quinta-feira, 1 de março de 2012

Alonso X Octávio - Nietzsche





• Alonso Prado

• INTRODUÇÃO


• A maioria das pessoas que cresceram em ambientes onde havia uma moral religiosa fortemente imposta como modelo de convivência como se fosse algo sem alternativa de forma de pensar e viver busca na obra de Nietzsche respaldo teórico para uma forma de pensar e de se auto-afirmar com indivíduo racional e dotado de profundo conhecimento sobre verdades humanas as quais realmente não detém de forma fecunda. Ou seja, vivem numa ilusão consciente.

Para quem segue a cartilha de Nietzsche cegamente o primeiro passo é seguir a mesma tendência do próprio Nietzsche como descrito em Ecce Hommo e auto promover os porquês de ser tão inteligente rompendo exatamente com a experiência religiosa pré condicionada na vida de cada ser.

É nesse ponto que reside a ilusão do saber e de acha ter de forma racional as respostas para diversas questões humanas a partir de uma formulação de pressupostos que foram dados prontos, ou seja, como experiência terminada e pronta que deve ser aceita moralmente sem que nunca tenhamos experimentado de fato, não é apenas o que nos foi dado de forma pré-condicionada, mas sim aquilo que está de inato em nós mesmos o qual jamais investigamos de forma fidedigna que Nietzsche que atacar propriamente em sua filosofia.

Por tal razão há na obra de Nietzsche severas críticas ao pensamento socrático, como por exemplo, no livro o Crepúsculo de Ídolos onde ele trata do “Problema de Sócrates”. E qual é afinal o problema de Sócrates para Nietzsche? Não é nenhum senão outro, do que viver e compreender a realidade de forma fidedigna e não a ocultá-la por valores que existem apenas na dimensão abstratas de nossas idéias, mas que de fato não se aplicam a realidade sensível que vivemos. Para Nietzsche a nossa experiência humana vital cercada de ídolos e artifícios que nos pré-condicionam, como a religião por exemplo prático, é algo danoso, mas por outro compreender a realidade com os reais valores que são intrínseco em si mesma é um mal pior ainda.

Para tornar claro isso, vale citar que o ser humano é um ser que vive em constante incômodo consigo mesmo. Relutando em aceitar diversas de suas condições mais naturais como algo inerente a sua experiência humana e tenta a todo momento driblar uma série de questionamentos e situações para escapar desses elementos reais criando mecanismos ideológicos que lhes dê conforto psicológico e intelectual para, nada mais nada menos, se anestesiarem da realidade.

Desta forma, por toda sua vida o próprio Nietzsche passou negando muitas de suas maiores realidades e construindo mecanismos dos mais eruditos e refinados que sua inteligência poderia lhe dar como ferramenta para escapar de si mesmo e criar uma forma de mito para uma consciência nula de realidade.

Não é por acaso que Nietzsche prefere o pensamento dos pré-socráticos, pois neles a transformação, e a verdade são elementos relativos que podem ser moldados por mediações de como vemos e entendemos as coisas, e jamais por um ponto cerne fixo que delimite toda nossa experiência a um fim profuso no seu modo de entender. Entretanto, o maior testemunho disso não está na obra de Nietzsche, mas sim em como ele viveu seus dias.

Essa ressalva é importante e para fazer um paralelo vale citar Leon Tolstoi e seu testemunho de vida em negar aquilo que era verdadeiro e concreto para optar pela ideologia que ocultava sistemicamente e transvalorava para uma realidade de como ele queria aceitar as coisas, ou seja, a sua forma de ver e não como ela deveria ser aceita.

Outro aspecto é que basicamente encontramos no pensamento de Darwin uma premissa antagônica a esse modo de encarar os fatos, pois nessa tese evolui quem se adapta ao meio que vive. Não obstante disso, atualmente dentro da nossa sociedade influenciada pelo marxismo, onde a realidade deve seguir determinado script por nós imposto as idéias de Nietzsche fornecem todos os elementos necessários para que cada um, que o segue cegamente como uma cartilha passe a realizar uma auto “transvaloração de todos os valores” e se torne paulatinamente aquilo que não é, ou alguém totalmente distante de sua originalidade, porque de fato não conhece o que há de inato em si mesmo.

Deixo essa fermata nesse ponto da minha introdução propositalmente, pois espero que o meu oponente divirja desse meu ponto de vista e contemple dentro da própria obra de Nietzsche contra argumentos convincentes que sustentem que a vida e obra do mesmo não foi em vão e que hoje não é cultuada por uma maioria de pessoas sem cognição de si mesmas.






Octávio Henrique

INTRODUÇÃO


Caro oponente, o debate que viremos a travar será, sem dúvidas, extremamente polêmico. Afinal, quando se fala sobre Friedrich Wilhelm Nietzsche, um pedagogo diferenciado e crítico de religiões de todos os lados do globo, pode-se discutir em diversas frentes, dentre elas a religiosa e moral, a educacional e a intelecto-cultural.

Assim sendo, esta minha introdução será usada para desenvolver um raciocínio a ser estendido para cada uma das três frentes supracitadas, além de refutar algumas colocações feitas por meu adversário.

Primeiro, na frente religiosa e moral, Alonso colocou com propriedade que a filosofia Nietzschiana é usada como fator de libertação para aqueles os quais foram criados em ambientes ultrarreligiosos e conservadores. Entretanto, há um erro crucial em sua argumentação: Nietzsche não impõe verdades absolutas sobre o ser humano. Aliás, além de criticar Kant e outros por isso, Nietzsche também condena a todos aqueles que pretendem fazer da razão o meio único de descoberta de si mesmos. Segundo o filósofo, nem religião e nem razão serão o meio de descoberta para o ser. Isso caberia aos nossos instintos, cada vez mais suprimidos pelo ideal ascético religioso e/ou pelo cientificismo excessivo.

Já que falei em ascetismo, eu coloco a luta de Nietzsche contra esse ideal ascético religioso como seu legado mais importante no tocante à filosofia religiosa. As pessoas muitas vezes tendem a se esquecer da vida terrena e começam a agir de modo a atingir uma transcendentalidade criada com base na irracionalidade da fé. Além disso, essas pessoas tentam impor seu ideal de moral escrava aos não-fiéis, o que as torna prosélitas por algo que não podem provar racionalmente, e também passam a viver como fracos humildes. Está aí a maior luta de Nietzsche, e sua grande coerência: Será mesmo que somos humildes por instinto? Não seriam todos esses dogmas ascéticos um fator de coerção para com nossos desejos mais escondidos?

