quinta-feira, 8 de março de 2012

Felipe X Roberta - Educação


Felipe Munhoz 24/09/2011
Considerações iniciais.
Roberta, eu te propus este tema por que temos idades parecidas e já trabalhamos com coisas similares e também para te mostrar este sistema de diálogo digital, que em minha opinião pode ter uma finalidade didática incrível. A grande idéia por trás de toda esta comunidade é incentivar a melhor retórica possível do oponente, de forma que seus argumentos sejam mais consistentes para quem está lendo.

Como não somos fakes e também somos bem grandinhos para ficarmos preocupados com a questão de “quem é bom da boca”, tenho certeza que o único objetivo de ambos aqui vai ser simplesmente refletir sobre uma questão que é fundamental para as nossas carreiras: A educação funciona? Ou melhor, quando ela funciona e quando ela não funciona? Mesmo assim, todo este clima de duelo instiga a competição e, pelo menos para mim, faz com que tenha um pouco mais cuidado antes de postar o que escrevo.

Mas a grande questão que eu quero discutir é: Quais as melhores estratégias para que as pessoas se interessem em aprender algo? Eu não sei se a vocação que eu tenho é a de ser professor ou a de questionar a posição de ser professor. Desde muito novo eu percebi que tudo o que eu sabia sobre o mundo era uma resposta a algum estímulo da sociedade, formada por seres humanos tão falíveis quanto eu. E percebi que quanto mais eu questionasse qualquer que fosse a verdade estabelecida, mais eu percebia que aqueles que estavam tentando me ensinar, não tinham, de fato, autoridade alguma para poder me dizer nada de definitivo acerca de absolutamente nada.

Podiam, no máximo, me instruir para alguma direção, mas nunca CATEGORIZAR minhas capacidades, baseados em seus julgamentos, tão errôneos quanto os meus. Por isso nunca me importei muito com notas, quaisquer que fossem. A avaliação do professor algumas vezes só me dizia o quanto eu concordava com ele, da forma como ele queria. Sempre me pareceu que deveria existir algo mais para que eu EFETIVAMENTE concluísse algo por conta própria.
Felipe Munhoz 24/09/2011
Considerações iniciais 2
Aí, mais ou menos há uns 10 anos atrás, quando comecei a trabalhar como professor, houve uma completa revolução nos sistemas de mídia digital. Se juntarmos todas as horas que as pessoas do planeta já dedicaram em frente aos livros, talvez não teríamos a mesma soma do que hoje as pessoas gastam em frente aos computadores, em qualquer que seja a atividade.

Uma das coisas que mais tem atraído o interesse dos jovens nos últimos anos são as redes sociais virtuais, como esta em que estamos desenvolvendo este debate. Este formato possui vários atrativos, pois permite a troca de informações da forma mais dinâmica como já se viu na história da humanidade, por pessoas de localidades totalmentes distintas e de opiniões totalmente diferentes.

E permite ainda que estas pessoas se expressem em diálogos competitivos, que podem colocar em choque métodos de ver o mundo que são completamente incompatíveis. Nunca antes na história da humanidade isso foi possível, com tanta eficiência. Mesmo assim, pelo menos aqui no estado de São Paulo, eu percebi, que, em média, os alunos com os quais eu trabalhava pareciam mostrar uma tremenda queda no espírito questionador em relação aos que conviveram comigo na época em que fui aluno.

Conversando com professores mais experientes, todos sempre concordavam que realmente, o interesse dos alunos parecia diminuir ao longo dos anos. Eu não sei se isto é parte apenas de saudosismo deste pessoal ou se realmente o sistema de educação continuada destruiu com o sistema de ensino no meu estado. Uma reclamação constante que eu escuto entre os professores universitários com os quais eu convivo é a de que está cada vez mais difícil encontrar pessoas com a capacidade de resolver problemas sozinhas.
Felipe Munhoz 24/09/2011
Considerações iniciais 3
Imagine o seguinte cenário: O governo produz um documentário (com as melhores imagens possíveis) relacionado a algum tema de história, por exemplo, sendo realizado por um time extremamente dedicado a construir algo com uma aplicação didática extremamente prática e divulga o vídeo gratuitamente pela internet para que seja transmitido em todas as escolas do país.

O conteúdo do vídeo poderia se renovar a cada ano. Além disso, o governo poderia lançar uma lista de sites de pesquisa e propor que as provas serão realizadas on line em determinada data. Em caso de necessidade, os alunos com dificuldade podem marcar aulas de reforço com professores especializados. Os alunos melhores graduados formariam grupos de discussão com outros professores, que incentivariam suas habilidades.

Para mim, gastaríamos menos e teríamos um sistema mais eficiente, pois não faz sentido colocar todo mundo em uma mesma sala e dizer que, a partir dali, devem passar a ter o mesmo interesse.

Espero pelas suas considerações iniciais.

Abraços.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 25/09/2011
Conversas com quem gosta de ensinar *
ou, melhor: Diálogos sobre a Educação (3/1)


Felipe fiquei honrada e surpresa com o convite: é um tema inspirador, e saber alguém praticamente na mesma faixa etária me estimula bastante... ‘Que rumo dará sua vida, que caminhos escolheu?’ são sempre minhas primeiras dúvidas. Fazendo uma linha temporal da vida profissional, assim divido o ofício: curiosidade, inquietação, e quando, mais maduro, ciência social.


