. Simplesmente tentou ludibriar a ti mesmo com ideias vazias que em nada contribuíram para a questão. Ou seja, você não conseguiu contrapor meu argumento inicial, que por sinal, é baseado no seu, que é:

    "Se a maioria dos pobres é negra ou mestiça, então não é necessário ter uma cota para eles. Aliás, seria necessário ter uma cota apenas para pobres, pois então esta maioria de negros e pardos seria atingida proporcionalmente." (Roger)

    E ainda por cima, você ajuda a sustentar este argumento quando diz:

    "Não são as cotas raciais que criam barreiras, muito pelo contrário, elas derrubam barreiras: a da elitização do ensino em que só entra na universidade quem pode pagar boas escolas e bons cursinhos pré-vestibulares." (Patrick)

    Quando você diz isso, fica evidente que até mesmo para você o que importa é a condição social, independente da cor. Simplesmente por que você menciona o fato de alguém não poder pagar o curso que deseja em uma escola de qualidade. A elitização do ensino sempre aconteceu por que há pessoas com muito dinheiro e pessoas com pouco dinheiro e, embora poucas, ainda assim existem pessoas negras que são bem sucedidas financeiramente, o que significa, então, que estas pessoas também seriam beneficiadas por uma cota racial mesmo tendo plenas condições de pagar pela faculdade, só por que são negras!

    E, por fim, seu último suspiro:

    "Você também ponderou sobre a questão do mérito, entretanto, o mérito é um critério justo apenas entre aqueles que tiveram oportunidades semelhantes." (Patrick)

    Pois é, meu caro. Aí é que está. Negros e brancos ricos teriam oportunidades iguais, assim como os negros e brancos pobres teriam oportunidades iguais também. Isto, é claro, se fossem aplicadas somente as cotas sociais, e não raciais, como você está querendo dizer. Aí, neste caso, pode e deve ser aplicado também a questão do mérito.

    E tem outro ponto negativo sobre as cotas raciais que eu devo mencionar na tréplica, caso você ainda queira insistir.

    Até mais.

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  5. Caro duelista,

    Democracia, em um sentido restrito, de fato, versa sobre os direitos de escolha de cada indivíduo. Todavia, em um sentido geral, democracia diz respeito à situação de igualdade entre os diferentes grupos que compõem um povo: igualdade que não existe entre brancos e negros em nosso país.

    É pela democracia que deficientes físicos têm mais direitos que pessoas sem deficiência física, por exemplo, a fim de que todos possam ir e vir livremente e com dignidade. Se para você democracia é tratar todo mundo da mesma maneira, desconsiderando as particularidades e deficiências de cada um, então você desconhece o real significado da palavra democracia.

    É inegável pelos números citados em minhas considerações iniciais que o negro está a anos-luz de distância do padrão de vida e consumo da elite branca desse país. Foram 358 longos anos de trabalho gratuito ao branco e muitos açoites em caso de desobediência ao senhor branco escravocrata.

    Os segundos transcorridos na assinatura da Lei Áurea não puderam apagar os três séculos de injustiças contra um mesmo povo: o povo negro, cujos braços fortes construíram os alicerces que sustentam esse país até hoje e cujo brado resistiu com orgulho e serenidade à violência dos açoites.

    Não posso concordar com a ideia de que o negro não mais serve o branco. Isso ainda ocorre. Quase sempre o que mais vejo é um negro servindo um branco. Até pouco tempo atrás nas telenovelas os empregados domésticos eram todos negros. A primeira protagonista negra de uma novela somente ocorreu em 2010 na novela Viver a Vida. É claro que nesse caso a atriz não precisou de cota nenhuma. Na Globo somente há espaço para o mérito. Eu gostaria que na educação também fosse assim. Se o Estado garantisse educação de qualidade para todos, independente de classe social, sexo, raça, não necessitaríamos de cota nenhuma: todos poderiam competir por uma vaga na universidade em situação de igualdade de modo que apenas o mérito fosse importante. Mas analisando a realidade da rede pública de ensino fundamental e médio no Brasil, melhorar a qualidade da educação oferecida aos alunos tem se tornado uma utopia - essa que é a verdade.