Agora, vem a segunda frente, e a que realmente me fez admirar Friedrich: A educacional. Nietzsche propõe uma experiência única e diferenciada. Meu oponente diz que Nietzsche criticou Sócrates porque este procurava sempre um conceito para todas as coisas e repudiava as interpretações pessoalizadas de alguma coisa. Exato. Mas a crítica mais coerente de Nietzsche foi ao setor educacional. Mesmo tendo Sócrates lutado bravamente contra a lógica dos sofistas, ele mesmo criou um conceito o qual perdura até hoje nas escolas de todo mundo: o ideal. Estudamos as coisas de modo abstrato e pouco prático, procurando conceitos absolutos e imutáveis para rotular o mutável. A prática é minimizada e as teorias acabam por ter sentido incompleto.

Nietzsche, ao contrário, ouvia as opiniões de seus alunos, e só exigia deles uma coisa: Que não o decepcionassem. Ele não queria conceitos fixos sobre o que não é imutável, e nem respostas cheias da velha e rançosa “decoreba”. Queria ideias novas. Queria novos valores. Talvez fosse por isso que ele adorasse tanto os pré-socráticos, principalmente ao filósofo do Devir: eles não se prendiam aos rançosos conceitos de seus antecessores, e mantinham constantes os debates para tentar formular novas ideias e novos valores, fazendo assim a chamada transvaloração de valores.

Por último, na frente intelecto-cultural, Nietzsche foi genial ao perceber e colocar a filisteização da cultura, ou seja, a formação de especialistas em uma só área, tão incentivada pelo cientificismo excessivo positivista. E provou, também, que essa filisteização afasta o ser de seu lado crítico e também de seus instintos, sendo danosa para a sociedade como um todo. Paradoxalmente, também provou que esse era o objetivo do Reich (hoje de qualquer Estado), pois reduziria o senso crítico de seus indivíduos e lucraria com o bom e especializado trabalho.

Por último, há um paradoxo na forma como meu oponente coloca a teoria de Darwin para refutar o pensamento do filósofo alemão. Primeiro que na teoria Darwiniana a seleção é natural, feita pelas condições impostas às espécies pela natureza, e não pela espécie em si. O outro fator é que meu oponente fala em adaptação e evolução juntas. Ora, meu amigo, evolução requer mudança. Será mesmo que se adaptar a valores criados há mais de 5000 anos (afinal, os valores criticados por Nietzsche são os da moral JUDAICO-cristã, tendo a religião judia se originado há mais de 5000 anos) servirá de algum proveito para o ser? Não seria melhor a constante renovação desses valores? Afinal, de que adianta um indivíduo se adaptar aos velhos valores impostos se esses mesmo valores são incoerentes com o panorama atual das coisas?

Passo a bola para meu nobre oponente.





Alonso Prado

RÉPLICA


Segundo o meu oponente houve um erro crucial em minha argumentação, pois segundo o entendimento risível dele sobre o bigodão de Rocken ele provavelmente enfartou ao redigir essa colocação isquêmica: “Nietzsche não impõe verdades absolutas sobre o ser humano”. E “Segundo o filósofo, nem religião e nem razão serão o meio de descoberta para o ser. Isso caberia aos nossos instintos, cada vez mais suprimidos pelo ideal ascético religioso e/ou pelo cientificismo excessivo”. Não seria mais fácil dizer que Nietzsche é um súdito da desconfiança e por ser assim ele mesmo declarou: “Desconfio de todos os criadores de sistemas e me afasto deles. A vontade de construir sistemas é uma falta de retidão”. Por outro lado, ele mesmo criou uma sistemática onde a razão dele era que importava no final das contas, pois ele mesmo diz: “O que me importa é que eu acabe por ter razão, e eu tenho razão demais sempre!”. Sabemos que Nietzsche era um ego maníaco desenfreado e ele mesmo dizia que: “Falta o melhor quando começa faltar o egoísmo”. Por tal razão, é que grande parte de seus seguidores são assim como ele egocêntricos e buscam na obra dele no fim das contas um sistema onde o ego possa ter sempre razão sobre qualquer fato ou situação. Logo, ele maneja isso como se fosse uma verdade absoluta e combate as duas vertentes mais comuns de sistemas de verdades a religião ou moral judaico cristã e a ciência e diz que qualquer coisa que ambas façam já seja algo excessivo. Isto é, Nietzsche é bom para quem gosta de ser tratado como uma “prima dona” que desconfia de tudo e todos e trata todos como exagerados, exceto a si mesmos.

Em outro ponto de seu discurso o meu oponente enfarta de vez e sua frio diante da extrema unção retórica que lhe sobrevirá, pois ao inflar a idéia de ego e falta de razão como dicotomia para defender Nietzsche ele já escancara que ele (Nietzsche) tinha um sistema absolutista de valores embora combatesse outros do mesmo naipe. Vejam só o que o séquito de Nietzsche assevera: “Já que falei em ascetismo, eu coloco a luta de Nietzsche contra esse ideal ascético religioso como seu legado mais importante no tocante à filosofia religiosa. As pessoas muitas vezes tendem a se esquecer da vida terrena e começam a agir de modo a atingir uma transcendentalidade criada com base na irracionalidade da fé”.

Para responder todos esses questionamentos prévios e posteriores eu digo de antemão o seguinte: Tanto Nietzsche quanto seus seguidores mais ferrenhos e dedicados só enxergam o que querem ver em tudo e ocultam o outro lado da moeda. Por exemplo. Quanto ao ideal ascético religioso há muito mais racionalidade a princípio do que qualquer outra coisa quando o ente se dedica a fé de forma concreta e sem excessos incomuns aos mecanismos de religião da teologia protestante que Nietzsche teve mais contanto. Exemplo clássico disso é dos monges trapistas de Tibhirine que de forma racional e transcendental ao mesmo tempo encaram uma situação de vida terrena de forma sóbria e de acordo com valores tanto da moral-judaico cristã tão criticada por Nietzsche, bem como, se pautam por valores humanos universais onde o melhor deles não foi dado pelo egocentrismo e sim pelo altruísmo criticado por Nietzsche em suas idéias sobre decadência moral. Assim, resta uma questão evidente para o Otávio Henrique: Qual o valor moral mais sensato e humano e de maior validade - Ser egoísta como Nietzsche aprova ou ser altruísta como ele desaprova em sua obra? O que me diz Otávio? Nietzsche está certo ou errado nesse contra senso psicológico?

Se o “front” educacional de Nietzsche é calcado nesse tipo de convicção onde os alunos não devem desapontar o ser egocêntrico e calculista e critico da diversidade do mesmo. Logo, ele tinha em mãos uma grande parcela de alunos prontos para serem moldados até por Hitler para fazê-los pensar e tomar atitudes contrárias aos seus semelhantes com base no egocentrismo e desaprovação da diversidade. Soa estranho o Otávio defender esse ponto de vista, pois no mural dele ele prega o respeito pela diversidade das orientações sexuais. Assim, das duas uma, ou ele não se deu conta que está proferindo premissas falsas a todo momento ou desconhece de fio a pavio a obra de Nietzsche a qual diz seguir.