Esse tipo de exercício é bastante parecido com o que temos no trabalho, e por isso, o título do primeiro post- e também por essa razão, faço questão da permissão me dada em propagar o assunto entre os meus - como sabe, sou matemática, mas antes, me formei pedagoga, e há no autor que defende pontos pertinentes de análise de discurso e, evidentemente, reflexão da práxis. È um bom ponto de partida, e aqui está a obra, se sentir interesse:

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http://pt.scribd.com/doc/6795500/Conversas-Com-Quem-Gosta-de-Ensinar-Rubem-Alves ]

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Há em sua postagem, um argumento que seria interessante (?) debater - fakes: em comunidades de debate pouco importa se o perfil é ou não real, se a pessoa que defende os pontos de vista for, entre outras coisas, coerente em suas opiniões.Já em relações interpessoais, a recíproca não é verdadeira Porque menciono essa questão?

Por acreditar que a educação se baseia no conteúdo, pouco enfocando a forma que é apresentado. Mas, eu concordo com você quando diz já somos adultos o suficiente ao ponto de entender esse debate como reflexão, e por acreditar que haverá aqui um campo de apaixonadas opiniões, de inflamadas questões pessoais, e apesar de saber já um tema complexo, e até certo ponto, subjetivo, tenho certeza que será envolto de boas maneiras.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 25/09/2011
(2/3)
Então, vamos as primeiras questões:


Sim, a educação funciona, e creia-me, funciona até quando não parece funcionar – quando é utilizada, por exemplo, a seguir vinculada a motivos escusos. Para melhor entender essa afirmação, é só lembrar-se da primeira questão levantada na universidade: ‘Afinal, a quem serve a Educação’? -> gostaria, se possível, de uma resposta a esse questionamento.

Dando continuidade, acredito que as estratégias não são únicas e que variam de profissional a profissional, mas, em primeira instância, depende da sua clientela, afinal de contas, o aluno é o centro do processo, é o foco do trabalho, cabendo ao professor o papel de estimulador, do facilitador dessa aprendizagem. Antes de se perguntar sobre sua vocação, é preciso fazer-se claro que somos, em determinados momentos da vida, educadores. Há pessoas como eu que, além de estudar o processo, escolhem tbm interagir. È essa a única diferença, isso claro, em minha opinião.

A escolha por essa profissão também se deu quando muito nova, e por motivos até então, pouco claros. Mas, ao contrário de você, sempre tive a convicção de que a autoridade de afirmar o que é ou não definitivo era minha, enquanto aluna. Sempre tive boas relações com meus professores, exatamente por entender que de forma ativa, participo do processo. Sabe aquilo de ‘ ninguém pergunta o que não sabe?’ ( ou melhor, quem pergunta já sabe a resposta), é nisso que acredito, desde que fui apresentada ao mito da caverna. Definitivamente, o ser humano não é uma folha em branco.


Gosto de perceber pontos semelhantes em nossas concepções pessoais: também não acredito em notas como delimitador de aprendizagens. A avaliação é apenas parte de um contexto, que considero bastante burocrático. O que me importa é se houve interesse pelo assunto, pesquisa individual ( e autônoma) longe de usar o discurso de não ter com o erro, responsabilidade, afirmo que o mesmo é importante, para se avaliar posturas: refutar ( ou não) aquilo que era óbvio, reafirmar certezas.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 25/09/2011
(3/3)
Percebe que o erro não existe? Considero-o como tentativa de acerto, ou, numa linguagem mais técnica, estratégias pessoais com intuito de aprofundar conceitos.

Mídias são também objeto de meu estudo. Considero um avanço ainda sem proporção, e gostaria que continuasse com seu relato, pois não compactuo de sua afirmação, quero entender a razão dessa sua aparente certeza, pois não observo na educação, local de competição,já que, é em essência, um ambiente agregador e conciliador.

O que percebo, e que me deixa bastante incomodada é que a qualidade dos alunos caiu também em reflexo ao baixo investimento na educação, e no quadro de professores menos experientes e estudiosos. Não é saudosismo de seus colegas, e sim uma triste comprovação.

Sobre a capacidade de se resolver com autonomia os problemas expostos, é esse o nosso maior desafio: como ensinar a ser independente, se a maioria não faz idéia do seja isso? Ninguém ensina o que não sabe, portanto, não é correto observar no aluno a falha, ele apenas é o produto final.

Ainda sobre mídias, isso que apresenta em seu último post, já acontece, álias, faço parte dos desenvolvedores desse sistema educacional, mas, entenda o objetivo não é substituir ou baratear o ensino, uma vez que o aluno precisa do vínculo com seus pares e professores, além de entender a interação como clausura pétrea de um bom aprendizado. A inclusão de mídias no ambiente educacional tem por meta apenas oferecer mais um instrumento de suporte, como um livro, vídeo, ou revista especializada.
Felipe Munhoz 26/09/2011
Réplica 1.
Olá, Roberta!

Eu já nem me lembro quando participei de um debate tão estimulante. De fato, coloco-me na posição de aluno e especulador, já que a especialista é você. Apesar de ter bastante prática, nunca cursei pedagogia na graduação, pois sou formado em Odontologia. Lecionei em colégios particulares desde a época em que era graduando, mesmo sem ter o diploma e continuei lecionando, mesmo depois de formado. Nunca exerci, de fato, a Odontologia, pois acabei percebendo que tenho muito mais talento para a carreira docente/científica do que para a clínica em si.

Você levantou uma questão muito relevante sobre as vocações humanas. Na verdade, eu sempre quis ser músico ou escritor. Mas como minha família pôs na cabeça que eu iria morrer de fome se fizesse uma dessas coisas como carreira, fiz Odonto só para eles pararem de encher o saco e também por que achava que medicina iria tomar demais o meu tempo e eu não teria tempo para tocar e nem para escrever.

