quinta-feira, 8 de março de 2012

Octávio X Lucas - Realismo X Romantismo

    • Octávio Henrique Caro Lucas, como sabes, detesto mostrar minhas premissas primeiro ao oponente, por motivo já explicado no debate com o Felipe Munhoz. Por isso, questiono: Por quais razões prefere Romantismo Brasileiro a Realismo Brasileiro?

    • Lucas Pierre Domingos Fernandes Caríssimo Octávio Henrique, antes de mais nada eu gostaria de expressar minha gratidão pelo debate.

      Meu amigo, a arte existe para ser diferente da realidade. Escrever, pelo menos ao meu ver, é uma arte.

      Quanto menos real ela for, maior o impacto que ela causa no indivíduo.

      Por isso prefiro a literatura produzida pelos românticos: ela trata por meio das linhas sobre os sentimentos que todos nós sentimos, porém guardamos dentro de si por orgulho ou medo.

      Acredito que ser realista o tempo todo seja doloroso.

      5 de Fevereiro às 01:21 ·  ·  1

    • Octávio Henrique Arte: (Latim Ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte.

      Tendo esse significado em mente, podemos dizer que a sua máxima de que “a arte existe para diferir da realidade” é amplamente refutável.

      Outro fator é o do impacto. Ora, meu amigo, todo tipo de arte produz um impacto. E falar que arte realista, por ser realista, produz menos impacto que a romântica, é sofismático ou non sequitur (não-lógico). Incluindo também nessa conversa a literatura naturalista, responda-me: Como também era vestibulando, creio que leste O Cortiço. Façamos então uma comparação. Em qual leitura você ficou mais impactado: Com o naturalismo de O Cortiço ou com a melosidade de O Guarani, Senhora, Iracema?

      Se formos também incluir na conversa os outros tipos de arte, você cai em um risco ainda maior de ter que repensar a sua fala. Na música, por exemplo, temos o caso do Rock e do Rap, dois dos ritmos mais realistas possíveis e que causam grandes impactos em nossas mentes quando os ouvimos. Outra comparação é válida: Você se sente mais impactado quando ouve Not Afraid do Rapper Eminem ou quando ouve música Gospel ultrarromântica? Podia citar aqui também o caso de Gabriel o Pensador, um notório rapper brasileiro o qual tem no profundo Realismo sua marca maior. E, creia-me, as músicas dele são MUITO impactantes. Vou passar, nos links de referência, uma música dele, bem realista, e quero ver até qual nível ficará impactado.

      Meu caro, esse negócio de que arte tem que fugir da realidade não é nem conversa de romântico, porque até mesmo eles se cansaram de tanto Romantismo após um tempo. Isso é conversa de abstracionista e surrealista. A Arte, meu amigo, é livre. Arte varia. Arte é liberdade. Não estou dizendo que o Romântico não é artístico, muito pelo contrário. Mas você caiu no erro de inferir que o Realismo não era, ou que era, mas sendo menos legítimo que o Romantismo.

      Os românticos, meu amigo, em sua maioria (a não ser pelas obras trágicas, mas até mesmo lá), escondiam-se em mares de fantasias impossíveis. Veja o caso de Senhora, por exemplo. Primeiro, o Fernando Seixas era um interesseiro mau caráter, mas que, por amar Aurélia e “não ter podido” se casar com ela, foi perdoado e redimido sem mesmo ser questionado em suas ações, acabando ainda por cima em toda a história. Isso raras vezes acontece na novela da vida real. E quando acontece, tem resultados TRÁGICOS. Quem é ganancioso continua ganancioso. O único livro que vi/ouvi falar, não-romanesco, em que as pessoas mudam tanto assim é na Bíblia.

      Farei então uma outra análise dos românticos. Eles descrevem sim nossos sentimentos mais ocultos, mas também acabam por dar uma ótica muito moralista sobre o que é amor, e sobre como deve ser a vida. Resumindo, eles se prestaram a um papel ridículo, que pouco condiz até mesmo com a tua visão sobre o que é arte. Depois farei a relação política que envolveu a criação do Romantismo.

      Ah, sua visão sobre os realistas está um pouco limitada. Você segue um tipo de estereótipo que nunca é bom. Se você for analisar O Primo Basílio, Dom Casmurro e até mesmo o ultrarrealista Memórias Póstumas de Brás Cubas, verá que não há só Realismo ali. O que há, na verdade, é um golpe de mestre, é a ilusão de que tudo se encaminhará para o fim romanesco meloso (principalmente no primeiro. Palavra de quem leu os três). Nunca vi o contrário nas obras românticas. Ou era um fim trágico, ou meloso, e isso era previsível. Não havia indícios de um fim mais realista.