Nesse eixo, a ética e modo de reflexão empregado por Sócrates e até mesmo Kant, ora criticados por Nietzsche sobressaem à tona, pois ambos são congruentes em afirmar uma veracidade comportamental de que nossos atos confirmam ou contradizem o que dizemos. No caso isso se aplica como uma luva para Nietzsche e seu defensor quase como um apologeta.

Ante a isso, rebato mais uma falácia do oponente quando ele diz: “Evolução requer mudança”. Conforme isso, se aquilo que você pensa, diz e age, não estiver correlacionado a uma verdade que não contradiga aquilo que dizes e pensa por atos você muda e evolui. Já no seu caso ficou evidente que desconhece o que dizes e seus atos afloram contradições sobre uma forma de pensar equivocada baseada no bigodão de Rocken que precisa ser mudada para evoluir meu caro. Ou você precisa achar outro guru filosófico que dê sustentação ao seu discurso pseudo-racional manco entre a ontologia e práxis.

Decorrente disso, Nietzsche considera como decadência moral a ruína dos valores tradicionais consagrados pela civilização ocidental de sua época caracterizada pela descrença em um futuro melhor para civilização. Portanto, toda ideologia “nietzscheana” se opõe à idéia de progresso. Além disso, pela afirmação “Deus está morto” nega a crença dum fundamento metafísico absoluto em que todos os valores humanos éticos e estéticos e religiosos possam coexistir. Com isso, o nilismo de Niezsche declara que devem existir novos valores que sejam afirmativos da vida ou da vontade humana, superando assim princípios metafísicos tradicionais e da moral judaico-cristã e “evoluindo” com isso para além do bem e do mal.

De acordo com esse escopo de idéias o aspecto a vontade humana teria que apenas esperar que ocorresse a reunião de condições para que seus desejos se tornassem uma realidade, encaixando nossos desejos e vontades de acordo com o rumo dos acontecimentos ou momento social, ou seja, basta a vontade humana se encaixar com as regas que regem o mundo naquele instante que se vive para obter tal êxito. Tal idéia exprime a fonte duma liberdade submissa não aos valores absolutos humanos, mas sim a oportunidade de eventos que tornam nossas capacidades possíveis de criar para nós mesmos, independente de qualquer outra causa ou força, a felicidade de acordo com o espaço e tempo. Isto é, vivemos de acordo com nossa razão deturpada e tempo e os valores que podem ser moldados ao nosso bem entender com o momento.

Esse ponto de vista de Nietzsche está totalmente apartado de religiosidade e transcendência, pois para a sua moral “imoral” a observância dos valores judaico-cristãos trazem ao ser a desvalorização da vida, ou seja, atuam como uma força de controle social que gera a passividade do individuo. Ao contrario, os ideais da razão que se pautam na superação de si mesmo pelo conhecimento ou do indivíduo que dotado de fé, isto é, aquele que acreditando em si mesmo ao extremo, é capaz de agir na sua própria realidade de forma a alcançar felicidade plena. Na visão de Nietzsche os fracos e oprimidos em estado de pobreza espiritual que alcançam o reino dos céus como promessa de felicidade nada mais são que pessoas infelizes e desesperadas devido não serem espíritos livres.

No entanto, fica a pergunta: Qual a resposta de Nietzsche para reverter isso já que se considerava além do bem e do mal em seu estado psicológico? Ou melhor, os tempos mudaram, as pessoas mudaram, a sociedade evoluiu com foco em qual ensinamento desde Nietzsche?





Octávio Henrique

RÉPLICA


Sim, seria mais fácil dizer que Nietzsche é adepto da desconfiança, uma característica inata a todo aquele que se diz perspectivista (o que ele era) ou niilista (posicionamento com o qual foi associado). Porém, eu cairia em um erro quase tão fatal quanto o seu pois, para o nosso velho e caquético senso comum, "súdito da desconfiança" tem uma conotação tão negativa quanto "esquizofrênico", o que faz com que as ideias de ambos sejam jogadas ao descrédito quase pleno.

Nietzsche, por incrível que pareça, não caiu em contradição, como disse meu caro oponente. Afinal, o que ele condenava eram os EXCESSOS do uso da razão. Apesar de preferir o modo instintivo de agir, Nietzsche reconhecia todas as grandes conquistas trazidas pelo uso da razão e a necessidade de sua permanência na sociedade.

Nietzsche também não maneja a superação de situações por parte do ego como verdade absoluta. Afinal, ele não acredita que um ser humano possa alcançar qualquer verdade absoluta (perspectivismo novamente em ação). O que Nietzsche faz é combater os excessos dos ascetismos judaico e cristão quando estes têm por meta a desvalorização da figura humana em prol da valorização de uma entidade ficcional cuja existência é impossível de provar.

Não havia, como falsamente diz meu oponente, absolutismo no sistema de Nietzsche. Afinal, como alguém que se desvencilha dos velhos conceitos e sempre procura ideias novas e incentiva outros a fazer o mesmo pode ser chamado de absolutista? Absolutista, por outro lado, é a moral criticada por Nietzsche, pois esta tem alicerces fraquíssimos e detesta o advento de novas ideias.

A racionalidade a que se refere Alonso quando fala sobre o ideal ascético também inexiste, pelo menos filosoficamente, pois a fé é tratada pela filosofia como uma forma irracional (ou seja, nem racional nem empírica) de se obter o conhecimento. E falar em não cometer excessos é também muito difícil. Afinal, esses monges citados pelo Alonso não são a regra, são a exceção. Dificilmente se vê alguém que compactua com o ascetismo procurando conhecimento e tratando as questões sociais com sobriedade. Aliás, seguir certas crenças e tratar as questões sociais com sobriedade é até passível de questionamento sobre o quão crente é o cidadão. Afinal, tem cada divindade irresponsável sendo cultuada por aí.

Na pergunta sobre o valor mais sensato, o Aloprado comete mais um erro o qual, fosse ele um aluno do grande alemão, acarretaria na decepção do mestre: Reducionismo. Nietzsche coloca o altruísmo como valor decadente pois, assim como Aristóteles, ele percebe que o ato altruísta nada mais é, na verdade, do que uma mera massagem no ego de quem fez a ação. Os atos egoístas, por sua vez, são menos hipocritizados, pois já assumem que o alvo é o ego do agente. Deve-se ter, então, equilíbrio entre essas ações, pois as ações altruístas acabam por ser úteis a outrem, mesmo que esse não tivesse sido o objetivo inicial.