Durante a faculdade, gostei muito pouco das disciplinas práticas, mas me apaixonei pelas ciências básicas, que é onde faço meu doutorado hoje. A profissão de docente me chamou a atenção por que foi a melhor forma que eu encontrei de ser remunerado para continuar aprendendo alguma coisa. E realmente, para quem tem a inquietude da curiosidade, isto pode chamar muito a atenção. A obra que você citou é formidável e vou ler com bastante calma. Discutimos alguns textos do Rubem Alves nas aulas de didática na época do mestrado e me lembro que eram sempre muito inspiradores.

Mas quando eu questionei se educação funciona, não me referia à capacidade transformadora da educação, isto eu não discuto. Entretanto, quando se “ensina” alguma coisa a alguém, estamos na verdade embutindo uma outra forma de pensar na mente da pessoa. Este é o grande problema, pois, pela lógica, pode-se preencher este espaço com muita coisa que pode ser extremamente prejudicial ao indivíduo. É, de fato, uma responsabilidade muito grande.
Felipe Munhoz 26/09/2011
Réplica 2.
Neste ponto, para mim a coisa mais importante que se existe para se ensinar para alguém é como ter espírito crítico e questionador. Isto nem sempre acontece, ainda mais quando estas características podem ser vistas pelo docente como geradores de afrontas entre professores e alunos. Como a “autoridade” do professor é algo que poucos abrem mão, ensina-se a copiar e a repetir e não a questionar e fazer por conta própria. É óbvio que estou generalizando, mas se formos falar das exceções, jamais poderemos ter um panorama daquilo que realmente acontece, na maioria das vezes.

Pouca gente sabe, mas Richard Feymann, que foi prêmio Nobel em física e um dos participantes do projeto Manhatan, viveu um tempo no Rio de Janeiro lecionando da UFRJ e tocando bateria em uma banda de samba (!). Queria ver como se aprendia física no Brasil. Segundo suas palavras: “Em nenhum lugar do mundo estuda-se tanto física quanto no Brasil. E em nenhum lugar do mundo os alunos sabem tão pouca física quanto no Brasil.” Palavras fortes, mas baseadas em suas experiências em sala de aula. Segundo ele, os alunos eram capazes de recitar a exata frase que defina os termos nos livros textos mas eram incapazes de resolverem problemas de físicas usando estes mesmos conceitos que eles sabiam de cor.

Albert Einstein dizia que a imaginação é muito mais importante do que o conhecimento e que a leitura deixa o homem preguiçoso, pois ele deixa de se importar em ter suas próprias idéias.

Isto me faz lembrar do conteúdo que temos que estudar para os nossos vestibulares, que é muito mais vasto que a maioria das nações de primeiro mundo, como os EUA, por exemplo. Todos os meus amigos que fizeram intercâmbio por lá foram os melhores alunos de suas salas, mesmo tendo desempenho medíocre em escolas brasileiras

O fato é que o ensino americano parece se importar mais com o ensino de coisas que tenham aplicações práticas para os alunos, deixando o aprofundamento para o ensino superior.
Felipe Munhoz 26/09/2011
Réplica 3
No Brasil, ensina-se literatura, por exemplo, pela história da literatura. Eu conheço raríssimos alunos do primeiro colegial que estão realmente interessados em aprender sobre trovadorismo, por exemplo. Seria esta a melhor forma de estimular a leitura deste povo viciado em MSN?

Por isso eu te falei de algumas de minhas especulações sobre algumas ferramentas que podem ser utilizadas utilizando mídias digitais e citei esta comunidade como exemplo. Disse isso por que acredito realmente que se os alunos aprenderam a ter ESPÍRITO CRÍTICO e capacidade de resolução de problemas, desde cedo DEVERIAM ser incentivados a ser auto-didatas e saber COMO pesquisar (não só onde). A competitividade que eu te falei pode ser um ótimo instrumento de ensino, pois uma das coisas que mais chama a atenção dos jovens são jogos. Desta forma, qualquer estímulo a competição, além da finalidade lúdica, faz com que os alunos desejem sempre ser melhores do que eram antes de começar o jogo, o que é ótimo para o desenvolvimento pessoal.

Concordo com você que os investimentos em educação são baixos, mas acredito que mesmo que fossem altos, não resolveriam se estivéssemos investindo dinheiro em algo que possui falhas em sua própria concepção. Mais importante do que aumentar o investimento, para mim, é reformar o que já temos para que se torne mais funcional. Aí sim, investimentos gerariam muito mais resultados.
Quanto às mídias digitais aplicadas ao ensino, gostaria muito que você falasse mais sobre o trabalho que você desenvolve. Tenho várias idéias a respeito, mas são especulações, uma vez que não trabalho diretamente com o tema.

Agradeço a conversa, pois tem me sido muito proveitosa. Espero pela sua réplica.

Abraços!

Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 27/09/2011
1 de 3:
Olá Felipe, obrigada pela paciência, e também pela ( mais uma vez) agradável resposta. Estou um tanto envergonhada pela minha falta de qualidade no tempo e fiquei também preocupada em não ser capaz de honrar meu compromisso. Mas penso que é natural tendo essa profissão: além dos planejamentos diários, há também toda a sorte de aspectos que nos obriga a se não levar trabalho para casa, carregar os problemas diários, e essa semana não começou fácil. Você está certo: é uma responsabilidade exercer o magistério, mas, antes de qualquer coisa, é grandioso assumir de forma ativa a questão da cidadania, não há melhor lugar para se observar esse movimento.