    Você me colocou diante de um argumento importante (se também não fosse o único argumento que tem): sendo a maioria dos negros pobres, por que então não criar uma cota social ao invés de uma cota racial? Não seria o mais coerente visto o número relativamente grande de brancos pobres?

    Eu concordaria com você caso a prática seguisse a teoria. Acontece que com as cotas sociais, mesmo os negros sendo a maioria entre os pobres, o maior beneficiado continua sendo o branco. Na USP, por exemplo, em 6 anos, somente 0,8% dos estudantes matriculados em cursos de ponta eram negros, mesmo a universidade possuindo um programa de inclusão social, o Inclusp, que apenas em 2012 foi responsável pela matrícula de 28% de alunos de escolas públicas, ou seja, mesmo entre pessoas com uma mesma faixa de renda per capita, os mais carentes continuam sendo os negros. Em 2010 e 2011, nenhum preto passou na FUVEST. Em 2011 os pardos foram 6,7% dos alunos matriculados. Uma vergonha para o estado que tem 34,6% da população composta por pretos e pardos. Uma vergonha para o Brasil, que tem 50,7% da população composta por pretos e pardos, o povo negro.

    E essa foi a tréplica. Espero que você não fique com o mesmo argumento do branco pobre - das cotas sociais. Já lhe disse que sou favorável às cotas sociais. Mas lhe disse também que elas sozinhas não solucionam o problema das desigualdades em todas as esferas entre brancos e negros.

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  6. Você simplesmente repetiu o argumento de antes, sem refutar o meu. E ainda usou falácias para sustentar estas mesmas considerações.

    Mas, vamos lá:

    Democracia é liberdade, não é igualdade. O que diferencia a liberdade da igualdade é que a primeira te dá direitos iguais aos de todos, dentro de suas possibilidades. A outra, por querer igualar todos de forma além ou aquém daquilo que é merital, acaba minando liberdades. O que vemos hoje no Brasil é uma tentativa falha de igualar as pessoas dentro de uma sociedade culturalmente divergente. Nem mesmo nos países mais "puros" no sentido de raça ou credo há igualdade. E, diga-se de passagem, nos países mais livres e menos igualitários é onde os melhores índices de educação. São países estes como a Suíça, a Suécia, entre outros tantos.

    A liberdade, de modo geral, é a grande responsável, no fim das contas, pro igualar as oportunidades.

    Enfim, para sustentar o que digo, sugiro a leitura de "Liberdade vs. Igualdade", de Demétrio Magnoli. Ele é sociólogo e explica bastante esta divergência no sentido histórico, apesar de não tratar de questões tão contemporâneas.

    Agora, a repetição de seu argumento sobre a escravidão ser uma dívida dos brancos com os negros é totalmente despropositada. A abolição já se foi há muito tempo e a situação, hoje, é muito diferente no que diz respeito a isso. Se você fosse analisar desta forma, então teríamos uma dívida com todo mundo, por que também foram trazidos imigrantes orientais ou italianos para cá, por exemplo, no sul, que trabalharam nas terras de maneira forçada. Se fosse assim, teríamos uma dívida ainda maior com os índios do que com os negros, tendo em vista que além da escravidão indígena, os índios foram usurpados de terras que eram deles. E assim vai. Toda injustiça histórica teria que ser cobrada, hoje. Já pensou?

    O fato é que seu argumento esvazia totalmente quando menciona essas falácias. A cota racial continua sendo desnecessária sob qualquer aspecto, pois, como já disse, proporcionalmente havendo mais negros do que brancos entre os pobres, então mais negros do que brancos seriam beneficiados.

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  7. Fora isso, há ainda outros dois fatores importantíssimos que batem de frente com o que você diz.