E segue-se o festival de falácias. Quando Nietzsche não queria ser desapontado, ele se referia a não querer respostas decoradas ou advindas do senso comum para suas perguntas. Nietzsche não queria formar cidadãos facilmente manipuláveis. Ao contrário, ele pensava em formar uma nova geração de pensadores cada vez mais críticos e menos filisteizados. E realmente só desaprovaria a diversidade o seu discípulo menos consciente ou mais relapso, pois a pedagogia nietzschiana já apontava para a aprovação do pensar e agir diversos. É só aproveitá-la com afinco.

Não, não sou incoerente no que digo, e também sei sobre quem estamos falando. Com tanto reducionismo, Alonso, me questiono se não é você que realmente não sabe do que fala. Ou melhor, de quem fala.

Meu amigo, errou o panorama histórico. Após a vitória na Guerra Franco-Prussiana (1870), predominava entre os conterrâneos de Nietzsche um notável otimismo, combatido apenas por ele e mais alguns que tentavam analisar as coisas fora da ótica do Reich de Guilherme I.

Nietzsche se opõe à ideia de progresso, realmente. Mas se opõe à ideia POSITIVISTA do progresso, calcada em uma ordem repressora e em um progresso onde seria massificada pelo Estado e pelas mídias uma cultura nacionalista e otimista.

Não sei o que quis dizer com essa coexistência. Afinal, o próprio Deus cristão por reiteradas vezes abdica de valores éticos ao promover matanças a fio. Se puder clarificar, faça-o. E se quiser também me explicar qual a incoerência ou o perigo em superar os valores pentamilenares judaico-cristãos, be my guest. Gostaria de saber também quais são os tais valores absolutos humanos, pois os desconheço.

Ora, meu amigo, vivemos em um tempo também racionalmente deturpado, só que com a diferença de que não somos permitidos a buscar nossa felicidade por causa de infindáveis dogmas religiosos.

A solução de Nietzsche seria que agíssemos um pouco mais baseados en nossos instintos, contrariando as pregações judaico-cristãs. E a sua última pergunta também está incoerente com a situação. Afinal, aqueles que adotaram os valores nietzschianos são uma minoria que quer liberdade, pois após Nietzsche ter sido criminosamente associado com fascistas e ter demonstrado ateísmo, seu pensamento passou a ser propositalmente descreditado e cada vez menos divulgado. Não houve evolução baseada nos valores de Nietzsche pois a sociedade pouco sabe sobre Nietzsche. Fazer uma pergunta como a sua demonstra um fraco senso de justiça ou de pensar filosófico.

Encerro por aqui minha réplica, admitindo, no entanto, que meu oponente mandou muito bem em sua réplica, e me instigou ainda mais a esse debate sobre o alemão.





Alonso Prado

TRÉPLICA


Se Nietzsche condena os excessos do uso da razão então porque atualmente a sua visão de como as coisas são no campo moral ou deveriam ser é estritamente seguida por uma maioria de indivíduos que o seguem por modismo contra as amarras da moral religiosa? Detém essas pessoas uma razão perfeita e inata ou o excesso duma experiência espiritual já realizada lhes deu a certeza de que não há nada além do que a razão? Não precisa responder isso caro oponente. Isso lhe faria mentir sobre o seu passado moralmente cristão o qual trata como um trauma. Chega de mentiras, vamos falar a verdade nua e crua doa a quem doer.

Talvez você caro coleguinha de debate seja como Nietzsche que tem uma visão ressentida do mundo e excede os limites da realidade tornando-a extrema e difusa. Será que o Octávio concorda em gênero número e grau da visão dele sobre as mulheres quando menciona: “A mulher é considerada profunda – por quê? Porque nunca se chega ao seu fundo. A mulher não é sequer rasa”.

Talvez sim, pois como dito para um admirador de Nietzsche é dificultoso demais enxergar o outro lado da moeda. Sendo que, é mais penoso ainda admitir que há uma dialética da destrutividade na obra dele, onde tudo aquilo por séculos foi criado por uma filosofia baseada na realidade e no juízo de valores racionais de acordo com dois pilares básicos da vida humana passa pelo filtro de Nietzsche e sai amputado e transvalorado por valores irreais de sua visão ressentida da realidade.

Portanto, há grandes excessos na razão dele sobre como as coisas são, pois a partir da experiência dele mesmo temos fartos exemplares de que ele era uma pessoa que nutria fracassos no campo pessoal afetivo e que levava no campo racional e infundir distorções sobre sua interpretação da realidade. Sabemos que poucos filósofos modernos prezam ou têm uma vida equilibrada em todos os sentidos devido serem também imperfeitos como humanos e sucetíveis a erros grotescos em todos os campos.

Assim sendo, se para Nietzsche era uma loucura seguir um mítico Jesus Cristo como mestre e sua obra moral, por talvez ser um ente ficcional da moral judaica, não seria maior loucura ainda seguir a obra duma pessoa real que viveu a sua vida frustrado afetivamente criticando como as coisas são de forma tão feroz vindo a findar seus dias num hospício? Se um morreu na cruz o outro morreu no hospício, mas o que morreu na cruz segundo os seus seguidores e depoimentos estava em pleno gozo das suas faculdades mentais, já o outro estava pinéu mesmo. Lógico que você vai tentar dizer que o Cristo era doido e passou a vida pregando doidices caso tenha existido, mas por favor coleguinha, nos poupe disso.

Por outro lado, Rousseau por exemplo admitia em sua obra que o bem comum social, que as virtudes mais importantes do caráter e personalidade humana advinha de aspectos divinos. Qual é problema em aceitar isso na atualidade? Rousseau foi perseguido pelo pensamento moderno antropocêntrico que coloca o homem no centro de tudo a ponto que ele possa moldar tudo através da racionalidade e fazer com que a consciência individual de cada um seja um valor maior e mais apreciado do que um juízo supremo que atinja a todos de forma comum. No caso da obra de Rousseau isso seria o Estado.

Para quem refletir mais profundamente sobre esses aspectos acima elencados vale notar uma coisa: Que a nossa consciência não se cala e não se omite por ser como que uma vontade autentica ou como um instinto que nos guia dentro de um campo moral. Entretanto, para haver uma unidade entre a nossa consciência e o nosso conhecimento sobre o mundo a nossa volta deve haver um auto testemunho fidedigno sobre como as coisas são e não uma abstração e crítica de como elas deveriam ser. Não vivemos no nosso mundinho idealizado afinal, mas sim na dura realidade que nos limita e restringe pelo espaço e tempo e outros elementos.

Duma forma ou de outra sempre iremos incorrer em juízos morais, pois não estamos isentos desse vicio do julgamento. No entanto, vale se questionar individualmente se essa valoração ou juízo está de acordo com o queremos ou com o que somos realmente(?) Depois disso há outras questões que não vem ao caso nesse momento, mas todas elas partem dum testemunho fidedigno da realidade como ela é e não como queremos que seja.