      Lembre-se, antes de continuarmos, que trágico não necessariamente significa realista.

      Encerro aqui minha réplica, e agradeço igualmente pelo debate.

      5 de Fevereiro às 10:23 ·  ·  1

    • Octávio Henrique Links:
      http://www.youtube.com/watch?v=j5-yKhDd64s&ob=av3e
      http://www.youtube.com/watch?v=LKsW9-vLfxo

      O primeiro é o do Eminem, o segundo é o do Gabriel o Pensador.



      Music video by Eminem performing Not Afraid. (C) 2010 Aftermath Records
      5 de Fevereiro às 10:25 ·  ·  1 · 

    • Lucas Pierre Domingos Fernandes Caro amigo, antes de mais nada, lamento por fazer uma comparação tão esdrúxula de Eminem com "música Gospel ultraromântica". Não é de meu conhecimento a existência de músicas gospel que falam sobre amor, elas falam que você deve adorar uma respectiva Divindade. Nada mais.

      O romantismo de verdade só quer revelar a parte do homem oculta pelas convenções estéticas e sociais. O artista romântico criava em suas obras uma espécie de fantasia misturada com heroísmo, que valorizava a emoção e a liberdade de criação.

      Caro amigo, nesta vida machucada e cheia de espinhos, o sonho sempre será mais admirado e mais cultuado: vejamos, você citou Gabriel o Pensador como um exemplo de música contemporânea, agora compare-o a Caetano Veloso ou Roberto Carlos, por exemplo. Veja quem faz mais sucesso e quais possuem as mais cantadas. Ora, vamos então pegar um cantor com música de caráter mais realista: RAUL SEIXAS. Vendeu e cantou muito, mas Roberto e Caetano, com todo o romantismo proferido pelas suas belíssimas canções, venderam muito mais.

      Você citou ótimas obras do Realismo brasileiro. E eu cito apenas um romancista inglês que terá as suas obras romancistas cultuadas pelos séculos dos séculos: William Shakespeare. Ora, "Romeu e Julieta"! Esta aí uma história que sempre será contada.

      Ora, tudo bem! A Arte pode ser Realista também, mas quando ela tem essa característica, não chama a atenção da mesma forma que uma obra romancista.

      Tomemos por exemplo uma pintura do frânces Eugène Delacroix, "A Liberdade Guiando o Povo", 1830. A pintura retrata um acontecimento histórico e verídico, que era a rebelião dos republicanos e liberais contra o rei frânces.

      Todavia, o autor colocou elementos romancistas em sua obra, representada por cores fortes que trazem mais emoção! Uma mulher nua guiando os manifestantes durante a rebelião!

      Ora, se tal pintura tivesse seguido os moldes do Realismo, sem dúvida não chamaria tanta atenção.

      Quanto mais surreal é uma determinada Arte, maior o apego que o ser humano cria pela mesma. O Realismo também é magnífico, caro Octávio. Mas sua conclusão muitas vezes se trata de algo que o ser humano quer fugir, porque no fundo todos nós sabemos: a Vida é doce e amarga ao mesmo tempo.

      E quer fuga melhor que a Arte?

      6 de Fevereiro às 18:13 ·  ·  1

    • Lucas Pierre Domingos Fernandes A obra de arte de Delacroix citada na réplica se encontra neste link:

      http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/08/17/pintura-liberdade-guiando-povo-1831-316632.asp


      oglobo.globo.com
      A Revolução Francesa de 1830 inspirou o célebre quadro de Delacroix A Liberdade...Ver mais
      6 de Fevereiro às 18:15 ·  · 

    • Octávio Henrique Não limite o Romantismo a um único tema, meu caro, e nem a música Gospel a um único tema ou a uma só visão. Veja que, na música, eles demonstram o seu amor por Deus o que, para um ateu, se equivaleria a um amor platônico romântico, por amar algo inalcançável.

      Meu caro amigo, usar o fato de que os românticos mostravam uma parte oculta do homem pelas convenções estéticas e sociais para sobrepujá-los ao Realismo é sinceramente uma falácia. Afinal, ambos realistas e naturalistas também mostravam partes ocultas. Enquanto os primeiros faziam uma análise mais voltada para o lado psicológico (Ex: Brás Cubas), demonstrando as hipocrisias as quais todos fazemos, os segundos mostravam-nos o lado fisiológico e bestial do ser humano (Ex: O Cortiço), com seus instintos sexuais mais ocultos.