Li com atenção o histórico de sua vida profissional, e não me surpreende que tenha optado por essa profissão, mesmo que no campo da pesquisa: a educação não é um processo pronto, e em qualquer espaço da vida estamos no papel de educador de alguém. Há, porém, aqueles que prosseguem com mais tempo, buscando sanar suas freqüentes dúvidas, reavaliando seu objeto de estudo ( uma vez que temos acesso a um laboratório vivo) e constantemente, atualizando-se, como é o também o meu caso. Fui precoce na escolha da minha primeira graduação: aos 17, passei para Pedagogia, não foi nenhuma surpresa, uma vez que temos na família muitos outros professores, o sonho era montar uma pequena escolinha. Porém, o meu leque se expandiu: descobri a beleza da escola pública, suas lutas diárias, e seus conseqüentes ranços. Entendia, aos poucos, o problema do país, observando a forma tendenciosa que a educação foi (e é) tratada.


Terminei a graduação e me especializei em Avaliação , mas, estava um pouquinho frustrada, já que sempre amei os números. Então, aos 24, decidi fazer a minha segunda graduação, e em seu término, fiz tbm como especialização, Gestão Escolar. Percebe? Sempre estive nos dois ‘mundos’: o do embasamento prático, proporcionado pelas várias teorias da Educação, e o do mundo da experimentação, do que é lógico, lúdico, matemático...
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 27/09/2011
2 de 3:
E exatamente por estar nesses ‘dois mundos’ ( que na certa entende bem o conceito, tão debatido na Filosofia da Educação) que não concordo com a sua visão: não acredito que embutimos no outro nova forma de pensar, uma vez que esse exercício não é feito numa via de mão única. Ensinamos aquilo que sabemos, aquilo que acreditamos.


E é aqui que entra a grande questão do debate: é o professor que ensina, ou, é o aluno que aprende? A resposta, claro, não é tão simples: o professor tem a função de facilitar o processo ensino-aprendizagem, oferecendo variáveis explicações e oportunidades para que o aluno assimile ( coloque em prática) o conteúdo apresentado. Já o aluno, tem a função de questionar, de analisar e experimentar respostas. Ou seja, é ele parte ativa, e também por isso, o ritmo de aprendizagem é individual.


O que mais admiro nesse debate é que nossas idéias não são tão diferentes, elas meio que se completam: também defendo que o bom profissional é aquele crítico e questionador, que tenha sobre seus alunos autoridade, mas que não se valha dela, e que estimule entre os seus, a prática da autonomia. As falas citadas em seu post não me são desconhecidas, mas apesar disso, me causam desconforto por saber a quão falha a educação tem se mostrado. Mas, se serve de ‘consolo’, não é isso um problema local: há uma pesquisa recente dizendo que a matemática é um bicho de 7 cabeças para a maioria dos americanos. E há também inúmeros artigos relatando o problema com a língua materna daquele país.


Sabe qual foi a primeira conclusão? Que há excesso no conteúdo, dá para acreditar? O que pouca gente se preocupa é que há uma diferença absurda em informação e em conhecimento. E por não saber a diferença, jogam novos conceitos sem ter a certeza da assimilação ( adequação/acondicionamento) do anterior. E aqui, novo absurdo: por ter a conclusão que há excessos, sugerem enxugar o currículo, atitude que o Brasil, de forma equivocada, quer adotar.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 27/09/2011
3 de 3:
Mas há bons estudiosos por aqui, e esses apresentam novas ferramentas para que a transição da informação – conhecimento se dê de forma mais ágil e competente, como por exemplo, o uso da internet, com jogos específicos para cada área e fase do ensino. E com esse instrumento, o aluno busca seu conhecimento, com o auxílio de seu professor, e claro, com a troca entre seus pares. E é aqui que entro: além de facilitadora para novos professores ( ministro cursos relacionando teoria e prática a colegas de rede), desenvolvo junto com a Secretaria da minha cidade, novos jogos educacionais, isso dentro de plataformas digitais. Começamos intranet, hoje, evoluímos bastante, conseguindo nos fazer online em boa parte do tempo . Nesse fórum, participo sendo uma os profissionais de apoio ao aluno, mas a minha função principal é fazer a ligação desse aluno com o seu professor.


Uma questão que desejo fazer bem claro: o investimento na educação é muito baixo, e quando se fala em investimento, poucos lembram que a questão salarial é um dos pontos chaves para o sucesso, já que, pela baixa remuneração, profissionais tem uma excessiva carga de trabalho, comprometendo sua qualidade de vida. E sem qualidade de vida, não há autoestima que suporte o extenuante exercício de se manter atualizado, sem esquecer que em grande parte dos prédios, encontram-se sucateados e superlotados. Entende? Investir em educação é muito mais que reformular o que já temos para que se torne mais funcional..., já que ela não é feita por prédios ou estatísticas, e sim, por pessoas.


Ufa, terminei, espero que tenha me feito clara, e mais uma vez, agradeço pelo delicioso exercício ( tem sindo melhor do que havia me prometido!)

Até breve! mais não seja tão rápido, tá? 

=*
Felipe Munhoz 29/09/2011
1/3
Aqui vamos nós! Desculpe a demora para responder, mas o cuidado com a resposta impede qualquer precipitação que a pressa poderia proporcionar. Como esta é a minha penúltima participação, resolvi organizar tudo o que já foi discutido para que possamos nos centrar nas questões que podem ser contraditórias em nossos discursos, e assim encontrarmos um raciocínio comum. Pretendo, dessa forma, refletir sobre meus possíveis equívocos, ou quem sabe, sugerir algo que você ainda não tenha pensado.