    1 - A cota para negros sendo prevista em lei, obrigaria, naturalmente, as universidades a preencherem estas cotas. Ocorre que, dentre os candidatos a uma vaga, existem os bons, os regulares e os ruins. Então, supondo que não houvesse um número tão grande de negros participando do processo, a universidade teria que escolher entre seus candidatos até mesmo aqueles que não fossem bons, apenas por que seria a única forma de preencher a cota.

    2 - Depois, você não refutou meu argumento sobre o negro que possua situação financeira favorável. Quer dizer que alguém que tenha dinheiro para pagar a faculdade teria mais chances de entrar na vaga por uma bolsa, somente por ser de cor negra? Você não mencionou isso em sua tréplica. Estranho!

    Mas a afirmação mais falaciosa e talvez até desonesta de sua parte foi a seguinte:

    "A primeira protagonista negra de uma novela somente ocorreu em 2010 na novela Viver a Vida." (Patrick)

    Esta afirmação beira o ridículo. Existem atrizes negras ou "pardas" em novelas desde a década de 90 e com certa frequência. A questão é que, na realidade, não existem tantas atrizes negras, o que pode sr devido a "n" fatores que vão além de nossa compreensão.

    E para derrubar sua afirmação, eu cito o caso da novela "Da cor do Pecado", de 2004. Nela, Taís Araújo fazia o papel principal. E há ainda muitas outras novelas, mas eu não acho que você seja tão obtuso que não possa pesquisar sozinho, não é? Não vou dar a você tudo mastigado como tenho feito.

    E, vamos lá.

    O que me chamou atenção e que, em parte você tem razão, é com relação ao problema corrente na educação de rede pública. Acontece que você erra no seguinte ponto:

    "Eu gostaria que na educação também fosse assim. Se o Estado garantisse educação de qualidade para todos, independente de classe social, sexo, raça, não necessitaríamos de cota nenhuma: todos poderiam competir por uma vaga na universidade em situação de igualdade de modo que apenas o mérito fosse importante."

    Então, é nisso que você baseia sua argumentação? Quer dizer: Para resolver os problemas da educação, cota é a solução? Se é assim que você pensa, então eu afirmo que sua visão é extremamente simplista e limitada.

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  8. Com cotas ou sem cotas, se há problemas na educação do país, os negros vão continuar tendo uma educação de má qualidade, assim como os brancos. Cotas não são solução para problemas de educação como os que nós temos. Mas, pior do que isso é que você simplesmente aceita esta situação, como se as cotas fossem algum tipo de band-aid para uma ferida aberta que continuará infeccionada.

    Ocorre que há muitos, muitos motivos para haver menos pobres e, consequentemente, negros nas universidades. O racismo não é a questão. Não é a única questão, pelo menos.

    Muito além de questões raciais, temos os problemas mais fundamentais no que diz respeito a infra-estrutura do ensino, desde o ensino fundamental. Como a maioria dos negros é pobre e a maioria dos pobres é negra, então o problema desta situação está na educação básica, que não tem qualidade e não consegue dar fundamentos para alavancar a situação destas pessoas, sejam brancas ou negras. Simplesmente, o ensino médio e fundamental no país sofre com um déficit de qualidade, deixando a desejar e dificultando a entrada de pessoas no mercado de trabalho.

    Ainda temos, fora isso, a questão moral e da educação que vem de casa. O problema é antigo. Trata-se de pais que também tiveram uma má educação no passado e que não conseguem, simplesmente, criar seus filhos pelos caminhos mais promissores, por que eles próprios não foram promissores.

    Enfim, a cota racial é placebo. Com ou sem ela, negros continuarão a ter uma educação de baixíssima qualidade, igual aos brancos. Por isso, sou a favor somente da cota social, que ajudaria proporcionalmente mais os negros do que os brancos e que serviria para resolver somente as questões relacionadas ao financeiro das pessoas.


    Para mim, é isso.
    Faça suas considerações finais e vamos embora.