      Ou seja, o Realismo também mostra partes escondidas do homem pelas convenções sociais e estéticas. Só que, ao contrário do Romantismo, as partes mais desagradáveis são mostradas. Portanto, está invalidado este seu argumento.

      O teu segundo argumento é ainda mais non sequitur. Obras musicais romanescas são mais vendidas porque o povo as prefere, não por serem formas mais legítimas de arte. Você trata aí de um fator cultural, e não estético. Não prova ainda que o Romantismo seja melhor ou mais legítimo. Só prova que é mais prestigiado pelo povo. O detalhe é: Quantos dos populares realmente avaliam artisticamente algo antes de ouvirem? Poucos, creio eu. Pelo menos eu conheço bem poucos.

      Curioso também é te ver envolvendo Caetano em seu argumento. Afinal, também foi ele um cantor de tendências realistas. O único apenas romântico dos dois é mesmo o Roberto.

      Ora, meu amigo, faça então o caminho inverso. Quem é hoje mais prestigiado pela crítica artística: Raul Seixas ou Luan Santana? Afinal, quer você queira ou não, esse último também é considerado romântico, e sua música é tida como péssima. E nem por isso o Romantismo é artisticamente inferior.

      Shakespeare, meu amigo, é reverenciado pelo povão. Mas isso é porque DIZEM que ele é bom. Não porque foi lido pelo povo com afinco. Outro non sequitur por sua parte. Só pra constar, William Shakespeare é um DRAMATURGO, não ROMANCISTA (quem escreve romances). Se sua intenção era dizer que ele é ROMÂNTICO, também está errado, uma vez que ele pertence ao Renascimento!

      Sobre a obra de arte que você citou, é bom reiterar que “Romancista” não é “romântico”. Sobre essa questão do impacto, cito a obra “Madame Bovary”, e te peço mais uma vez para explicar e fundamentar melhor esse seu non sequitur de que quanto mais surrealista for a obra, maior impacto ela terá.

      A propósito, só para lembrar:

      Romancista não é igual a romântico
      Surrealista difere de romântico e assemelha-se a fantasioso. Colocar surrealista como necessariamente romanesco é sofismático e mostra desconhecimento por sua parte sobre o que defende.
      Realista não é necessariamente trágico.

      Realmente, a arte é uma grande fuga. Só que, até onde eu sei, arte não deve ser subordinada aos interesses da classe social A ou B. E o contexto de criação do Romantismo prova sua subordinação aos ideais burgueses. Quando se pensa nisso, a fuga fica bem mais difícil de ser feita.

      Ah, e, a propósito, não generalize sua visão aos outros indivíduos. A visão sobre o quão impactante é uma obra varia e muito. Não faça de suas concepções pessoais verdades universais.

      6 de Fevereiro às 18:51 ·  ·  1

    • Lucas Pierre Domingos Fernandes Caro duelista, me responda por obséquio: o que o Realismo tem que subestima o Romantismo sob o seu ponto de vista? Pelo que eu entendo e enxergo, o que eu defendo é muito melhor entendido e mais visto pela maioria do conglomerado.

      O que estou fazendo não é uma generalização da visão de outros indivíduos, e sim o que qualquer indivíduo em sã consciência pode enxergar.

      Algumas colocações do meu bravo oponente no qual eu discordo:

      - O meu oponente disse que DIZEM que Shakespeare é bom. De fato, isso é um ponto de vista absurdo. É de consciência universal entre todos aqueles que apreciam uma boa leitura de que Shakespeare é um dos maiores dramaturgos de todos os tempos.

      - Romancista não é igual a romântica: pode não ser mesmo, segundo os moldes da literatura. Mas o romancista sempre cria um drama que configura romance. Não me lembro de nenhum que não o tenha feito.

      - "O teu segundo argumento é ainda mais non sequitur. Obras musicais romanescas são mais vendidas porque o povo as prefere, não por serem formas mais legítimas de arte. Você trata aí de um fator cultural, e não estético."
      Ora pois, quem somos nós, leigos em música, para dizer que música romancista é boa ou é ruim? O que é bom para uns, é ruim para outros.