Estou aprendendo bastante com este debate, pois como eu disse, você tem muito mais conhecimento de causa no assunto. Só espero poder ser capaz de trazer reflexões sob uma ótica diferente. De fato, sua formação une a tarefa quase artística da pedagogia com a exatidão dos números, o que te prepara para uma visão bastante refinada do sistema ensino-aprendizagem. Além disso, você escolheu ensinar talvez a matéria que os alunos mais têm dificuldade em aprender, o que torna sua tarefa ainda mais hercúlea. Você falou ainda que estuda e trabalha com jogos digitais e isto me interessou muito, pois é exatamente o que estamos fazendo: Participando de um jogo digital que talvez possa servir de instrumento didático, se bem empregados, por professores.

Eu questionei se a educação, tal como existe atualmente no Brasil, funciona ou não e você pareceu bastante otimista quanto ao papel transformador que o professor pode ter. Eu critiquei o atual sistema de ensino pelo fato dele não estimular o desenvolvimento do espírito crítico dos alunos e disse que as pessoas não possuem o hábito de ser investigativas e questionadoras. Você rebateu dizendo que preparar alguém para ser questionador não é uma tarefa simples.

Por isso eu gostaria de me aprofundar um pouco mais em uma questão que foi levantada no final da minha introdução. Eu havia sugerido um modelo de ensino integrado onde aulas expositivas pudessem ser distribuídas gratuitamente pela internet pelo governo.
Felipe Munhoz 29/09/2011
2/3
Sugeri que um modelo como este diminuiria os gastos do governo com educação, pois ao invés de pagar uma miséria por hora de aula dada, normalmente repetida e desmotivada. Qualquer professor poderia receber para dar uma aula que seria gravada e distribuída e poderiam existir concursos para as melhores aulas com premiações para os vídeos mais acessados.

Com isso eu não quis sugerir que a participação dos professores fosse abolida, mas sim re-direcionada, pois ao invés de ter que lecionar para um público totalmente heterogêneo, trabalharia com o conteúdo dos vídeos (que é dependente da criatividade de cada um) e trabalharia com grupos específicos, de reforço (para aqueles cujo conteúdo fundamental não foi suficiente para o aprendizado) ou de aprimoramento (para aqueles que quiserem se aprofundar mais no assunto).

Levantei também a questão do sistema de avaliação e sugeri que um sistema único de avaliação digital (como um vestibular, mas dividido em todos os tópicos de estudo da grade curricular). Discuti o fato de que, por ser realizado pelos próprios professores, o sistema de avaliação é sempre tendencioso. Talvez o sistema mais justo seja mesmo o do vestibular: O professor tem que preparar o aluno para uma prova que não vai ser ele quem vai preparar. Isso exige um comprometimento didático muito maior e talvez por isso os professores de cursinho pré-vestibulares sejam aqueles que preparem as aulas mais funcionais para os alunos.

Outra coisa que eu não falei, mas que penso muito a respeito é com relação ao sistema de progressão por séries, que para mim está totalmente errado. Ele visa separar os alunos por idades e média geral de conhecimento daquela etapa. Aqui no estado de São Paulo ele é responsável por “empurrar” os alunos do ensino fundamental até o fim do ensino médio com brechas de aprendizado em matérias fundamentais como Português e Matemática.
Felipe Munhoz 29/09/2011
3/3
O problema é que hoje em dia, reprovações são raras e o que acontece é que o professor do ano seguinte tem a obrigação de ensinar conteúdo que precisaria da base que o aluno não teve no ano anterior. Talvez se a progressão fosse semestral e POR CONTEÚDO ESTUDADO, já resolveria muito desse problema.

Você falou que é contra enxugar a grade curricular. Sinceramente, eu sou a favor de que exista uma grade curricular mínima bem enxuta, apenas com os temas fundamentais e que todos precisassem possuir para realizar qualquer tipo de trabalho técnico. Além disso, existiriam disciplinas complementares que seriam abertas de acordo com o INTERESSE e NECESSIDADE dos alunos, para se aprofundar em cada assunto em questão. Outra coisa que sou à favor é ao estímulo da abertura de ensino médio noturno junto com ensino técnico. Grande parte da população não tem vocação acadêmica, então a maior função do ensino ainda é ajudar a formar mão-de-obra qualificada.

Mão-de-obra esta que está muito em falta hoje em dia. Segundo o último levantamento que eu vi, o Brasil precisaria de quase o dobro do que tem de engenheiros formados para suprir a demanda nos próximos anos. Como não tem, vai precisar contratar estrangeiros para empregos que poderiam ser de brasileiros. E talvez tal cenário não seja nada mais que merecido, se formos levar em consideração o valor que o povo brasileiro dá para a Educação.

Eu não sei se você viu, mas a VEJA divulgou uma pesquisa que relacionava o nível de educação de cada país e a satisfação que cada povo tinha com a educação de seu próprio país. O resultado foi que o Brasil estava posicionado entre os países que tinham um dos piores sistemas educacionais do mundo e ainda assim, paradoxalmente, era um dos líderes (!) em nível de satisfação da própria população, que realmente acha que nossa educação funciona.

Mas eu não quero parecer pessimista. E por isso fui questionador e quis saber um pouco mais sobre as medidas práticas que têm sido realizadas hoje em dia para mudar este paradigma.

Abraços!
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 30/09/2011
Como sempre, atrasada. Desculpe-me por isso. Creio que estou como você, lamentando o fim desse ‘duelo’. Mas, sejamos objetivos vou, com seu auxílio, verificar onde estão as falas contraditórias, os equívocos de compreensão, e, evidentemente, sugestões trocadas de (para) novos caminhos, uma vez que o objetivo desse exercício é enriquecer a prática, e colaborar com novas questões.