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  9. Eu confesso que fiquei impressionado com a evolução argumentativa do meu adversário, mas ainda está distante do ideal. Eu acredito que o problema seja a necessidade que ele tem em depreciar os argumentos do outro, como se os argumentos dele não fossem suficientes para convencer quem os leem.

    Eu não vou entrar no mérito do significado da palavra democracia - mesmo porque não é esse o tema do debate. Mas pelo visto, você não discorda só de mim quanto ao significado de democracia, mas de todos os ministros do STF (Superior Tribunal Federal), visto que o significado que defendi foi o mesmo defendido pelos ministros do STF no julgamento das cotas raciais. Mas você com certeza entende mais do termo que os ministros da mais alta corte desse país. E para sustentar o que diz você me sugere a leitura de um livro que, apesar de não mencionar, discorre sobre as conjunturas que levaram a Europa, não o Brasil, cujo realidade é completamente diferente, à primeira e à segunda guerras mundiais.

    Mas o pior estava por vir. O meu oponente compara as condições precárias de trabalho dos imigrantes que vieram trabalhar na colheita do café após a abolição com os três séculos de escravidão no Brasil, para, em seguida, concluir que ambos são a mesma coisa. De fato três séculos de escravidão e castigos físicos se equiparam às reivindicações por melhores condições de trabalho; a saber, mesmo sendo esse trabalho livre e remunerado, como no caso dos imigrantes.

    O meu adversário parece que não leu a minha tréplica, visto que eu havia argumentado que a cota social não garante a entrada do número necessário de negros na universidade. E não garante mesmo! Até dei o exemplo da USP, que mesmo com o Inclusp, o programa de inclusão social da USP, tem ainda um número desprezível de negros na universidade; em 2010 e 2011 um preto sequer entrou na USP, mesmo com o programa de cota social da instituição.

    Você me colocou uma situação que na realidade é bastante improvável. Mas analisemos. Mesmo que em um processo seletivo entre cotistas houvesse um número reduzido de bons candidatos de modo que a instituição tivesse que escolher alguns candidatos ruins, digo que o mesmo vale para um processo seletivo convencional, tanto é que em alguns cursos o índice de abandono de curso é bastante elevado. Mas para a surpresa de todos, o abandono de curso, entre os cotistas, é 57% menor quando comparado aos não-cotistas; a saber, as notas deles são mais altas que as dos demais alunos, revelou uma pesquisa da Uerj.

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  10. Sobre os negros com uma situação econômica favorável, concordo com você. Mas isso não significa que não se deve adotar o sistema de cotas raciais como um instrumento de justiça social. É por isso que hoje a maioria das universidades que usa o sistema tem buscado um aprimoramento do processo de seleção, como a UnB. Foi devido aos problemas que citou que o sistema de cotas raciais adotado pela UnB foi julgado pelo STF, que o considerou legal. Esse é um sistema que está em fase de experimentação, portanto, é normal que surjam distorções. Fica a cargo da universidade aperfeiçoar o sistema de modo a corrigir as distorções e adaptá-lo às particularidades da instituição.

    O desinformado é o meu oponente. Taís Araújo foi a primeira protagonista negra de uma novela quando interpretou a personagem Helena, do novelista Manoel Carlos. Ao final do texto posto uma notícia de um site da própria Globo. Mas isso foi um termo acessório. Pergunto-me se com toda retórica que você diz ter, você não tivesse nada mais importante para ser dito em relação ao tema.

    Eu não disse que as cotas são a solução dos problemas da educação pública brasileira. Mas convenhamos, na sua opinião, levando em conta que estamos no Brasil, quantos anos levaríamos para melhorar a rede pública de ensino fundamental e médio? Nas previsões mais otimistas, cinquenta anos, talvez.