Nesse passo, o grande problema de quem segue filósofos da modernidade está no vício em valorar e ajuizar todo e qualquer fenômeno com as lentes de um livre arbítrio que deixou de ser livre arbítrio, pois está acorrentado a uma idéia falsa de liberdade. Se para Nietzsche “entregar sua vida para Cristo” era uma grande fantasia sendo que todos o consideram como o estado pleno de perfeição moral, não seria maior equivoco da nossa parte compreender o mundo a nossa volta com base na visão dum ser humano que sabemos por experiência própria da realidade que é tão falho quanto nós, mas que devido sua refinada forma de expor e buscar romper com certos dogmas ou regras que não queremos seguir ou aderir o seguimos da mesma forma?

Isto é, na maior parte do tempo temos traído nossa consciência quando seguimos uma determinada filosofia, seja ela racional ou espiritual, pois de fato temos amputado a nossa capacidade de transcender a si mesmos e avaliar por si mesmos permitindo que alguém ou algo como uma doutrina ou corrente filosófica opere isso em nosso lugar.

No fundo a religião também é um malefício para humanidade, mesmo sendo supostamente baseada num ser dotado de absoluto saber e bondade. Já a filosofia é outro pior ainda devido nos levar a crer piamente em idéias de seres humanos que sabemos como já mencionado são imperfeitos como cada um de nós, pois sabemos de fato que a nossa benevolência e benignidade é muitas vezes vã e nossa sabedoria nem sempre funciona como imaginamos.

Deste modo, ambas as coisas fé e razão são ruins e não levam efetivamente a nada devido sempre haver nesses campos o elemento humano. Dentro dessa figura podemos afirmar que a filosofia de Nietzsche é de fato e inegavelmente o ápice do racionalismo esterilizante desse binomio (fé e razão) devido gangrenar as duas e depois amputar ambas e jogar aos corvos dos filósofos do século XX como Gilles Deluze e Michel Foucault para fazerem mais estragos ainda.

Agora meu caro oponente se não concorda com isso, me diga, ou melhor, diga a todos que estão a nos ler com toda liberdade escassa que ainda lhe resta e com a sua última gota de consciência não contaminada pelos apelos filosófico humanos do antropocentrismo: Porque Nietzsche tornou tanto a fé quanto a razão algo estático? Porque ele transformou ou deformou dois pilares do modo de viver ocidental aparentemente incongruentes numa múmia conceitual chamada de Umwertung aller Werte?





Octávio Henrique

TRÉPLICA


Alonso, não é tentando lhe adular, mas devo admitir, por senso de justiça, que mandou bem demais em sua tréplica. Porém, como diriam Nietzsche e Karl Popper, as verdades absolutas ainda não foram descobertas, e sua tréplica nem chega perto dessa categoria.

Primeiro, não se julga a um filósofo estritamente por seus seguidores. As ideias marxistas, weberianas, sartristas, socráticas e nietzschianas estão aí para serem seguidas por quem bem desejar. Não encaro os seguidores, entretanto, como meros modistas. Afinal, quem ousa seguir a filosofia do alemão por “modinha” acaba se estrepando, pois acabará discutindo com um Alonso da vida, não terá argumentos para defender Friedrich e desistirá de sua filosofia. Apesar de que a sua primeira pergunta é apenas um non sequitur completamente refutável. Afinal, quem privilegia a razão não necessariamente segue a um filósofo por este privilegiar a razão. Pode seguir também porque na pátria amada Brasil a razão é quase que totalmente desvalorizada, enquanto ícones religiosos são alçados ao status das próprias divindades em si. A questão, meu amigo, não é só ideológica. É também social.

Assim, Alonso, meu passado é meio difuso nessa questão religiosa. Eu diria, inclusive, que fui católico por apenas quatro meses. Afinal, nesse tempo, da 8ª série para o 1º Ano do EM, conclui o catecismo sem ter aprendido muito e me considerei católico. Por ironia do destino, ingressei no Colégio Salesiano, um colégio de católicos, onde descobri que não era católico após a primeira missa, pois não acreditava em coisa alguma do falado pelos padres. Depois, passei a ser teísta aristotélico até mais ou menos sete meses atrás quando, após passar anos refletindo sobre a questão, cheguei à conclusão de que a crença em Deus não me fazia mais sentido. Não tenho trauma de ter sido cristão. Talvez se não tivesse sido cristão, hoje nem saberia sobre Friedrich Nietzsche, pois não me sentiria estimulado a estudar com maior afinco a filosofia.

Primeiro, por uma questão gramatical, raramente se concorda em grau, especialmente quando a concordância é verbal, pois não há verbos no aumentativo ou diminutivo. Segundo, discordo de Nietzsche nesse sentido. As mulheres, além de serem belas por natureza, fascinam-me amplamente por todos os seus mistérios. Ainda assim, se me falar que não posso defender Nietzsche por discordar nele nesse ponto, cometerá outro non sequitur, pois posso discordar dele em certos pontos, mas estou de acordo com a maioria de suas ideias.

Está aí o detalhe: Essa afirmação de que esses valores foram criados por meio da análise racional é bem refutável, Alonso. Afinal, digo e repito, a fé é filosoficamente tida como uma forma irracional de obter conhecimento.

Curiosamente, você fala que os valores foram criados baseados na realidade, mas mesmo se Nietzsche tivesse uma visão ressentida da realidade, teria criado sua transvaloração baseado nela. Espero que corrija também essa sua falácia lógica em sua última e próxima participação. A propósito, eu já corrijo uma coisa: Nietzsche não nos manda jogar todos os valores ocidentais no lixo. Ele nos manda repensar sobre estes valores o que, sendo são ou não, seria um pedido razoável, por estes mesmos valores já estarem caducando e serem pouco condizentes com a realidade atual.

Em seguida, você praticamente apela para o fato de que Nietzsche tinha supostas amarguras com a vida - o que não é uma verdade completa, pois como professor e pensador ele foi reconhecidíssimo, ao contrário de seu “mentor” Schopenhauer - para desmerecer completamente sua filosofia, algo bem típico de um pensamento senso comum pois, mesmo se fosse ressentido, não teria perdido a capacidade de raciocínio coerente.

Há também o apelo para o jeito como Nietzsche terminou sua vida: Em um hospício. Porém, meu amigo, a maioria de suas obras e também as mais importantes foram escritas bem antes da primeira internação. Aliás, é um non sequitur tremendo fazer este tipo de apelação, pois quando tratados até mesmo os loucos mantém a sanidade e a coerência.

Não, não falarei que Cristo era um doido. Falaria, no máximo, que foi um anarquista primitivo o que, vindo de mim, não é ofensa. Falo ao contrário. Se tivesse sido menos asceta e menos preocupado com o divino, Cristo talvez fosse o meu filósofo predileto por causa de sua imensa retórica. Porém, ele quis seguir o caminho ascético, e isso me faz um crítico de sua filosofia como um todo.