Não duvide, o aprendizado é recíproco e por isso valorizo tanto o debate, e por isso, quero entender onde está nossa diferença quanto a ótica do assunto... O que entendo é que estou, ao menos nessa fase da vida, um pouco além de você, pois enxergo a Educação como mão de obra especializada e desenvolvedora de um processo criativo, enquanto você, está na avaliação do mesmo, porém, enquanto objeto. E isso é interessante, pois farei uso de suas interrogações ( não duvide!para minha avaliação profissional ( re-planejamentos) e entendo que fará o mesmo: utilizará de minha experiência para entender o final (?) de uma etapa investigativa. Não é em vão a definição de ‘laboratório vivo’ e o que seduz nesse ofício é que, uma hora se é objeto de estudo, no instante seguinte, mestre da pesquisa... rs


Não posso discordar com você sobre a forma refinada que enxergo esse tema: a pedagogia me deu teoria, e a matemática, o foco. Mas, discordo quando afirma ser a matemática a disciplina com maior dificuldade na aprendizagem. È a ciência mais próxima do ser humano, pois está em tudo, sei que pode parecer repetitivo isso de postar links, mas há um vídeo tão inspirador...

http://www.youtube.com/watch?v=ME-bLr7mGL4
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 30/09/2011
A matemática é ( também) uma linguagem, e não é nada abstrata. È uma ciência argumentativa, portanto, racional. E por isso, não entendo como algumas pessoas enxergam de forma dissociada. Quando digo que sou musicista, não entendem como é possível, fazendo parecer que essa disciplina nada tem relação com música, poesia, linguagem corporal... O fato é que muitos professores ensinam sem demonstrar ao aluno, o contexto, a sua aplicabilidade... Darei um exemplo que mais parece piada: uma seguidora ( Twitter) fez um comentário que me deixou preocupada: Aula sobre filósofos gregos. Onde isso vai ser útil na engenharia?, então, de forma gentil ( apesar de pasma, respondi: ) Tem a ver com a matemática da engenharia. Jerônimo afirma que Tales mediu as pirâmides a partir de sua sombra, tendo observado que a nossa (sombra) tem altura semelhante “- prazer, 1º teorema de Tales. ( Tales de Mileto, o mais antigo dos filósofos pré-socráticos) 

Continuando, a matemática na fase inicial é muito divertida, prática. E não sei bem porque alguns professores, depois de uma faixa etária, só aplicam a teoria, sem explicar o origem, e o mais importante, a importância dela na vida diária. È esse o grande problema da educação, ensinam-se sem o embasamento histórico, fica tudo tão maçante, mecânico, vazio... E aí a importância dessa nova ferramenta de ensino. Jogos digitais oferecem isso que em sala é tão pouco enfocado. O aluno já chega com a teoria, e na experimentação do jogo, vivencia a prática. Na rede, começou assim esse processo tecnológico: montou em algumas escolas, laboratórios de informática, chamados por ‘ A.I.’ – denominado ‘ambiente informatizado. E lá, professores abriam a rede e os alunos usavam aqueles joguinhos de sites específicos, (mas antes disso, usamos apenas intranet, conhece o termo?) os alunos só sabiam checar e-mails, a internet era vista apenas como lazer, e por essa razão, foi proibido o acesso a determinadas páginas.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 30/09/2011
Depois, trocamos a licença, e com o Linux, há plataformas intranet específica para educandos de 5 a 11 anos. E foi aí que um grupo de profissionais resolveu pensar em atender a outra faixa etária que a Prefeitura daqui abriga, e nasceu o Programa NTE, que faço parte.

È claro que há professores com dificuldade em passar aos seus a forma mais ativa de produção de conceitos, mas, nem entendo como ‘culpa’, uma vez que ninguém ensina o que não sabe. Ocorre que estamos no ciclo de revisão: a educação,conteudista (anos 50-70) foi duramente criticada, depois, a dita libertadora(final de 70,e toda a década de 80), foi difundida sem amarras. O conteúdo, revisto foi remanejado, e as disciplinas não falavam entre si. Agora, vivemos essa busca pela interdisciplinaridade e aquisição de novos instrumentos, porém, se a educação demora muito tempo para se reavaliar, os professores custam a renovar. Não é uma carreira ambicionada, e os com habilidades progressivas, são ainda minoria, por isso demora tanto se observar os avanços.

O ensino gratuito já existe, e encontra-se em plataformas ( Ning) específicas, sendo a mais famosa, a Paulo Freire. Sobre sua idéia de premiar os vídeos mais acessados, sou absolutamente contra, por entender que o ambiente educacional não cabe competições. E outra, a forma que apresentou sua idéia, em professor gravar e distribuir aulas me remeteu ao Telecurso 2000, onde atores ministram o conteúdo, e há um profissional que ‘mastiga’ todo o resto. A docência é muito mais que isso, já que nessa concepção, o vínculo é quase nulo. Enfim, considero uma idéia asséptica, e não gosto nada disso.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 01/10/2011
E há aqui um ponto importante a ser defendido: a avaliação é subjetiva, plural, e individual. Entende-se que ela deva ser contínua (e diária) e por essa razão, repudio a idéia do vestibular como melhor instrumento: não é justo que um aluno seja avaliado apenas por aquele meio, sendo ele, por princípio, classificatório. Sobre a reprovação e currículo , tenho váriossenões, que caberiam em outro tipo de debate, esse mais político.


Espero que tenha sido competente em explicar alguns pontos de vista, e já espero pela punição de não ter sido capaz de respeitar o modelo do tópico, acabei empolgando, veja só!