    E o que iremos dizer aos estudantes das escolas públicas? Que esperem uns cinquenta anos até melhorarmos a educação para que então possam entrar na universidade? Levando em conta que uma parcela morreria nesse ínterim, os que sobrassem não entrariam na universidade com menos de 70 anos, o que é absurdo! Antes um ensino ruim com gente passando na universidade com cota do que um ensino ruim com uma massa fora da universidade e sem meio algum de se sustentar e sustentar o Estado, pois quando a pessoa se forma, pode consumir e tributar. As cotas teriam efeito placebo só se não resolvessem o problema da falta de mão-de-obra qualificada. Mas resolvem! Os cotistas abandonam menos os cursos, tendem a valorizar mais a vaga e a se esforçar de modo que têm notas maiores que os não-cotistas. Nos EUA mesmo, segundo a Comissão de Direitos Civis Americana, desde que foram adotadas as cotas raciais, a porcentagem de negros na classe média aumentou de 13 para 51%, isto é, mais gente consumindo e pagando impostos - menos gente dependente do Estado.

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  11. Sobre a Taís Araújo, a primeira protagonista negra de uma novela das oito:

    http://colunas.revistaepoca.globo.com/60anosdetv/2010/09/20/entrevista-tais-araujo/

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  12. Não estou certo de que seria necessário eu postar essas considerações finais, visto que não há mais nada a ser dito.

    Como pode ver, você repetiu o argumento sobre a novela da globo, ignorando o que eu disse. De fato, me perguntou se eu não teria nada a dizer sobre o assunto além do que disse, e eu te respondo: Não. Não tenho mais nada a dizer sobre o assunto. Eu te apresentei UM fato que desmente sua afirmação. Você disse que a primeira novela brasileira a ter uma protagonista negra foi em 2010, e eu te disse e mostrei que não. Aliás, a MESMA atriz, Taís Araújo, é que foi protagonista na novela que eu lhe informei, "Da cor do pecado", de 2004. Ainda temos outras atrizes e atores de cor que aparecem na tela da TV há muitos anos, como Camila Pitanga, por exemplo, que já foi protagonista em muitas novelas.

    Enfim, este não é o tema do debate e sua citação a ele só me faz pensar que seus argumentos sobre a cota se esvaíram já na réplica. Você recorreu, novamente, a um argumento fora de contexto.

    Mas, como pode ver, em momento algum eu desmenti os dados que você apresentou sobre as cotas, nem sobre o índice de pobreza entre os negros, nem sobre o fato de cotistas terem melhores notas. E por que eu não desmenti esses argumentos? Por que, diferente de você, sou honesto em reconhecer argumentos que são fatuais. Seria ridículo eu fazer como você e tentar desmentir dados verídicos. Simplesmente, é desonesto. O fato é que você tem razão quanto aos índices de pobreza entre os negros, e isso tem mesmo um viés histórico relacionado ao fim da escravidão. Então, só posso dizer que até aí você tem toda razão. Mas a questão é que a escravidão acabou faz tempo e dizer que hoje em dia o negro ainda serve ao branco como escravo me parece um argumento bem falacioso.

    Você ainda usou bem no início deste debate o argumento pessoal a respeito de você ser o único negro na instituição em que estuda. Eu sou mestiço, filho de pai negro e mãe branca, de origem portuguesa, diga-se de passagem. Se eu tivesse o mesmo pensamento que você a respeito de escravidão, talvez também tivesse o mesmo comportamento. Mas não é bem o que acontece.

    Mas, ridículo mesmo é seu primeiro parágrafo, o do "ad populum". Para alguém que, justo neste parágrafo, me critica por "depreciar os argumentos do adversário", pareceu algo bastante suspeito. Além disso, não depreciei os seus argumentos em momento algum antes da tréplica, apenas discordei deles, o que é muito diferente.

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  13. Novamente, devo dizer que você não conseguiu contrapor meus principais argumentos. São eles os seguintes:

    1 - Se a maioria dos pobres é negra, então os mais beneficiados por um cota social seriam proporcionalmente negros.
    Sobre isso, você colocou diversos pensamentos que ainda sustentam minha afirmação.