Agora, vou retornar a pergunta: Por que devemos continuar a seguir um filósofo/religioso que prega uma divindade cuja existência não foi comprovada ao invés de dar ouvidos a outro que revolucionou não só o pensar filosófico, mas também educacional?

Usar Rousseau como argumento também não é muito sagaz. Afinal, ele criou um mito baseado em falácias, caiu em contradição nessa mesma questão que você elencou (se quiser, te mostro nas conclusões finais um caso desses), mostrou uma visão senso comum contraditória na mesma questão pois atribuía os méritos de nosso caráter a Deus e os deméritos apenas ao próprio indivíduo e criou um argumentum ad popullum que é uma verdadeira tormenta a todos que pensem menos cretinamente.

O problema em aceitar que qualquer mérito nosso vem de divindades, meu caro, é que você dá vazão aos mais ignorantes para descartarem completamente a razão, além de confiar em divindades assassinas, contraditórias e malvadas, como o Deus cristão, por exemplo.

No argumento seguinte, você reduz uma questão apenas ao otimismo, coisa que o próprio Nietzsche nunca faria. Deve-se enxergar a realidade como ela é, mas ter senso crítico quanto a ela também é importantíssimo, senão corre-se o risco de serem criados novos escravos dos caquéticos bons costumes e valores.

Incorrer em juízos morais? Sim. Verbalizá-los? Não. Especialmente quando você não sabe o que se passou na vida do outro cidadão. Dizem que quem fala isso são os espíritas, mas Nietzsche, em algum momento de sua vida e obra, também afirma isso com muita propriedade.

Aliás, engraçado: Quem condena que façamos a ação natural de julgar nossos semelhantes, mas constantemente verbaliza seus próprios julgamentos intolerantes é o Cristianismo, uma das doutrinas criticadas por Nietzsche. Será mesmo que o filósofo de Rocken não passava de um louco perseguindo os cristãos? Ou ele foi sensato demais para a visão dos leigos e crentes?

Outra coisa senso comum que você disse, e que vou refutar: Ok, não podemos seguir a visão de um ser humano imperfeito, mas devemos obedecer a uma pessoa e a uma entidade egoístas e que mandam matar sem qualquer remorso? Estranha linha de pensamento para quem também prega a piedade para com o semelhante.

Alonso, o seu problema é que você se esquece de que a filosofia, ao contrário das religiões, nunca se prende aos mesmos valores por milênios a fio. A filosofia muda. Se alguém segue a um filósofo tão dogmaticamente - como você bem disse, e como tem gente que segue MESMO -, essas pessoas deveriam se aprofundar ainda mais no estudo da filosofia em si ou então começarem a gastar seu dogmatismo com religiões. Quem segue a algo filosófico de forma dogmática acaba se esquecendo de que o dogmatismo é uma das maiores provas de irracionalidade filosófica, e cai em contradição consigo mesmo.

Não, no fundo a religião não é má. Ela já faz isso no raso. Pregar irracionalidade não-instintiva como forma de obter conhecimento não traz benefício algum. Já a filosofia prega diversos tipos de conhecimento e formas de visão, sendo também renovada a cada instante, não sendo obra apenas de um ser humano, mas de vários. E você está fazendo algo com a filosofia que vários condenam: Reducionismo. Filosofia não se trata desse ou daquele filósofo. Filosofia é um conjunto, e admite questionamentos. Já as religiões raramente abrem-se aos questionamentos de forma justa e verídica.

Deste modo, apesar de condenar o Pessimismo Nietzschiano, sua afirmação seguinte também demonstra Pessimismo. Fé e razão podem ser ruins, mas levaram o ser humano a um relativo avanço, especialmente a razão. E Nietzsche, meu amigo, não esterilizou as duas coisas. Ele simplesmente questiona qual a real necessidade de se usar apenas essas duas coisas e ao mesmo tempo abandonar completamente o pensar instintivo. Mais uma vez, houve reducionismo por sua parte, além de tentar tornar menos legítimas as filosofias de outros que também deram sua contribuição.

Nietzsche não torna ambos estáticos. Repito, Nietzsche apenas afirma que os excessos de uso dos dois sem combiná-los com os instintos acarreta na perda de nossas liberdades. E a transvaloração, meu amigo, nunca é uma múmia conceitual. Ora, como uma múmia conceitual pode propor renovações? De duas uma: Ou está sendo desatento para com o debate ou está subestimando ao bigodudo de Rocken.





Alonso Prado

FINAL


Ladies and Gentlemen!

Nessa fase das considerações finais desse debate sobre pontos de vistas pró e contra ao que chamo por influência do sátiro Chico Satã de “séquito modismo neo-cult intelectual fake”, o qual envolve como pano de fundo a filosofia do emblemático e problemático filho de Karl Ludwig Nietzsche, que não se deu bem com as mulheres e morreu solteirão e se acabando na punheta num hospício no Piemonte, e que ainda por cima teve que atuar uma irmã nefasta que lucrou com a fama e obra do maninho “Fredinho” no seu “post mortem”. Este homem, “Ecce Homo” que foi reconhecido no século XIX como professor da Universidade de Basel que influenciou uma juventude transviada e antropocentrista, laçando as bases para que um dia o deplorável pederasta Michel Foucault e o desvairado Gilles Deluze fuçassem sua obra monumental e enigmática sofista e com isso pudessem propagar por mais de um século os descalabros dum homem acometido pela falta de sexo conjugal e excesso de comida germânica, ou seja, pelo excesso do consumo de salsichões, que gera flatulência descomunal vindo assim Friedrich Wilhelm Nietzsche a oxigenar seus neurônios e pensamentos nada mais nada menos com a matéria putrefada do salsichão de Weimar regado a repolho de chucrute o qual peidou vastamente a vida toda como um Big John a base de feijoada com pimenta malagueta.

Chego nessa fase com a consciência limpa como uma camisa branca lavada com Omo dupla ação e centrifugada por uma Brastemp e com a convicção plena e destemida de que o meu oponente que é um apóstata confesso que deixou a fé da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana por causa das duas uma as quais ainda não teve cabelo no peito para admitir: A primeira tese nos leva a crer que o Octávio Henrique ainda meninote de canelas finas e voz de taquara rachada ingressando na sua puberdade e com o hormônios sexuais aflorados e descontrolados nutriu uma paixão não correspondida por um irmão salesiano ferrenho seguidor dos ensinamentos de Dom João Bosco, fato que o fez detestar tudo aquilo que o pobre irmão representava culturalmente vindo assim num ato desvairado de paixonite mal resolvida negar o próprio batismo e aderir as premissas sofismais do Bigodão de Rocken.