Já ansiosa por seus apontamentos, aguardo pacientemente

:)

Felipe Munhoz 01/10/2011
Considerações Finais 1.
Enfim, chegamos ao clímax do debate. De fato, temos muito mais pontos de vista em comum do que contraditórios e procurá-los em seu discurso não é uma tarefa fácil. Mas como esta é minha última participação neste debate, farei uma síntese dos pontos que considerei mais importantes do debate e como eles estão relacionados com a proposta inicial por trás de todo este “duelo”.

Você percebeu que este tema está envolto por acaloradas convicções de ambos os lados, pois ambos escolhemos esta profissão para as nossas vidas, mesmo havendo uma evidente sub-valorização da atividade em várias esferas, entre elas, a econômica. Para mim não foi uma escolha fácil trocar a rentabilidade da prática odontológica pelas vicissitudes da carreira docente, mas confesso que ainda assim, não me arrependo por ter feito esta escolha. Por isso, mesmo onde eu pareci pessimista, entenda que há alguém sedento por mudanças, justamente por acreditar que a profissão de professor é extremamente importante.

De fato, não sou especialista em educação e por isso eu não tenho a bagagem teórica que você tem para analisar os desafios da educação sob uma ótica menos tendenciosa. Ao avaliar as respostas de aprendizagem das pessoas, levo sempre em consideração a forma como EU acharia mais fácil aprender, o que tem suas limitações fenomenológicas. Mas quando me lembro da minha história enquanto aprendiz, desde o ensino fundamental até hoje, percebo que nunca meu aprendizado foi tão dinâmico quanto é hoje, quando quase não tenho mais aula alguma e todo novo conteúdo que adquiro é fruto de um processo investigativo pessoal.

A maioria das coisas que eu aprendo atualmente é fruto de pesquisas na internet e vídeo aulas gratuitas de faculdades renomadas como Stanford e Yale. Dias atrás assisti exatamente o mesmo curso que é dado em Stanford de neurobiologia do Robert Sapowsky, uma das autoridades no assunto, de forma gratuita, pelo you tube. Também tenho vários cursos inteiros de temas diversos, em audio-book, que eu escuto todos os dias.
Felipe Munhoz 01/10/2011
2
Existe um sistema que tem sido bastante difundido entre as universidades de saúde que é o PBL (Problem Based Learnig). Ele funciona mais ou menos assim: Alunos de medicina do primeiro ano da universidade são confrontados com problemas (ex: paciente acidentado, com fratura exposta), mesmo sem ter tido aulas expositivas com demonstração do conhecimento teórico prévio necessário para resolver o problema.

São então organizados em grupos que terão a missão de fazer todas as perguntas que serão necessárias para se resolver este problema. Os grupos são então separados e os membros incentivados a procurar, individualmente, as respostas para as questões que eles mesmos formularam. Em seguida, reúnem-se e discutem os resultados. Quando alguma dúvida persiste, procuram professores-tutores treinados para resolver problemas multi-disciplinares.

Nunca trabalhei com este sistema, e já antevejo uma série de limitações, mas ainda assim, ele mostra uma alternativa para se estimular a capacidade investigativa dos alunos, o que é raramente visto por aí. Por isso, concordo contigo que sistemas auto-didatas de aprendizagem já existem e qualquer um pode fazer uso deles. Entretanto, o que eu vejo são escolas se fechando em “intranets” e limitando o acesso livre dos alunos a outros sites, como este, por exemplo.

O meu argumento fundamental neste debate é o de que a internet pode ser extremamente útil no sistema de aprendizagem e os alunos deveriam ser orientados a usar sua autonomia que o sistema oferece e exercitar suas capacidades investigativas e questionadoras.

Se qualquer um de nós dois estivéssemos ensinando o tema EDUCAÇÃO em sala de aula, por exemplo, as pessoas só teriam acesso à uma forma de se analisar a situação e NÃO É ISSO O QUE ACONTECE no dia-a-dia, quando somos obrigados a usar nossa autonomia para tomar decisões que terão implicações diretas na vida de terceiros.
Felipe Munhoz 01/10/2011
3
Por isto eu sugeri um sistema que colocasse o aluno sempre em contato com esta ferramenta, mas que estimulasse ao máximo sua capacidade de usar o que existe de melhor nela. Eu tenho acompanhado estas transformações que almejam criar profissionais capazes de construir pontes de conceitos e fazer da interdisciplinaridade a grande aposta como ferramenta de aprendizagem. Acho isso fantástico e concordo contigo que este processo de mudança não será simples.

Quanto às críticas ao conteúdo gravado que eu sugeri, você fez uma comparação anedótica com o Telecurso 2000, que não era o que eu tinha em mente. Entretanto, ainda que consideremos este conteúdo que você sugeriu. Não acha que talvez, seja melhor do que o que é ensinado em um número enorme de escolas no Brasil afora? Mesmo sem o vínculo? O grande problema, ao meu ver, é tentar agrupar em salas de aula alunos por idade e por média geral de conhecimento. O trabalho focado no reforço ou no aprimoramento escolar teria, em minha opinião, resultados muito mais eficazes.

Mas para tentar resolver os problemas de educação do nosso país, podemos ver como outros países resolveram seus problemas educacionais. Na Coréira do Sul, os alunos entram às 7 da manhã e ficam até as 10 da noite TODOS OS DIAS na escola, folgando apenas 2 domingos, por mês. Existem vestibulares concorridíssimos para entrar no ensino fundamental e depois para o ensino médio. Ou seja, estão formando praticamente um exército intelectual. Existe até um horário próprio para, as próprias crianças, limpar a escola.