      - Não limite o Romantismo a um único tema, meu caro, e nem a música Gospel a um único tema ou a uma só visão. Veja que, na música, eles demonstram o seu amor por Deus o que, para um ateu, se equivaleria a um amor platônico romântico, por amar... algo inalcançável."
      Um amor romântico deve ser um amor entre um HOMEM e uma MULHER, e não a qualquer outra coisa.


    • Octávio Henrique Meu caro amigo, digo-te em verdade que podes ter perdido o debate já na tréplica. Explico o porquê:

      Primeiro, usaste um tremendo argumentum ad popullum (com apelo à maioria) após me fazer a pergunta. Arte não pode ser julgada apenas pelo gosto do senso comum pois, em verdade, a maioria das pessoas desconhece os critérios que definem uma obra como artística. E outra, apelações para uma maioria nunca são benéficas, seja no debate artístico-intelectual ou no sociopolítico.

      Segundo, não, eu tenho o depoimento de uma pessoa que discorda totalmente dessa tua colocação de que a arte não-realista é mais impactante. E, relembro-te: Surreal não significa romântico.

      Terceiro, colocaste palavras em minha boca, uma tática desleal para dar a falsa impressão de que falei coisas que não falei e também distorceste certas noções. Mostrarei umas:

      A- Não emiti opinião sobre Shakespeare. Só coloquei o que o povo diz. E falo do senso comum

      B- Romance não necessariamente é romântico. Tua definição de romancista está corretíssima, mas a aplicação foi errônea e não-condizente com a realidade.

      C- Nunca disse que música ROMÂNTICA era ruim ou boa. Só disse que o fato de a maioria gostar dela não a torna uma manifestação artística mais legítima que a música realista. Usar isso como argumento, meu caro, também é ad popullum, e compromete toda a tua argumentação.

      D- Na verdade, se formos encarar ao pé da letra, o Romantismo tem enfoque bem maior em amor platônico/inalcançável. Considerando as limitações da época, um amor homossexual, por exemplo, seria inalcançável.

      O que torna o Realismo um pouco superior, meu amigo, é a imprevisibilidade dos finais. Reitero, Realista difere de trágico e triste.

      Já colocarei minha conclusão e responderei à sua pergunta: É absurdo dizer que uma arte a qual só dá dois possíveis e irreversíveis desfechos a algo -no caso, os finais de livros romanescos, em que ou todos vivem felizes para sempre ou morrem e a infelicidade impera- é superior a uma arte a qual é repleta de imprevisibilidade e finais abertos. Afinal, por ter vários enredos em um só livro sempre (o que praticamente não acontece no Romantismo) e dar enfoque para cada um deles em momentos diferentes, o Realismo acaba por não cair na previsibilidade romanesca, pois cada personagem tem um fim diferente, variando da comédia a tragédias e aos bons fins, retratando assim a realidade e contrariando o senso romanesco de que o Realismo se trata só de amargueza, solidão e tragédia.

      Isso sem contar, é claro, a ampla variedade de temas nas obras realistas pois, se pegarmos "só" o sr. Eça de Queirós, há uma tríade de obras as quais tratam todas de temas bem diferentes mas com um enfoque mais plausível: Incesto (Os Maias), Traição ( O Primo Basílio) e Incoerência no clero (O Crime do Padre Amaro).

      Agradeço pelo debate, meu grande camarada. Recomendo para ti a leitura de "O Primo Basílio", porque aí reconhecerás a imprevisibilidade realista de que falo. (os capítulos são um pouco longos, bem ao estilo do Eça, mas a história vale muito a pena).

      Espero tuas considerações finais.


    • Lucas Pierre Domingos Fernandes Ora, "A Voz do Povo é a Voz de Deus".

      O povo prefere tudo o que lembra amor, talvez porque o povo esteja carente de amor.

      Logo, o Romantismo é superior ao Realismo em tudo: quantidade, qualidade, desqualidade, IBOPE e debate.

      Entretanto, não posso deixar de citar que o Realismo é mais responsável, mais imprevisível, mais aceitável.

      ...mas ele não mexe com aquilo que nós, mortais que precisamos tanto de Amor, queremos ouvir, ler e sentir: com o SENTIMENTO em si. Com a imaginação. Com o afeto.

      Apenas o Romantismo tem esse poder e sempre o terá.

      Gostaria de agradecer ao bravo amigo Octávio pelos seus argumentos excepcionais e pela oportunidade do debate. Que venham muitos outros.

Um comentário:

  1. nossa em, romantismo superior sim,mas realista como nome ja diz e a realidade ne.

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