A segunda tese nos leva ao arcabouço acadêmico técnico filosófico de que o meu oponente não conseguiu compreender os ensinos dado aos catecúmenos, pois deveras sua visão sobre a vasta realidade que o cerca está desde desta época contaminada por uma cultura gramsciana de descristianização da sociedade perpetrada pelo marxismo heterodoxo implantado paulatinamente e sistematicamente como força motriz que visa, nada mais nada menos, do que criar uma geração após a outra de ateus os quais encontram nas palavras de Nietzsche o script perfeito para papagaiar contra a fides et ratio.

Além disso, o meu oponente desclassifica o incomparável J.J. Rousseau que foi um erudito que lançou as bases para uma sociedade fraterna livre e igualitária pautada no consenso e harmonia de idéias e vida social pacífica nesses termos. O fato que causa anomalia advém da recusa em aceitar isso de forma fecunda por parte dos adeptos do ateísmo como Octávio Henrique que seguem tredestinamente tanto a cartilha de Nietzsche como a catequese marxista heterodoxa visando de forma premeditada e preconceituosa assacar contra àqueles que exercitam sua crença no cristianismo. Isto denota o seguinte em nossa sociedade e cultura atual: Esses os quais chamo de ““séquito modismo neo-cult intelectual fake” sempre agem em massa como a mesma conduta irracional e um tanto odiosa contra os preceitos cristãos por de fato desconhecerem ou nunca terem de fato terem realizado uma experiência de fé, e digo de fé, e não religiosa, pois uma experiência de fé de cunho transcendental e mística independe do seguimento de dogmas e regras religiosas de moral. Exemplar nítido disso é a conversão de Agostinho de Hipona que foi um erudito que em sua obra as Confissões primeiro angariou através de um auto exame racional de consciência um elevado grau de compreensão de que a fé e razão podem caminhar lado a lado e se fundirem numa compreensão profunda da realidade.

Nesse ponto vale frisar que Agostinho seguiu aquilo que Nietzsche preconiza ao dizer que devemos seguir nossos instintos e dar-lhes voz e corpo para vivermos nossa existência de acordo com uma moral que contemple a verdade daquilo que somos. Entretanto, nenhum seguidor das obras de Nietzsche tem coragem de admitir que esse modelo de atitude tomada por Agostinho tem a ver com isso, pois já estão blindados e cegos para ver a outra face da moeda que consiste no testemunho fidedigno da realidade e valores nos quais estão inseridos e seguem por modismo cultural irrefletido na maioria das vezes as lições de Nietzsche.

Portanto, fica nítido com solar clareza que aqueles que seguem Nietzsche de fato vivem e compreendem os conceitos ligados a fé e razão de forma estática e deturpada aderindo totalmente a visão exclusiva de seu mentor, o qual por sua vez, jamais operou em sua existência o exercício filosófico que Agostinho fez tanto de ascese espiritual quanto de ascese moral e intelectual.

Nos dias de hoje isso se repete vez após vez com novos filósofos que negam duma forma ou outra a liberdade humana espiritual e racional pura e condenam isso a uma espécie de liberdade de caráter prófugo de que o indivíduo é capaz de pensar e agir de acordo com a sua própria verdade relativizada sobre tudo que lhe cerca. Esse pluralismo de idéias e convicções só favorece a dialética da incoerência que observamos nos embates entre ateus e teístas ou do pensamento científico racional e pensamento religioso. Não há acordo entre esses grupos por não haver respeito e cognição profunda do “nosce te ipsum” ou da lição de Sun Tzu: “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. Por tal razão transformaram essa relação dialética em guerra de egos muito mais do que verdades.

Qualquer indivíduo que tenha lido Heidegger compreende que isso não é uma acusação falsa como Octávio Henrique insiste em dizer que meus argumentos são falaciosos quando na verdade são os dele que peca por excesso racionalizar e descumprir a lição do mestre que diz seguir excedendo na racionalidade de seus argumentos inacabados por desconhecimento das minúcias e meandros da obra de seu mestre e de outros pensadores sobre o mesmo e sobre a temática moralista, pedagógica e cultural. Desta forma, Octávio Henrique ainda desconhece a totalidade da “opus niilista” refletida por Nietzsche e muito menos a explicação de Heidegger sobre isso.

Para conciliar os dois vetores sobre os valores morais antagônicos que discutimos devemos seguir surpreendentemente e aplicar na prática a lição do próprio Nietzsche que diz o seguinte: “A gente tem de manter toda a superfície da consciência – a consciência é uma superfície – limpa de qualquer um dos grandes imperativos. E tais imperativos são tanto a moral de desprezamos quanto aquela que prezamos, pois moral é endereçada à consciência humana antes de mais nada.

Nesse passo, temos não a ferramenta adequada ainda para avaliar a realidade e nossas verdades pessoais, devido isso ser uma ação filosófica secundária de reflexão, mas temos a atitude necessária para aquilo que Agostinho fez em sua vida como filósofo. Temos que ter um juízo neutro de valores e informar a nós mesmos de forma sincera a verdade que nos cerca e a partir disso isentos ainda de julgamentos prévios adquirir através da experiência e posteriormente reflexão filosófica os valores morais que devemos seguir com retidão sem nos importar com os demais valores alheios.

Somente isso traz pacificação intelectiva, racional e espiritual ou o que Nietzsche chama de livre espírito não decadente. No entanto, ele mesmo não seguiu seus preceitos e receitas e colocou as coisas últimas na frente das primeiras e passou a sobretaxar a moral como algo antinatural quer onde ela se encontrasse ou fosse propagada de forma alheia a sua visão crítica. Nesse caso o que ele fez foi deixar a isenção de lado e atacar a maior vertente moral ocidental de seu tempo como tantos outros fazem da mesma forma hoje em dia como séquitos.

Nisso podemos dizer que Nietzsche resolveu avacalhar de vez com a moral existente que não aceitava antes mesmo de tê-la refletido com animo neutro de valores, agindo assim totalmente contrário ao o que atitude filosófica tradicional socrática, platônica e aristotélica preceituam como eficaz e efetivo na reflexão filosófica. Com isso, tornou toda sua obra uma grande relação de caráter e personalidade sofista que defende o que mal conhece devido desconhecer profundamente e superficialmente a consciência daquilo que ataca e dita como falho.

Por tal razão é que Nietzsche desmerecia Sócrates que dizia “nada sei” e passou a dizer “eu sei de tudo” jamais sendo uma “gravis testi” da realidade ou quando na verdade não sabia nem meio por cento daquilo que Sócrates soube e nos concedeu como bases do pensamento filosófico clássico.