Eu gostaria muito se, em suas considerações finais, você pudesse terminar o duelo com uma sugestão alternativa de um modelo eficiente de ensino que poderia ser aplicado no Brasil e que teria uma melhor relação custo/benefício do que o atualmente utilizado, baseado em seu conhecimento teórico e prático acerca do assunto. Você poderia falar mais dos desafios que enfrenta com o Programa NTE, assim como das conquistas que já obtiveram. Abraços!
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 02/10/2011
CFs ( 1/3)
Clímax, taí uma boa definição. È chegado o momento de fazer a separação ideológica de nossas certezas, para que seja possível uma avaliação de discurso. Para início de conversa, até concordo que a maioria dos profissionais de educação sofram com a questão da sub-valorização de seu ofício, sendo inclusive a financeira o ponto alto, mas, considero precoce essa afirmação, já que não são todos os que não fazem dessa sua asseveração, algo definitivo.

Quando se faz a escolha de uma profissão, pensa-se evidentemente em seu retorno financeiro - a idéia de ser o magistério algo próximo do sacerdócio não me seduz, e por acreditar nisso, fui desde sempre em busca de capacitações profissionais, aumentando substancialmente meus rendimentos. Graças a esses cursos extras, consegui um lugar de destaque entre meus colegas, mesmo ainda sem contar com a titularidade do mestrado, já tenho um ganho real de + 40% sobre qualquer pessoa com a minha graduação, com a diferença que faço 40 h/semanais, quando a maioria faz 60, e outros, praticam extenuantes 90h.

É importante dizer que profissionais da educação precisam se colocar constantemente em teste: para que seja um bom professor, há de se colocar também em posição de aluno. E fazendo isso, a valorização é percebida, e os frutos, colhidos, sendo o financeiro, conseqüência. Há essa opção, porém, nem todos a enxergam, por motivos que permeiam a questão pessoal. Ou seja, para mim, a questão pessimista esta aí: muitos tem a sala de aula como lugar preferido ( é tbm o meu, mas descobri formas de melhor utilizar meu tempo e formação) , mas não priorizam suas necessidades enquanto indivíduo.

O aprendizado é dinâmico, e mesmo alguém sem o referencial teórico pode notar isso, porém, não acredito na qualidade desse aprendizado sem a interação entre pares e sem a colaboração de professores.

Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 02/10/2011
(2/3)
Não quero dizer com isso que é impossível ou errado que busque informações de maneira pessoal, mas, a transição da informação para o conhecimento precisa, obrigatoriamente, passar por essa junção de saberes. As aulas que assistiu, comentou com alguém, ou ficou apenas na compreensão individual? Penso que, se não há trocas, o aprendizado não foi efetivado. Do que adianta uma mente questionadora se ela não é provocada ( estimulada) por outros? Sem essa provocação, como saber se aquilo que afirma ter aprendido é de fato condizente, já que sem comparar conceitos, não há como refutar o que era errado, percebe onde questiono sua fala?

O sistema que me apresentou (PBL), realmente não conheço, e por não conhecer, me incomoda o fato de , sem um referencial, esses alunos serem confrontados em situações antes não discutidas. O acerto seria portanto, um fator de sorte? Mas não foi por essa razão que deu esse exemplo: você é uma daquelas pessoas raras, que rotulamos por autodidática. Mas entenda, são poucos com esse perfil, e enquanto educadora, entendo que há os alunos com habilidades especiais, mas o primeiro ponto é atender a maioria, por essa razão, eu e tantos outros professores por enquanto desconsideramos esse tipo de sistema.

Não há como questionar a importância da internet também em ambiente educacional, o que talvez há uma discrepância de pensamentos é a forma que é o trabalho de cada um componentes desse processo, já defendo a cooperação entre os envolvidos.

E sua última postagem, demonstrou enfim, pontos de extrema diferença sociológica: a interdisciplinaridade não é um ideal a ser alcançado, é só conhecer a grade curricular e claro, elementos extra de consulta, como Diretrizes Curriculares. O agrupamento por idade, respeita as características comuns desses indivíduos, e vejo aqui, um avanço.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 02/10/2011
(3/3)
Como colocar numa mesma sala, crianças de idades ( e vivências) diferentes, tendo, como único critério de seleção, o aspecto cognitivo? E não há, ao menos no ensino público, como ter uma sala homogênea, por isso, é comum lidar com esse tipo de situação. E é sob condições extremas que o papel do educador é percebido. Sei que no Estado isso não funciona bem, já que o objetivo dessa prática quando adotada em governos pouco sérios é maquiar a realidade, porém, ela quando bem adotada, traz resultados consistentes e inspiradores.

Esse modelo que defendo, nasceu na Suíça, e é embasada pelo sociointeracionismo, onde se privilegia o vínculo, e a avaliação individualizada do educando. Há, portanto, atendimentos específicos, já que ninguém sabe como alguém aprende, por isso, a importância de aplicação de técnicas variáveis. Quando citou a Coréia do Sul, entendi que ( corrija-me se errada) você atribui um enorme peso na quantidade do conteúdo oferecido, usando o termo ‘exército intelectual’. Eu vejo no exército o enfoque a mente treinada, que pouco questiona, e por isso, prefiro a opção de formar mentes livres, provocadoras, inquietas, enfim, cidadãos completos.


Claro que há pontos ainda não elucidados, mas, o farei aos poucos, sempre que questionada, seguindo, claro, o interesse dos leitores. Agora, me resta elogiar o gracioso convite de Felipe para esse agradável debate, além de agradecer por sua gentileza e paciência.
Felipe Munhoz 02/10/2011
DEBATE ENCERRADO!
As votações estarão abertas em forma de enquete!

A partir de agora, este tópico está aberto para discussões entre competidores e entre outros membros da comunidade, mas só deve ser avaliado o conteúdo do debate em si, e não o que foi dito depois ou em outro tópico.

Abraços!

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