    2 - Se há negros com capacidade financeira de pagar uma faculdade, eles também poderiam usar uma cota racial para conseguir bolsa, mesmo sem necessidade.
    Quanto a isso você diz que cada universidade pode adotar um modelo diferente e modificar o processo. Mas a questão é que se só impedirem de alguma forma que um negro rico consiga uma bolsa de estudos, então a conta deixa de ser racial, e passa ser social. Simples.

    Quanto ao trabalho dos imigrantes, em momento algum eu comparei com a escravidão. O que disse é que muitos deles ganhavam pouco em condições péssimas de trabalho, por que foram iludidos com falsas promessas antes de largar sua terra natal e vir para cá. Logo, também teríamos uma dívida com eles, se fosse ver por esse lado.

    Agora, se o seu argumento em prol das cotas raciais é o mesmo defendido pelo STF eu não sei. O que sei é que se isso for verdade, não torna o argumento mais ou menos verdadeiro, ainda mais se levarmos em conta que o STF, embora não devesse, costuma tomar decisões muito mais populistas do que propriamente jurídicas. E também não acho que preciso mencionar algumas condutas questionáveis dos ministros, não é? Ademais, o que estamos discutindo não é sequer uma questão jurídica, e sim uma questão moral, histórica. Não se trata de discutir se os negros têm ou não direito de entrar na universidade, por que isso obviamente eles têm.

    E francamente, seu argumento em prol da cota que apresenta o fato de haver menos desistentes e também notas melhores entre os cotistas mais uma vez ajuda a reforçar tudo o que disse. O que importa, mesmo, é a questão social. As pessoas mais pobres, por terem menos, valorizam muito mais o que têm. Claro que isso não se aplica para todos, mas para a maioria. Então, a não ser que você tenha algum dado apresentando uma desistência menor entre os cotistas negros do que entre os cotistas brancos, ou um dado que mostre notas melhores entre os cotistas negros do que entre os brancos, só posso dizer que seu argumento não serva para nada e não sustenta sua tese em defesa da cota racial.


    No fim, toda sua argumentação é baseada em sofismas. Você apresenta uma porção de dados que são factuais mas os utiliza para defender uma tese totalmente falsa. Simplesmente isso. O que sugiro, então, é que no futuro você use estes dados contra alguém para defender a cota social, por que para isso eles servem plenamente. Mas é uma pena que eles não sirvam agora para defender a cota racial. Isso não te ajuda neste debate, mas pode te ajudar no futuro.

    Contudo, vejo que teve uma evolução considerável neste debate. Sua argumentação, embora repleta de sofismas, teve muito mais coesão e você conseguiu discutir o assunto do debate, o que é um avanço bem grande pra você.

    No mais, desejo boa sorte daqui pra frente.
    Até.

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  14. Eu sou contra qualquer sistema de cotas por acreditar que a meritocracia é o principal motivo pelo qual as universidades brasileiras são um dos poucos orgãos públicos que realmente funciona, sendo melhores que as privadas justamente por que possuem melhores mecanismos de seleção.

    Cotas (raciais ou sociais) são medidas assistencionalistas que só servem para reafirmar condutas populistas e pior, prejudicam, e muito, o sistema de avaliação das instituições.

    Eu acredito até mesmo que o Patrick Brito concorde com isso, mas que tenha usado a oportunidade do duelo para treinar a retórica com uma tese que não concordava e até já conhecia seus furos.

    Ele deve ter usado os melhores argumentos para se defender o sistema de cotas, o que infelizmente é muito pouco, pois o Roger teve facilidade em mostrar as contradições, que são ainda maiores quando se fala em cotas por raça do que em cotas sociais.

    De qualquer forma, parabéns aos debatedores.

    O vencedor é aquele que aprende mais, não quem recebe mais votos na enquete. Sendo assim, às vezes é preferível perder nas enquetes, para se ganhar em outros pontos muito mais importantes. Mas isso só percebe quem tem maturidade para isso. Espero que seja o caso do Patrick.

    Até mais!

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