Sem mais delongas, visto que Octávio padece dos mesmos vícios e incursões extemporâneas contrárias a outros pensadores não há nada mais a dizer senão que ele incorreu num mero “flatus vocis” nesse debate. Enquanto isso, eu, questionei a conduta e a certeza de muitos que já se sedimentaram nessas trincheiras da razão x fé e estão estáticos como cadáveres insepultos lançados aos corvos do destino quiçá semelhante de seus mentores sejam eles quem forem. Assim sendo se tiverem a ousadia e a veemência intelectual necessária hão de se questionar e rever seus conceitos ora petrificados pela ausência de reflexão mais profunda e consciência límpida. E tenho dito!

Dito isso, agradeço ao meu oponente que qualificou esse debate com seu quilate retórico e aos leitores que nos agraciaram com a devida atenção nesse debate de alto gabarito.





Octávio Henrique

FINAL


Meu adversário, em um golpe desesperado por um pouco de atenção e demonstrando um imenso despreparo para o debate sério, confundiu este espaço com seu blog em suas considerações finais. Além de flagrantemente usar ad hominem contra um adversário em debate, ele começou a satirizar o alemão e ao próprio adversário, uma tática usada apenas pelos mais desesperados e despreparados debatedores. Para não cair no mesmo erro deste homem que debateu tão seriamente comigo mas que apelou em sua conclusão, respeitá-lo-ei, mas não deixarei de refutar seus argumentos. Afinal, nada mais nobre para um grande debatedor do que ter um adversário que tenta se por no mesmo patamar, mesmo sendo muito menos experiente nas artes retóricas.

Enfim, sem delongas, digo em verdade que não procuro de forma alguma descristianizar a sociedade. Procuro, ao contrário, laicizá-la e torna-la cada vez menos vítima de seus próprios preconceitos dogmáticos. A forma de fazer isso? Exatamente o que fazemos agora: O confronto sincero de ideias e opiniões.

Outra coisa: Curiosamente, o meu adversário, mesmo propondo uma nova e interessante interpretação sobre um filósofo cujas ideias sigo, rotula-me por não seguir a interpretação dos dogmas católicos segundo a cartilha da Igreja. Caso fosse aluno de Nietzsche, este sairia decepcionado com o comentário, pois se havia algo que Nietzsche repudiava era a excessiva incoerência.

Meu oponente também rejeita uma nova forma de interpretar o filósofo Rousseau. Creio que ele entenda por vida social pacífica um mundo em que ocorra não a democracia, mas uma tirania da maioria. Afinal, falar que “a voz do povo é a voz de Deus” é criar um novo e intelectualmente torturante argumentum ad popullum (com apelo para a maioria), em que se coloca a palavra do povo como verdade absoluta. Ou seja, se a maioria crê em ideais racistas, então o racismo em si é uma verdade absoluta e irrefutável. Porém, a opinião da maioria muda. Pergunto-me: Se meu oponente concorda com o ideal rousseauniano, por qual razão então rejeita a transvaloração de Friedrich?

Há também outra incoerência na filosofia de Rousseau: ele rotula aos asiáticos também como bons selvagens, ou seja, seres inocentes os quais são torturados pelos tirânicos europeus. Pelo visto, ele desconhecia a história da China e do Japão pois, ao longo de ambas, o povo asiático demonstra tudo, menos ignorância bondosa. Aliás, em alguns pontos eles demonstram uma tirania maior ainda que a européia.

Realmente, Agostinho de Hipona seguiu seus instintos... Antes de se converter. Pois Nietzsche também falava em seguir instintos SEM CULPA, algo que, após convertido, Agostinho não mais faz, demonstrando culpa em todos os seus relatos seguintes.

Portanto, fica cada vez mais nítido o seu desconhecimento da filosofia nietzschiana, meu caro. Além da clara rotulação feita a seus seguidores, típico daqueles que usam argumentum ad ignorantiam (argumento com apelo ao senso comum) e reducionismo. Nietzsche nunca colocou a razão como estática. Parece que você não leu minhas réplicas durante esse debate.

Em seguida, mostra claro exagero, relacionando os debates entre ateus e teístas com “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu. Além de fazer comparação descabida de senso, você apela mais uma vez para as tão chamadas verdades relativas. Apela errado, aliás, pois as verdades relativas, para Nietzsche, devem ser descobertas por meio da reflexão e da crítica.

Não houve também, por minha parte, incoerência com a argumentação de Nietzsche. Houve sim, por sua parte, muito reducionismo em questões vitais para este debate.

Outra curiosidade: Alonso propõe exatamente o mesmo que Nietzsche. A única coisa em que ele não se adequa é no tocante a neutralidade. Aliás, ele coloca um pensamento um pouco durkheimiano-positivista de “neutralidade ante aos fatos da vida”, o que não passa de desprezo ao sensível/empírico. Esse princípio de neutralidade, aliás, já foi refutado por vários filósofos, por descartar o lado passional do ser humano.

Engraçado, Nietzsche atacou a moral, mas eu desconheço qualquer filósofo que diga que a moral é um instinto do ser humano. Não se esqueça também, Alonso, de que a sua visão sobre como deveríamos criar nossos valores é só sua, e ninguém é obrigado a segui-la. Nietzsche faz o mesmo, pois não impõe visões às pessoas. Ele faz apenas sugestões e instigações.

Nietzsche foi, então, coerentíssimo, pois repudiava as três filosofias, mas sempre procurou conhecer aquilo que criticava, ao contrário do que falou meu oponente. Ele desmerece Sócrates, meu amigo, não por uma única razão, mas por pelo menos três: Pela sua visão de “ignorância”, pela sua visão de arte/tragédia grega e pela sua visão educacional baseada no idealismo. Nietzsche, então, ao contrário do que você inferiu, não fez reducionismo. Ele estudou a fundo a filosofia socrática para melhor criticá-la.

Não padeço dos mesmos erros de Nietzsche. Engrandeço-me por seu acertado lado crítico. Aliás, que erros são esses eu não sei, pois até agora o que você fez foi satirizá-lo e reduzi-lo a um filósofo de bar, algo que, sendo você um aluno de Nietzsche, o faria ficar MUITO decepcionado, além de destruí-lo com uma réplica genial e lhe mostrando todos os SEGMENTOS de sua filosofia.

Assim como fez meu oponente, eu o agradeço pelo construtivo debate e aos fiéis leitores que permaneceram conosco mesmo com nossas gigantes ‘walls of texts”

Um comentário:

  1. o Alonso rotulou os seguidores de Nietzsche, imagina se fôssemos rotular os seguidores de Cristo, sem comentários, a história está aí como prova. Realmente o Alonso possui uma ótima retórica, mas por falta de argumentos, preferiu atacar seu oponente o tempo todo com ofensas. Alonso caiu no mesmo erro que ele disse que Nietzsche cometeu: "Eu sei de tudo", aliás, todos os fanáticos religiosos são assim.

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